sábado, 29 de agosto de 2020

Uma questão de tempo...


 

A IGNORÂNCIA PODE SER ETERNA...


Já com a primeira engrenada não resisti mais à curiosidade e pus o CD no leitor e não foram precisos dez segundos para deixar escapar um  grosso palavrão da boca e do carro para fora porque tinha o vidro da porta do condutor para baixo, o que fez com que um par de olhos escuros e faiscantes de uma respeitável senhora que ia a passar me olhassem reprovadoramente por cima de uma máscara a necessitar de lavagem... E eu que estava exposto por já ter tirado a minha máscara acelerei dali para fora dizendo baixinho mais alguns impropérios e tentando decidir se voltava atrás para reclamar do produto defeituoso... - "olha! que se lixe, não fosses parvo! nunca mais aprendes, abre os olhos!..." - disse para mim próprio e lá fui... Mas espera, depois daqueles iniciais ruídos estranhos ouviam-se agora as guitarras e a bateria a sair das colunas, será que...? 





Tudo começara uma meia hora antes quando tinha entrado na feira, e uma feira de velharias nunca é igual, há sempre novidades e há sempre algo que estava ali aquando da última visita mas que ficou entretanto pelo caminho, sabe-se lá onde porque estes vendedores têm sangue de saltimbancos, hoje aqui na Lourinhã nesta solarenga e ventosa manhã de sábado e num espaço diferente por causa da pandemia, amanhã no Cartaxo, depois nas Caldas e a seguir segue-se Torres Novas, como me dizia o senhor de meia idade com o qual eu tinha entabulado uma conversa que ainda não era de negócio... Eu tinha ido ali pelos livros, aliás vou lá sempre pelos livros, em busca daqueles exemplares de colecções antigas que me faltam e que gostaria de ter e se por acaso e sorte os encontro então é a suprema felicidade, prova de que nunca é tarde demais para encontrar algo que se procurou em vão por tanto tempo, de resto não me interessa nenhum outro tipo de objectos por mais valiosos, curiosos ou inusitados que sejam, embora goste de os observar porque há sempre alguma lembrança do antigamente que nos assalta e que nos faz soltar um nostálgico sorriso...





Depois de uma olhadela aos pratos e porcelanas do tempo da outra senhora, a estatuetas de madeira e quadros a desfazerem-se, a chaves ferrugentas de portões inexistentes e até de portões inteiros aos quais só falta juntar a parede, a máquinas que outrora escreviam e a telefones sem fio e sem rede, tinha a volta quase dada até porque os livros estavam fraquinhos e só me faltava passar por um par de bancas com alguns livros lá ao fundo, providencialmente à beira da saída e que estrategicamente tinha deixado para o fim, quando a meio caminho encarei com uma pequena banca só com vinis e CD's à venda, alguns deles a 1 euro...  Não sei porque fui lá espreitar, talvez por instinto talvez arrastado por energia do além, o certo é que ali fiquei, de pescoço à banda e óculos embaciados por causa da máscara e a cair do nariz, mergulhando no interior das caixas de cartão onde se empacotavam centenas de CD's ao alto, tentando decifrar os pequenos títulos nas lombadas...






GUANO APES, 1997, o nome não me era completamente estranho, tirei o CD para fora para ver bem a capa, sim, já a tinha visto algures mas não me vinha qualquer memória musical à cabeça, talvez tenha lido alguma coisa sobre eles nalgum suplemento musical, talvez até tenha ouvido alguma coisa na rádio mas aquela banda tinha-me passado completamente ao lado, santa ignorância, não fazia a mínima ideia do que estava dentro daquele compacto! Olha, por um euro podes matar a curiosidade e a ignorância...

  - Veja se tem o CD dentro, nunca se sabe! - disse-me o vendedor de ar sério mas sereno enquanto eu lhe estendia a moeda...

  - Não importa, só a capa já vale o euro... - respondi sorridente, mas pelo sim e pelo não abri a caixa e constatei com alívio que estava completo...

  - Obrigado! - volveu ele e acrescentou - Espero que esteja bom, nunca o experimentei...

  - Hummm.... Parece novo... - disse eu já a afastar-me para a saída.


Open your eyes - GUANO APES   


E para quem já conhece perceberá a minha desilusão inicial, é que "Open your eyes", a primeira faixa do disco, começa com uns ruídos estranhos que não têm nada a ver com reprodução musical e faz pensar se o CD não estará todo marado, mas não está, é mesmo assim, constatei eu próprio ao ouvir o tema no Youtube assim que cheguei a casa, e este exemplar que me custou apenas 1 euro não só nunca mais saiu do leitor do carro como ainda por cima me pôs à procura do segundo álbum da banda e a investigar vários mistérios, o primeiro dos quais porque é que os Guano Apes nunca em trinta anos tinham entrado na minha órbita musical, demorou um pouco, é certo, mas a vida explica-se, não há tempo para tudo e naquele período 97/98 todo o tempo era dedicado a preparar a paternidade que se avizinhava... E muitas outras coisas e não só na música me passaram ao lado por uma qualquer razão, ninguém estará imune a isso, penso eu, mas que bom é passado tanto tempo matar a ignorância, ela que neste caso foi morta por acaso mas que poderia durar até à eternidade não fosse uma feira de velharias onde velhos são os trapos e o saber não tem idade... 


