sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

"Alviela" - Jean-Charles Forgeronne

 

 

LENDAS E NARRATIVAS - XX


OS ESPÍRITOS DAS FLORESTAS


As árvores, ao servirem de alimento, material de construção, combustível e até remédio, sempre tiveram um carácter sagrado para a humanidade e essa natureza divina revela-se de muitas maneiras ao serem consideradas símbolo de vida, de fertilidade, de imortalidade e de renascimento; as árvores são mágicas e consideradas canais de ligação entre o céu e a terra, as suas copas apontam para as estrelas, as suas raízes contactam o submundo, os seus troncos estão ao nosso nível, habitam os nossos lugares entre o que está acima e o que está abaixo... 
E foi num tronco que vi a divindade, a ninfa do Alviela, ali à beira do rio e pertinho dos olhos lacrimejantes da moura...   



"A ninfa do Alviela"


Rezam as antigas lendas gregas que as ninfas são divindades femininas que habitam os campos, as florestas, os rios, os mares... Algumas delas, chamadas dríades (do grego drýs que significa carvalho, essa mítica árvore sagrada também adorada pelos celtas) nascem e habitam nas árvores, cuidando delas durante toda a sua existência, numa união física e espiritual. E quando a árvore morre também a ninfa sucumbe....
E quando deixei a floresta encantada e regressei a Valmedo não resisti a fazer uma visita a uma velha conhecida, uma ninfa de belos cabelos compridos que à janela do seu tronco à beira da estrada concorrida se diverte observando os namorados juvenis a caminho do liceu...



"A dríade de Valmedo)


 João Iniciado

(Ocultista de Valmedo)

 

LENDAS E NARRATIVAS - XIX


A INFELIZ MOURA DO ALVIELA

Diz-se que noutros tempos, foragida do seu reino longínquo, quem sabe se das bandas de Alcobertas, chegou aqui onde hoje e desde há muito nasce o rio Alviela uma corajosa e infeliz princesa que desobedeceu à imposição do seu pai para casar com um príncipe muito rico... Acontece que a moura princesa estava apaixonada por um rapaz pobre da sua terra, mas vendo que a união com esse amor com que sonhava dia e noite era impossível e que a infelicidade lhe estava destinada por aqui se escondeu, chorando a toda a hora a sua triste sorte... 


"Os olhos"



Mas uma bruxa de má índole descobriu o paradeiro da infeliz moura e através dela o rei foi enviando à filha outras propostas de casamento, mas nenhum dos pretendentes a princesa aceitava. Então o rei, ansioso por resolver a sucessão do trono do seu condado e farto da teimosia da princesa fez-lhe um ultimato: ou casava com o bonito rapaz que lhe tinha enviado, e que na realidade era um boi encantado, ou seria condenada a viver eternamente naquelas grutas e as suas lágrimas seriam tantas e tão grossas que se tornariam num rio que daria para regar para todo o sempre as terras e dar de beber a pessoas e animais...
E, de facto, as águas do Alviela brotam de orifícios que parecem olhos em lágrimas...    





João Parte Pedra

(Geólogo de Valmedo)