segunda-feira, 30 de janeiro de 2017



A CAÇA AO POKERMAN - XIX


O POKECOUCEIRO


Então como é que explicas o castigo de quinze dias de suspensão, amigo Rui? Dizem que por colocares em causa a honra e reputação de um dos árbitros de um jogo em que tens mais queixas dos teus jogadores do que da terceira equipa? Justo ou injusto, não interessa, o que é mais preocupante não é o castigo em si mas as ocorrências que lhe deram efeito e na minha distanciada leitura podem significar que andas um bocadinho nervoso e preocupado com os últimos acontecimentos... Lá que te tenhas passado com o Inácio (o pirata da televisão) e tenhas recusado cumprimentá-lo só te fica bem, não era de esperar outra coisa de ti, não és hipócrita e tens mais nível e dignidade do que toda aquela tropa terrorista do verbo junta... ele, mais o Grande Líder, o Octávio, o Jesus e o Saraiva, juntinhos e atados com um baraço, colocados na debulhadora e bem espremidinhos, não davam mais que um belo fardo de palha e umas sementes podres e odientas! Por isso, amigo Rui, depois da campanha que fizeram contra ti fazes tu agora muito bem em não lhes passares cartão, se o cérebro já tem menos importância que o homem das pipocas então os outros devem ter menos importância ainda do que aquele rafeiro que urinou nas flores do jardim da tua casa de campo, eras tu ainda criança.... E ninguém te levaria a mal se um dia destes, e se fosses tu um fumador electrónico, ao te cruzares com eles lhes desses com uma valente baforada com algum cuspo à mistura, sabemos bem que são percalços que acontecem todos os dias por aí! Quem diria que essas personagens são do mesmo clube do POKEMON que hoje vais defrontar, a outra face da mesma moeda, (educação, credibilidade, honradez, respeito) um senhor do futebol... 






Já mostraste na época passada que lidas muito bem com a pressão mas como, assim no futebol como na vida, não existem receitas infalíveis para os problemas e nem sempre as coisas acontecem da maneira como desejamos e achamos merecer, aconselho-te vivamente, amigo Rui, a deixares as críticas à arbitragem no baú ainda que possas sentir-te prejudicado.... digamos, o árbitro poderá vir, em termos de importância, lá para o septuagésimo lugar, logo a seguir à análise escatológica sobre a reeincarnação de Mr. Scrooge em Passos Coelho e nas suas ideias optimistas para o país, por exemplo! Antes do árbitro, a culpa do insucesso será sempre da tua equipa e se for caso disso só te resta uma solução: colocá-la a produzir o futebol suficiente para que um ou outro erro de arbitragem não impeçam a vitória e justifiquem desaires...  e se tiveste essa postura o ano passado, que aliás te granjeou o respeito de quem gosta de futebol, porque não mantê-la agora? Seria bom para a equipa e para os adeptos e traria a serenidade e confiança necessárias para manter bem viva a chama na conquista do POKERMAN! Mas para que não caias em crise efectiva de resultados e confiança é imperioso que hoje a equipa jogue os 90 minutos com concentração e atitude e não faça desperdício da primeira (Boavista e Tondela) ou da segunda parte (Moreirense)!



Portanto não é surpresa que a imprensa de hoje te mostre com aquele ar pouco sereno e faça alarde da pressão que o jogo de hoje transporta, e tendo eu para mim que o que te preocupa mesmo é o descalabro defensivo que a equipa tem apresentado nos últimos jogos, (8 golos sofridos e para todos os gostos, Boavista 3, Leixões 2 e Moreirense 3) tens que matar já hoje e de forma inequívoca essa desconfiança e instabilidade que de repente se abateu sobre a nossa capacidade defensiva e qualidade de jogo! Não podem os adversários entrarem em campo conscientes que também podem facilmente marcar-nos 2 e 3 golos como tem acontecido! Mas aí a culpa é de toda a equipa e não apenas dos defesas, e quando colocas o CARRILLO (o flop da época) que não mexe um pé para defender seja o que for e quando juntas o SAMARIS (muito longe da qualidade de outras épocas) ao PIZZI (que vai rendendo no ataque mas que também defende mal), o que esperas? Felizmente que já poderás contar hoje com o FEJSA mas cuidado com quem metes nas alas porque, sem o SALVIO, a coisa pode tornar-se confusa e não apenas defensivamente....  
E como te tenho aconselhado nas últimas semanas, se apostares no ZIVKOVIC ainda vá, agora se quiseres teimar no peruano  preguiçoso e indolente antevejo mais uma catástrofe!



O POKECOUCEIRO



Bom, mas o POKECOUCEIRO, JOSÉ PEYROTEU COUCEIRO como se apresentou em 2013 como candidato a presidente às eleições do seu clube do coração (tendo surpreendentemente sido derrotado pelo actual presidente, felizmente para os clubes adversários!) não será um POKEMON nada fácil de caçar pelo conhecimento abrangente que tem do mundo do futebol... Curiosamente, e depois de uma carreira despercebida como futebolista, em 2002 iniciou uma aventura enquanto administrador da SAD do Alverca, tendo assumido depois o cargo de treinador e conseguiu a subida à I Divisão...  Em 2004, ao serviço do Vitória de Setúbal, e depois de uma primeira volta fantástica, seria considerado o treinador português do ano, título que esteve talvez na origem da sua contratação por Pinto da Costa, com a história de uma gravata pelo meio! No PORTO não teve sorte nem sucesso  e depois de passagens pelo Belenenses, pela selecção de sub-21 e pelo estrangeiro (Lituânia, Turquia e Roménia) voltaria ao SPORTING para assumir o cargo de director-geral da SAD e responsável por toda a coordenação do futebol do clube. Acabaria por ser ainda treinador interino do clube após a saída de Paulo Sérgio mas as circunstâncias não eram favoráveis e após a derrota nas eleições aconteceu o natural afastamento do clube que traz inscrito no ADN.... Voltaria a Setúbal, passaria ainda pelo Estoril e de novo Setúbal, definitivamente o seu porto de abrigo e onde é feliz! E um rival de respeito no jogo de logo à noite...