João Sem Dó

(Musicólogo de Valmedo)


quarta-feira, 26 de agosto de 2020

O meu dia...

 

DIA E NOITE DE CÃO...

Banksy ou Caldasy?




UM BANKSY NAS CALDAS?




"Algures nas Caldas da Rainha... Um BANKSY? - Jean-Charles Forgeronne

 

A pistola da Madonna



O BANKSY DE NÁPOLES






 Chama-se "Madonna con la pistola" e é a única obra de Banksy na Itália, pode ser encontrada encaixilhada no centro de Nápoles, numa ruazinha escondida que dá para a praça Girolamini e oferece a particularidade de a auréola da Nossa Senhora ter sido substituída por uma pistola...! Provocação à promiscuidade entre religião e máfia? Só o famoso e desconhecido autor sabe...


João Plástico

(Artista de Valmedo)

Ragoût

   
  RAGU, À VALMEDO E À NAPOLITANA...


Quando as populações se deslocam levam consigo a língua, os costumes e a sua gastronomia, que o diga  NÁPOLES, um bom exemplo dessas migrações culturais, cidade que foi fundada por gregos, desenvolvida por romanos e governada por espanhóis e franceses, tudo junto contribuiu para que a capital do Mediterrâneo possua hoje em dia tradições culinárias e culturais influenciadas por esses e outros povos que por ali passaram... Mas se há uma coisa que define Nápoles acima de tudo como referência gastronómica, para além de ter sido o berço da pizza, claro, é o RAGU, uma espécie de ensopado de carne com molho espesso e encorpado, cheio de sabor! Aliás, o ragu aparece devido à influência dos franceses que governaram a cidade, a própria palavra deriva do francês RAGOÛT, de RAGOÛTER que significa "despertar o gosto ou o apetite"... Embora existem várias formas de cozinhar o ragu por terras italianas, à bolonhesa, à calabresa, à piemontesa, etc, o napolitano é deveras especial porque os pedaços de carne são cozinhados em lume brando durante várias horas enquanto que aos outros, para além de usarem carne picada, basta uma boa hora de confecção... 

Fiquemos então com o RAGU À VALMEDO, influenciado pela baía de Nápoles e pelo Vesúvio:


 INGREDIENTES:                                                        

- 1 cenoura

- 1 alho francês                                                                                                        

- 1 talo de aipo

- 1/2 pimento

- 500 grs de carne de vaca picada

- 100 ml vinho branco

- 250 ml de molho de tomate à napolitana

- 300 ml de caldo de carne

- 2 colheres de sopa de azeite

- 30 grs de manteiga

- sal e pimenta, qb

- folhas frescas de manjericão;



Os legumes

PREPARAÇÃO:

- cortar grosseiramente os legumes em pedaços e refogar bem no azeite e na manteiga até amolecerem;

- juntar a carne e deixar cozinhar, indo mexendo bem até evaporar o líquido;

- juntar o vinho branco, mudar para lume alto até o álcool evaporar;

- baixar para lume médio, juntar o molho de tomate e o caldo de carne, mexendo bem;



- temperar com sal e pimenta;

- cobrir a panela e deixar cozinhar por 45 min. em lume brando;

- aquando do empratamento, enfeitar com folhas de manjericão;

- acompanhar com massa tagliatelle;




 Buon appetito!



João Ratão

(Chef de Valmedo)

A cozinha do chef...


NAPOLI NA COZINHA DE VALMEDO...


Nesta louca vida moderna rotinada pela globalização andámos tão atarefados e absorvidos por mil e uma coisas que às vezes não passam de minudências imerecedoras da atenção e do tempo que nos roubam que muitas vezes nos escapa o essencial, como se não conseguíssemos ver o elefante que entrou na nossa sala... Assim me senti eu hoje ao entrar na minha cozinha com o intuito de preparar um ragu, prato típico italiano e especialmente de Nápoles, quando ao olhar com atenção à minha volta tive a sensação que o universo estava a mangar comigo tantos eram os pormenores que então me saltavam à vista e que me demonstravam que o mundo distante às vezes está mesmo ao nosso lado, basta reparamos:



Uma pequena brisa trouxe-me o cheiro intenso e perfumado do manjericão que timidamente mora ali na sombra do parapeito da janela, esse tempero incontornável da cozinha italiana que tantas vezes me passa despercebido e que agora, com o seu aroma penetrante, parecia querer-me dizer: cheira-me e sentires-te-ás nas belas encostas do Vesúvio! 



