sexta-feira, 25 de maio de 2018



EFEMÉRIDE # 48

QUANDO OS MARCIANOS INVADIRAM PORTUGAL...



Pelas 20:40 h. do dia 25 de Maio de 1958, até então um pacato entardecer primaveril, ouviu-se na Rádio Renascença:
         "Senhoras e senhores, interrompemos o nosso programa de orquestras ligeiras para transmitir uma notícia especial...."

Começava assim "A INVASÃO DOS MARCIANOS", uma réplica daquele programa mítico ocorrido vinte anos antes, da autoria de ORSON WELLES e que tinha feito a América entrar em pânico.

Orson Welles durante a emissão


Orson Wells , baseando-se na obra de H.G.WELLS "A guerra dos mundos", elaborou uma peça de teatro radiofónico tão bem sucedida que convenceu 6 milhões de americanos de que havia de facto uma invasão extraterrestre, provocando uma histeria colectiva sem precedentes...
Seduzido pela história, MATOS MAIA, então um jovem  produtor e realizador rádio de 27 anos, e muitos anos antes de se tornar um ícone com os programas "Quando o Telefone Toca" ou "Meia Noite", por exemplo, adaptou a história para o nosso país. Demorou cerca de um ano a preparar o evento e então tornou-se real para os ouvintes:  em vários pontos de Portugal havia marcianos a atacar, especialmente em Carcavelos onde um repórter descrevia com assombro a existência de um monstro terrível e sanguinário... O pânico instalado entre os ouvintes foi tanto que a PIDE teve que intervir, encerrando o programa antes da hora e prendendo Matos Maia por afronta à ordem pública...



Matos Maia

No dia seguinte, a maioria da imprensa criticava veementemente o programa e muitos chegaram mesmo a pedir um acréscimo de censura para a Rádio, mas assim, os que abominaram, os que estranharam, os que não entenderam e os que gostaram, todos reconheceram o elevado nível técnico revelado pela transmissão... Ao nível de Orson Welles! E ficou demonstrada mais uma vez a facilidade com que se pode manipular as massas e levá-las ao histerismo descontrolado...








João das Boas Regras

(Sociólogo de Valmedo)

quinta-feira, 24 de maio de 2018


MONUMENTO DE HOMENAGEM À FISGA ANCESTRAL


"A FORCA"



Jean Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

quarta-feira, 23 de maio de 2018


ADEUS, EUROPA


O que juntou uma dezena de actores portugueses, entre os quais Nicolau Breyner, Virgílio Castelo, João Lagarto, João Didelet e Maria Vieira, num filme da realizadora e também actriz alemã  Maria Schrader? A resposta assenta que nem uma luva: um filme sem pátria e de todo o mundo, ADEUS EUROPA... Uma produção repartida pela Alemanha, Áustria França e Portugal que nos mostra episódios da vida no exílio de STEFAN ZWEIG, ele que se tornou um apátrida devido à perseguição nazi de que foi alvo e que, na parte final da existência, depois de ter vivido largo tempo na Inglaterra e em Nova Iorque, escolheu o Brasil  como refúgio, uma espécie de paraíso e que ele considerava como a terra do futuro.








O que a vida separou este filme juntou, a Alemanha (realizadora e a actriz principal, Barbara Sukova) e a Áustria (o personagem principal, um dos escritores mais famosos da época e o actor que o encarna, Josef Hader). Pelo meio, fazendo jus a uma pátria sem fronteiras como Zweig lhe chamava, juntam-se as línguas diversas, desde o alemão, ao francês, o inglês e, claro, o português... Também os cenários são globais, desde Buenos Aires, Brasil ou América, embora todas as cenas tenham sido rodadas apenas em Lisboa e em São Tomé...

                                                          








   E a parte final do filme, - EPÍLOGO - surpreende pela sensibilidade com que a realizadora abordou a cena capital e mediática da história, o duplo suicídio de Zweig e da sua mulher, cansados e desiludidos, convencidos que a Europa e o mundo estavam perdidos para a barbárie nazi... O jogo de espelhos da cena é genial e simboliza o respeito que Schrader dedicou ao grande escritor.



João Pelicula

(Cinéfilo de Valmedo)

terça-feira, 22 de maio de 2018



O AMOK E OUTROS AMOQUES...