Que mais para dizer, amigo Rui? Acalma-te e trata de transmitires serenidade para o universo benfiquista, exige empenho e concentração máxima aos jogadores e fala para dentro do balneário, tudo o resto é acessório.... Relaxa, dorme uma sestinha, calibra o GPS e caça lá esse tramado POKEMON-GOLFINHO para manter acesa a chama do tetra...



28666




sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

GALÁXIA






Título: Galáxia

Material - vidro; espuma

Ano - 2017



João Plástico

(Artista de Valmedo)

terça-feira, 24 de janeiro de 2017



EFEMÉRIDE # 12


OS ETERNOS PEQUENOS VAGABUNDOS



Quis o destino que PHILIPPE NORMAND fosse o primeiro dos sete pequenos vagabundos a desaparecer, passam hoje precisamente 4 anos (24 de Janeiro de 2013).  Jean-Loup, o menino de abastada família parisiense que, à última da hora, vê alterados os planos da suas férias e é enviado para um campo de férias nas Ardenas belgas. A sua personagem era a mais felizarda porque no meio de todas aqueles aventuras ainda foi premiada com as atenções da Marion-des-Neiges, a loira canadiana de olhos doces...
Para além de actor também fez carreira como cantor de estilo romântico mas sem alguma vez ter repetido o sucesso obtido em 1969 com "OS PEQUENOS VAGABUNDOS", à semelhança do que aconteceu com os seus colegas de filmagens que prosseguiram as suas vidas profissionais nas áreas mais diversas...
A série foi um megasucesso por cá e por toda a Europa e as razões para isso são fundamentalmente duas: a característica dos protagonistas e heróis serem miúdos como nós e depois também apresentava um enredo de aventura e mistério assente na busca do mítico ouro dos TEMPLÁRIOS...    Quando um dos rapazes diz a certa altura "não podemos confiar nos adultos" delimita esse mundo à parte que habitava em cada um de nós, com muitas imitações dos mais velhos, é certo, mas também com regras muito próprias, típicas de quem queria descobrir coisas novas, penetrar nos mistérios e ser herói em tantas aventuras... Nós, que éramos miúdos de aldeia sem amarras nem limites físicos, com carta branca para explorar e descobrir, identificávamo-nos com os pequenos vagabundos, éramos uns pequenos vadios em busca de uma qualquer verdade oculta, quiçá um fabuloso tesouro....




Claro que havia outras séries de culto dedicado: BONANZA, LANCERO SANTO,  MAIORAL, O CASAL MCMILLANVINGADORES, ROBIN DOS BOSQUES ou o fantástico DANIEL BOONE  (BÓNE, no nosso inglês da época....) mas, quando chegava ao conhecimento público a exibição dos Pequenos Vagabundos na Tarde de Cinema da RTP, o frenesim e a expectativa eram tão grandes que não se falava de mais nada naqueles dias que antecediam o grande acontecimento... E nesses dois domingos à tarde consecutivos (4 episódios por domingo) era preciso chegar cedo ao café porque não iria haver cadeiras suficientes....





E naqueles dias mais próximos todas as aventuras dos pequenos vadios andavam à volta do "tesouro do castelo sem nome", nós, exploradores de um mundo oco feito de calcário e familiarizados com o fascinante ambiente das grutas (Alvados, Santo António ou Mira de Aire) desatávamos a explorar qualquer buraco subterrâneo de dez palmos de profundidade à cata da entrada para o maravilhoso mundo oculto dos tesouros... Chegámos até a a pendurar uma resistente corda no cimo da ponte do OLHO DA LAJE e descer até aos fundos da ribeira, palmo a palmo, proeza tão igual àquela que fizeram o cowboy e o Jean-Loup quando subiram ao cimo do castelo sem nome....
E durante anos, sempre que ia à vila em dia de mercado ou mais tarde já aluno no liceu, dava por mim a olhar para o maravilhoso castelo lá no alto e imaginava um cavaleiro templário de guarda a um tesouro imenso, à espera que alguém descobrisse o segredo...



E até dei por mim a cogitar um dia se a minha infantil preferência pelas loiras não se devesse à Marion-des-Neiges, essa musa intemporal que com o quente pulsar do seu coração permitiu o deciframento do enigma...  Mais tarde preferi as morenas, mas isso são outras aventuras....

Hoje, Les Galapiats, depois da demanda do tesouro templário, teria outras infindáveis temporadas, Jean-Loup tinha ido ter com Marion ao Quebéc, talvez tivessem casado e tido filhos, talvez não, mas andariam todos em busca da Arca da Aliança, tentariam decifrar o enigma das Pirâmides, descobrir a localização da Atlântida ou do Santo Graal....




João Breve

(Cronologista de Valmedo)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017


EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO - II


O domingo dividia-se em duas categorias: ou era dia de futebol e seus derivados ou então era apenas um domingo sem programação. Se era época de bola, e se havia jogo importante do Benfica, o rádio lá de casa era o mensageiro do que mais importante acontecia no mundo... ligava-se, esperava-se que a válvula aquecesse e sintonizava-se no relato das jogadas magistrais de Eusébio e companhia...


Naquele tempo ouvir o relato era uma autêntica festa, havia cobertura integral de todos os jogos, 2ª divisão incluída e todo o golo que acontecia em qualquer estádio era cantado durante minutos que parecia impossível alguém ter fôlego para tanto! A todo o minuto o relato principal era interrompido porque havia golos a acontecer e por vezes em simultâneo, era deveras um exercício maravilhoso tentar adivinhar de quem era o golo porque tudo ficava suspenso e só quando aquele mágico grito de  GOOOOOOOOOOOOOOOOOLO 
deixava de ecoar é que se ouvia... é do Vitória
E havia outra razão para que eu acompanhasse religiosamente a tarde desportiva radiofónica, eu tinha direito a fazer uma aposta no boletim familiar do TOTOBOLA e assim, enquanto imaginava o que faria à fortuna que me poderia calhar, lá ia eu fazendo figas para que uns marcassem e outros sofressem para que se compusesse a minha chave... Apostava sempre em grandes surpresas mas nunca consegui o 13, apenas um 12 e, para grande desilusão, num dia em que foram mais os que acertaram do que os que falharam!
Mas o dia da rádio não acabava com o relato dos jogos, a seguir era obrigatório ouvir os resultados das 2 e 3ª divisões, muito especial era conferir o desempenho dos AMARELOS (Clube Desportivo de Torres Novas), o clube do concelho...