 

 Até o frasco do molho de tomate que trouxe da despensa ostentava para mim a legenda incontornável "MOLHO DE TOMATE A LA NAPOLITANA"! E claro, para ser um verdadeiro molho napolitano teria que ter sido feito a partir do San Marzano, essa variedade de tomate da região conhecido pelo seu sabor agridoce único e que torna os molhos das pizzas, das massas e do ragu especiais!




Depois ainda a massa, uma tagliatelle dita autêntica de Itália, pronta a cozinhar porque tempo não há para fazer a minha própria massa à moda italiana, não é que me falte vontade mas continua um projecto por enquanto adiado... E o certo é que a massa, apesar de ter sido comprada aqui em Valmedo, não desiludiu, antes pelo contrário!



 

E por último e inesperado, já com o ragu servido a preceito sou surpreendido por uma camisola oficial do grande NAPOLI à mesa, é que até me esqueço que cá por casa vive um adepto ferrenho do clube do saudoso Maradona... E com tudo isto, hoje sem sair de Valmedo fui num instante até à baía de Nápoles e deixei-me encantar pelo Mediterrâneo e pelo Vesúvio...


João Ratão

(Chef de Valmedo)

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Bicho esquisito...

 

"O homem é o único animal que não aprende nada sem ser    ensinado: não sabe falar, nem caminhar, nem comer, enfim, não             sabe fazer nada no estado natural, a não ser chorar!"


Plínio, o Velho

A curiosidade mata...

 

CURIOSIDADES DO MUNDO CÃO - XXVII


A CURIOSIDADE MATOU O SÁBIO...


Chamava-se Caio Plínio Segundo mas ficou conhecido para a posteridade como PLÍNIO, o VELHO, para se diferenciar de um sobrinho seu também de nome Plínio, mas o Jovem, e era simplesmente considerado o maior sábio do seu tempo: militar de carreira e oficial que estudou Direito, escritor, historiador, naturalista, cientista e acima de tudo um visceral curioso do mundo-cão, um trabalhador incansável na demanda do conhecimento e que escreveu muitas obras mas das quais só uma chegou até nós, a magistral HISTÓRIA NATURAL, uma obra colossal de 37 volumes e que é uma verdadeira enciclopédia do Mundo Antigo ao recolher mais de 30 000 dados importantes de mais de 2000 livros sobre cosmografia, geografia, antropologia, zoologia, botânica, arte...  É obra, sim senhor, e embora com algumas imprecisões científicas até porque muitas decorrem de ideias alheias, esta sua leitura do mundo é ainda hoje considerada uma fonte preciosa e única para o conhecimento das sociedades e da cultura na Antiguidade...



"Plínio, o Velho"


Ora bem, o nosso velho PLÍNIO que era então almirante da frota romana que defendia aquela zona que incluía Pompeia e Herculano tinha residência a apenas 30 quilómetros do Vesúvio e quando se apercebeu da erupção do vulcão e da catástrofe que estava a acontecer não esteve com meias medidas, mandou preparar uma embarcação com nove homens a bordo e dirigiu-se para Pompeia com dois intuitos: primeiro, socorrer os sobreviventes da tragédia e segundo, mas talvez o mais imperioso para ele, observar e estudar o fenómeno o mais perto possível para daí produzir conhecimento científico! Mas essa sua curiosidade naturalista arrastou o sábio para um final inglório, no dia seguinte ao início da erupção, a 25 de Agosto de 79, ou seja há precisamente 1941 anos, morreria sufocado pelas nuvens tóxicas que desciam do cume da montanha...




À primeira vista pode parecer-nos hoje em dia estranho que um sábio da envergadura de Plínio tenha desafiado assim de ânimo leva as colossais e destruidoras forças da natureza mas, em abono da verdade e em sua legítima defesa, é imperioso realçar que naquele tempo nada se sabia sobre os vulcões e sobre o interior do planeta, por isso é que os desgraçados dos habitantes de Pompeia e Herculano sofreram aquele terrível destino, tivessem eles valorizado as ameaças que o Vesúvio lhes fez anos antes e talvez tivessem salvado a pele... Às vezes morre-se por altivez e ignorância, mas Plínio não merecia, ele que era um sábio e um curioso e todos os sábios e curiosos são humildes...  



"Erupção do Vesúvio em 1812" - Artista desconhecido


João Lava

(Vulcanólogo de Valmedo)

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O Vesúvio

 

A RAIVA DO VULCÃO - VIII

OU

EFEMÉRIDE # 77


O VESÚVIO, A BAÍA E A PIZZA...


O dia tinha amanhecido tranquilo como era usual mas aquela manhã de 24 de Agosto de 79 ia ser muito diferente para POMPEIA HERCULANO, duas prósperas cidades graças ao comercio de vinho e porcelanas, no primeiro caso, e à pesca, no segundo; situadas no sopé do vulcão VESÚVIO e à beira de uma bela baía hoje chamada de Nápoles eram como que um paraíso para os seus felizes habitantes mas pelas 10 horas daquela fatídica manhã toda a gente foi surpreendida por violentas explosões vindas do cimo da montanha há muito adormecida e de repente foi como se o inferno lhes tivesse caído em cima, pedaços de rocha voam do alto, nuvens de gases sufocantes abafam as cidades, rios de lava invadem as ruas e chuvas de cinzas e pedra-pomes sepultam todos os edifícios matando 20 000 pessoas!


