quarta-feira, 30 de março de 2022

 

A MISTERIOSA ORIGEM DAS PALAVRAS - XIX


ORQUÍDEA, A PLANTA COM TOMATES!


Orquídeas há muitas e de muitas espécies e feitios mas uma coisa é comum a todas: o nome! ORQUÍDEA deriva do grego e da junção de orkhis (termo que significa testículo) com eidos (termo que significa aspecto) e tal associação deve-se aos dois curiosos tubérculos que as suas raízes apresentam e que fazem lembrar os testículos dos mamíferos... Assim, as orquídeas destacam-se em todo o reino vegetal ao serem consideradas plantas com tomates!  Já agora, quando um mamífero sofre de inflamação dos testículos diz-se que padece de orquite! 

 

"Ophrys tenthredinifera" - Jean-Charles Forgeronne

Em Portugal existem cerca de 70 espécies de orquídeas, grande parte delas silvestres e que proliferam em campos abertos ou solos calcários como é o caso do Planalto das Cesaredas... A maior parte da vida das orquídeas é subterrânea e aqui no planalto "sobem" à superfície  de Janeiro a finais de Março com as suas atraentes flores a imitarem insectos, fruto de uma cumplicidade evolutiva de séculos...


"Pormenor" - Jean-Charles Forgeronne

Fica o aviso, quem demandar o planalto à descoberta das suas preciosas orquídeas terá que o fazer lentamente e em modo cabisbaixo, é que estas belíssimas e frágeis plantas, aqui à beira do Atlântico jurássico, não ultrapassam um dedo indicador de altura, muitas vezes passam despercebidas e qualquer desatenção pode significar esmagá-las com um passo incauto! Mas quando se descobre uma, à beira dos carreiros e trilhos de cabras, há que pôr-se de joelhos ou mesmo deitados ao nível do chão para alcançar o deleite da sua beleza, e pode fotografar à vontade para posteridade, para o ano lá estarão no mesmo sítio...


"Outra espécie, outros tons..." - Foto de João Andarilho

E depois como é bom ver as orquídeas pintadas nas casas de São Bartolomeu pela comunidade escolar como forma de chamada de atenção aos mais velhos para a beleza das orquídeas autóctones e para a importância da preservação desta maravilha da natureza...



"São Bartolomeu" - Jean-Charles Forgeronne

João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)

quinta-feira, 24 de março de 2022


A GRANDE LAVANDARIA


Hoje é dia de GRANDE LAVANDARIA, ou como dizem os franceses que idealizaram o acontecimento LA GRANDE LESSIVE! Por um dia e apenas um dia é tempo de lavar a cabeça e pendurar as ideias e os sentimentos em formato A4 com molas de roupa numa enorme corda global, espalhada por todo o mundo em milhares de locais em simultâneo... 

 



Podem ser desenhos, pinturas, fotografias, poemas, o que for, e não é preciso ser artista para participar, basta querer e ousar, sem limite de idade, dos 8 aos 80... O tema deste ano foi "Sombras" mas há muitos que vão para além do mote e aqui na Lourinhã, à beira do dinossauro, surgiram muitos apelos à paz...  




E claro, não fiquei nada surpreendido quando dei de caras com uma obra do meu caríssimo amigo João Plástico e em que ele apela à coragem nestes dias de sombria guerra... Esperemos que para o ano se pendurem coisas mais luminosas e até lá arejemos a cabeça....




Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

 

COSTELETAS DE BORREGO À ANTIGA


Muitas vezes o segredo está na simplicidade, não complicar o que por natureza já é soberbo, falo das costeletas de borrego, amigos comensais, essa iguaria que perfuma a cozinha tradicional portuguesa desde tempos ancestrais e que, pasme-se, não leva mais do que uma meia hora a confeccionar nem exige tempo de preparação nem marinadas nem tem quaisquer segredos a não ser o tempo de cozedura da carne ao gosto de cada um... Além disso, como dantes em tempos difíceis, não há lugar para grandes invenções, tudo se resume ao básico mas maravilhoso toque do genuíno azeite lusitano e do borrego criado com sacrifício...




