sábado, 29 de fevereiro de 2020


O ESTRANHO MUNDO DAS COISINHAS INVISÍVEIS...



Imediatamente pressenti que o J.C me estava a armar alguma, amigos caninos, o abraço que me deu ao chegar de mais uma longa ausência era menos natural e mais tenso do que o costume e então quando ele em vez de me olhar de frente como sempre se pôs a meu lado a garrotar-me o pescoço com um braço, tive a certeza, coisa estranha estava para acontecer...
 - Quieto, James, não te mexas, sossega, é para teu bem! - gritava o J.C enquanto eu tentava libertar-me daquele aperto, e se há coisas que eu detesto, amigos caninos, é de apertos, prezo muito a minha liberdade e gosto de ter espaço para me movimentar à vontade...
E é então que de repente desce uma sombra verde pelos meus olhos abaixo e sinto o focinho abafado...
  - Mau, James, pára lá quieto! É só uma máscara para te proteger, para não ficares doente...
E eu que sempre tive as vacinas em dia, que tomo de vez em quando um comprimido para uns parasitas parvos e ainda levo com uma bisnaga para afastar pulgas e carraças, perguntei:
  - Então mas porque raio é que tenho que andar com isto, não posso levar uma vacina ou tomar um comprimido?
  - Era bom era, mas não há nada disso, é um vírus novo que anda para aí a atacar as pessoas e parece que é perigoso, já morreu muita gente!
  - Então mas se ataca as pessoas porque é que tenho que ser eu a usar esta coisa?
  - Ora aí é que está! Descobriu-se ontem que em Hong Kong, uma terra muito longe e que não se vê daqui, um amigo da tua espécie foi contaminado pela dona! E até se saber como é que vocês cães reagem ao 2019-nCoV é melhor prevenir...









E como já vos disse noutras conversas, amigos caninos, eu até conheço muita bicharada, nem tenho que procurar, os bichos passam por aqui, alguns param mesmo para confraternizar um pouco como é o caso de uns simpáticos pardais que até me vão à malga da ração e eu nem me importo, outros como os caracóis, as lesmas ou os grilos já não têm tanta sorte porque por vezes acabam por ficar mutilados e desmembrados durante a brincadeira... A bicharada mais irritante para mim são os mosquitos, as moscas e as abelhas, bem tento dar-lhes uma valente patada mas acabam sempre por me fugir. E foi então que me lembrei de perguntar:
  - Então mas diz-me qual é o aspecto desse bicharoco que é para se eu der de focinho com ele lhe dar uma valente sova...
O J.C deu uma gargalhada.
 - És mesmo tonto! Não penses que é uma coisa do género desses pobres e pequenos bicharocos que tu torturas por aí de vez em quando, os vírus são tão pequeninos que não se conseguem ver, nem com binóculos... É como se não existissem! E já sabes, nada de ir ali para o portão cheirar e confraternizar com outros cães, ouviste?









E aqui ando eu agora de máscara posta, amigos caninos, proibido de socializar, culpa duma coisinha que nem se vê... Este mundo louco das pessoas é mesmo estranho, não acham?



JAMES

(Cão de Valmedo)

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

"Alien's  Carnival dance  on the beach"


Jean Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

domingo, 23 de fevereiro de 2020



Sorry, folks!

After a lunatic carnival night in Torres Vedras, that's all I can do for today's lunch... VALMEDO'S MUSSELS...







Take:

* - 1 Kg of mussels
* - 1 big ognion
* - 3 garlic cloves
* - 1 red pepper
* - 1 yellow pepper
* - 1 leek
* - 1 tomatoe
* - parsley, q.b
* - 1 cup white wine
* - salt and pepper, q.b
* - olive oil, qb






Preparation:

 - Clean and wash the mussels
 - Saut the sliced ognion, garlic, leek and peppers in three soup     spoons of olive oil...
- When the vegetables become smooth join the tomatoe in pieces...
- let on fire for 10 minutes...
- join the mussels and envolve... 
- cook for 5 minutes...
- join the wine, the parsley and temper with salt and pepper...
- mixt well, let evaporate for 3 minutes and serve immediately with
chips and fresh white wine...