"O último dia de Pompeia" - Karl Bryullov


Em menos de três horas as duas cidades desapareceram e durante os três dias seguintes a escuridão foi total, e quando o sol voltou a brilhar POMPEIA E HERCULANO estavam enterradas vivas sob uma camada de 4 a 7 metros de matéria vulcânica e assim ficariam esquecidas do mundo durante 1600 anos... Voltariam a ver a luz do dia em 1594 quando, por acaso, ao escavarem um canal para uma conduta de água uns trabalhadores deram de caras com uns frescos numa parede onde estava escrito o nome da cidade de Pompeia... E ficaram para a posteridade os corpos petrificados das vítimas em aflição, mortos por asfixia, debaixo de rochas ou sufocados nas ruas estreitas pela multidão descontrolada.



Hoje, passados quase 20 séculos, o VESÚVIO lá continua, dominando Nápoles e a sua baía, sereno por enquanto como na véspera do histórico cataclismo e essa memória parece não tirar o sono aos napolitanos que vão confiando na longa sesta do vulcão e na monitorização exaustiva a que a montanha é sujeita. Enquanto isso, tal como em Pompeia e Herculano outrora, a vida corre feliz cá em baixo ou não fosse NÁPOLES o berço da pizza e do ragu... Pena é já não parar pelo San Paolo o Maradona, o eterno rei dos napolitanos que deslumbrava o mundo, bem que se poderia trocar pela Camorra!



"Baía de Nápoles sob o Vesúvio" - João Plástico


João Lava

(Vulcanólogo de Valmedo)

domingo, 23 de agosto de 2020

 

LENDAS E NARRATIVAS - XIII

OS AMORES, AS ILUSÕES E AS LÁGRIMAS...


Longe de mim a ideia de dar conselhos a quem quer que seja mas hoje vou arriscar e começar mesmo por aí mas apenas porque dá um certo jeito a esta pobre narrativa, amigo leitor do mundo-cão, e assim permita que lhe peça para que não se deixe iludir muito com histórias imprecisas, narrativas tendenciosas ou simples crendices baseadas na ignorância, a menos, claro está, que isso lhe dê satisfatório prazer e nesse singular caso nem eu nem ninguém terá o direito de opinar seja o que for... E agora que estamos esclarecidos falemos do que importa aqui, das ilusões que são propagandeadas para criar falsos acontecimentos fabulosos que depois são utilizados como ferramentas de ideologia política ou condicionamento social, senão repare na fotografia abaixo e sabendo que se trata da imagem mais conhecida da "Fonte dos Amores", em plena Quinta das Lágrimas por onde há  muitos anos atrás se amaram Pedro e Inês, poderia o amigo leitor ser sugestionado a convencer-se de que o mais famoso e trágico par romântico da história lusa se tinha encontrado ali inúmeras vezes e trocado eternas juras de amor sob as famosas porta em arco e janela neo-góticas... 



"Fonte dos Amores" - Jean-Charles Forgeronne


Mentira! Esse belíssimo conjunto, ali mesmo à beira de uma fonte de água cristalina e que dá acesso aos mistérios da mata da quinta e que lhe proporciona uma aura ainda mais romântica apenas foi construída no século XIX, isto é, mais de quinhentos anos após as aventuras amorosas do príncipe e da sua amada... É caso para dizer que para uma paixão assim tão pungente basta a sombra e o recolhimento de uma árvore ou de um singelo arbusto, e isso por ali nunca faltou desde que a avó de D. Pedro, a Rainha Isabel, mandou construir um canal para levar a água de duas nascentes que dali brotavam para o Convento de Santa Clara. E se a uma das fontes, pela óbvia razão de ter sido testemunha dos namoros secretos do infante e da fidalga foi dado o nome de FONTE DOS AMORES, a outra, culpa de Camões ao que parece, ficou para sempre conhecida como a FONTE DAS LÁGRIMAS...    




"Fonte das Lágrimas" - Jean-Charles Forgeronne


De facto, poetizou Luiz Vaz e acreditou piamente o povo que esta fonte é alimentada pelas lágrimas brotadas por D. Inês ao ser assassinada e que aquele tom avermelhado que se nota no fundo é o seu sangue derramado, embora tudo não passe do efeito causado por umas algas vermelhas que vivem agarradas ao leito rochoso do curso de água... Acredite-se ou não, lenda ou facto, o certo é que, como alguém disse, os amores trágicos e intemporais de D. Pedro e D. Inês foram mesmo reais e embora alguns pormenores da história possam ser artificiais eles aconteceram de facto, ao invés de outros romances que foram inventados e hiperbolizados pela pena ou pela imaginação popular, casos de Romeu e Julieta ou Tristão e Isolda!






