OS OSSOS E O PESO DA IDADE
Pois é, amigos caninos, algum dia teria que acontecer! Falo daquela sensação com que ficamos depois de a realidade, sem aviso, nos cair em cima e mostrar-nos à evidência que o nosso corpo já não vai para novo e que requer alguns cuidados e limites ao seu uso... O dia até tinha começado muito bem quando me apercebi que, após um longo e penoso jejum, iríamos vadiar pelos campos selvagens de Verde-Erva-Sobre-o-Mar, de repente vejo-me atrás das grades do velhinho Corsa do M., evidentemente aos saltos de contentamento e eles foram tantos que mais tarde, como justificação para o que aconteceu, o J.C ter dito que "ele de tanto saltar até chegarmos às Cezaredas já estava cansado e de língua de fora, o esforço se calhar foi maior do que o da própria corrida!"...
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Prisioneiro em viagem... |
Reconheço que é uma coisa superior ao meu controlo, amigos caninos, antecipo tanta excitação sempre que saímos de Valmedo que só acalmo depois de estar mesmo de rastos, e esta aventura não foi excepção, depois de chegarmos a casa passei a tarde e a noite em modo de merecido descanso, o problema foi a manhã seguinte, não podia mexer-me tantas eram as dores, especialmente na mão esquerda que nem conseguia apoiá-la no chão...
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Correndo |
Foi um sofrimento que vos digo, amigos caninos, só me arrastando em três apanhados membros me podia deslocar e claro, quando a N. me viu naquele lastimoso estado entrou em desespero, ainda a oiço a falar ao telefone com o J.C que haveria de chegar mais tarde depois de uma noite a trabalhar no hospital: "Ele não se pode mexer, está prostrado, coitadinho, será que comeu qualquer coisa envenenada sem tu te aperceberes durante o passeio?"... "Não, mesmo quando ele saiu do meu campo de visão não teve tempo para isso... É estranho, ele ontem à tarde conseguia andar bem apesar do cansaço, será que são cãibras?" - ouvia eu do outro lado... "Lembras-te de quando eu chegava a casa depois de uma maratona e não conseguia sequer sair direito do carro?", "Pois, vocês são uns exagerados, é o que é! Ontem abusaste e agora ele nem se mexe! Vou mandar-te uma foto dele para veres a sua tristeza..." E lá me tiraram o retrato para diagnóstico do meu sofrido estado... "O que me preocupa é aquela pata que ele nem mexe... - continuava a N. - É a mesma da qual ele coxeia de vez em quando e já a observei, não vejo lá nenhuma ferida nem nenhum espinho..."
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Prostração |
Vieram depois longas e estranhas horas, se por um lado fui contemplado com comida de tacho confeccionada com o intuito exclusivo de me animar, eu que até tinha perdido o apetite pela ração desde a véspera, por outro lado assustava-me o ar com que me olhavam a toda a hora, eu deveria estar mesmo com um aspecto miserável... E também não gostei mesmo nada de ouvir a provocação do J.C., embora se calhar com razão: "Então bicho, estás a ficar velho!? Agora somos dois..." E depois para a N.: "Bem, mesmo que ele entretanto recupere daquela pata, como sempre recuperou e rapidamente, temos que tirar a coisa a limpo para ver se tem alguma fractura ou uma fissura ou seja lá o que for..." E lá fomos ao médico, amigos caninos, a minha primeira ida às urgências, aliás, até agora só tinha tido necessidade de ir ao veterinário por causa das vacinas, uma vez ao ano...
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A caminho do RX |
Consulta efectuada, radiografia tirada e que não acusou nenhuma lesão na mão problemática, prescrição de comprimidos para as dores e outros para fortalecimento das articulações, agora já ando, corro e salto como antes e a minha existência vai decorrendo aqui por
Valmedo com a normal tranquilidade... Apenas uma coisa me vai tirando ao de leve o sono, fui pesado e acusei 4 quilos a mais para o meu peso ideal, estão a ver, será que me vão cortar nos petiscos? E muito convencido também não ficou o
J.C, apesar de a simpática doutora tivesse logo afirmado que não acreditava serem cãibras, ele continua a desconfiar disso e quando me apanhou a sós lançou: "
James, porque não podes tu também teres
cãibras como eu? Até a formação da palavra é sugestiva,
cãi (
cão) mais
bras (
abrasado), ou seja,
cão abrasado..."... Não sei se estava a brincar...
JAMES
(Cão de Valmedo)