ANEDOTAS QUE PARECEM POEMAS - VI
UM DESASTRE SEXUAL NO ALENTEJO...
Tudo corria como previsto, o Ti Manel Malaviado e o seu rebanho de cabras tinham madrugado cedo, como de costume, e estavam já a atravessar a estrada nacional ainda deserta em busca do pasto prometido, além nas cercanias da herdade, quando de repente, vindo do raio que o parta, um barulho estridente inquietou os animais, todas as orelhas, caprinas, caninas e humanas, se voltaram espetadas em direcção ao horizonte ainda nebuloso...
E então o Ti Manel estacou, apoiou-se no cajado, compôs a manta que trazia aos ombros, deu um jeito à sacola do farnel que trazia a tiracolo, ajeitou o chapéu de larga aba, fez da mão esquerda uma pála para proteger dos alvorescentes raios de sol e abriu a boca de espanto, como se lhe fosse possível compreender o que se passava apenas inspirando mais profundamente o ar matinal: aquilo que primeiro não passava de uma pequena mancha muito lá ao fundo rapidamente se tornou num carro vermelho como ó diabo que parecia querer matar tudo e todos e que tentando desviar-se em ziguezagues descontrolados dos últimos animais que atravessavam a estrada foi embater com estrondo mas sem glória no tronco de um inocente chaparro que há séculos tranquilamente se limitava a ver a vida passar da berma da estrada...
E do carro maltratado, já só com três rodas e parte da frente destruída, sai uma aperaltada e garrida criatura, gesticulando com desespero enquanto dizia numa voz estridente e irritante:
- Óh! Dio mio... Mi Maserati, tutti rotto, tutti distrutto!
O Ti Manel, sagaz como era e avaliando a situação, se a coisa desse para o torto ainda a culpa seria sua e poderia custar-lhe meia dúzia de animais, afinal aquilo estava mesmo para o escavacado, tentou acalmar a criatura:
- Oiça, ganhe lá calma homem... O senhor sabe que vinha depressa demais, né? A culpa é sua! Além disso, a coisa nem parece assim tão feia, uma roda, duas rodas, a parte da frente, talvez ali o Chico Oleaças da oficina o consiga desenrascar, eu até posso ir lá consigo...
Mas o raio do espaventoso italiano de lenço garrido ao pescoço e trejeitos manhosos nem o ouvia, de mãos na cabeça limitava-se a olhar para o carro e ia repetindo choramingosamente:
- Óh! Dio mio... Mi Maserati, tutti rotto, tutti distrutto!
- Ó amigo, já lhe disse, ganhe lá calma! Ali o Chico resolve-lhe o problema e...
Mas o outro nem o via e muito menos o ouvia, limitando-se a dizer:
- Óh! Dio mio... Mi Maserati, tutti rotto, tutti distrutto!
E o Ti Manel Malaviado, que era de pavio curto e que já estava a ficar farto daquela cena marada, enquanto coçava a curta genitália que lhe dava a alcunha e que apenas servia para satisfazer as suas cabrinhas de meia idade, exclamou:
- Porra! Roto és tu! Ouve, já estou farto disto! Não queres ajuda?- e olhando para o Maserati continuou - Olha, mete-o no cú!
E o outro, que por fim o tinha encarado e que apenas tinha olhos para a sua mão cheia aconchegando as partes moles logo se transfigurou:
- Por favore, non me parlare de amore in questo momenti!
João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)