~ENJOY YOUR FOOD~




João Ratão

(Valmedo's Chef)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

"Raoni, líder indígena" - Kobra - Marvila


Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

Marquês



O MARQUÊS NA VARANDA DO TEJO...


E até parece que os Marqueses são como as cerejas, atrás de um vem outro pegado, ainda fresco está o relato do meu amigo João Ratão acerca do seu surpreendente encontro com o Marquês de Rio Maior ocorrido no Vilar e eis que agora foi a minha vez de em passeio pela zona oriental de Lisboa me deparar com outra curiosa e nobre figura, o MARQUÊS DE ABRANTES, criatura afortunada e antigo proprietário de um sumptuoso palácio ali para os lados de Santos-o-Velho e de uma enorme e altaneira quinta numa colina de MARVILA de onde os olhos se regalavam até ao Tejo e se do primeiro rezará outra futura crónica debrucemo-nos agora sobre a segunda...





"Tejo ao fundo" -  J.C. Forgeronne



Nestes terrenos que desde o século XVII pertenceram outrora à Quinta do Marquês de Abrantes foi construído entre 1994 e 2001 um bairro social ao qual se chamou a propósito Bairro do Marquês de Abrantes e que teve como objectivo o realojamento de centenas de famílias que viviam em barracas desde 1950 aquando do fluxo migratório de gente que chegou a esta zona vinda das Beiras e para trabalhar nas fábricas lá em baixo junto ao rio, na Fábrica Nacional de Sabões, na Fábrica da Borracha ou na dos Fósforos, nos Armazéns Abel Pereira da Fonseca ou ainda na Fábrica Militar do Braço de Prata a fabricar munições, morteiros e as famosas G3 e FBP com que se alimentava a guerra nas colónias...




"Bairro Marquês de Abrantes" - J.C Forgeronne


Ora, tendo eu subido por caminhos secretos desde o Braço de Prata até ao alto de Marvila em busca da arte estampada nos prédios aos quatro ventos, viatura abandonada a meia encosta  por entre armazéns em ruínas, antigos palacetes a cair e terrenos ao abandono à espera de lucrativos investimentos, pus-me a andar à descoberta... E não foi só a caminhada e a subida que me tirou o fôlego, fica-se sem ar quando nos colocamos mesmo debaixo da tela de cada prédio a olhar para o alto e somos invadidos pelas benfazejas vertigens causadas pela magia da cor, da forma, da mensagem ou simplesmente pela nuvem que vai passando e que a fotografia não consegue revelar...




"Mi Madre" - Cix Mugre




E agora que estou recuperando os sentidos sentado na esplanada da Associação Recreativa do Bairro do Marquês de Abrantes, numa varanda com vista privilegiada para um Tejo sereno e luminoso, pergunto-me porque demorei tanto tempo até aqui chegar e encontrar o deslumbramento nestas 8 enormes telas das 17 que o Festival Muro plantou por esta zona oriental vai para três anos... Mas nunca é tarde para subir à varanda do marquês...



João Conde Valbom

(Olisipógrafo de Valmedo)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020



TASCAS E ANTROS DE PRAZER - VIII


O MARQUÊS NO SOPÉ DA MONTANHA...


Não podia haver melhor localização para este abençoado antro de boa comida, ali no sopé do MONTEJUNTO, mesmo defronte da igreja do Vilar e mesmo a jeito não só para quem precisa de armazenar energia para a grande subida mas também para quem, descendo, necessita de repor as calorias gastas e ainda para quem de passagem, coisa comum, ignora a montanha e apenas pretende saciar os apetites...