E se por acaso um dia destes arriscar uma visita pelas fontes dos amores e das lágrimas não se esqueça que outras coisas há por lá que merecem atenção, como seja uma sequóia gigante plantada pelo próprio Duque de Wellington quando ali pernoitou em 1813...






João Alembradura

(Historiador de Valmedo)

terça-feira, 18 de agosto de 2020

 

LENDAS E NARRATIVAS - XII

IR VER A FOCA EM VALE DE CANAS...


A Mata de Vale de Canas não é conhecida apenas pelas suas gigantescas árvores, incluindo a mais alta da Europa, ela também é conhecida por albergar algumas espécies endémicas, das quais se salienta uma famosa FOCA! Sim, é verdade, a FOCA de Vale de Canas é única e embora não haja memória nem relato de alguém alguma vez ter avistado o fabuloso animal, acontece que a foca se tornou numa criatura mitológica e especial para gerações de estudantes, habitantes e visitantes de Coimbra... A expressão "ir ver a foca em Vale de Canas" era há uns anos atrás utilizada nas praxes e como brincadeira para reinar com os mais ingénuos e distraídos e significava ir em demanda das sombras e privacidade que as árvores da Mata proporcionam com o intuito de aí namorar, para além de que o ar puro do vale ajudava naquelas ocasiões em que a busca da foca, ou seja os rituais de acasalamento, exigiam grande dispêndio de energia e muita oxigenação... E hoje, com a Mata já revitalizada depois de quase se ter extinguido no violento incêndio de 2005, é uma boa altura para reanimar a foca usufruindo da aura romântica que a floresta entretanto granjeou e sempre dá mais gozo do que a caça aos gambozinos...




João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

A mais alta...

 


A ÁRVORE MAIS ALTA DA EUROPA?!

OU

 O VALE DAS ÁRVORES GIGANTES...


E se por uma qualquer razão absurda e louca, por exemplo um prémio de um milhão de euros num concurso televisivo ou então a sua vida em troca da resposta correcta num cenário de policial macabro e neste caso a questão só poderia derivar da cabeça demente de um serial-killer dendrófilo, lhe exigissem que descobrisse e fotografasse a árvore mais alta da Europa, o que faria amigo leitor do mundo-cão? Saberia por acaso onde procurar ou começaria a vaguear por aí que nem um louco de olhos postos nas alturas desesperadamente em busca de um ramo que pareça tocar as estrelas?  


"A árvore mais alta da Europa" -  Jean-Charles Forgeronne


Calma , amigo leitor, ainda bem que estamos no reino da fantasia e que a questão não passa de uma brincadeira, oxalá nunca precise de fazer essa insana demanda mas já agora, só para tranquilizá-lo, fique  sabendo que não precisaria de muito tempo nem de grandes viagens para cumprir a missão pois a árvore mais alta da Europa, até ver e prova em contrário, vive nas proximidades de Coimbra, mais propriamente na Mata Nacional de Vale de Canas! De facto, e cientificamente provado, ali mora há 140 anos um EUCALIPTO único, com o nome de baptismo científico Eucalyptus diversicolor e com 73 (!) metros de altura, simplesmente a árvore mais alta do velho continente e que miraculosamente conseguiu escapar a um violento incêndio ali ocorrido em 2005!


"A Araucária mais alta de Portugal" - Jean-Charles Forgeronne


Mas desengane-se se pensar que por ser assim tão alta esta árvore seja fácil de encontrar, é que ela está rodeada de muitas outras que são quase tão altas quanto ela, por exemplo, mesmo ao seu lado pode-se observar a Araucaria mais alta de Portugal, com 54 metros de altura, e ainda por ali podem ser encontrados outros eucaliptos de respeitosa estatura  acima dos 60 metros, é que o declive do vale onde a mata está inserida leva a que as árvores situadas mais abaixo tenham que crescer à brava para chegar à luz lá em cima... Já era conhecida esta mata no século XVI pelo nome de Mata do Rei e no século seguinte, para além de ter sido adquirida pelo Estado Português para daí retirar madeira de pinheiro necessária para as obras contra as cheias levadas a cabo no Choupal foi repovoada com plantas autóctones e estrangeiras, tendo recebido muitas espécies de eucaliptos australianos. 



"Vale de gigantes" - Jean-Charles Forgeronne

E amigo leitor, mesmo que se perca e não encontre a árvore mais alta da Europa não desespere, pode ser que encontre uma lagartixa-de-cauda-comprida ou uma rã-ibérica, espécies que só ali existem, ou então, melhor ainda, pode ser que dê de caras com a famosissíma FOCA que consta por lá andar...


  João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)

sábado, 15 de agosto de 2020

A pérgula...

 


HAVERÁ PÉRGULA MAIS LINDA?


