quinta-feira, 26 de agosto de 2021

O Naturalista caminheiro


 

Foto - Lourambi


João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)

Vai um banho gelado?

 

ESCRITO NA PAREDE - XVI


Com o Ártico a 8160 Kms e a Antártida a 13639, quando o calor das emoções futebolísticas se tornar sufocante é bem mais fácil e provável alguém tomar um banho gelado na Luz ou em Alvalade, a 74 e a 76 Kms... Vamos a ver quem mete mais água esta época e onde se afogarão mais mágoas...



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sábado, 14 de agosto de 2021

Ao poste...

 

ESCRITO NA PAREDE - XV


QUANDO O CIVISMO BATE NO POSTE...


- Olha só, James, parece que por aqui há donos de cães incivilizados!

- O que é que queres dizer com isso? - perguntei ao J.C, sem perceber patavina do que ele estava falando... 

- Então não vês o que está ali no poste? - devolveu-me ele sem se dignar olhar para mim, continuava especado no meio da rua a olhar para um poste no qual eu não tinha reparado até então porque vinha farejando mil e uma fragrâncias que emanavam do solo e onde era visível um sinal que eu conhecia já muito bem, já o tínhamos encontrado várias vezes à entrada das praias e de cafés e restaurantes e que é um cão com uma barra por cima e que significa que ali nós não podemos entrar, mas isso todos nós já sabemos, não é, amigos caninos?





 

- Mas não estou a perceber porque é que o sinal está aqui no meio da rua, que mal faz nós cães andarmos por aqui?

- Se soubesses ler a escrita humana perceberias logo do que se trata, é que aquelas letras por cima querem dizer: "PARA O SEU CÃO CAGAR, OS NOSSOS FILHOS NÃO PODEM BRINCAR!"... Percebes agora, há gente muito estúpida que passeia por aqui os seus cães e não apanham os cocós que os seus bichos fazem, o que se torna um perigo se uma criança pequena decide tocar-lhe, pode ficar doente, já te tinha dito, lembras-te? 

Sim, era verdade, ele tinha-me dito numa das primeiras vezes em que fomos passear juntos e ao vê-lo apanhar os meus cocós com uma luva de plástico para dentro de um saquinho eu garanto-vos, amigos caninos, que por breves instantes me convenci que o nosso cocó canino valia ouro tal a rapidez e a quantidade em que era capturado, não só pelo J.C mas por todas as outras pessoas que se cruzavam connosco passeando os bichos de estimação mas depois o equivoco foi desfeito, afinal era por uma questão de asseio e de saúde pública!





- Estúpidos! - voltou a dizer o J.C - Olha só! Que porcaria de humanidade!

Tínhamos acabado de dobrar a esquina e nas escadinhas que dão acesso à praia de S. Berrnardino quase que esbarrávamos com o nariz num monte de dejectos caninos e para perceberem a irritação dele deixem-me dizer-lhes que o J.C divide a humanidade em três categorias: os geneticamente estúpidos e que o são permanentemente durante a sua demorada passagem por este mundo-cão e que estão em esmagadora maioria, depois os recorrentemente estúpidos e que o são mais frequentemente que o desejável e que assim agem devido a lapsos culturais, ainda assim abundantes, e finalmente uma pequena minoria constituída pelos esporadicamente estúpidos,  gente que se se pode catalogar de culta, bem formada e de refinada educação mas que, por motivos de psique freudiana, tara desconhecida ou insucesso social decide, pelo menos uma vez na triste vida, vingar-se quebrando as regras mais básicas do civismo... Concluindo, para ele toda a humanidade é estúpida e esta existência não tem sentido algum, estão a ver?

- Escumalha! - ainda dizia entredentes o J.C enquanto passávamos ao lado da merda canina...

E que posso eu dizer, amigos caninos, que concordo com ele em grande parte, até porque depois cai tudo em cima de nós, estúpidos donos que não apanham os cocós dos bichos só contribuem para que todos nós fiquemos impedidos de frequentar as praias e outros locais, embora a culpa não seja nossa! E se for o vosso caso, eduquem os vossos donos...


James

(Cão de Valmedo)

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

90!

 

EFEMÉRIDE # 90


PARABÉNS SENHOR DINOSSAURO!


Nesta nonagésima efeméride celebrámos não um relevante acontecimento do passado ou o óbito de alguém importante na história da humanidade, como é mais comum, mas sim uma pessoa viva e bem viva, acontece que graças ao (senhor) universo o dinossauro GALOPIM de CARVALHO comemora hoje 90 anos de vida! Muitos parabéns portanto e caro Galopim deixe-me esclarecer desde já que a liberdade a que me dei de apelidá-lo de dinossauro não alude à ideia de vetustos fósseis nem alude a eras ultrapassadas da história natural do planeta mas antes entronca naquele sentido de pessoa relevante de vasta experiência e emérita sapiência que faz de si uma incontornável referência na comunidade científica lusitana...