   - Pronto, deu-lhe o amoque! Outra vez! - desabafou a simpática e diligente bibliotecária enquanto que, com um frenesim que já tinha passado do incómodo ao desespero, passava o código de barras do livro pelo leitor sem sucesso aparente....
        - Vou ter que lhe passar um recibo manual... Desculpe! Isto está com o amoque!
E eu nem lhe dei resposta, limitei-me a acenar com a cabeça, vazia de pensamento porque naquele instante apenas me deliciava com uma pitoresca cena, uma formosa jovem fora de si porque o mundo estava sem controlo... 
Escreveu algo numa tira de papel e entregou-ma dizendo:
         - Até dia 2 de Junho... 
         - Até lá o amoque  passa-lhe... - disse eu.
         - Espero bem que sim! - respondeu a jovem, tentando decifrar o meu sorriso autónomo...
        - Desculpe - disse eu - não me estou a rir do seu problema mas sim do engraçado da situação... E mostrei-lhe a capa do livro que tinha requisitado:


    









E o amok não é um amoque! Amoques há muitos, mas como me mostrou Stefan Zweig, AMOK só há um:


" O Amok... sim, o amok, eis o que é: um malaio, seja embora o melhor homem, mais cheio de doçura, absorve a sua bebida... está para ali apaticamente sentado, indiferente e sem energia... De súbito, levanta-se, pega num pinhal e sai para a rua... corre sempre em frente, sem  saber para onde... e quem passa no seu caminho, homem ou animal, ele abate-o com o seu kriss,  e o cheiro do sangue torna-o ainda mais violento... E enquanto corre, os lábios enchem-se-lhe de baba e urra como um possesso... mas corre.... corre sempre... sem ver nada do que lhe fica à direita ou à esquerda, correndo sempre, soltando o seu grito penetrante e segurando na mão, durante essa correria, o kriss ensanguentado... As pessoas da aldeia sabem que nenhum poder no mundo conseguirá fazer parar esse homem, assaltado por uma crise de loucura sanguinária... e quando o vêem, gritam, o mais longe que podem, a sinistra palavra.
     - AMOK AMOK!
E todos fogem....
Mas ele, sem nada ouvir, prossegue na sua carreira, correndo sem ver ninguém e continuando a matar quem encontra...  até que o abatem também, como um cão danado, ou cai inanimado, espumando...."



   Comportamento originário da Malásia, a SÍNDROME DE AMOK , reconhecida pela ciência psiquiátrica, consiste numa súbita e espontânea raiva selvagem que faz com que o indivíduo afectado ataque livre e indiscriminadamente pessoas e animais que lhes apareçam à frente, até que se suicide ou seja morto!



Definição de AMOQUE (Dicionário HOUAISS) :

- cheio de fúria; votado à morte, desesperadamente obcecado;
- indivíduo obcecado e fanático por uma seita, um partido, um chefe...
- mau humor, zanga, irritabilidade;
- homem apaixonado, sujeito a desatinos;


Mas o AMOK é muito mais que um desatino.... 






João das Boas Regras

(Sociólogo de Valmedo)

terça-feira, 15 de maio de 2018

O Danúbio em Klein-Reifling



LIVROS 5 ESTRELAS - II


QUANDO A VIDA EMBEBEDA...


Esta é a história (versão curta) de um livro excepcional que demorou 52 anos (!) até ver a luz do dia... Mais tarde do que nunca, é certo, diz a velha voz, mas que desperdício... STEFAN ZWEIG começou a escrever "A embriaguez da metamorfose" em 1930 e, passado um ano apenas, estava concluída a primeira parte da obra mas, por contingências várias e nada normais, só oito anos passados o autor retomaria a trama, já exilado em Londres e fugindo do anátema nazi... Demorou ainda mais dois anos até a obra ficar completa mas, tendo querido Zweig ainda reformular algumas passagens e o final, o livro ficaria em stan-by arrumado na gaveta da sua secretária devido aos tempos conturbados que o assolavam... Esta última obra do grande romancista austríaco, que entretanto desistira deste mundo em 1942, só viria a ser publicado na Alemanha em 1982....






