domingo, 15 de janeiro de 2017

EFEMÉRIDE # 11


O OPTIMISMO NA LUSITÂNIA




" Após o tremor de terra que destruíra três quartos de Lisboa, os sábios do país cogitaram em que o meio mais eficaz para prevenir a ruína total da cidade consistia em dar ao povo um rico auto-de-fé. Fora decidido pela Universidade de Coimbra que o espectáculo de várias pessoas queimadas a fogo lento, com grande cerimonial, era um segredo infalível para impedir a terra de tremer. Tinham consequentemente  aprisionado um biscainho convencido de que casara com a sua comadre, e dois portugueses que, ao comerem um frango, tinham posto de parte o toucinho. (...) Cândido foi açoitado ao ritmo da música do cântico; o biscainho e os dois homens que não comiam toucinho foram queimados, e Pangloss foi enforcado, embora isso não fosse costume. Nesse dia a terra voltou a tremer com fragor espantoso."

Este trecho pertence a CÂNDIDO ou O OPTIMISMO, romance filosófico escrito por VOLTAIRE e editado a 15 de Janeiro de 1759! Porque Voltaire sabia que is ser um escândalo, a obra foi publicada simultâneamente e sob pseudónimo em Genebra, Paris e Amesterdão... Viria a ter também um sucesso enorme, um autêntico best-seller para a época com 30 000 exemplares vendidos.





Voltaire, extremamente influenciado pela dantesca catástrofe de Lisboa que tanto tinha impressionado as correntes religiosas, políticas e filosóficas por toda a Europa, satirizou a religião (para quem as catástrofes eram sempre castigo divino para a devassidão humana), os políticos e até outros filósofos para quem  tudo ia pelo melhor no melhor dos mundos possíveis...  A obra, símbolo do ILUMINISMO, com humor e ironia contrapõe o OPTIMISMO  ao pessimismo dominante na sociedades ignorante e vergada a uma religião castradora e punitiva, e ataca a intolerância e a injustiça vigentes na época...





A catástrofe que abalou a Europa



O romance evoca as aventuras e desventuras de CÂNDIDO, alma gentil, inocente e ignorante que, juntamente com CUNEGUNDES, a sua amada musa, vai deambulando pelo melhor dos mundos possíveis e assistindo às mais incompreensíveis e estranhas acções dos homens...
Apesar do negro mundo que vai descobrindo, o visceral optimismo de CÂNDIDO bem falta faz a um novo Portugal que, embora nação de ancestral pessimismo e tradicional resignação religiosa, caminha rumo ao futuro em liberdade e tolerância, como Voltaire imaginou... E não é por acaso que todos os retratos do grande filósofo o mostram a sorrir, o que atesta ter sido ele porventura um eterno optimista!... 




Voltaire


João Breve

(Cronologista de Valmedo)




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