Depois das emoções da rádio era altura de ir então até ao café, ponto de encontro para as actividades desportivas da malta, havia sempre algum evento especial a acontecer, às vezes um torneio de BONECOS  outras um campeonato de CARICAS....
Os bonecos, assim chamávamos aos matraquilhos, causava um entusiasmo tal e uma disputa tão inflamada que levava ao êxtase a plateia domingueira, grandes e miúdos à mistura, mano a mano ou por equipas, roda bota fora e os vencedores aclamados não sem alguma crítica à roleta que era proibida ou ao varão que não estava convenientemente oleado... E eu, ainda miúdo e jogando contra malta já barbeada, ia aprendendo e deleitava-me com o Ronaldo dos matrecos, o Fernandito, filho do dono do café, a cada jogo apresentava ele uma finta nova e desconcertante... As reviengas e as simulações eram brilhantes e, depois de ter executado uma série de fintas com uma rapidez desconcertante que por mais que nos esforçássemos não conseguíamos acompanhar a bola com os olhos, só se ouvia.. PLOOOC!, a bola tinha entrado e massacrado a madeira do fundo da baliza, quando todo o mundo pensava que, de bola colada ao pé dos bonecos extremos direito e esquerdo, ele iria fazer a finta supersónica eis que a fazia tão lenta e disfarçadamente que o adversário que jogava à defesa se mijava todo (linguagem da época) enquanto a bola desaparecia na baliza em câmara lenta....







Claro que havia um segredo por detrás dessa extraordinária capacidade para os bonecos, treino, treino e mais treino, aquelas fintas não nascem connosco, têm que ser aperfeiçoadas e trabalhadas e claro, descobri esse segredo quando um dia de semana, mandado por minha mãe à mercearia fazer um recado, eis que ouço por detrás das portas do café fechado o inconfundível barulho dos matrecos e a voz do Fernandito a relatar as suas próprias fintas à Sporting! Somando ao jeito inato a vantagem de ter os bonecos sempre à disposição para treinar aqueles movimentos desconcertantes só poderia resultar numa diferença abismal para os adversários... E ainda hoje, quando calha ser desafiado para uma matraquilhada tento pôr em campo aquelas fintas que nunca esqueci, e às vezes lá saem, com um bocadinho de treino ainda lá ia....




Eusébio prepara-se para rematar perante a oposição de Octávio (esse mesmo)

E depois havia a febre das caricas, tardes e dias inteiros a disputar jogos e campeonatos renhidos... Primeiro havia que descobrir junto dos cafés as melhores caricas, as mais redondinhas e lisas e as quais eram equipadas a preceito... cartolina, lápis de cor e tesoura bastavam e uma equipa completa estava pronta a competir!  As balizas tinham que obedecer a certas normas, tamanho igual e resistência suficiente para aguentar o impacto da bola-berlinde... felizmente o Joãozito encarregava-se disso e aparecia com umas balizas feitas a ponteiro e esquadro na oficina que o pai tinha em casa, com soldadura eterna e tudo, uma perfeição...
Havia uma hierarquia, os mais velhos escolhiam as melhores equipas e geralmente ganhavam sempre aos benjamins como eu, mas tive a sorte de ter começado a minha carreira com a equipa do Vitória de Setúbal que me deu algumas alegrias (José Maria e Jacinto João marcavam golos que se fartavam). E os jogos que decidiam campeonatos eram um grande acontecimento, ainda me recordo de ter pago 2 tostões para assistir, com pompa e circunstância, a um Benfica-Sporting, logo depois da missa e no solo imaculado da sala da sacristia, espectadores em bancos corridos, tudo graças a um grau de parentesco de um dos finalistas com a catequista...
Com o tempo fui evoluindo de forma que, juntando aos abandonos dos mais velhos que já desfrutavam de outros passatempos, acabei por alcançar o meu maior desejo: ser o Benfica! Felicidade...

O jogo das caricas também acompanhava a evolução dos tempos e uma segunda geração contemplava já uma fotografia dos jogadores, havia que investir em cromos mas o jogo tornava-se ainda mais real... E, revestidas com fita-cola, permitiam ainda que se pudesse jogar à chuva, afinal o futebol-carica  também é um desporto de inverno!



O meu Vítor Baptista marcava golos que se fartava

J.C

sábado, 21 de janeiro de 2017





ARANHA VESTINDO MENINA CALÇANDO A MEIA



Tecedura de aranha sobre "Menina calçando a meia" 


Leopoldo de Almeida, 1966

"Menina calçando  a meia"


Estufa fria, Lisboa


                                                                                                  Jean Charles Forgeronne

                                                                                                  (Fotógrafo de Valmedo)



EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO - I


O tempo não é exacto, nem imutável, nem definitivamente passado...o tempo antes é relativo, sinuoso e ondulante, misteriosamente moldável... Se EINSTEIN já tinha teorizado no século XX todas estas e algumas outras qualidades do tempo eis que, há poucas semanas, Pedro Rolo Duarte e João Gobern evidenciaram a maravilhosa elasticidade do espaço-tempo ao mostrarem-me como um singelo minuto se pode transformar em horas ou dias!...


