sexta-feira, 17 de maio de 2024

 

E À TERCEIRA FEZ-SE LUZ DE VEZ!


Na primeira vez, logo pela manhãzinha cedo, como gosto, primeiríssima sessão do dia, cheguei a entrar e até me sentei numa das sete almofadas espalhadas pelo centro do espaço, respirei fundo para oxigenar o cérebro e prepará-lo para outra dimensão, olhei em volta para a instalação de lâmpadas ainda inertes que me rodeavam, consultei ansiosamente o relógio, estava na hora, 10:30 em ponto, mas... nada aconteceu, tudo continuava escuro... Um par de minutos passou e a cortina abriu-se um pouco mostrando apenas uma cara em contra-luz, era o João Miguel, funcionário anfitrião e encarregue de accionar os interruptores certos para o início da coisa; "Nada?" - perguntou, e nada eu respondi encolhendo os ombros de mão estendida, e agora o que fazer? Ele não iria mexer no computador, isso era com os responsáveis da obra, ele apenas tinha feito aquilo que lhe tinha sido pedido... Desculpas à parte, teria que ficar para outra hora... 



  
Na segunda vez, no dia seguinte exactamente à mesma hora, lá estava eu a colocar o pé para entrar na Galeria Municipal quando ouço uma voz atrás de mim, era o João Leirão, outro funcionário mas especialmente um animador cultural deste oeste profundo especialmente pelos lados do Moledo onde aí, sim, as coisas acontecem, a dizer-me: "Ainda não vai ser hoje que vais ver isso, ontem a coisa falhou e então à noite a coisa broncou mesmo, o quadro foi abaixo!. Os electricistas andam agora aí a ver se resolvem a coisa." "Não há problema! - disse eu - volto amanhã..." E eu sabia disso porque, na véspera, em plena apresentação de um pequeno vídeo sobre o "Revolução sem sangue", parecia que um morteiro tinha rebentado no anfiteatro tal o estrondo do quadro eléctrico ao ir abaixo...  Manobras da reacção, pensei então...


  


E na terceira vez, ao terceiro dia e à mesma hora, não era só um mas sim 3 Joões, o João Miguel, o João Leirão e eu próprio, à porta ansiosamente esperando que dessa vez é que se veriam "três luzes acenderem ao mesmo tempo em três janelas diferentes",  a instalação de David Santos e Berto Pinheiro, o primeiro conhecido como Noiserv para os musicólogos e o segundo como iluminador na área musical e teatral, sendo uma obra que junta o som, a voz e a luz durante 15 minutos e 57 segundos para nos apresentar o livro "Três-vezes-dez-elevado-a-oito-metros-por-segundos"...  




E é uma história sobre o "Bairro das Quatro Esquinas", onde cada um, à sua janela e à sua luz, vê o mundo de uma maneira diferente, a menina mais pequena do bairro, o menino mais alto do bairro e um velho que colecciona lâmpadas de outros tempos, já gastas, como se com isso pudesse reter os momentos que elas iluminaram outrora...  Nenhum dos três consegue ver o mundo por inteiro apesar das suas janelas se iluminarem no mesmo instante, nem os meninos com a ânsia de ver o presente e o futuro nem o velhote com o desígnio de preservar as memórias, tudo junto resulta numa abordagem deliciosa sobre a luz, o tempo, o espaço, a memória, sobre tudo afinal, cada vez mais à velocidade da luz...


                                                                                                     Fotos: Jean-Charles Forgeronne

João Plástico

(Artista de Valmedo)

 