Exímio narrador e curioso conhecedor da alma humana, ou não tivesse ele sido amigo íntimo e admirador de Freud, Stefan Zweig conta-nos a dramática e comovente história de uma jovem funcionária da estação de correios de uma insignificante aldeia -Klein-Reifling - que, de repente, se vê confrontada com o mundo extraordinário da alta sociedade e que nunca sonhara que pudesse existir, tal era a miséria em que vivera até então... Um mundo maravilhoso é-lhe revelado então, qual ascensão ao paraíso, em que tudo é belo, tudo é pleno e onde  a alegria de viver transborda... Até à queda final, ao penoso regresso à realidade...



A caminho do Brasil...

Não deixa de ser curioso que, só passados 40 anos da sua morte no Brasil, a meias com a sua mulher de então, se tenha revelado ao mundo essa ideia romântica patente na obra esquecida de Zweig, o suicídio a dois, a única saída digna perante o descalabro, seja a miséria no romance seja a catástrofe no mundo real... Porque o derradeiro e corajoso acto de Zweig, convencido de que todo o mundo seria de Hitler, foi o de, com toda a nobreza, renunciar a um mundo de opressão, barbárie e holocausto...


"Toda a matéria suporta um nível determinado de tensão para além da qual não é possível aumentá-la, para a água o ponto de ebulição, para os metais o ponto de fusão, e os elementos da alma não escapam a esta lei inelutável. A alegria pode atingir um grau para além do qual, qualquer aditamento já não é sentido e o mesmo se passa com a dor, o desespero, o abatimento, o desgosto, o medo. Depois de cheia até à beira a taça não aceita mais qualquer gota que o mundo nela queira despejar." 



João Pena Seca

(Escritor e Crítico Literário de Valmedo) 


domingo, 13 de maio de 2018



EFEMÉRIDE # 47

A CARRINHA DOS LIVROS


Verão de 1974

É mais uma tarde de canícula típica do Verão ribatejano. À sombra, encostados à parede do lagar de azeite do Sousa, éramos para aí uma dúzia, quais irmãos Dalton, desde os mais gaiatos como eu, de dez e onze anos, aos mais crescidos, de quinze e dezasseis, estes já com uma penugem no buço que lhes conferia autoridade e primazia na escolha, a prioridade pela ordem de chegada apenas era válida entre os da mesma idade, coisas tipicas de uma sociedade juvenil hierarquizada... Éramos os que líamos na aldeia, todos rapazes porque naquele tempo as meninas não brincavam na rua e era-lhes proibido conviver connosco fora da escola, e o facto de nós, os mais novos, pertencermos a esse grupo enchia-nos de orgulho e presunção junto dos outros que, não lendo, apartavam-se das discussões sobre as aventuras que então cada um tinha vivido a partir daquelas páginas e que relatava em acesas palestras quando a malta se reunia, medindo heróis e façanhas.






Então alguém gritava: - "Já lá vem a carrinha!".
E era um alvoroço, todos levantados, olhar fixo e ansioso na curva ao longe e então, a pouco e pouco, aflorava à vista a forma e a cor características da Citroen, roncando e cansada da exigente subida que vinha do Vale da Nogueira. Depois, já estacionada a carrinha, era um frenesim para entrar, não cabíamos todos, havia que esperar que os mais velhos fizessem as suas escolhas e nunca como naqueles instantes desejei tanto saltar no tempo e ser mais velho, só para ser dos primeiros a requisitar o Júlio Verne, os romances do Alexandre Dumas, os Cinco ou o Tarzan... E valia que, depois de me extasiar com aquelas prateleiras cheias de tantas coisas por descobrir, eu, que na altura não tinha livros em casa a não ser os de cowboys que ia comprando sempre que ia à vila com a minha mãe em dia de mercado, já com os três volumes debaixo do braço ia comparando com os outros, negociando empréstimos entre nós porque rapidamente iria ficar sem material de leitura, tal era a avidez com que ia para casa consumir aqueles maravilhosos mundos novos! A carrinha apenas voltaria daí a quinze dias, tempo demasiado para tanta vontade de ler... 
E a paixão pelos livros começou naqueles tempos e naquelas visitas, para ir sempre crescendo, de livro em livro... Por isso, obrigado Branquinho, obrigado Gulbenkian...