HOTEL BABILÓNIA 
Por puro acaso, numa deslocação de automóvel à capital ligo o rádio e busco algo de interessante para entreter, eram exactamente 10 horas da manhã de um sábado luminoso e fiquei sintonizado no noticiário da Antena 1... Nem me ocorreu naquele momento que surgiria de seguida um dos mais interessantes programas da actualidade radiofónica nacional, o HOTEL BABILÓNIA, o qual nos últimos tempos raramente consigo acompanhar devido a horários de trabalho desconchavados... Mas este em boa hora o apanhei! O convidado era o Mário Augusto, conhecido crítico de cinema, a propósito do lançamento de "A sebenta do tempo", uma viagem alucinante às memórias de quem nasceu nos anos 60 e cresceu nos 70, desde leituras, televisão, divertimentos ou curiosidades do dia-a-dia de então.
Ia decorrendo o programa de forma escorreita e deleitante, não fossem os intervenientes de excelente conversatória, e já algumas das memórias ali evocadas me faziam recuar à minha infância e adolescência de uma forma tão sensorial que mais parecia ser eu o condutor de uma já inventada máquina de viajar pelo tempo, tão depressa estava no recreio da escola primária a lançar o pião como no minuto seguinte estava rastejando de lanterna na mão a explorar a gruta da Fonte Vale! E pensava para comigo como tinha sido possível ter esquecido completamente certas coisas que tão importantes tinham sido na minha vida, como por exemplo certas séries que passavam na RTP como os Pequenos Vagabundos, até a música que tantos vezes tinha assobiado teimava em não me vir à ideia.... Agora que, passados 30 anos, acabei de ver novamente e desta vez a cores os 8 episódios da série, (abençoada Internet) com mais prazer ainda do que então porque mais atento a pequenos pormenores que na altura passaram despercebidos constato que afinal eu era mesmo um desses esquecidos que precisavam de revisitar as memórias, sem manual nem guião mas com a ilusão de que recordar é poder ser feliz outra vez, livre e inocente, de peito aberto para o misterioso mundo do futuro...



Aquele minuto em que me liguei ao Hotel Babilónia transformou-se desde então em horas de puro prazer e (re)descoberta, quer na visualização de séries, quer em releituras ou até na recriação de brincadeiras estou revivendo aquela gloriosa época e surpreendo-me a cada "visita"... Embora me falte a inigualável arte de MARCEL PROUST (a quem "roubei" aquele maravilhoso título de romance) para transmutar o pensamento em sensação e para transportar das lembranças para o papel a beleza do gesto, a harmonia do movimento ou as impressões da mente e da natureza, queiram acompanhar-me então nesta busca do tempo perdido em que o protagonista é um jovem inocente mas intrépido aventureiro, de olhar sonhador e timidez disfarçada, habitante de um pequeno reino encantado do interior ribatejano, entre o Almonda e o Alviela, à beira da Serra d'Aire...

E porque teimou ele em se apresentar aqui de fato domingueiro comecemos pelo domingo na aldeia, um dia tão especial e solene que recriá-lo à boa maneira proustiana ocuparia vários volumes de uma extensa obra... Domingo, para além do dia da missa era o dia do café! Nem toda a gente ia à missa mas todo o mundo passava pelo café, poder-se-ia chamar CENTRAL como em milhares de outros sítios, mas era apenas o do Fernando, café e mercearia, o estabelecimento mais amplo e confortável das redondezas, reconhecido também pela sua modernidade, tudo o que era novidade aparecia primeiro aí, as cadernetas de cromos mais recentes, os gelados de última geração, a primeira bica a sair ou os melhores matraquilhos, até o primeiro mini-snooker com pinos do mercado era lá que tudo despontava... E também era lá que havia a maior televisão do burgo, como se poderia ver bem o TARZAN se não fosse ali? E depois, enquanto punham conversas de uma semana em dia e alinhavavam negócios de produtos e serviços agrícolas, os adultos jogavam à sueca ou à malha no largo enquanto nós assistíamos, bando de miúdos curiosos, isto se não fosse dia de uma grande cowboyada ou de grandes aventuras na Tarde de Cinema.....




O largo do café


J.C



A CAÇA AO POKERMAN - XVIII


O POKEPEPA



           Amigo Rui, virou-se a primeira volta do campeonato e ficarão para a história duas coisas: a nossa liderança ao fim de 17 jornadas e o VOLTEIO danado que foi o jogo com o Boavista, aquilo foi um rodopio infernal dos jogadores para recuperar de um impensável 0-3 à meia hora de jogo e que provocou um carrocel de emoções nos espectadores! Mal menor, conseguiu-se um empatezito mas a equipa, qual equilibrista no arame, correu riscos despropositados e só não se estatelou com estrondo por acaso! Repetiu-se o mesmo de outros jogos em casa: entrada lenta, falta de intensidade e desconcentrações gritantes na DEFESA, parece claro que a dupla Luisão-Lindeloff não está a dar garantias, talvez abaixamento de forma no primeiro e cabeça à roda com o interesse inglês no segundo... Mais uma vez te aconselho a mexeres no eixo central quanto antes porque se não o fizeres mais golos anormais sofrerás e os dissabores poderão ser bem mais custosos! Porque não investes agora na dupla Lizandro-Jardel se até na área adversária são bem mais acutilantes e goleadores? E ainda para mais porque a falta do Fejsa dificulta ainda mais a tarefa da equipa na zona central, o Samaris não tem a mesma qualidade posicional....
Mas eis que para limpar o susto e a má imagem (valeu apenas a entrega e o espírito dos jogadores) aí está mais uma final e novamente na Luz, certamente cheia outra vez de ânimo e crença numa vitória que não pode voltar a fugir! 