COSTELETAS DE BORREGO À ANTIGA

Ingredientes:

- costeletas de borrego

- azeite q.b de excelente qualidade

- sal e pimenta;

- batatinhas novas,


Preparação:

- Retirar alguma gordura em excesso das costeletas mas não toda porque é ela que vai dar sabor e aroma à carne;

- temperar as costeletas com sal e pimenta e pincelá-las com azeite;

- levar as costeletas a cozinhar numa chapa bem quente, entre 4 a 5 minutos de cada lado, conforme o desejado, mais do que isso corre-se o risco de a carne ficar seca;

- acompanhar com batatinhas  novas cozidas cortadas ao meio e salteadas em azeite, uma salada a gosto e claro, um tinto alentejano...

Mais simples e saboroso do que isto não deve haver...





João Ratão

(Chef de Valmedo)

 

TASCAS E ANTROS DE PRAZER - XV


BECA-BECA NO BECO...


Ela está escondida mas para encontrá-la basta demandar a Praça 5 de Outubro nas Caldas da Rainha, mais conhecida até pela antiga praça do peixe e, no seu canto noroeste, no chamado Beco do Cabaço, lá se descobre então a TASQUINHA DO BECO... O estreito beco serve de pequena esplanada para convívios ao entardecer, lá dentro o espaço também é pequeno mas é suficiente e acolhedor graças à lareira fumegante para encontros a dois ou reunião de amigos, afinal é o sítio do beca-beca, vem um beca de histórias, sai um beca de saudades, outro dá um beca de quadrilhice e logo outro beca moral é lançado, becas para todo o gosto e o tempo vai passando em alegre becalhice... E claro, o rei da tarde ou da noite é o beca-petisco, sempre pronto a surpreender, tanto pode ser uma tábua de queijos e enchidos como outra de cogumelos e camarão, quiçá uma estranha alheira vegetariana, vinho tinto da casa que não compromete ou uma boa sangria, tudo vai depender do momento e do apetite...    




Ao contrário do multibanco não falta simpatia no atendimento da tasquinha, por vezes um pouco demorado mas que não afecta muito o convívio de grupo, tempo não sobra nesses casos para pôr a língua e a boca em dia e bem haja quem ainda vai tentando reinventar os ancestrais petiscos lusitanos...




  João Ratão

(Chef de Valmedo)

segunda-feira, 14 de março de 2022

"Tasquinha do Beco" - Antiga Praça do Peixe, Caldas da Rainha



Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

quinta-feira, 10 de março de 2022

 

A PRIMAVERA CABRA E AZEDA


Ainda faltam dez dias para chegar a vigésima segunda primavera deste vigésimo primeiro século e já se sabe que vai ser ela muito azeda, ainda vem a caminho, é certo, mas já paira no ar o azedume dos ventos vindos de leste soprados pela cabra da guerra e também já os campos foram invadidos pelo amarelo canário das azedas... De nome científico Oxalis pes-caprae, que é como quem diz em bom português Pé-de-cabra azedo, mas também conhecida por AZEDA, erva-canária, erva-mijona, trevo-azedo e outros nomes, esta singela e frágil planta que não ultrapassa os 40 centímetros de altura e de exuberantes flores amarelas toma de assalto e invade a paisagem de Janeiro a Abril pintando-a de um exuberante amarelo, digno de um Van Gogh qualquer...   


"Invasão amarela" - Jean-Charles Forgeronne

Consta que a introdução das apelativas flores amarelas "azedas" se ficou a dever à rainha D. Amélia que delas muito gostava e que as encomendou para ornamentar o seu jardim da Ajuda e assim, desejo real é ordem, lá vieram as azedas da África do Sul, a sua terra natal... O pior veio depois, estas plantinhas gostaram tanto do nosso país e do nosso clima que fugiram ao controlo da mão humana e desataram a invadir todo o território, ameaçando até as nossas plantas autóctones, perigosa espécie invasora, agora lhe chamam!


"Ameaça" - Jean-Charles Forgeronne

Mas que culpa tem a azeda? Afinal ela foi convidada para vir para cá, ela cujo único pecado é amar o calor do sol e que com a falta da sua luz devido ao aproximar da noite ou à nebulosidade se fecha em copas para reabrir apenas no dia seguinte quando o sol voltar... E quem, quando criança, nunca chupou os caules da planta para saborear aquele suco ácido? Não é por acaso que em Espanha lhe chamam chucha-meles!


