BACALHAU, UMA EPOPEIA LUSITANA - I
Provavelmente nenhum outro ser vivo teve ou terá tanta importância e influência sobre a economia, o modo de vida e a cultura de um povo como aquela que o BACALHAU tem para os portugueses... Mas, antes de mais, convém esclarecer que o bacalhau é peixe, claro, isso toda a gente sabe, mas o que talvez muitos desconheçam é que o bacalhau não é um peixe (!), essa designação aplica-se a dezenas de espécies de peixe do mesmo género mas, simplificando as coisas, destacam-se dois tipos comercializados como bacalhau: Gadus morhua, o original e verdadeiro bacalhau, o nosso, cujo habitat é o Atlântico Norte e o Gadus macroceplalus, o bacalhau do Pacífico, de menor qualidade...
É um peixe de águas bastante frias, podendo ser encontrado nas costas do Canadá (Terra Nova), ao largo da Gronelândia e da Islândia ou no Mar de Barents (a norte da Escandinávia)... Aliás, quando os Portugueses, no séc. XV, chegaram à Terra Nova, chamaram-lhe Terra do Bacalhau, tal era a abundância da espécie....
Curiosamente e neste preciso momento, e até meados de Abril, está acontecendo uma maravilha da natureza: milhões de bacalhaus estão a percorrer cerca de 1000 quilómetros desde o Mar de Barents até às costas da Noruega para desovar... Primeiro chegam as fêmeas, as quais libertam os ovos por várias ocasiões (diz-se que algumas chegam a produzir entre 9 e 15 milhões de ovos) e só depois chegam os machos prontos para, numa competição ferrenha, os fertilizar...
A capacidade reprodutiva do bacalhau é de tal forma impressionante que se tornou mítica, assustando até o grande romancista Alexandre Dumas que, em 1873, terá escrito no Le Grand Dictionnaire de Cuisine:
" ...se nada impedisse a incubação dos ovos de bacalhau e se cada ovo se tornasse um bacalhau, então só seriam precisos 3 anos para se poder atravessar o Atlântico a pé, sobre o dorso dos bacalhaus..."
" ...se nada impedisse a incubação dos ovos de bacalhau e se cada ovo se tornasse um bacalhau, então só seriam precisos 3 anos para se poder atravessar o Atlântico a pé, sobre o dorso dos bacalhaus..."
Mas um dos eventos que, felizmente, impede esse cenário catastrófico é a captura de ovas de bacalhau, as quais, bem confeccionadas, dão origem a um delicioso petisco que até o gastrónomo autor de " O Conde de Monte Cristo" não desdenharia...
OVAS DE BACALHAU À VALMEDO
Ingredientes:
500 g. de ovas de bacalhau congeladas
300 g grão cozido
2 cebolas
azeite
vinagre
sal
1 ramo de coentros
Cozer as ovas em água fervente com sal durante 10 minutos;
Picar as cebolas e os coentros;
Retirar as ovas e cortá-las às rodelas;
Polvilhar com coentros picados, temperar com azeite e vinagre e envolver com parte da cebola picada; reservar;
Juntar ao grão a restante cebola e coentros e envolver bem;
Temperar generosamente com com azeite e vinagre;
Servir a gosto, quente ou frio.
Nota: - se for servido quente pode aquecer-se o grão na água da cozedura das ovas;
- pode-se juntar ovo cozido ao grão;
- pode ser refrigerado para degustar no dia seguinte, como entrada, refeição ou petisco!
João Ratão
(Chef de Valmedo)
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