POKEPEPA, eis o próximo POKEMON que te vai querer complicar a vida, ele que é um muito jovem treinador (36 anos) mas que desde muito cedo conviveu com a grandiosidade e a excelência do grandioso... Torrejano como o imortal JOSÉ TORRES quis seguir-lhe as pisadas e ingressou no Benfica com apenas 14 anos e é já depois de amanhã, 23 de Janeiro, que passam 18 anos sobre o maior momento que teve na sua curta carreira como jogador: com 18 anos estreia-se na equipa principal e logo com um golo ao Rio Ave, o único que conseguiria de encarnado pois passado pouco tempo seria emprestado aos belgas do GENT e, depois de ter passado a fase de jovem promessa foi assolado por várias lesões no joelho que lhe acabaram com a carreira, tinha apenas 26 anos.... Perdeu-se um jogador, ganhou-se um treinador, é caso para dizer, voltaria ainda à Luz para treinar as camadas jovens durante duas épocas mas rumou ao Norte e por lá tem trabalhado: Sanjoanense, Feirense, Moreirense e agora, há apenas 12 dias, substituiu Petit no comando do TONDELA...  Começamos a habituar-nos à sua presença entre os grandes e para consolidar esse estatuto vai ter que alcançar resultados e a permanência na I Liga, tarefa gigantesca pois herdou o último lugar da tabela; será pois com esse intuito que te aparecerá pela frente amanhã, estratégia ultradefensiva preparada para roubar nem que seja um pontinho que seria oiro, acalentado pelas fragilidades defensivas que viu  na nossa equipa nos últimos jogos...


  Cheira-me que com o POKEPEPA, conhecedor das artes e das manhas atacantes, talvez os tondelenses percam alguma agressividade petitiana nos métodos defensivos mas ganhem algum esclarecimento ofensivo, daí ser necessária ainda mais concentração no nosso reduto atrasado, não concordas, amigo Rui? Para além dos centrais que, repito, deviam mudar, é importantíssimo que nos jogos em casa e em que jogamos em cima do adversário haja na frente um homem mais fixo na área (MITROGLOU), erro que emendaste no último sábado mas que te fez perder muito tempo! No resto, começa a ser uma necessidade evidente, como também tenho bastas vezes referido, a titularidade do ZIVKOVIC, não só era merecido como seria decerto uma mais valia para a equipa (fez bem mais nos poucos minutos que dispôs até agora do que outros em todos os jogos!)... O miúdo tem classe e, mais importante ainda, tem garra, é um jogador virtuoso e de fibra que não dá uma bola por perdida, que exemplo para outros que por lá andam desgarrados (CARRILLO) e inconstantes (CERVI)... 
Onze que deverias alinhavar: Ederson, Semedo, Jardel, Lizandro, Almeida, Salvio, Samaris, Pizzi, Zivkovic, Jonas, Mitroglou, e muita, muita entrega e velocidade desde o primeiro minuto! Não te esqueças que o Tondela, apesar de ser um grande candidato à descida, felizmente tem conseguido provocar dissabores aos outros candidatos! 






E neste mês ingrato, amigo Rui, em que o presidente parece necessitar de vender alguém à viva força (primeiro Jimenez, agora o Guedes) e não sabendo tu que plantel terás em Fevereiro, não podes vacilar na caça ao POKERMAN, há que conseguir nova e longa série de vitórias neste ciclo terrível e sobrecarregado de finais em curso! Calibra pois o GPS, baterias em cima do POKEPEPA e mesmo que este roçe a perfeição não abuses dos adeptos que já sofreram o bastante com o  surpreendente POKEPANTERA.... 



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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017



U2 AT TRUMP?

(TU TAMBÉM NA TRAMPA?)



A maior banda do mundo (sim, porque os BEATLES morreram há muito, os STONES persistem no modo zombie, os PINK FLOYD, devido a conflitos de egos, tornaram-se numa anã branca e até os os AEROSMITH anunciaram há pouco a última tourneé como despedida...) anunciou o cancelamento do seu novo álbum de originais, "Songs of experience", devido à tomada de posse de DONALD TRUMP como presidente dos Estados Unidos da América, a ocorrer neste preciso dia de hoje!







Mas o que tem uma coisa a ver com a outra, música e entretenimento com política, podemos todos interrogar-nos? Tudo, dirão aqueles que bem conhecem a história, a estirpe e a intervenção cívica dos U2, que em 1983 homenagearam como ninguém as vítimas inocentes do BLOODY SUNDAY de Janeiro de 1972, abatidas pelas costas pelo exército britânico quando protestavam pacificamente contra a política  do governo que prendia suspeitos de terrorismo sem julgamento prévio e levantavam a voz contra as desigualdades religiosas na IRLANDA DO NORTE...



SUNDAY BLOODY SUNDAY



Ou quando em 1984 dedicaram PRIDE a MARTIN LUTHER KING, líder e defensor dos direitos civis da comunidade negra na América, ou quando em 1986 interromperam as gravações de JOSHUA TREE para participarem em campanhas da AMNISTIA INTERNACIONAL e que levou BONO até à América Latina (Nicarágua, El Salvador...) onde observou o sofrimento dos camponeses subjugados pelas guerras civis, ou ainda em 2009 quando gravaram o videoclip de MAGNIFICENT em Fez, subliminar mas consciente apelo à tolerância religiosa... Não falando das inúmeras campanhas e tomadas de posição em relação a conflitos étnicos, catástrofes naturais ou infernos sociais, sempre os U2 estiveram do lado dos sofredores e dos oprimidos!








Cresci com os U2, era adolescente quando saiu BOY, jovem quando apareceu o fantástico JOSHUA TREE e ainda novo quando os vi em Alvalade em 1993, adquiri todos os seus álbuns, acompanhei todas as suas transformações que os tornaram simplesmente sublimes, à frente do seu tempo conseguiram passar do som cru para a electrónica, sempre com mestria, encanto e mensagem...







E agora, porque raio decidiram os U2 privar os seus dedicados e fervorosos fãs da ansiada nova obra, ainda por cima devido a um anormal a quem os anormais americanos decidiram dar o poder ilimitado de fazer o que lhe der na real gana? Exactamente por isso, é a resposta, o que eventualmente ficará para a história não será TRUMP mas sim todas as irreparáveis atrocidades que dessa sinistra criatura advirão! Os U2 serão sempre muito mais importantes que o patético DONALD mas, com esta atitude, mostram que continuam lúcidos e comprometidos, paremos e pensemos um pouco (isto não se aplica aos americanos, eles não pensam!) dizem-nos eles, o que verdadeiramente interessa é o bem comum, um planeta pacífico, sustentável e o mais justo possível.... Depois, que venha a música, a arte de bem criar, a genialidade.....

