quarta-feira, 4 de janeiro de 2017



EFEMÉRIDE # 9


O POETA, OS GATOS E A MORTE


A 4 de Janeiro de 1965 (há 52 anos precisos) morreu T. S. ELIOT, Prémio Nobel da Literatura em 1948... Erudito, místico, filosófico, versado em literatura sânscrita e filologia indiana, que melhores credenciais para um criador sublime e profundo, tão enigmático e desconcertante que é possível interpretar os seus poemas através de mil olhares diferentes...
Os seus poemas, por serem tão épicos e solenes, carregados de simbologia e espírito, muita energia lhe devem ter consumido e entendo que, como qualquer mortal, o poeta tenha sentido a necessidade de aligeirar a pressão e versar sobre as coisas mundanas... E que melhor ajuda poderia ter do que aquela proporcionada pelos seus gatos, essas criaturas tão dóceis e enigmáticas?  







T. S. ELIOT






O NOME DOS GATOS



"O nome dos gatos é uma difícil questão,
não é apenas uma mera brincadeira de verão,
podem até pensar que endoideci de vez
mas digo-vos, os nomes de um gato deverão ser sempre três...

Primeiro, o nome do ambiente familiar,
como Peter, Augustus, Alonso ou JAMES,
Como Victor ou Jonathan, George ou Bill Bailey,
todos eles nomes comuns e correntes,
e embora hajam nomes mais requintados,
nomes de heroínas e heróis aclamados,
como Plato, Admetus, Electra, Demeter,
também eles nomes comuns e decentes,
digo-vos, um gato  necessita de um nome particular... 

Um nome peculiar e dignificante
que empertigue a sua cauda e o faça andar emproado,
bigodes ao vento e orgulho eriçado,
tantos nomes, raio, eis o elementar...
Munkustrap, Quaxo ou Coricopat
ou Bombalurina, ou então Jellylorum,
E nunca outro gato terá nome similar...

E outro nome há que apresentar,
nome que ninguém conseguirá adivinhar,
nome inacessível à humana ciência,
só o gato saberá, santa paciência,
se virem um gato cismando, cismando,
sou eu que vos aviso, o motivo é elementar,
ele pensa e contempla o seu nome...
nome profundo, misterioso, singular..."


T. S. ELLIOT

"O livro dos gatos"  (1939)

Tradução livre de J.C  (Poeta de Valmedo)













E em boa hora ANDREW LLOYD WEBER, o famoso compositor e visionário do show-business, haveria de compôr um musical baseado no "LIVRO DOS GATOS" de Eliot, o qual, tendo estreado em 1981 alcançou um sucesso tal que o espectáculo esteve em exibição ininterrupta em Londres durante 21 (!) anos e em cartaz na Broadway por 18!....


Neste poema não faz referência Eliot às proclamadas 7 vidas dos gatos, mas, a haverem, que desperdício, não devem os felinos usar metade... E bastaria que esses bichos nos dessem metade dessas vidas e assim, nós, humanos, reféns de uma única vida e com a morte sempre no encalço, poderíamos ter duas ou três de reserva para qualquer nefasta ocorrência... E se a sorte nos bafejasse e delas não precisássemos poderíamos dar uma dessas vidas para salvar aqueles que cedo demais partiram deixando-nos um vazio......




4-1-2015    

Se eu, por artes mágicas, fosse um gato,
bicho irrequieto certamente seria,
brincalhão, brigão, provocador, um chato,
santo no colo de gente, malfeitor entre a gataria....

Mas se das minhas sete vidas pudesse folgar
e algumas delas pudesse dispôr,
uma seria para ti, gato maganão...
Nem culpa, nem favor, sem hesitar
que me falta fazem a alegria e o fervor
que espalhavas em toda a ocasião...


J.C. (Poeta de Valmedo)






João Breve

(Cronologista de Valmedo)

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