OS MÁRTIRES DO 25 DE ABRIL


Uma pedrada no estagnado charco que alimentou desde sempre a falsa ideia de que a revolução dos cravos tinha sido limpa, sem derramamento de uma gota de sangue, assim se pode caracterizar REVOLUÇÃO SEM SANGUE,  primeira obra de Rui Pedro Sousa, realizador de apenas 36 anos... O filme, estreado nas salas há pouco mais de um mês, parece condenado ao sucesso e a ser uma obra de culto tal o impacto relatado por quem já o visionou e chegou em boa hora aos LIVROS a OESTE, não para ser visto mas para ser falado e discutido... Embora o realizador não estivesse presente ouvimo-lo num trailer a dizer a razão principal que tinha estado na génese da obra, a estupefacção que sentiu ao saber que afinal, ao contrário do que pensava e porque nunca alguém lho tinha dito, a revolução tinha causado mortos, cinco na verdade... A partir daí, juntamente com a argumentista AMP Rodriguez, encetou um trabalho de investigação sobre as vitimas junto de testemunhas, familiares e historiadores que resultou na história real sobre os trágicos últimos dias de 4 jovens mortos pela PIDE-DGS... E há quem, como Eurico Reis, também presente na conversa, seja da opinião de que se não tivesse sido avisado à última da hora dessas mortes o General Spínola não teria anunciado ao país a extinção da PIDE-DGS pois o que estava na calha para a polícia do estado era apenas mais uma reformulação, uma espécie de suavização com mudança de líderes... 
O resto é ir á descoberta do filme e reviver a história com outros olhos...





João Película

(Cinéfilo de Valmedo)

quinta-feira, 16 de maio de 2024

 


ESCRITO NA PAREDE - XXXIII


Abril não é só uma data ou um dia, é muito mais que o 25 e pode (e deve) ser falado quando for necessário, ou simplesmente quando apetecer, por isso falemos (e leiamos) neste Maio dos 50 anos da liberdade...



Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafode Valmedo)

quarta-feira, 15 de maio de 2024

terça-feira, 14 de maio de 2024

 

ENCONTROS IMEDIATOS COM ESCRITORES - XII


A FIESTA, A VIDA, A MORTE...


Fui de facto surpreendido, sinceramente não estava à espera de o encontrar e muito menos por ali, o que raio faria ERNERST HEMINGWAY por Ronda? E no entanto ali estava ele, olhando para mim desafiadoramente em pleno Paseo de Blas Infante... Demorou um pouco a fazer sentido mas a história ajuda: em 1785 é construída em Ronda a primeira estrutura permanente em pedra para a celebração de espectáculos equestres e touradas, o que faz dela a praça de touros mais antiga de toda a Espanha e que ao longo dos anos e de muitas histórias se tornou o antro espiritual da tauromaquia, muito graças ao matador Pedro Romero, rondeño nascido em 1754 e que inventou as modernas touradas ao dar-lhe uma veneta um dia ao decidir, desafiando todas as convenções e tradições, descer do seu cavalo para enfrentar o touro a pé e assim o matar, dizem que em sinal de respeito para com a fera, ele que dizem ter matado para cima de 6000 touros! 







Não admira, pois, que Ernest Hemingway tenha demandado Ronda em busca da essência e do mistério da tauromaquia, essa arte tão do seu agrado porque cheia dos símbolos complexos da alma humana e também porque teatralizava a sempiterna luta entre a vida e a morte... Ainda jovem, em 1926 o escritor haveria de dramatizar essas vivências por Ronda em "Fiesta", a sua primeira obra, tendo inevitavelmente baptizado o seu toureiro herói como Pedro Romero, o tal...




Mas não foi só pelas touradas que Hemingway se prendeu de amores por Ronda, terá dito ele que " uma cidade que é a ideal para ver a primeira tourada, e mesmo que seja a única tourada que se veja, essa cidade é Ronda!", e ainda que " Ronda é o destino certo quando se planeia viajar para Espanha em lua-de-mel ou para estar com uma namorada; belos passeios, bom vinho, comida excelente, nada para fazer..."... 




                                                             Fotos: Jean-Charles Forgeronne




João Palmilha

(Viajante de Valmedo)


 RONDA PELO PRECIPÍCIO


Alguns Andaluzes de outrora, fartos de serem presa fácil de bandidos e invasores, em vez de viverem nas planícies desataram a construir as suas cidades fortificadas no cimo dos montes e dos penhascos e assim nasceu RONDA, um dos pueblos blancos, assim chamados porque todas as casas são caiadas à boa maneira mourisca... Alcandorada numa meseta rochosa a 739 metros de altitude, a cidade não só desafia os sentidos e quem sofre de vertigens como convida o viajante a perder o olhar pela imensidão de cenários espectaculares que oferece ao caminhar sem pressa pelo Paseo de los Ingleses ou ao quedar-se pelos vários miradouros sobre o precipício, e no final de tarde, então, nada melhor do que deixar-se perder lentamente pela Alameda del Tajo, um encantador jardim botânico do século XIX...