13 de Maio de 1958

Decorrem hoje precisamente 60 anos que Branquinho da Fonseca, então Administrador da FUNDAÇÃO GULBENKIAN, criou o Serviço de Bibliotecas Itinerantes, inspirado pelo sucesso de um projecto semelhante que o próprio tinha levado a cabo, durante os cinco anos anteriores em Cascais, enquanto aí era bibliotecário. O objectivo era levar o livro ás pessoas que não podiam ir até aos livros, "promover e desenvolver o gosto pela leitura e elevar o nível cultural das pessoas...", especialmente os jovens e os adultos iletrados das regiões periféricas e desfavorecidas. E se pensarmos que naqueles tempos obscuros tudo neste país atrasado era, à excepção de Lisboa, periferia, então era um projecto ambicioso, como acabou por ser e com grande sucesso... E três anos após o inicio do projecto, já circulavam pelo país 47 veículos carregados de livros, e milhões de exemplares seriam emprestados a milhares de novos leitores... Curioso era o facto de o encarregado dos empréstimos poder ser alguém que apenas preenchesse os mínimos requisitos de saber ler e escrever, possuir alguma bagagem cultural e ter jeito para lidar com o público! Isso não impediria, antes pelo contrário, que ao cargo se candidatassem jovens poetas com demasiada ociosidade, fruto da escassez de oportunidades de um país inculto, e hoje pergunto-me, com alguma nostalgia, se por acaso cheguei a receber alguns livros das mãos de Alexandre O'Neill ou Herberto Hélder, por exemplo...
O SBI (Serviço de Bibliotecas Itinerantes) da Fundação Gulbenkian terminaria em 2002, deixando um enorme legado a muitos milhares de portugueses e ao país.









13 de Maio de 2018

Hoje existem cerca 70 bibliotecas itinerantes a circular pelo país, sob a égide das Bibliotecas Públicas Municipais e cujo papel vai muito mais além do empréstimo de livros, oferecem outros serviços como seja a disponibilização de um terminal multibanco para efectuar pagamentos, aconselhamentos no preenchimento de IRS ou até acesso a prestação de cuidados de saúde a cargo de técnicos especializados... É o que se passa, por exemplo, pelas localidades mais remotas do concelho de Proença-a-Nova, onde o Bibliomóvel conduzido pelo bibliotecário Nuno Marçal combate o isolamento e o abandono de muitas pessoas, muitas delas idosas e analfabetas, mas que lhe retribuem experiências e saberes preciosos... Basta espreitar o seu blogue PAPALAGUI...








João Vírgula

(Leitor de Valmedo)


VÍDEOCHAMADA # 34


CAI O PANO, FALTA CAIR A PEDRA...


E pronto, amigo Rui, vamos lá despedir-nos desta época que não trouxe nada de bom para o futebol indígena e muito menos para as nossas hostes, dentro e fora do relvado... Cai o pano então sobre esta edição da Liga que não deixa saudades mas que poderá ficar como exemplo daquilo que destrói o jogo, afasta gente do espectáculo e separa adeptos dos clubes. E sobre a desconfiança e a má reputação dos agentes desportivos (e aí fomos campeões) falta cair uma grande pedra que traga alguma paz e serenidade ao futebol. Mas hoje não faço nenhum balanço porque ainda falta o jogo de logo frente ao aflito MOREIRENSE, sem esquecer que também vais jogar no Funchal, equipado com as cores do MARÍTIMO... E se primeiro é obrigatório venceres na Luz (o jogo com o Tondela não se vai repetir certamente), depois na Madeira bastará, no mínimo, um empatezinho, mas como não depende só de nós, lá ficaremos a torcer pelos verde-rubros. E como não se fala de outra coisa - o jogo da mala - eu já fiz a minha parte, empacotei uma nota de 10 e enviei para o balneário do Marítimo, sempre é algum incentivo e, imagina só o que seria, se cada adepto benfiquista fizesse o mesmo ele era cá um camião de notas com atrelado e tudo que faria com que os madeirenses comessem os leões em plena relva...






Assim, amigo Rui, o melhor cenário é conseguir a Champions mas, em todo o caso, convém é ir preparando já e com muito critério a próxima época para que tudo seja diferente... E se continuares por aí (espero que sim porque não mereces sair pela porta pequena) então falaremos lá para o Verão.