Uma PÉRGULA, segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é uma espécie de galeria coberta de barrotes espaçados assentados em pilares e geralmente guarnecida de trepadeiras, e se lermos na íntegra e com atenção ficamos ainda a saber que também se pode escrever pérgola pois a palavra deriva do latim pergúla que significa balcão, sacada, galeria exterior... Mas há quem lhe chame ainda ramada, como àquela de Penacova, como os mais atentos podem ler numa placa velha de 100 anos que está embutida na parede do vetusto prédio que alberga o café que tem a esplanada com a mais bela vista que se conhece sobre o Mondego:



 

"Esta ramada delindada pelo arquitecto Raúl Lino de Lisboa foi mandada construir pela Sociedade Propaganda de Portugal e oferecida pela mesma ao povo de Penacova a quem é confiada a sua guarda e conservação    ANO MCMXVIII"




E fica-se então a saber da existência outrora de uma tal SOCIEDADE PROPAGANDA DE PORTUGAL, nome que assusta até sermos esclarecidos que a propaganda a que se refere não era política mas sim de outra ordem, não a confundamos portanto com a máquina propagandista do regime fascista que apareceria anos depois, até porque esta sociedade foi fundada em 1906 por um grupo da burguesia lisboeta ainda Salazar era um obscuro menino seminarista...  A dita sociedade, formada por gente endinheirada, culta e viajada, de cariz privado e sem apoio dos organismos públicos, tinha como objectivos contribuir para o desenvolvimento intelectual, moral e material do país através da colaboração com outros organismos e do incremento de relações internacionais, lê-se nos seus estatutos fundadores, tudo para que, resumindo, Portugal fosse visitado e amado por nacionais e estrangeiros!  Ou seja, estamos perante os pioneiros do turismo em Portugal!




E se muitos daqueles que sobem ao nobre cimo de Penacova e se abeiram sobre o magnífico panorama que lhes é oferecido sob uma prazenteira sombra acabam por se ir embora sem imaginar sequer a rica história e a magia do local, tu, amigo leitor do mundo-cão, quando lá passares, quer já conheças ou não, não te esqueças, aquela não é uma pérgula qualquer, saiu do génio de RAÚL LINO, figura de proa da arquitectura lusitana do século XX, autor por exemplo da Casa dos Patudos, em Alpiarça, ou do Teatro Tivoli, em Lisboa, pormenores de uma carreira de 70 anos dedicada à arquitectura, prática e teórica... 



E mais que não fosse, quando observares a grossura e a nobreza dos troncos das trepadeiras sobre a tua cabeça, interrogares-te-ás, terão eles 100 anos tal como a pérgula? Bem, assim parece, mas fica tranquilo, há mais de um século que toda a gente fica em êxtase e sem palavras para a beleza que dali, daquele lugar mágico, se alcança... 

E já agora, o povo de Penacova está de parabéns, não só tratou de guardar e conservar a magnífica obra como ainda faz prova de boa memória e melhor reconhecimento...





João Palmilha

(Viajante de Valmedo)


quinta-feira, 13 de agosto de 2020

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

O segredo...

 

TASCAS E ANTROS DE PRAZER - X


A ARTE DE ASSAR O BICHO...


Não foi por ter passado pela BAIRRADA que o subconsciente das minhas papilas gustativas me sugestionou que tinha que aproveitar a ocasião para matar as saudades de leitão assado, aliás pode-se comer muito e bom leitão por esse país fora e muitas vezes fica-se a ganhar tanto na qualidade da iguaria como no peso da factura, mas vindo da Anadia para Penacova pelas estradas secundárias que bordejam as encostas da Serra do Buçaco e passada a Espinheira surge de rompante à direita o letreiro  "LEITÃO DO AIRES", e meus amigos, a paragem é obrigatória!


"A esplanada do Aires" - Jean-Charles Forgeronne



Nestes dias pandémicos que correm o espaço e o ambiente interiores estão diferentes, nada daquelas compridas mesas corridas onde há anos nos acotovelámos às dezenas em alegre algazarra na véspera de descer o Mondego de canoa, agora isso deu lugar a pequenas mesas perdidas num enorme espaço vazio e parece que voltamos à escola primária do antigamente com as alminhas de castigo a olhar para a parede e de costas voltadas para os outros, só falta mesmo encarapuçar as orelhas de burro...





Mas nem tudo a pandemia piorou, em especial à hora de almoço em que para aqueles que gostam de chegar cedo os aguarda uma ampla e sombreira esplanada, de generosas mesas que catam a brisa que desce da serra e então, quando alguém simpático nos vem perguntar ao que vimos, claro, leitão, mas antes venha um pãozinho com azeitonas bem temperadas e uma garrafa de frisante da casa bem fresquinho para nos espreguiçarmos na cadeira, fecharmos os olhos por um instante e, talvez seduzidos pelos odores que nos chegam das outras mesas, sentir-mo-nos por uns instantes numa espécie de paraíso... 