"Puente Nuevo" - Jean-Charles Forgeronne


Mas claro que o ex-libris de Ronda é a sua ponte, chamam-lhe Puente Nuevo, inaugurada em 1793 depois de 40 anos de construção liga a cidade nova à cidade velha do tempo dos mouros e que dos seus mais de 100 metros de altura domina o canhão Tajo de Ronda e o rio Guadalevín, lá muito em baixo... 
Uma cidade apaixonante e sedutora, que o digam celtas, fenícios, romanos e árabes que por Ronda foram atraídos e encantados, mas também a aristocracia europeia e muitos artistas em busca de uma autenticidade perdida, por exemplo Orson Wells designou-a como o sítio ideal para morrer e fizeram-lhe a vontade, em 1987 para aqui trouxeram as suas cinzas, vindas da California...

"Ronda mourisca" - Jean-Charles Forgeronne

 

João Palmilha

(Viajante de Valmedo)

sexta-feira, 10 de maio de 2024

 

E ALFONSO XIII CAMINHOU UM POUCO...


Em 1921, após mais de seis anos de complicadas obras, Alfonso XIII, "El Africano" como lhe chamavam, caminhou um pouco ao longo das perigosas passagens construídas ao longo do Desfiladero de los Gaitanes para inaugurar a grandiosa obra do seu reinado, a Central Hidroeléctrica del Chorro, construída para levar a electricidade às povoações da zona do vale Guadalhorce, e esse seu pequeno passeio baptizaria para sempre o percurso actual, El Caminito del Rey... 
Uma das maravilhas geológicas da Andaluzia, El Garganta del Chorro é um imenso abismo que atinge por vezes 180 metros de altura e nalguns locais com apenas 10 metros de largura, escavado na montanha calcária pelo rio Guadalhorce e com vários desfiladeiros onde, na ausência de estradas, se construíram caminhos ao longo das paredes das falésias para os trabalhadores da barragem transportarem os materiais necessários à sua construção...




Concluída a obra, as passagens abertas nos desfiladeiros atraíram curiosos e aventureiros que desafiavam o perigo e os acidentes eram tantos que o Caminito del Rey ficaria entretanto conhecido como o percurso mais perigoso do mundo!  Após 5 mortes ocorridas entre 1999 e 2000 as autoridades decretaram o encerramento ao público para uma remodelação completa do percurso e só após 15 anos de trabalhos, em 2015, o Caminito del Rey voltaria a abrir, agora moderno, seguro e infelizmente demasiado turístico... Ainda assim a experiência é bastante gratificante, abismos de perder a respiração e paisagens deslumbrantes esperam pelos ousados...



 
Fotos: Jean-Charles Forgeronne

João Palmilha

(Viajante de Valmedo)

quinta-feira, 9 de maio de 2024

 

CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO - XLIX


O QUILATE DA ALFARROBA


E foi então que num anfiteatro improvisado à sombra de sábias árvores, última paragem antes de enfrentar o terrível Desfiladero de los Gaitanes, por entre dentadas na maçã e goles de água da assistência o simpático guia lançou um desafio aos aventureiros apontando para uma árvore atrás de si:
 - Mira, quien sabe que árbol és esta aqui? - e alguém respondeu, convicto...
 - Algarrobo!
 - Mui bien! Y ahora una curiosidad... 
E a curiosidade era que a alfarrobeira (ceratonia siliqua) tinha uma particularidade extraordinária conhecida há longos séculos: todas as suas sementes, em qualquer árvore e em qualquer parte do mundo tinham todas invariavelmente o mesmo peso: 0.20 gramas, ou seja 200 miligramas! O resto da história torna-se lógico: as sementes da alfarroba, pequeníssimos e singelos grãos escuros que eram na antiguidade designadas por quilates, termo derivado do árabe karats e do grego kération, eram utilizadas no Médio Oriente e na Roma antiga para pesar ouro e pedras preciosas como os diamantes! E que melhor padrão de pesagem? Num prato da balança os quilates, no outro os diamantes, e ainda hoje o quilate (200 miligramas) é a unidade de peso dos metais preciosos...   