Já consegues vislumbrar o futuro?

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quinta-feira, 10 de maio de 2018

EFEMÉRIDE # 46


BUCHERVERBRENNUNG


A palavra é quase tão horrível quanto o odioso acto que define: "Queima de Livros". Teve inicio a 10 de Maio de 1933 e duraria mais de um mês aquela pretensa purificação da literatura alemã, havia HITLER acabado de chegar ao poder... Ao longo desse tempo, todos os dias, em praças públicas, foram queimados cerca de 20 000 livros cujo conteúdo fosse crítico ou não seguisse a ideologia do III Reich. Autores vivos ou mortos, todos eles perseguidos pelo regime nazi, foram contemplados com o fogo purificador, qual inquisição literária: Thomas Mann, Bertolt Brecht, Robert Musil, Erich Maria Remarque e até Albert Einstein, entre muitos outros...






Nesse período, os Nazis, entre outras coisas, mostraram ao mundo que já conheciam a viagem no tempo pois viajaram até às profundezas mais obscuras da Idade Média... Felizmente os livros, espalhados pelo mundo inteiro, resistiriam a essa barbárie, ao contrário de muitos escritores... E se hoje estas memórias trágicas voltam à tona da espuma dos tempos também é verdade que existe o reverso da medalha, coisas boas também acontecem, como é o caso da homenagem aos livros que precisamente neste momento é feita por terras da Lourinhã, com a 7ª Edição do Festival Literário "LIVROS A OESTE", e sendo assim, acaba também por ser uma homenagem a todos aqueles que foram perseguidos e queimados...



"A minha obra literária foi reduzida a cinzas na língua em que a escrevi, no mesmo país em que os meus livros tinham feito milhões de amigos entre os leitores"

                                                                                   Stefan Sweig - "O mundo de ontem"









João Pena Seca

(Escritor de Valmedo)

quarta-feira, 9 de maio de 2018

EU E OS BICHOS.....


- Então, James? Outra vez?!
Esta voz era a do J.C, mesmo por cima de mim, ameaçadora... E eu, de tão entretido que estava, nem dera pela sua aproximação, coisa rara, é certo, pois farejo sempre a sua chegada a quilómetros de distância, mas, amigos caninos, e sei que me vão compreender, há certas alturas na vida em que somos obrigados a desligar todo o arsenal de instintos de sobrevivência de que somos construídos e, garanto-vos, desta feita fi-lo por boa razão...


 - Desgraçado do bicho... Mas o que te deu desta vez, James? Repara, é só um grilo! E lembra-te, da última vez desconjunstaste  um bicho igual a este, James, qual é a tua?...

  Amigos caninos, reconheço que, na primeira vez que me deparei com este insecto, o GRILO, aquilo que me impressionou e levou até a algum azedume nessa relação,  foi a arrogância e o canto particular do bicho... Estridente, ensurdecedor, sem sentido!






Mais tarde, numa conversa com o J.C, fiquei a saber que todo esse estardalhaço se relacionava com a época de acasalamento, havia uma necessidade imperiosa de ele, macho imperial, canoramente atrair  as grilas.... Aceitei  o facto e compreendi...
E, claro que, injustamente, tive que ouvir do J.C:
   - Ainda me lembro daquela vez em que conseguiste separar um grilo em todos seus segmentos!
  - Ora, que queria o bicho ao invadir o meu território? Claro que estiquei as minhas patas e, infelizmente, algo aconteceu.. Um craque  após uma festinha, e era grilo pelos ares....




Joaninha...




Sabem, amigos caninos, eu não faço por mal mas quando alguém invade o meu território com ares de arrogância, seja ele um gafanhoto, uma joaninha ou um pestilento réptil, eu chego-me à frente e encaro a questão de focinho....




Lagartixa...