Capa de hoje do jornal Público


Mas quem melhor do que Octávio Mateus, o mais ilustre paleontólogo português da actualidade para falar do mestre:

"A sua melhor arma é a caneta. Escreve de forma magistral, sendo autor de dezenas de livros e artigos sobretudo de divulgação geológica, mas também de memórias, ficção e culinária. E vê-se que gosta de ensinar e educar. Basta segui-lo nas redes sociais e ver as suas 20 publicações por semana, sempre de alta qualidade, fruto da sua longa experiência, com a genica de um apaixonado pela geologia, o seu mais alto divulgador a nível nacional."







Nascido em Évora a 11 de Julho de 1931,  apaixonado desde cedo pela geologia e pelos dinossauros, Galopim de Carvalho tornou-se uma figura pública ao usar o seu carisma de grande comunicador para incutir nos jovens e nos seus alunos a paixão pela história natural do planeta e para lutar por causas maiores como a luta pelo património geológico, em especial pela preservação de jazidas com pegadas de dinossauros, como por exemplo as da pedreira do Galinha na Serra de Aire ou as famosas de Carenque, esta última batalha que ainda continua muito actual...
E senhor professor, não sendo realista desejar-lhe outros 90 anos de vida e energia, que venham então mais 90 semestres! E obrigado!


João Tio Rex

(Paleontólogo de Valmedo)

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Zby

 

ZBY, O DINOSSAURO E O CÃO...


Enquanto os caminhantes se dispunham em semicírculo para ouvir Octávio Mateus falar sobre uma grande descoberta que ocorrera mesmo à nossa frente, na arriba de Vale de Pombas, a praia mais pequena, mais secreta e agora ainda mais inacessível de todo este jurássico litoral da Lourinhã, senti um roçar húmido nas minhas pernas e instintivamente voltei-me para deparar com um pequenito cão a olfactar-me com uma curiosidade extrema...


   

 - Apresento-vos o ZBY! - atalhou o Octávio apontando para o cão... - Chama-se assim em homenagem a um grande paleontólogo, GEORGES ZBYSZEWSKI, russo de origens polacas e naturalizado francês e carreira académica feita na Sorbonne de Paris e que tendo vindo a Portugal efectuar pesquisas geológicas e paleontológicas para um trabalho nunca mais de cá saíu, virou português até ao último suspiro! Mas como ninguém em França ou em Portugal conseguia dizer facilmente o seu nome era tratado simplesmente por ZBY. E ali mesmo à vossa frente descobrimos em 1996 um dinossauro que baptizámos por Zby atlanticus...  E depois começa-se a fazer luz no meu espírito, tudo se encadeava agora e se tornava maravilhosamente lógico, simples e natural, vinham-me à lembrança aquelas fotos na primeira página do jornal que retratavam as escavações que trouxeram o bicho à luz do dia.


Foto : Jornal Público


E o simpático bicho era um gigante saurópode herbívoro com 19 metros de comprimento e 4 de altura, de pescoço longo e elegante que viveu no Jurássico Superior, ou seja há 150 milhões de anos...


Zby - Museu da Lourinhã

E claro, muitas vezes passei ao lado do Museu da Lourinhã e olhava para aquela enorme pata de dinossauro e apenas via eu uma enorme pata de um qualquer dinossauro mas agora sei-o que é uma réplica do membro anterior do Zby atlanticus descoberto em Vale de Pombas, mesmo à beirinha do Atlântico...




João Tio Rex

(Paleontólogo de Valmedo)

"O ninho"

 
Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

O apelo da natureza...

 


CURIOSIDADES DO MUNDO CÃO - XXXIII


O INOCENTE CHICHI JURÁSSICO...


Eu próprio sei muito bem o que é isso do irresistível apelo da natureza, afinal quantas vezes já fui obrigado a aliviar-me pelas falésias do Caniçal ou de Paimogo aquando das minhas esporádicas corridas e caminhadas? E garanto-vos, não há melhores alívios do que aqueles em que temos a nossos pés a magnificência azul do frio e tranquilo Atlântico e a majestade das intemporais Berlengas... Mas claro, que eu saiba, nunca tive a sorte de chichizar em cima de milhões de anos de história natural como aconteceu no longínquo 1993 a uma menina de tenra idade, a Marta, que acompanhava os seus pais numa caminhada exploratória em busca de artefactos arqueológicos numa zona onde tinha sido descoberto anos antes o trágico tholos de Paimogo... 


"Ninho de ovos de dinossauro" - Museu da Lourinhã


Horácio e Isabel Mateus, o abençoado casal de arqueólogos que fundou o Museu da Lourinhã em 1984, decidiram como tantas outras vezes era hábito fazer uma descontraída caminhada pelas arribas próximas a Paimogo mas claro que a irresistível beleza do horizonte atlântico e das Berlengas não era suficiente para os impedir de desviar a atenção para os calhaus e os pormenores da paisagem, afinal tinham a plena convicção de que pisavam terrenos sagrados no que concerne a vestígios históricos intemporais, mas naquele dia até eles foram surpreendidos...