Só cai na trampa quem quer!...



Thank you 2...



MYSTERIOUS WAYS








João Sem Dó

(Musicófilo de Valmedo)

domingo, 15 de janeiro de 2017

EFEMÉRIDE # 11


O OPTIMISMO NA LUSITÂNIA




" Após o tremor de terra que destruíra três quartos de Lisboa, os sábios do país cogitaram em que o meio mais eficaz para prevenir a ruína total da cidade consistia em dar ao povo um rico auto-de-fé. Fora decidido pela Universidade de Coimbra que o espectáculo de várias pessoas queimadas a fogo lento, com grande cerimonial, era um segredo infalível para impedir a terra de tremer. Tinham consequentemente  aprisionado um biscainho convencido de que casara com a sua comadre, e dois portugueses que, ao comerem um frango, tinham posto de parte o toucinho. (...) Cândido foi açoitado ao ritmo da música do cântico; o biscainho e os dois homens que não comiam toucinho foram queimados, e Pangloss foi enforcado, embora isso não fosse costume. Nesse dia a terra voltou a tremer com fragor espantoso."

Este trecho pertence a CÂNDIDO ou O OPTIMISMO, romance filosófico escrito por VOLTAIRE e editado a 15 de Janeiro de 1759! Porque Voltaire sabia que is ser um escândalo, a obra foi publicada simultâneamente e sob pseudónimo em Genebra, Paris e Amesterdão... Viria a ter também um sucesso enorme, um autêntico best-seller para a época com 30 000 exemplares vendidos.





Voltaire, extremamente influenciado pela dantesca catástrofe de Lisboa que tanto tinha impressionado as correntes religiosas, políticas e filosóficas por toda a Europa, satirizou a religião (para quem as catástrofes eram sempre castigo divino para a devassidão humana), os políticos e até outros filósofos para quem  tudo ia pelo melhor no melhor dos mundos possíveis...  A obra, símbolo do ILUMINISMO, com humor e ironia contrapõe o OPTIMISMO  ao pessimismo dominante na sociedades ignorante e vergada a uma religião castradora e punitiva, e ataca a intolerância e a injustiça vigentes na época...





A catástrofe que abalou a Europa



O romance evoca as aventuras e desventuras de CÂNDIDO, alma gentil, inocente e ignorante que, juntamente com CUNEGUNDES, a sua amada musa, vai deambulando pelo melhor dos mundos possíveis e assistindo às mais incompreensíveis e estranhas acções dos homens...
Apesar do negro mundo que vai descobrindo, o visceral optimismo de CÂNDIDO bem falta faz a um novo Portugal que, embora nação de ancestral pessimismo e tradicional resignação religiosa, caminha rumo ao futuro em liberdade e tolerância, como Voltaire imaginou... E não é por acaso que todos os retratos do grande filósofo o mostram a sorrir, o que atesta ter sido ele porventura um eterno optimista!... 




Voltaire


João Breve

(Cronologista de Valmedo)




sábado, 14 de janeiro de 2017


COEUR ILLUMINÉ POUR UN SACRÉ HIVER



Couer illuminé pour un sacré hiver


Paris


Jean Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A CAÇA AO POKERMAN - XVII


O POKEPANTERA



Amigo Rui, eis que estamos definitivamente entre os maiores da Europa! Depois de uma obscuridade de décadas em que muitos de nós chegamos a pensar que a grandiosidade europeia, manifestada na conquista de duas Taças dos Campeões Europeus e mais uma meia dúzia de finais alcançadas e infelizmente perdidas, não passava de uma lembrança de glórias esquecidas na profundidade dos tempos e eis que, juntando a um tímido mas consistente reaparecimento desportivo na alta roda europeia, cai agora com grande impacto a grandiosidade da nossa dívida: somos, no que toca a devedores, os vice-campeões europeus, logo a seguir a outro colosso, o MANCHESTER UNITED e à frente de outros grandes como Inter, Milão ou PSG, por exemplo! Mas isto das finanças tem muito que se diga porque se afinal os maiores devedores são também os clubes com maiores possibilidades de gerar riqueza, seja pelos activos, pela capacidade de mobilização (marca, adeptos, patrocinadores...) então podemos ficar tranquilos porque o futuro dará razão a determinados investimentos que foram feitos!... No entanto, fica um reparo que venho a reiterar há muito, há que começar a trabalhar seriamente no passivo, mas isso não é contigo, é com os administradores, por isso vamos lá a falar de bola....




O POKEPANTERA



E amanhã será um autêntico jogo de xadrez dependente da estratégia e da táctica do POKEPANTERA que, nas palavras do seu treinador MIGUEL LEAL, apresentará um impante autocarro à frente da baliza para evitar o xeque-mate! Onze jogadores atrás da linha da bola, qual exército de peões cortando as linhas de penetração das nossas peças e uma determinação imensa em protelar ao máximo o nosso golo, tentando enervar e desestabilizar a nossa capacidade ofensiva...eis o BOAVISTA previsível  para amanhã. E, ao contrário do xadrez, a beleza do futebol assenta muitas vezes no factor sorte e frequentemente acontece bastar um único remate durante um jogo inteiro para se vencer a partida, ainda que o adversário possa ter tentado o golo 99 vezes... essa é a fé da pantera para amanhã, defender até à exaustão e, quem sabe, ser premiado com a lotaria... 






E terás que ser tu, amigo Rui, a encontrar a solução para tamanho desafio, ser persistente mas lúcido, ousado mas discernido, criativo mas objectivo e paciente mas não lento... Paciente mas não lento, repito, porque não poderá a equipa entrar naquela desesperante atitude de não forçar o limite desde o primeiro instante e ir jogando à espera que o golo apareça mais cedo ou mais tarde... Já assisti a isso em vários jogos esta época e amanhã terá que ser diferente, ainda para mais junto de uma grande assistência, uma moldura de entusiásticos adeptos que contribuirão para passar a bela marca de 15 MILHÕES DE ESPECTADORES nesta nova Luz!!! E para embelezar melhor a festa, que o futebol bem precisa de figuras carismáticas nas bancadas, porque não convidar o famoso ZÉ DO LAÇO para o evento? Desde que não comemorasse uma grande surpresa seria uma boa ideia vê-lo por lá......