Diz-me o J.C:

  - Já reparaste, James, que todos essas estranhas criaturas que conseguiram despertar a tua curiosidade nos últimos tempos têm características únicas e extraordinárias que fazem delas exemplares únicos da natureza?
    - Como assim? - retorqui....
  - Olha, o grilo, que tanto abominas, sabes porque razão faz ele tanto barulho? Porque está enamorado... Dá asas ao seu reportório canoro e, sendo ele especial porque não tem cordas vocais, roça as suas asas umas nas outras, pêlos minúsculos contra outros, e o que resulta é uma sinfonia ensurdecedora..
   E ficamos uns segundos intermináveis em silêncio, fingindo que estávamos a pensar num assunto do qual dependesse o equilíbrio e a sobrevivência de todo o universo... E parecendo adivinhar o meu raciocínio, disse mais:
   - Esta linda joaninha, que parece insignificante, é muito importante para a natureza pois alimenta-se de outros insectos que são nocivos para as plantas...
   - E porque é que ela veio para aqui, porque não anda pelas plantas?
   - Olha, talvez tenha fugido daqueles terrenos além onde anda aquele tractor a lançar veneno, os pesticidas são a sua maior ameaça. E depois repara na lagartixa, que finge de morta como a joaninha, conta a história da carochinha e mesmo que lhe arranquem a cauda, devido a efeitos sobrenaturais, ela ela voltará a crescer...!
O J.C estava enganado, amigos caninos, a lagartixa não fingia estar morta, ela estava realmente morta, não tinha aguentado uma patada minha mais vigorosa...

      - Então tudo bem? - perguntei eu, confuso....

       - Claro, bicho, sossega, qualquer questão e falaremos....

        - E que tal esta melgona?






- ?



James

( Cão de Valmedo)

sábado, 5 de maio de 2018



"O cão é a virtude que, não podendo fazer-se homem, se fez animal..."

                                                               Victor Hugo







DE FACTO, A LÍNGUA É PORTUGUESA!!!!


Hei-de comemorar o dia da Língua Portuguesa, decidi eu neste fim-de-semana especial de Maio, aliás um dia lindo de Primavera... E sem pretender ser anti-social mas sendo directo e conciso, adoptei o princípio do antigo Egipto, quem como egípcio quiser viver então como egípcio terá de falar...
E se não crêem naquilo que digo, abram os olhos porque é de arrepiar o pêlo os crimes feitos à língua portuguesa sob o manto ridículo da bandeira hipócrita da lusofonia, um espectáculo deprimente de politiquices bacocas levadas à acção por mentes definhadas e nada patrióticas...
E se adoptei este discurso é porque acho que, afinal, quem quiser ser lusófono que fale português lusitano, carago! Morte ao Acordo Desortográfico!


João Portugal

(Linguísta de Valmedo)

sexta-feira, 4 de maio de 2018



VÍDEOCHAMADA # 33

A HONRA, OS MILHÕES E A SELVA...

Amigo Rui, estás na crista da onda, deves ser a personagem de quem mais se fala por todo o lado, nos media, nos cafés, na rua, no sofá lá de casa, até em muitos divãs de psicanálise...
Fazem-se apostas de quem será o teu sucessor, estima-se o custo do teu despedimento e questiona-se novamente a tua competência, como naqueles conturbados tempos em que chegaste à Luz e em que os resultados não apareciam. Mas mantiveste-te sereno, então soubeste comportar-te e fizeste o impensável depois: ser bicampeão com todo o mérito! E as teorias da conspiração são tantas que até o Paulinho Futre afirma que o teu antecessor pode vir a ser o teu sucessor!!!? Esta quase me leva ao divã do psicanalista... E ainda mais se diz que já terás uma oferta milionária das Arábias e que já terás informado que pretenderias sair no final da época... E se desde a primeira hora torci por ti e te dei o meu apoio reconhecendo em ti as qualidades mais que suficientes para dirigir o FERRARI, não vou mudar de opinião só porque esta época foi uma autêntica montanha russa: primeiro um arranque péssimo, depois o descalabro da Champions, as eliminações das Taças e até, surpreendentemente, chegares à liderança a poucas jornadas do fim e teres colocado as hostes confiantes na conquista do penta para agora, numa nova fase negativa, correres o risco de ainda piorar o cenário de depressão profunda! A culpa foi tua? Talvez numa pequena parte, pode-se questionar algumas opções, mas é sempre assim no futebol, se corre bem és um génio, se corre mal és incompetente, não há meio termo, o povo tem a memória curta, os adeptos não a têm sequer e os críticos e os opinadores têm sede de sangue... Só que esta época não conduziste um bólide mas antes um carrito a gasóleo que ia disfarçando as dificuldades, tiveste um plantel curto e desiquilibrado e depois, embora não sirva de desculpa mas é importante, ficaste sem o teu melhor condutor - JONAS - na recta final... A culpa foi tua? Para mim foi mais do presidente e da sua mania de que a formação chega, se há alguém que merece os lenços brancos é ele e não tu, não só por isto mas por todo o ambiente incómodo que se gerou à volta do clube! Agora amigo Rui, se rumares ás Arábias, não te enviarei mais mensagens, até porque não domino línguas semitas...








