QUANDO A BELEZA UNE...
Que seja a maior mesquita do Ocidente, assim o pediu Abdr-ar-Rahman I, o fundador do emirato independente de Córdoba, e assim se lhe fez a vontade... Embora pouco atraente vista de fora, austera até, o que não estranha para quem sabe que segundo a tradição islâmica o luxo e a ostentação devem remeter-se ao privado e não a exposições públicas, exactamente ao contrário dos costumes europeus e especialmente da Igreja Católica, mas quando nela se entra a respiração pára, o batimento cardíaco acelera e o espírito orgasma tanta é a beleza que esmaga os sentidos...
Somos engolidos por uma floresta de 856 (!) colunas que sustentam arcos em ferradura que por sua vez sustentam outra série de arcos, muitas delas originárias do templo visigodo que existia no local e outras ainda recuperadas aos tempos romanos da cidade, formando-se um autêntico labirinto de deleite visual...
E tal como os muçulmanos respeitaram o que já existia também os cristãos, aquando da conquista da cidade em 1236 por Fernando III de Leão e Castela, surpreendentemente o fizeram apesar da sua tradicional prática de arrasar tudo o que não é conforme a sua fé; certamente que até tinham essa intenção de arrasar a mesquita para aí construir uma faustosa igreja mas ao entrar no templo devem ter ficado esmagados pela beleza daquele lugar e perderam a coragem de destruir algo tão especial, um verdadeiro milagre...
Construiu-se uma catedral sim, graças aos deuses, mas em harmonia, respeito e união, num diálogo religioso, arquitectónico e cultural único a nível mundial... A catedral-mesquita de Córdoba, hoje oficialmente baptizada como Catedral de Nuestra Señora de la Assuncíon é Monumento Nacional desde 1882, Património Mundial desde 1984 e em 2014 a Unesco declarou-a Bem de Valor Universal Excepcional...
(Fotos: Jean-Charles Forgeronne)João Palmilha
(Viajante de Valmedo)