E depois quando chega o bicho, assado no ponto, pele crocante mas não seca em demasia e a carne tenra a desfazer-se, tudo simplesmente acompanhado por batata frita irrepreensível e uma generosa salada de alface, é hora de nos calarmos e simplesmente interiorizar todo aquele prazer... E se fosse necessário apontar algo que torna este leitão assim tão especial então diríamos que é o molho, secreto e divinal! "Quer levar para casa?" - ainda me lança o Aires apontando para ele, ao que eu provoco: - "Só o levo acompanhado da receita!", "Isso..." 
E para quem não gosta de leitão, paciência e ânimo porque há muitas outras opções, seja bacalhau no forno, polvo à lagareiro, carnes grelhadas ou um frango assado a desfazer-se que também tem muita saída...



João Ratão

(Chef de Valmedo)

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Ao Viandante...

 

CURIOSIDADES DO MUNDO CÃO - XXVI


A BONDADE, A BELEZA E O RESTO...


E ali estava eu, no cimo do Monte Crasto, com o cocoruto da Serra do Buçaco a espreitar por entre as ramadas das árvores e sob um já quente sol de Agosto, a ler aquelas brancas palavras bem arrumadinhas nas tabuinhas escuras já gastas pelo tempo e aquilo pareceu-me algo familiar, invadiu-me a sensação que já tinha lido aquilo noutra altura, talvez noutra vida, em qualquer lugar perdido por aí, mas como outras paragens me demandavam lá segui caminho depois do retrato feito embora dando voltas à cabeça tentando avivar a memória... 



"Ao Viandante" - Monte Crasto - Jean-Charles Forgeronne


E claro que mais tarde, lá para o final do dia, veio-me finalmente à lembrança que já tinha lido aquele mesmo poema em pleno Castelo de São Jorge, era de um tal Veiga Simões, conhecido como o poeta arganilense, mas além disso ilustre diplomata, político, investigador, jornalista e escritor e que em Maio de 1914 escreveu um poema chamado "Ao Viandante", ao que parece para uma festa escolar e que se tornaria décadas mais tarde um símbolo das comemorações do Dia da Árvore e depois do Dia Mundial da Floresta ao ser reproduzido e instalado por inúmeros jardins públicos, matas nacionais e locais com árvores notáveis...  Não sei há quantos anos estará o poema ali na Anadia mas certo é que em 1959 já tinha sido adaptado como legenda obrigatória em todos os parques públicos do Uruguai, estendendo-se depois por todas as Américas... E percebe-se porquê, bastam dois minutos de atenciosa e tranquila leitura... 


Cartaz 1970

Ao Viandante

Tu que passas e ergues para mim o teu braço,                                                antes que me faças mal, olha-me bem.                                                              Eu sou o calor do teu lar nas noites frias de Inverno;                                          Eu sou a sombra amiga que tu encontras                                                            quando caminhas sob o sol de Agosto;                                                                E os meus frutos são a frescura apetitosa                                                            que te sacia a sede nos caminhos.                                                                        Eu sou a trave amiga da tua casa,                                                                        a tábua da tua mesa, a cama em que tu nasceste e descansas                                      e o lenho do teu barco...                                                                                      Eu sou o cabo da tua enxada, a porta da tua morada,                                            o madeiro do teu berço e o aconchego do teu próprio caixão.                            Eu sou o pão da Bondade e a flor da Beleza...                                                    Tu que passas, olha-me bem... não me faças mal!

Veiga Simões, Arganil, 1914    



João Palmilha

(Viajante de Valmedo)                   

  

domingo, 9 de agosto de 2020

Janelas do Tempo

"Janelas do Tempo" - Jean-Charles Forgeronne
 

Ela aí vai...

"Ela ia enquanto o país ia ficando para trás..."
 

À boleia...

 


O PAÍS DAS GLORIOSAS MOTORIZADAS...


Não me ocorreu melhor para fazer da hora matinal que tinha que passar na Anadia enquanto esperava que a Maria Nana se despachasse da consulta de fisioterapia do que explorar a cidade de carro, numa voltinha lenta e tranquila que mais parecia uma ronda policial atenta a todos os pormenores, aos edifícios, à orgânica da terra e das pessoas... E ainda bem que não matei o tempo nem a curiosidade dentro do carro ou naquela pastelaria famosa que serve umas arrufadas divinais, é que depois de constatar que a Anadia está muito bem servida de equipamentos sociais, desportivos e culturais, de fazer inveja a muita urbe de maior dimensão, e depois de ter desenferrujado as pernas num pequeno passeio pela mata do Monte Crasto, o ponto mais alto da cidade e de onde se avista ao longe o cume e o ondulado da Serra do Buçaco,  ao descer pela encosta poente que morre nos Arcos dou de caras com umas sedutoras ruínas, e se há coisa a que eu não resisto são umas ruínas interessantes, gosto de ler a história que elas nos contam... Mas ali, parado no semáforo mesmo ao lado e protegendo os olhos do sol que já apertava, foi inevitável a sensação de que estava à beira de algo com muito significado histórico, não só pela dimensão dos edifícios mas especialmente por um emblema que me chamou a atenção, estampado de velho numa das paredes mas ainda bem vivo, e eu que ia tentando dar significado àquilo que tinha diante dos olhos tinha puxado inconscientemente pela memória, interrogava-me e não queria acreditar, seria mesmo aquela a famosa fábrica das motorizadas de antigamente?