Perante isto, que nos resta agora, amigo Rui? A ti resta-te salvar a honra no derby de amanhã e garantir nele o 2º lugar que poderá dar muitos milhões para a próxima época e, assim, evitares o descalabro total; a mim, resta-me, por questão de coerência e não de favor, continuar a apoiar-te mesmo que se torne real o pior cenário e volto a dizer: tens qualidade e carácter para dirigir o glorioso, têm é que te dar meios, mas para isso tens de deixar de ser tão anjinho e bom rapaz, como tenho dito até à exaustão.... E como parece que já vais poder contar com o JONAS ganha lá na selva e devolve lá aquele sorriso que caiu das caras dos benfiquistas porque a não ser assim acho que a SELVA se mudará do Lumiar para a Luz!




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quinta-feira, 3 de maio de 2018



ANEDOTAS QUE PARECEM POEMAS - II

O CONSELHEIRO LINGUARUDO


Ambrósio andava angustiado, aquelas sessões de terapia matrimonial que se arrastavam há meses não estavam a surtir efeito, a crise conjugal continuava... Felizmente hoje era uma daquelas sessões a sós com o terapeuta, a mulher não estaria lá para ouvir os seus desabafos:
      - Então, Ambrósio, que tal temos passado?
      - O Sr. Doutor não sei, mas eu na mesma!  Embora dê comigo a pensar que, já que isto chegou a um ponto em que não há remédio, está na hora de resolver sonhos antigos...
       - Que tipo de sonhos, Ambrósio?
      - Olhe, por exemplo, ménage à trois, adoraria fazer sexo a três...
      - Bem, Ambrósio, é simples, pelo que sei basta chegar mais cedo a casa...





João das Boas Regras

(Sociólogo de Valmedo)

terça-feira, 1 de maio de 2018



EFEMÉRIDE #  45

VIAGEM PELO IMAGINÁRIO...




No dia 1 de Maio de 1992, estreava pelas salas de Lisboa "Até ao fim do mundo", de Wim Wenders... Foi o segundo filme do realizador alemão que vi na vida, antes apenas tinha visto e só com interesse na Nastassja, o "Paris, Texas"...   E que desilusão para um jovem de 20 anos, ainda não preparado para as grandes reflexões sobre a vida.... Mais tarde, essa abordagem aos problemas mentais como a amnésia, ao isolamento e aos exorcismos relacionados com os traumas de guerra e com as catástrofes humanitárias (As asas do desejo) fariam com que me interessasse pelas mensagens encriptadas de Wenders. E às vezes são pequenos os pormenores que fazem a diferença, são eles a mola que nos fazem seguidores da carreira e fãs de um artista, neste caso foram as várias colaborações do realizador com PETER FALK, o COLUMBO que eu idolatrava na minha fase precoce...
Mas a admiração minha para com o Wim cresceu ainda mais quando ele demonstrou a sua paixão por Lisboa e por Portugal quando, já depois de ter passado pela nossa capital na viagem até ao fim do mundo, roda em 1994 "O céu de Lisboa" com a inestimável homenagem a Manoel de Oliveira, o qual colaborou na película...
Não admira pois que um apaixonado pelo nosso país assim tenha recebido no ano passado das mãos do Presidente Marcelo a Ordem de Mérito...
E por último, embora o não menos importante, foi com Wenders que descobri o grande Ry Cooder, esse guitarrista eclético e versátil que nos transporta a outros heróis e sonoridades... Portanto, por mais estranho que possa parecer, (o filme foi um fracasso de bilheteira) "Viagem até ao fim do mundo", filme estranho e exigente, fez-me viajar muito, até abrigos de águas extraordinárias e delirantes....


João Película

(Cinéfilo de Valmedo)