Desenganem-se aqueles que pensam que os agentes especiais das forças de segurança dos
U.S.A não passam de
man in black, aqueles agentes de fato escuro imaculado e óculos de sol a condizer, elegantes e mais rápidos que a própria sombra, quais
robots implacáveis e preparados apenas para aniquilar qualquer ameaça à ordem pública americana... Agora sabe-se que eles são muito mais do que isso, não só estão preparadíssimos para qualquer invasão
alien como também são extremamente cultos e com uma queda especial para a literatura...
De facto, saiu há tempos estampado no insuspeito
La Stampa, jornal de referência italiano há século e meio, que foi a
C.I.A que em 1958 atribuiu o
Nobel da Literatura a
Pasternak, o romancista russo autor do célebre "
Doutor Jivago"! E para se perceber como isso aconteceu temos que recuar para aquele tempo do pós-guerra e em que, apesar das armas estarem frias, escaldantes estavam a propaganda, a contra-informação e a espionagem, valia tudo para denegrir quem estava do outro lado da cortina...
Era consensual para os membros da Academia Sueca a atribuição do Nobel da Literatura a
ALBERTO MORAVIA, por uma obra excepcional no romance, no ensaio, na dramaturgia, até na literatura de viagens... E curiosamente tinha ele publicado no ano anterior
"La Ciociara", uma das suas mais aclamadas obras, e no próprio ano da atribuição do Nobel, parece surreal mas não é, é mesmo real surreal, tinha publicado
"Un mese in URSS"!
Pois bem, ainda segundo o
La Stampa, inusitada e incompreensivelmente, no momento da atribuição do prémio, surge a opinião do "chefe do
gang", um tal de
Sterling, secretário permanente da Academia Sueca, a proclamar aos sete ventos que não senhor, quem merecia o prémio era
Pasternak pois, segundo ele, seria o escritor russo mais importante do século, apesar de já lhe ter sido recusado o prémio anos antes pelo mesmo romance, o que é obra pelo facto de ter sido um autor editado apenas clandestinamente em Itália! É extraordinário! E apesar da incredulidade dos outros membros, o lobby da CIA, que manobrava a Academia Sueca, levou a sua adiante, roubou o Nobel a
MORAVIA para o entregar a um russo apenas porque era um dissidente e uma voz contra a Rússia, um míssil importante na Guerra Fria... Era então Pasternak um autor banido na União Soviética e a sua glorificação seria importante para a opinião pública ocidental, apesar de isso posteriormente ter sido a sua desgraça: foi-lhe proibido ir receber o prémio sob castigo de nunca mais poder regressar à pátria e isso foi-lhe demasiado, não aguentou ele, morreria dois anos depois sem nunca ter recebido o prémio... Em 1961 seria finalmente reabilitado na URSS e a sua obra-prima,
"Doutor Jivago", só seria publicada no seu país em 1988, quase trinta anos após a sua morte! Um castigo imerecido!
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Alberto Moravia |
Que não seja retirado o valor e o mérito a
PASTERNAK, não só pela sua obra e coragem mas também pela sua história de vida, mas do que se trata aqui é do mais elementar crime humanitário, roubar o Nobel a alguém apenas porque dá muito jeito atribuí-lo a outrem... Mas a batota não tem limite, em jeito de compensação seria atribuído no ano seguinte o prémio a um italiano, muito menos merecido do que aquele que foi sonegado, apenas para calar as bocas da reacção...! E assim, glória a
MORAVIA, o grande escritor e combatente quase-Nobel, vítima do sistema...
E depois podemos questionar: quantos Nobel foram atribuídos por influência política ou económica?
João Vírgula
(Leitor de Valmedo)