A taberna no Largo dos Marqueses de Rio Maior




Chama-se TABERNA DO MARQUÊS DE RIO MAIOR e é inevitável a curiosidade, por que raio o marquês é do distante Rio Maior e não do Vilar ou do vizinho Cadaval? Bem, segundo consta por estas bandas, efectivamente nos meados do século passado por aqui assentou arraiais um dos marqueses de Rio Maior, perdido de amores pelos bons ares da montanha e e por uma moçoila vilarense e daí até se ter tornado um benemérito e respeitado habitante do Vilar foi um passo, parece até que doou uma generosa quantia para a construção da Igreja da Nossa Senhora da Expectação, inaugurada em 1953. Assim, não surpreende que o largo fronteiro ao templo se chame Largo dos Marqueses de Rio Maior...




Manta de entrecosto
E o Ti Rogério e a Dona Alice, gente boa e honrada que não precisa de títulos nobiliárquicos para nada, não acharam melhor nome para a sua casa de petiscos que inauguraram há meia dúzia de anos e que já conquistou uma clientela fiel e rendida à boa cozinha, muitas vezes a expectativa até é superada numa ementa variada que pode ir do coelho assado a um peixe no forno, de uma suculenta manta de entrecosto  no forno até a uma feijoada de polvo, e por aí fora, não há pratos fixos e como é bom entrar, sentar e deixar-nos surpreender...





Coelho à Marquês

E se para quem conhece não surpreende o espaço acolhedor, a simpatia do atendimento ou a qualidade das iguarias, começando pelo delicioso cesto de pão acompanhado por umas azeitonas divinais, pode o visitante inaugural abrir a boca de espanto perante a conta final ao constatar que uma nota de dez chega e sobra para tão reconfortante repasto! E claro, é inevitável voltar, mesmo que não se suba lá acima...









João Ratão

(Chef de Valmedo)


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020


"Inverno em Montejunto


Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

"Recycled art" - Artista desconhecido


João Plástico

(Artista de Valmedo)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020



ANEDOTAS QUE PARECEM POEMAS - V


NEM GESSO NEM LIGADURAS, NADA ABAFA A NATUREZA...


E de repente, estremecendo a tranquilidade da tarde, ouviu-se um impaciente barulho na porta do bordel:
   - TOC, TOC!.... TOC, TOC, TOC....
E a Eugénia, que dormitava enroscada no sofá, levantou-se a custo e dirigiu-se para a porta resmungando em voz alta "Mas quem é o anormal que em vez de tocar à campainha está para aqui a tentar arrombar a porta?"
Espreitou pelo óculo, e não acreditando no que estava vendo afastou-se ligeiramente, fechou os olhos e abanou um pouco a cabeça para a pôr em ordem e voltou a espreitar... Do outro lado estava uma infeliz criatura de gesso,  não se aproveitava um braço nem uma perna, até o nariz e a cabeça estavam envoltas em ligaduras...
"Que raio! - desabafou para si própria... - Este maluco enganou-se na porta, deve pensar que é aqui o hospital!".
Eugénia abriu a porta decidida e disparou:
  - O senhor enganou-se decerto! O hospital não é aqui!
  - Desculpe, mas não é aqui a casa das meninas da Dona...
Impaciente, Eugénia retrucou:
  - Sim, é! Mas o que pensa o senhor que consegue fazer nesse estado?
  - Desculpe, mas já pensou como é que eu consegui bater à porta? - respondeu a criatura fazendo um gesto com a cabeça para o inflamado baixo-ventre....











João das Boas Regras

(Sociólogo de Valmedo)

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020




TASCAS E ANTROS DE PRAZER - VII


O MAR E OS OSSOS DA PRINCESA...


Peniche é mar e é história, e na história do mar não pode faltar Peniche... Poderíamos passar aqui muito tempo a falar de várias tascas e antros de prazer penichenses em que o mar é servido à mesa, peixe fresco  ou seco, assim e assado, sardinha ou carapau, ou então a famosa caldeirada mas hoje, enquanto bebemos um café a meio da manhã vamos descobrir um dos segredos mais bem guardados da península: os ossos e os ossinhos da Princesa...
A Princesa do Mar, qual criatura marítima tímida e esquiva, esconde-se por entre as ruelas do bairro dos pescadores mas assim que é descoberta revela os seus perigos tal como o fazem as sereias, provados os seus ossinhos nunca mais um navegador poderá resistir ao encanto do seu chamamento e lá terá que voltar de quando em vez até ao final dos tempos...