"Local da descoberta"


Então, a meio caminho entre o forte de Paimogo e Vale de Pombas, a menina Marta avisa os pais que precisa de fazer chichi e assim lhe fizeram a vontade, que outro remédio havia para fazer face às forças da natureza, ali era um bom sítio e cá vai disto mas eis que por misteriosos e insondáveis sinais cósmicos e enquanto aguardava que a filha se despachasse a Isabel repara num microscópico artefacto de um milímetro de espessura ali à beira no chão e imediatamente se apercebe que aquela coisa minúscula era parte de uma casca de ovo de dinossauro! O resto é história, as escavações duraram 4 anos e quando em 1997 a descoberta foi resgatada por completo acabou por ser notícia de primeira grandeza por todo o mundo, afinal tinha sido descoberto um ninho com cerca de 100 (!) ovos de dinossauro da espécie Lourinhanosaurus, muitos deles com embriões e que se tornou de imediato uma notícia mundial e uma das descobertas científicas mais importantes de sempre e que contribuiu decisivamente para que a Lourinhã seja hoje considerada a capital dos dinossauros...  
E tudo começou num inocente chichi de uma inocente menina durante uma inocente caminhada e, se é sabido que muitas das mais importantes descobertas científicas da história da humanidade ocorreram por acaso e ainda admitindo que delas tenham sido tivesse romanceadas, esta do ovo da Lourinhã aconteceu tal e qual como nos confidenciou Octávio Mateus durante uma inocente caminhada, ele que é um orgulhoso herdeiro dos pais e irmão da tal menina que pediu inocentemente para fazer chichi em cima de um dos mais importantes ninhos de dinossauro alguma vez descobertos neste mundo-cão...





Lourinhã na imprensa


E logo pela tardinha quando a meio da minha caminhada pelas jurássicas falésias de Paimogo eu me puser a verter as águas chocas não vou olhar como sempre para os últimos raios de sol que se afogarão no Atlântico nem para a mancha escura das Berlengas, vou olhar muito atentamente para o chão, pode ser que descubra uma casca de ovo ou um osso com 150 milhões de anos...


João Tio Rex

(Paleontólogo de Valmedo)

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Descoberta paleontológica

 

QUANDO UM SIMPLES PASSO VALE MILHÕES DE ANOS...


Embora a manhã dominical estivesse farrusca e antevendo eu grande afluência à praia se o céu descobrisse um pouco que fosse, estacionei cá em cima e desci a pé a pequena ladeira que leva ao parque de estacionamento de Vale de Frades e aí chegado aos tropeções enquanto confirmava o conteúdo da mochila guarnecida à pressa depois de uma noite mal dormida reparei então que já estava um pouco atrasado, culpa da obrigatória ida ao Lidl para as compras para o almoço porque, dos muitos grupinhos de caminheiros equipados a rigor que aguardavam alguns já denotavam impaciência para com os atrasados, valeu-me que mesmo assim não fui dos últimos e nem sequer tive tempo de me desculpar pelo ligeiro atraso porque alguém mascarado imediatamente me abordou, era o Simão, presidente da Lourambi e jovem de causas, a confirmar a inscrição e a alertar-me para a importância de votar no projecto "Planalto das Cesaredas" no que respeita ao Orçamento Participativo 2021...   



Octávio Mateus e a descoberta

A "Caminhada dos Fósseis" organizada pela Lourambi tinha como objectivo a observação das arribas, de fósseis e de eventos geológicos característicos deste Oeste especial e a parte da divulgação científica estava a cargo dos especialistas Francisco Costa, João Russo e também, claro, do Octávio Mateus, a maior personagem científica da Lourinhã e uma das mais importantes do mundo inteiro no que à Palentologia e aos dinossauros diz respeito... E ali andava ele misturado no meio dos curiosos caminhantes, sempre afável e disponível, prova viva de que a humildade acompanha o sábio, de chapéu à Indiana Jones, afinal outra coisa não seria esperar de um explorador e de um aventureiro!


"A vértebra"

E ainda não tínhamos tido tempo para passar para a praia do Caniçal quando ainda em Vale de Frades o Octávio pede ao grupo para voltar um pouco atrás, é que, com a ajuda da mais jovem caminheira do dia, uma menina Rita para aí de uma meia dúzia de anos de idade, tinha encontrado uma vértebra de dinossauro incrustada numa rocha! "Raios, isto é uma vértebra de dinossauro?" - lembro-me de ter pensado e ainda por cima eu tinha estado ali na véspera a apanhar um banho de sol a escassos metros daquele calhau... 

- "Temos que vir cá logo com as ferramentas buscá-la!" - disse o Octávio para os seus pares e depois para nós, privilegiadas testemunhas da descoberta: -"Estão a ver porque a Lourinhã é a capital dos Dinossauros?"





Então era assim tão simples e natural a maneira como aconteciam as grandes descobertas arqueológicas e paleontológicas, interroguei-me enquanto prosseguimos em direcção à praia de Paimogo, ia eu sorrindo para mim próprio lembrando-me da advertência que um amigo me fez quando para aqui vim viver há tanto tempo que agora me parece ter sido no Jurássico, dizia-me ele para ter cuidado onde punha os pés, é que a qualquer momento e sem darmos por isso podemos tropeçar numa tíbia ou num dente de dinossauro!  


João Tio Rex

(Paleontólogo de Valmedo)