"À espera do sol..." - Jean-Charles Forgeronne


João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)

segunda-feira, 7 de março de 2022

 

CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO - XXXVII


A BESTIAL BESTA HUMANA


Agora que o horror da guerra voltou ao velho continente abalando os fracos alicerces de uma sociedade acomodada e ressuscitando os fantasmas e os medos de uma nova guerra à escala global, convém relembrar as atrocidades cometidas na II Grande Guerra, é que todos aqueles que hoje estarão a ler estas linhas já nasceram no pós-guerra, que é como quem diz, em tempos em que a guerra era fria ou, nalguns casos, em tempos de paz... E também porque é bom lembrar os erros passados antes de os voltar a cometer!
Nenhum dos intervenientes na II Guerra Mundial terá a alma imaculada tantas foram as atrocidades cometidas por todos os lados da contenda, quer militares quer civis, mas, ainda assim, há quem tenha ultrapassado todos os limites da razão humana e se é consensual que a esmagadora maioria das chacinas bárbaras contra a humanidade foram perpetrados pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália, Japão e aliados) ninguém sai impune! E desengane-se quem pense que os nazis eram os mais bárbaros, é que apesar do horrível extermínio dos judeus nas câmaras de gás havia ainda alguém pior: os USTASE!



Ustase serrando pescoço de prisioneiro vivo...

Os alemães e seus aliados cometeram muitos mais crimes, é certo, mas em termos de crueldade e barbaridade não chegaram aos calcanhares daqueles cometidos pelos USTASE, membros do movimento fascista que debaixo da asa protectora de Hitler governou a Croácia de 1941 a 1945 e que se dedicou essencialmente a massacrar sérvios, judeus e ciganos... As suas vítimas andarão perto do milhão mas é mais difícil entender os seus actos: usavam com orgulho colares feitos de línguas, olhos e orelhas das suas vítimas, queimavam crianças vivas diante dos pais, violavam meninas defronte das mães e ainda conseguiam abrir as barrigas de mulheres grávidas para lhes tirar os filhos e matá-los!!!! Até os nazis ficaram chocados ao saber destes acontecimentos, especialmente quando depararam com centenas de bebés vítimas de empalamento... Maior bestialidade do que a guerra não deve haver, não é senhor Putin, ou não leu os livros de história? 


João Alembradura

(Historiador de Valmedo)

sábado, 5 de março de 2022

 

90 ANOS E 900 DIAS!


A notícia vinha em rodapé, apresentada quase como uma curiosidade de guerra em alguns jornais on-line e até nas redes sociais, e dava conta da corajosa aventura de Yelena Osipova, cidadã russa de provectos 90 anos de idade que foi detida pela polícia russa há dias quando se manifestava na sua São Petersburgo natal contra a guerra e contra a invasão da Ucrânia... Contas feitas que a estatística fica sempre para a  História, ou não tenha dito Estaline que "uma morte é uma tragédia, um milhão é apenas uma estatística", Yelena tinha 9 anos de idade quando a Alemanha nazi cercou Leninegrado em 1941, naquele que foi um dos mais longos e destrutivos cercos da história da humanidade e que durou 900 (!) dias e que provocou mais de milhão e meio de mortos, a maior parte deles civis inocentes! Hoje, passados 78 anos sobre o fim do cerco a Leninegrado, Yelena veio travar outra batalha e àqueles que se calam deve ser insuportável esta coragem quase centenária, onde estará ela, em prisão domiciliária, numa cela, num gulag ou desaparecida para sempre?

  

Yelena Osipova

João Alembradura

(Historiador de Valmedo)

quinta-feira, 3 de março de 2022




E SE FOSSEMOS NÓS?


Manhã normal como todas as outras manhãs normais, saio de casa e deparo-me com os destroços ainda fumegantes, "Terá caído um míssil aqui em Valmedo durante a noite?", interrogo-me estupefacto... Dias a ferro e fogo, terror e desgraça potenciados ao máximo na comunicação social, solidariedade e apoio para com os desgraçados ucranianos, mil vezes desejada a morte do Putin que o pariu, olho em frente e apenas imagino se fosse aqui, se fossemos nós, eu e tu...



"Hoje, em Valmedo..." - Jean-Charles Forgeronne