Os OSSOS SAN PEDRO DE ALCANTARA são uns pastéis de massa finíssima e recheio desconcertante que se desfazem ao contacto com o céu da boca e como o nome indica são uma homenagem a um dos episódios mais marcantes da história marítima de Peniche, o naufrágio do San Pedro de Alcantara ocorrido na península da Papoa  em 1786 e que marcou profundamente a vida e o imaginário não só das gentes da região mas também a história marítima portuguesa e europeia... Ossos porquê? Bem, talvez porque os ossos das 128 vítimas da tragédia, muitos deles desfeitos contra as rochas e transformados em ossinhos foram rapidamente sepultados de improviso por populares e frades de um convento que existia ali próximo no sítio chamado Porto de Areia Norte e assim minorar o aspecto macabro dos achados... E também não é por acaso que a forma dos ossos faz lembrar um singelo esquife ou uns restos mortais envoltos em panos...











E hoje, enquanto desfazia um osso na boca e bebericava o meu café em plena Princesa apenas me vinha à lembrança os infelizes do  San Pedro e pensei que estes ossos e ossinhos vieram ao mundo-cão para nos fazer lembrar que convém aproveitar as coisas doces e boas que a vida nos proporciona enquanto um naufrágio qualquer não nos levar... Aproveitemos então!







João Ratão

(Chef de Valmedo)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020




ÀCERCA DE NAUFRÁGIOS, TERRAMOTOS E REVOLUÇÕES...



Por experiência é costume dizer-se que a vida pode dar muitas voltas, o que está mais que provado em muitos casos mas, por intuição, também se poderá admitir que algumas vidas não passarão de uma breve voltinha por este mundo-cão e que no final nem parece que se saiu do mesmo sítio e mais raro ainda é encontrar alguém que tenha passado por essas duas distintas vivências, como é o caso de JEAN PILLEMENT que até morrer na miséria e no esquecimento na mesma cidade que o vira nascer, Lyon, deu tantas voltas pela Europa das luzes durante os seus 79 anos de vida e tendo convivido de perto com o luxo e com o sucesso de tal forma que a sua cabeça deve ter andado à roda em bastas ocasiões...





"As margens do Tejo, efeito de bruma" - Jean Pillement




PILLEMENT tinha que ser pintor, afinal era bisneto, neto e sobrinho de pintores, mas foi mais do que isso, ele era também desenhador, gravador e decorador e desde cedo que produziu obras para muitas cortes europeias e para clientes abastados, tendo passado por Madrid, Lisboa, São Petersburgo, Viena, Paris, Londres, Roma, Turim, Milão, Bona ou Varsóvia... Nunca lhe faltou trabalho nem reconhecimento pelo seu estilo rococó delicado, requintado e fantasista. Consta que estava em Portugal em 1755 contratado pela Real Fábrica de Sedas e que daqui fugiu por causa duma estranha denúncia à Inquisição em que algum invejoso o acusava de ser pedreiro-livre, sodomista e descrente dos santos, entre outras coisas! Ainda bem para ele porque assim, ao ir dar outra volta lá por fora, escapou ao terrível terramoto que arrasaria Lisboa meses mais tarde...
O nosso herói regressaria mais vezes a Portugal e na sua estadia mais longa, entre 1780 e 1786, ao mesmo tempo que criava pinturas por encomenda no Palácio de Seteais ou no Palácio Fronteira, por exemplo, aproveitou para abrir com sucesso a Escola de Desenho do Porto e para dar aulas também em Lisboa e porque entretanto assiste em 1786 a todo o desenrolar da famosa catástrofe do San Pedro de Alcantara , Pillement  pinta apaixonadamente várias telas sobre o naufrágio de Peniche...