"A casa da V5" - Jean-Charles Forgeronne


E assim, de repente e por acaso aquela manhã solarenga na Anadia viria a revelar-se inesquecível porque ali estava eu, agora certo de que aquelas eram as instalações fabris onde tinham sido produzidas as famosas V5, defronte da demonstração cabal e inequívoca da relatividade einsteiniana do tempo e do espaço, é que tinham bastado umas centenas de metros corridos desde a cidade para que eu me sentisse agora a viajar a uma velocidade louca pelo tempo, de repente era eu um rapazinho adolescente, num país completamente diferente, estranho até, em que especialmente nas comunidades rurais eram raras as pessoas que possuíam automóvel, na minha terra então só existiam três carros: o de praça, no qual as pessoas iam à vila em dia de mercado ou para tratar de qualquer assunto e que também me serviu um dia de ambulância, o do dono da mercearia e café, e claro, o do mais abastado lavrador da zona, de resto andava tudo de motorizada, jovem, velho, casais, famílias inteiras, elas eram as Casal, as Vilar, as Famel, as Zundapp e claro as V5 da Sachs, contribuindo para uma importante indústria de produção nacional que obteve sucesso entre as décadas 50 e 90 do passado século e que ia escondendo o estado miserável da nação...



"Outrora esplendor" - Jean-Charles Forgeronne


Nunca tive motorizada, ao contrário da maior parte dos meus amigos de infância e adolescência, apenas uma bicicleta jeitosa que também me levava a qualquer lado, ainda hoje não ando de moto nem sequer penso algum dia converter-me em motard, não estou para aí virado mas tenho gosto e simpatia pelos veículos motorizados de duas rodas ou não tivesse eu andado à pendura das V5 do Belmiro, ele e eu éramos os craques lá da terra e íamos jogar a todo o lado por qualquer emblema que nos oferecesse a oportunidade e um pequeno petisco no fim, fosse em torneios oficiais ou não ou apenas em disputas amigáveis, até chegamos a envergar as camisolas sem números dos solteiros de terras alheias em disputas fratricidas contra os casados que eram em maior número... E claro, sempre a cavalo da vermelha V5, chuteiras ao pescoço e gadelha ao vento que naquele tempo capacete só atrapalhava, e que agradáveis eram as voltas que dávamos, tranquilamente porque o meu amigo Belmiro era um rapaz tranquilo e andava regra geral devagar e em segurança apesar daquela máquina, se ele quisesse, poder atingir os 120 Km/hora! Mas um dia memorável em que por uma esquecida razão a minha viagem de regresso não foi à boleia do Belmiro mas do Vítor dos Resgais, ele que também tinha uma V5 e fama de acelera, tínhamos ido jogar ao Alqueidão da Serra, borrei-me todo a descer a Serra de Aire e por várias vezes senti que aquela seria a minha última viagem tal a velocidade e as travagens mesmo em cima das curvas a que fui sujeito... Ainda hoje penso que aquele foi um dos dias mais importantes da minha vida, é que quando me apeei cambaleante da mota experimentei a mais intensa e verdadeira sensação de alívio como poucas vezes senti até hoje... Mesmo assim, voltaria agora a andar de V5, hoje um artigo de colecção que pode valer uma fortuna...



João Alembradura

(Historiador de Valmedo)


sábado, 8 de agosto de 2020

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

A Matemática da Amizade




"A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas"


Fiquei fascinado ao dar de caras com estas curiosas palavras de Francis Bacon, filósofo, cientista, ensaísta e político, sábio considerado o fundador da ciência moderna, é que elas juntam os dois mundos do seu autor, a ciência através das operações matemáticas e a filosofia através dos sentimentos... E então inevitavelmente lembrei-me do meu grande amigo João Algoritmo, matemático, cabalista e investigador de Valmedo, conhecido pela sua revolucionária teoria de que tudo nesta vida pode ser representado através de números e fórmulas matemáticas, e então ousei desafiá-lo a expressar matematicamente a afirmação de Bacon e eis a sua resposta que recebi passado um par de dias e que transcrevo com a devida vénia, legenda incluída: 







  - sendo f' o símbolo de derivado de... (ou em função de...)

  - sendo t o símbolo do somatório das tristezas...

  - sendo ! o símbolo da alegria, já que o ponto de exclamação deriva da palavra latina que significa  alegria, Io...

   - sendo   o símbolo da amizade na medida em que, para além de um 8 deitado, significa o infinito e estabelece a eternidade do afecto entre amigos...


Assim, pode ler-se a equação matemática acima como:


"Ainda que feito num oito, se partilhares as tuas tristezas isso equivale a dobrares as tuas alegrias e ainda aumentas a amizade"



João das Boas Regras

(Sociólogo de Valmedo)