EFEMÉRIDE # 51
QUANDO A TEIMOSIA MELHORA AS COISAS...
Há precisamente 50 (!) anos, a 26 de Agosto de 1968, era lançado pela editora Apple um single dos BEATLES, com HEY JUDE no lado A e REVOLUTION no lado B, e que seria simplesmente o maior sucesso da banda! Para além da música genial, esse acontecimento elevou os Beatles a um patamar nunca visto, deu-lhes uma aura transcendental e inigualável, fazendo aparecer inúmeras interpretações e teorias conspirativas sobre as duas canções...
Os FAB FOUR estavam em plena crise, egos em choque, estados de alma deprimidos e uma existência suspensa pelos instáveis arames do sucesso levaram a que, num belo dia, talvez solarengo talvez chuvoso à boa maneira british, PAUL McCARTNEY se tivesse posto a caminho para uma visita especial... Meteu-se no carro e rumou em direcção à casa dos LENNON, onde apenas o esperavam Cinthia, a mulher abandonada em destroços e o pequeno Julian, então com 5 anos, a quem Paul sempre dedicara muita atenção, sendo quase um pai que o pequeno nunca tivera devido à falta de jeito e ao alheamento de John (palavras do próprio)... A ideia era levar-lhes um pouco de conforto e apoio porque John tinha entretanto abandonado a família por causa de Yoko Ono, essa misteriosa e malfadada figura a que todos apontaram o dedo pelo mau ambiente e pela separação do grupo. E foi então, naquela hora de viagem de automóvel que Paul começou a cantarolar qualquer coisa que daria no Hey Jude, era um hábito que ele tinha quando viajava sozinho e o resultado foi uma simples e poderosa mensagem de alento e força perante as adversidades, um remédio para as dores da alma:
E sempre que sentires essa dor,
Ei Jude, vai com calma,
não carregues o mundo nos teus ombros...
E sempre que sentires essa dor,
Ei Jude, vai com calma,
não carregues o mundo nos teus ombros...
Regressado a casa, McCartney aprimorou as notas no seu piano e a obra-prima estava lançada, apenas precisava dos retoques da banda, tarefa nada fácil devido ao clima reinante perante a presença tóxica da namorada de Jonh, mas a coisa lá se fez não sem haver alguns atritos devido à teimosia (neste caso positiva) de Paul em, contra a opinião dos outros membros, manter os 7 minutos de duração da música, coisa impensável para um single da época, bem como em recusar os floreados de guitarra que George Harrison tinha criado para adornar o tema... Paul preferiu reunir uma orquestra e daí resultou a melhor canção dos Beatles e na opinião de Lennon, que admitiu ter pensado que a letra da música era sobre ele próprio, a melhor criação de Paul...
Mas Hey Jude serve para todos, disse um dia McCartney, e daí a sua aura!
Os Beatles e um corpo estranho... |
Por sua vez, LENNON também mostrou a sua boa teimosia, irritado com a recusa dos outros três em incluir no lado B do disco a sua primeira versão de REVOLUTION por a acharem demasiado lenta e insípida, coisa normal porque Jonh tinha regressado há pouco da sua estadia contemplativa nas montanhas da Índia, para ele era então tudo cool e tudo paz, tudo lento e tudo calmo! Mas o embrião revolucionário estava lá, na letra, era um grito de revolta contra a guerra do Vietname, contra o assassinato de Martin Luther King, contra a invasão russa da Checoslováquia e a favor da revolta dos estudantes parisienses... E então não foi de modas, furioso por sentir que estava a ser castigado por causa de Yoko Ono, Lennon acelera o ritmo e distorce de tal forma o som das guitarras que a canção se tornou um hino percursor do hard-rock...
Tudo junto, o melhor single da história da música, jovem de 50 anos...
Dizem que queres uma revolução,
Bem, sabes, todos queremos mudar o mundo...