Mas sabes, amigo Rui, quanto maior é o ambiente de festa mais se exige à tua equipa e amanhã só há um caminho, o de uma vitória convincente e tão importante quanto decisiva para o futuro... 
Não espero surpresas no onze que lançarás, até porque quem entrar dará garantias de ser uma aposta ganha e, adivinhando que a dupla JONAS-MITROGLOU será novamente realidade, lamentavelmente o GONÇALO ficará no banco, à semelhança aliás de ZIVKOVIC, os dois elementos que mais merecem oportunidades a titular (e por isso mesmo deverão ser nesta fase as primeiras opções para substuição!)... De resto e como é teu timbre, a equipa, à excepção da inevitável entrada de SAMARIS, manter-se-à a dos últimos jogos com SALVIO e CERVI nas alas, PIZZI  a playmaker e a defesa do costume... E que falta nos irá fazer neste jogo de ferrolho um lateral esquerdo ao nível de SEMEDO no que diz respeito aos desequilíbrios no ataque e à profundidade ofensiva, mas esperemos que o ANDRÉ melhore e cumpra nesse capítulo...






Resta-me alertar-te para a necessidade de dormires uma boa sestinha, de levares o GPS calibrado e uma bateria de reserva porque o POKEPANTERA vai exigir muita intensidade de jogo durante os 90 minutos para se render... E sabes bem, quanto mais cedo a equipa marcar mais perto ficará o XEQUE-MATE! E finalmente, porque o desafio vai exigir muita cabeça, e no caso de entrares em desespero, lança as tuas duas torres lá para a área, às vezes a solução está nas alturas...






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EFEMÉRIDE # 10


QUANDO O TERROR DESCEU AO TEJO...


É sábado, corre o dia 13 de Janeiro de 1759, e segundo CAMILO CASTELO BRANCO, "a aurora alvorejava uma luz azulada do eclipse d'aquelle dia por entre castellos pardacentos de nuvens esfumaradas, que a espaços saraivavam bategas de aguaceiros glaciaes. O cadafalso construido durante a noite, estava humido. As rodas e as aspas dos tormentos gottejavam sobre o pavimento de pinho. (...) Mostraram a D. Leonor, Marqueza de Tavora, o masso de ferro que devia matar-lhe o marido a pancadas na arca do peito, as thesouras ou aspas  em que se haviam de quebrar os ossos das pernas e dos braços ao marido e aos filhos, e explicaram-lhe como era que as rodas operavam no garrote, cuja corda lhe mostravam, e o modo como ella repuchava e estrangulava ao desandar do arrôcho. (...) O algoz vendou-a; e ao pôr-lhe a mão no pescoço, - não me descomponhas - disse ella, e inclinou a cabeça que lhe foi decepada pela nuca, de um só golpe". 



BRASÃO DOS TÁVORAS


Todo o grande homem pode carregar consigo um lado muito negro, e grande exemplo disso mesmo foi a figura controversa e polémica do MARQUÊS DE POMBAL, um empreendedor reconhecido e cuja obra fala por si, um inovador aclamado e cujas reformas foram visionárias mas porventura um déspota e tirano cujos horrores passaram as fronteiras, dele diria VOLTAIRE que cometeu actos de ridícula e pura selvajaria! 

Segundo Sebastião Carvalho e Melo, os principais inimigos da ordem estabelecida e da autoridade da coroa e portanto os grandes alvos a abater, eram certas famílias nobres e influentes - TÁVORAS  e DUQUE DE AVEIRO à cabeça - e os JESUÍTAS, a preponderante ordem religiosa que dominava a corte, os padres de Santo Inácio eram inclusivamente os confessores da família real.... E que melhor sinal dos céus poderia vir do que aquele atentado contra a vida de D. JOSÉ que ocorreu a 3 de Setembro de 1758, quando, curiosamente, vinha o soberano de mais uma entrevista amorosa com a sua amante, D. Teresa, irmã do Marquês de Távora?!




A RODA




Dois dos três autores do atentado foram capturados, e depois de interrogados sob diabólica pressão "denunciaram" os Távoras como os cabecilhas do golpe e cujo objectivo seria derrubar D. José e substituí-lo pelo Duque de Aveiro... E, embora tivessem essas pobres criaturas sido executadas sumariamente, os seus depoimentos foram considerados prova principal no futuro julgamento... 
Depois de mais de mil detenções para testemunho e castigo, confissões arrancadas sob tortura e tratos especiais, os supliciados foram tratados com a crueldade mais extrema e o rigor mais fanático que se podem imaginar, diante da população de Lisboa, ali, com o Tejo à beira.... Tudo foi permitido neste processo desde que servisse o propósito final: a eliminação dos opositores à ditadura do ministro...
Uma ignóbil e inaudita faceta da história portuguesa assim foi escrita naquele dia, um espectáculo gratuito de horror que atingiu o seu objectivo: servir de exemplo! Ainda hoje é exemplo do pior que a dita branda e tolerante alma lusa foi capaz de fazer...











A memória desse trágico acontecimento continua viva nos livros e crónicas sobre a história de Portugal, é certo, mas o que é extraordinário é que o pilar que assinala o preciso local de uma das mais cruéis façanhas da intolerância portuguesa seja talvez o monumento que, no mundo inteiro, esteja mais escondido, inacessível e votado ao ostracismo; lá resiste ele, como a têmpera dos injustiçados,  num minúsculo beco de 2 metros quadrados - BECO DO CHÃO SALGADO - mesmo ali, à beira dos Jerónimos, por detrás dos hambúrgueres, dos Pastéis de Belém e do Tejo, vendo os turistas, nacionais e estrangeiros, passeando indolentemente, alheios à história e ao local....