"Algarrobo del Rey" - Jean-Charles Forgeronne

E que extraordinário tudo isto é, pensei enquanto olhava para as negras e secas vagens de alfarroba que ameaçavam cair a qualquer instante, foi preciso demandar corajosamente o mítico Caminito del Rey para tirar muitos quilates ao peso da minha ignorância acerca deste mirabolante e incrível mundo-cão... E renitente lá continuei o percurso, já o guia lá ia muito à frente contando outras histórias...


"Pelo caminho real" - Jean-Charles Forgeronne 

João Palmilha

(Viajante de Valmedo)

quarta-feira, 8 de maio de 2024

 

"Noite em Málaga"


Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

 

ESCRITO NA PAREDE - XXXII


LEVAR A CIDADE CONNOSCO


As cidades nunca são as mesmas quando a elas regressamos passados anos e mesmo aquelas que aparentemente se mantêm iguais, sem grandes crescimentos ou construções, a cada visita são diferentes aos nossos olhos, nem que seja devido à saudade e aos afectos... Duas décadas depois regressei a Málaga e a primeira impressão foi avassaladora, muito mais prédios, muito mais trânsito, caótico na verdade, e muito mais pessoas, especialmente turistas trazidos aos magotes pelos monstruosos navios de cruzeiro... Para recuperar a "minha" Málaga de outrora sou então obrigado a demandar o seu coração histórico pois é aí que o tempo se mantém quase inalterado, fecho os olhos e ao abri-los na praça da catedral ou numa ruela estreita dos bairros antigos ou num qualquer jardim tanto se poderia estar a viver o dia de hoje ou outro de há vinte anos atrás, essa sim é a cidade que se leva connosco e que trazemos quando regressamos...
E é precisamente isso que nos diz um verso escrito literalmente numa parede escondida de Málaga e a que nenhum viajante pode ficar indiferente: 


"Não acharás outra terra nem outro mar. A cidade irá sempre contigo" - Foto- J.C.Forgeronne

E as cidades, tal como os livros e os poemas levam-nos a outros lugares, a outras cidades, a outros livros e a outros poemas, numa infinita viagem por este mundo-cão, e ali, olhando aquela singelo escrito na parede, viajei até outras cidades que carrego dentro de mim, algumas delas sem sequer lá ter estado, por exemplo a Alexandria de Lawrence Durrel:

A CIDADE

Dizes: vou partir
Para outras terras, para outros mares
Para uma cidade tão bela
Como esta nunca foi nem pode ser
Esta cidade onde a cada passo se aperta
O nó corredio: coração sepultado na tumba de um corpo,
Coração inútil, gasto, quanto tempo ainda
Será preciso ficar confinado entre as paredes
Das ruelas de um espírito banal?
Para onde quer que olhe
Só vejo sombras ruínas da minha vida.
Tantos anos vividos, desperdiçados
Tantos anos perdidos.
Não existe outra terra, meu amigo, nem outro mar,
Porque a cidade irá atrás de ti; as mesmas ruas
Cruzam sem fim as mesmas ruas; os mesmos
Subúrbios do espírito passam da juventude à velhice,
E tu perderás os teus dentes e os teus cabelos
Dentro da mesma casa. A cidade é uma armadilha.
Só este porto te espera,
E nenhum navio te levará onde não podes.
Ah! então não vês que te desgraçaste neste lugar miserável?