"Náufragos chegando à costa" - Jean Pillement - Museu do Prado



Regressado a França em 1789, Pillement, que anos antes tinha sido nomeado pintor da futura guilhotinada Maria Antonieta e para a qual tinha feito pinturas no Petit Trianon, fugiu de Paris após o desencadear da Revolução francesa, refugiando-se na província... É certo que escapou à guilhotina mas acabaria por ter uma condenação atroz, a revolução matou o estilo rococó e na ausência de encomendas o nosso "pequeno mestre de Lyon" morreria pobre e só...





"Chinoiserie"
               



                                 João Plástico

                                 (Artista de Valmedo)

domingo, 2 de fevereiro de 2020




EFEMÉRIDE # 67


HISTÓRIA DE UMA ANUNCIADA TRAGÉDIA MARÍTIMA



Exactamente há 234 anos, a 2 de Fevereiro de 1786 e pelas dez e meia de uma noite até então calma, pois não havia tempestade, o vento era fraco e a visibilidade razoável segundo o relato de testemunhas e sobreviventes, embate contra as rochas da península da Papoa um grande barco alvoroçando a pacatez da vila de Peniche... Tratava-se do San Pedro de Alcantara, navio de guerra espanhol equipado com 64 valiosos canhões e que para além de 419 passageiros transportava uma excepcional carga: 603 toneladas de cobre em barra, 153 toneladas de prata e 4 toneladas de ouro em moedas, tudo proveniente das minas do Peru! Juntando a isso mais 140 toneladas de pedra que serviam de lastro e 100 toneladas de quinquina e 6 toneladas de cacau, tudo somado ultrapassava em muito a capacidade da embarcação, tornando a aventura numa tragédia anunciada... 




Papoa - local exacto do naufrágio - Jean-Charles Forgeronne



De facto, tudo correu mal desde o princípio da história, houve até uma falsa partida devido ao falecimento do primeiro responsável por toda a engenharia da operação e depois, quando parte em 1784 de Callao, perto de Lima, capital do Peru, com destino a Cádiz, o navio é obrigado a uma paragem de vários meses no Rio de Janeiro para reparações devido a graves inundações provocadas pela excessiva carga que excedia a dobrar a sua capacidade. Depois de vários meses parado em terras de Vera Cruz, o San Pedro de Alcantara ruma definitivamente ao seu trágico destino... A causa da tragédia só se encontra na cupidez humana, os espanhóis desesperavam por riquezas para fazer face às grandes despesas do seu império e quem sabe talvez se bastasse alguém de bom senso para lhes aconselhar a dividir a preciosa carga por dois navios para evitar o desastre!





"Naufrágio do San Pedro de Alcantara" - Jean Pillement - Museu Nacional de Arqueologia



Pelo facto de ter ocorrido a meia dúzia de passos de terra firme, o que facilitou o resgate de pessoas e bens, o acidente do San Pedro de Alcântara tornou-se num marco único da história trágico-marítima mundial e continua hoje a ser um dos naufrágios mais bem documentados, testemunhados e estudados de sempre... Também pela enorme fortuna que estava envolvida não se pouparam as autoridades espanholas a esforços e assim, durante os três anos seguintes e sem descanso, uma meia centena de mergulhadores contratados por toda a Europa invadiu Peniche e em simples apneia conseguiram recuperar 90% do tesouro! Só não houve remédio para os 128 mortos, a maior parte deles feita em pedaços contra as rochas da Papoa e sumariamente enterrados ali perto, no sítio do Porto da Areia Norte, sendo alguns deles prisioneiros incas que ao lado do imperador Túpac Amaru se tinham revoltado contra a exploração espanhola...




Mas o tesouro entretanto recuperado parecia amaldiçoado, o navio que entretanto o viera resgatar e levar finalmente para Cádiz naufraga também, ao largo da Consolação, custando perto de mais uma centena de vidas... Recuperou-se novamente a carga e, parece, à terceira foi de vez, lá terá chegado finalmente ao destino...






João Alembradura

(Historiador de Valmedo)