VIAGENS PELA HISTÓRIA
OS FRADES, OS FAMOSOS E O GATO - II
Podemos imaginar que, perante as calamidades naturais que assolaram o Convento de São Bernardino (terramoto e inundação), os frades franciscanos aí cativos não tenham tido uma vida fácil, embora tenha sido certamente sido bem melhor que a de outros religiosos seus contemporâneos... Que dizer então dos seus irmãos da Ordem de São Jerónimo que tiveram a coragem de fundar um mosteiro em plena Berlenga Grande (a única ilha do arquipélago habitável), corria o ano de 1513 e que, não só enfrentando as calamidades naturais, tiveram ainda que suportar a escassez de alimentos, as doenças e principalmente os frequentes e bárbaros ataques de piratas e corsários ingleses, franceses e até do norte de África? A sua providencial missão seria prestar auxílio à navegação e às vítimas dos frequentes naufrágios naquela zona mas, afinal, e também porque estavam isolados da península por causa do mar inclemente, quem necessitava de grande ajuda eram eles mesmos, abandonados no turbilhão de uma reclusão impossível...
Não admira, portanto, que D. JOÃO IV, em 1655, determinado em criar uma linha de fortificação para a defesa do litoral, tenha ordenado a demolição das ruínas do mosteiro há muito abandonado e que, a partir das suas pedras, fosse edificado o FORTE DE SÃO JOÃO BAPTISTA DAS BERLENGAS, ainda hoje de pé e resistindo à inclemência de Neptuno.... Mas entretanto, para além do Forte das Berlengas e da Fortaleza de Peniche (esta já então velha de 100! anos) e para criar uma linha de defesa do estuário do Tejo e que ia de Peniche a Cascais, já tinha também D.João IV mandado erigir o FORTE DA CONSOLAÇÃO, em 1641, exactamente a meio caminho entre Peniche e São Bernardino....
E podemos ainda imaginar que poderão ter sido os frades franciscanos de São Bernardino a descobrir em primeira mão, numa das suas deambulações pelas redondezas, a cura para muitos males e enfermidades de que padeciam, afinal não passavam eles grande parte da vida em genuflexão ou de mãos unidas e braços esticados bem ao alto, em preces celestiais? Se as dores da alma poderiam ser curadas pela fé e pela entrega, as do corpo eram mais difíceis de tratar mas o alívio e a consolação estavam mesmo ali, numa enseada próxima do convento, sobre estranhas e negras rochas à beira da arriba que hoje sustenta o forte...
Caso raro em todo o mundo e parece que único na Europa, o IODO acumula-se de forma extraordinária nas rochas terapêuticas, promovendo milagres ao nível dos ossos e das articulações.... E por lá também abunda a ARGILA da Consolação, essa pasta milagrosa com que as pessoas se besuntam e aliviam enfermidades de pele e ligamentos...
E depois da construção do Forte da Consolação foram precisos ainda mais 33 (!) anos para que um outro forte, mais a sul de São Bernardino, fosse construído, o FORTE DE PAYMOGO, em 1674, já no reinado de D. AfonsoVI, ou mais propriamente na regência do seu irmão, D. Pedro II, numa história digna de Alexandre Dumas e do seu conde traído e enclausurado....
E assim, com tanta fortaleza, podiam os frades de São Bernardino dormirem descansados e afoitarem-se mais em explorações pelas redondezas, não corriam o risco de serem atacados por piratas e outros bandidos como tinham sido os frades jerónimos das Berlengas e então porque não imaginar ainda que, tendo os franciscanos explorado a costa para norte até à Consolação, porque não o teriam feito também para sul? E de facto, ali mesmo à ilharga do Forte de Paimogo, abriga-se a PRAIA DE VALE DE FRADES...
(Fotos: Jean Charles Forgeronne)
João Alembradura
(Historiador de Valmedo)
Forte de São João Baptista, antigo mosteiro |
Não admira, portanto, que D. JOÃO IV, em 1655, determinado em criar uma linha de fortificação para a defesa do litoral, tenha ordenado a demolição das ruínas do mosteiro há muito abandonado e que, a partir das suas pedras, fosse edificado o FORTE DE SÃO JOÃO BAPTISTA DAS BERLENGAS, ainda hoje de pé e resistindo à inclemência de Neptuno.... Mas entretanto, para além do Forte das Berlengas e da Fortaleza de Peniche (esta já então velha de 100! anos) e para criar uma linha de defesa do estuário do Tejo e que ia de Peniche a Cascais, já tinha também D.João IV mandado erigir o FORTE DA CONSOLAÇÃO, em 1641, exactamente a meio caminho entre Peniche e São Bernardino....
Forte da Consolação |
E podemos ainda imaginar que poderão ter sido os frades franciscanos de São Bernardino a descobrir em primeira mão, numa das suas deambulações pelas redondezas, a cura para muitos males e enfermidades de que padeciam, afinal não passavam eles grande parte da vida em genuflexão ou de mãos unidas e braços esticados bem ao alto, em preces celestiais? Se as dores da alma poderiam ser curadas pela fé e pela entrega, as do corpo eram mais difíceis de tratar mas o alívio e a consolação estavam mesmo ali, numa enseada próxima do convento, sobre estranhas e negras rochas à beira da arriba que hoje sustenta o forte...
Caso raro em todo o mundo e parece que único na Europa, o IODO acumula-se de forma extraordinária nas rochas terapêuticas, promovendo milagres ao nível dos ossos e das articulações.... E por lá também abunda a ARGILA da Consolação, essa pasta milagrosa com que as pessoas se besuntam e aliviam enfermidades de pele e ligamentos...
Rochas medicinais da Consolação |
E depois da construção do Forte da Consolação foram precisos ainda mais 33 (!) anos para que um outro forte, mais a sul de São Bernardino, fosse construído, o FORTE DE PAYMOGO, em 1674, já no reinado de D. AfonsoVI, ou mais propriamente na regência do seu irmão, D. Pedro II, numa história digna de Alexandre Dumas e do seu conde traído e enclausurado....
E assim, com tanta fortaleza, podiam os frades de São Bernardino dormirem descansados e afoitarem-se mais em explorações pelas redondezas, não corriam o risco de serem atacados por piratas e outros bandidos como tinham sido os frades jerónimos das Berlengas e então porque não imaginar ainda que, tendo os franciscanos explorado a costa para norte até à Consolação, porque não o teriam feito também para sul? E de facto, ali mesmo à ilharga do Forte de Paimogo, abriga-se a PRAIA DE VALE DE FRADES...
Praia de Vale de Frades, com o Forte de Paimogo ao fundo |
(Fotos: Jean Charles Forgeronne)
João Alembradura
(Historiador de Valmedo)