Cavafis

(Tradução de Daniel Gonçalves) em "Justine", de Lawrence Durrel


"Málaga" - Jean-Charles Forgeronne

João Palmilha

(Viajante de Valmedo)

quinta-feira, 2 de maio de 2024

"El Perro y la ventana"

 Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

 

ESCRITO NA PAREDE - XXXI

EL AMOR DE LOS POETAS ANDALUCES


Muito antes de por Verona ter acontecido a mais famosa história de amor deste mundo-cão também Córdoba teve o seu Romeu e a sua Julieta, ele Ibn Zaydum e ela a princesa Wallada, dois grandes poetas do século XI... Como convém, foi uma história de amor intenso e trágico, para além de proibido já que a princesa pertencia a um clã rival e segundo a lenda tudo se complicou quando Wallada descobriu uma traição do amado com uma escrava; a coisa não ficou nada fácil para Zaydum já que, pelos vistos, para além dos dotes literários a princesa tinha carácter rebelde, era uma mulher corajosa e ousada que terá chegado até a desafiar as regras sociais dos imãs, uma autêntica feminista à época e a sua vingança chegou de duas formas: primeiro encheu os seus poemas de censuras ao amado e depois, não satisfeita, iniciou uma relação amorosa com um inimigo do poeta... Zaydum bem tentou ser perdoado mas depois de muito sofrimento não teve outro remédio que sair de Córdoba e exilar-se em Sevilha, onde acabaria os seus dias, já a princesa consta que nunca chegou a casar...




Quem se perder pelas ruas de Córdoba pode encontrar, no lugar onde outrora estavam situados os banhos da antiga fortaleza mourisca e no sítio exacto onde eles declararam o seu amor um ao outro, o Monumento dos Amantes, onde duas mãos se procuram e quase se tocam e onde se pode ler em bom castelhano e em árabe os poemas que trocaram:

"Tenho ciúme dos meus olhos,                     "Teu amor me tornou famoso entre as gentes,
de mim toda, de ti,                                         por ti se preocupam meu coração e pensamento;
do teu tempo e lugar,                                     quando te ausentas nada me pode consolar
meu ciúme não cessará..."                            e quando chegas todo o mundo está presente."
Wallada                                                         Ibn Zaydum


João Palmilha

(Viajante de Valmedo)

 

AO SABOR DE UM SALMOREJO


De vez em quando olha-se o Guadalquivir que a custo arranja caminho por entre as ilhotas de vegetação e atravessa-se a ponte romana o mais lentamente possível de modo a abarcar os contornos centenários do casco histórico e no seu final duas opções se oferecem ao viajante: ou vira à direita e continua fluindo em ritmo desprendido ao longo do Paseo de la Ribera, embalado pelos aromas que já se desprendem das esplanadas e pelo voo das aves ao longo das margens do rio, ou então segue em frente e mergulha a fundo em séculos de história de uma cidade que outrora foi visigoda, mourisca, judia ou cristã e que agora é tudo isso ao mesmo tempo... 


"Córdoba vista da ponte" - Jean-Charles Forgeronne

Não faltam visitas obrigatórias em Córdoba, à cabeça de todas a deslumbrante mesquita-catedral, seguida da sinagoga para que não surjam invejas religiosas e depois, claro, pelo templo romano... Então para quem for apreciador de templos religiosos está no sítio certo, para além da catedral pode percorrer o circuito das 12 Igrejas Fernandinas da cidade, por entre  relíquias e devoção...


"Pátio cordobés" - Jean-Charles Forgeronne


Mas o encanto de Córdoba não se restringe aos monumentos ou aos palácios, as suas ruas, as suas pequenas praças escondidas e os seus afamados pátios chegavam só por si para encher a alma, tudo semeado de buganvílias e flores como a Calleja de las Flores ou a estreita Calleja del Pañuelo ou então de histórias e lendas como aquelas arrepiantes da Calle de las Cabezas... Não se admire também, amigo viajante, se der de caras com desesperados apelos à tranquilidade e ao descanso que essa coisa de se viver num sítio pejado noite e dia de turistas não deve ser pêra doce...


"Derecho al descanso" - Jean-Charles Forgeronne

Por entre tantas voltas a dar é certo o estômago dar horas, tal como o relógio da Plaza de las Tendillas que o faz ao som de uma guitarra, e então nada melhor do que abancar numa esplanada da Plaza de la Corredera, a única praça central rectangular de toda a Andalúzia, e saciar os sentidos com um imperdível salmorejo cordobés, tão macio e saboroso que não há palavras para o descrever...


"Salmorejo cordobés"- Jean-Charles Forgeronne

João Palmilha

(Viajante de Valmedo)