João Breve

(Cronologista de Valmedo)

domingo, 8 de janeiro de 2017

BACALHAU, UMA EPOPEIA LUSITANA  - I




Provavelmente nenhum outro ser vivo teve ou terá tanta importância e influência sobre a economia, o modo de vida e a cultura de um povo como aquela que o BACALHAU tem para os portugueses... Mas, antes de mais, convém esclarecer que o bacalhau é peixe, claro, isso toda a gente sabe, mas o que talvez muitos desconheçam é que o bacalhau não é um peixe (!), essa designação aplica-se a dezenas de espécies de peixe do mesmo género mas, simplificando as coisas, destacam-se dois tipos comercializados como bacalhau:  Gadus morhua, o original e verdadeiro bacalhau, o nosso, cujo habitat é o Atlântico Norte e o Gadus macroceplalus, o bacalhau do Pacífico, de menor qualidade... 
É um peixe de águas bastante frias, podendo ser encontrado nas costas do Canadá (Terra Nova), ao largo da Gronelândia e da Islândia ou no Mar de Barents (a norte da Escandinávia)...  Aliás, quando os Portugueses, no séc. XV, chegaram à Terra Nova, chamaram-lhe Terra do Bacalhau, tal era a abundância da espécie....








Curiosamente e neste preciso momento, e até meados de Abril, está acontecendo uma maravilha da natureza: milhões de bacalhaus estão a percorrer cerca de 1000 quilómetros desde o Mar de Barents até às costas da Noruega para desovar... Primeiro chegam as fêmeas, as quais libertam os ovos por várias ocasiões (diz-se que algumas chegam a produzir entre 9 e 15 milhões de ovos) e só depois chegam os machos prontos para, numa competição ferrenha, os fertilizar... 
A capacidade reprodutiva do bacalhau é de tal forma impressionante que se tornou mítica, assustando até o grande romancista Alexandre Dumas que, em 1873, terá escrito no Le Grand Dictionnaire de Cuisine: 

      " ...se nada impedisse a incubação dos ovos de bacalhau e se cada ovo se tornasse um bacalhau, então só seriam precisos 3 anos para se poder atravessar o Atlântico a pé, sobre o dorso dos bacalhaus..."


Mas um dos eventos que, felizmente, impede esse cenário catastrófico é a captura de ovas de bacalhau, as quais, bem confeccionadas, dão origem a um delicioso petisco que até o gastrónomo autor de " O Conde de Monte Cristo" não desdenharia...




OVAS DE BACALHAU À VALMEDO

Ingredientes:

500 g. de ovas de bacalhau congeladas
300 g grão cozido
2 cebolas
azeite
vinagre
sal
1 ramo de coentros

Cozer as ovas em água fervente com sal durante 10 minutos; 
Picar as cebolas e os coentros;
Retirar as ovas e cortá-las às rodelas;
Polvilhar com coentros picados, temperar com azeite e vinagre e envolver com parte da cebola picada; reservar;
Juntar ao grão a restante cebola e coentros e envolver bem;
Temperar generosamente com com azeite e vinagre;
Servir a gosto, quente ou frio.

Nota:  - se for servido quente pode aquecer-se o grão na água da cozedura das ovas;
          -  pode-se juntar ovo cozido ao grão;
          -  pode ser refrigerado para degustar no dia seguinte, como entrada, refeição ou petisco!









João Ratão

(Chef de Valmedo)


OS GRANDES, OS HOMENS E OS OUTROS




Obrigado Mário, pela coragem, pela luta, pela persistência... Obrigado pela visão, pela esperança, pelo legado...





Embora, vendo o quilate das modernas eminências políticas, sinto que não deixaste um vazio, deixaste antes um buraco negro... Tu, que eras um optimista por natureza e um conquistador de causas sociais por convicção, ainda bem que não viste certas criaturas a fazerem-te elogios póstumos, nomeadamente o ainda líder da direita (esse extraordinário vulto do cinzentismo e do pessimismo, aríete ultraliberal dos alemães quadrados e do capitalismo selvagem que, bem nos avisaste, é o grande inimigo da DEMOCRACIA), a escrever algo no teu livro de condolências... 
Mas descansa, não te inquietes, diz-me a a minha costela extrasensorial que ele só pode ter transcrito alguns versos de um grande poeta como T.S.Eliot...




"Nós somos os homens ocos,
os homens entulhados, 
amparando-nos uns aos outros,
cabeça cheia de palha, ai de nós!
E a nossa seca voz
quando juntos sussurramos
é fraca e inconsequente
como o vento na relva ressequida
ou pegadas de rato sobre uma garrafa partida 
na nossa adega vazia...

Forma sem conteúdo, sombra sem cor,
motivação paralisada, intenção sem vigor...

Aqueles que atravessaram
de cabeça erguida, para o outro reino, da morte,
recordam-nos - se o fazem - não como perdidas
almas danadas, mas simplesmente
como os homens ocos,
os homens empalhados....

(...)




Nós é que temos que ficar preocupados porque vão partindo os grandes e ficamos entregues aos medíocres e oportunistas...




J.C

(Cidadão de Valmedo)

sábado, 7 de janeiro de 2017


A CAÇA AO POKERMAN - XVI

O POKECONQUISTAS


  Amigo Rui, comecemos por brindar ao ano novo que te desejo cheio de sucessos, afinal temos razões para confiar na tua capacidade e no talento dos jogadores,  na entrega e na paixão ancestrais, na fé que sempre anima o grandioso e, sendo assim, o tetra e outros novos títulos ficarão mais perto da realidade.... E, como muito bem assinalaste ontem na conferência de imprensa, que todas as nossas futuras conquistas sejam, à imagem das pretéritas, imaculadas e revestidas de MÉRITO ...  
E no fervilhante e perigoso contexto actual do futebol lusitano, faço figas para que nem um ponto seja conquistado por erro de arbitragem, que não precisemos de um penalty que seja para marcar golos decisivos e, talvez impossível, mas seria bom que os nossos jogos fossem limpinhos, limpinhos, limpinhos...! 

E quando se chega ao ponto de haver árbitros ameaçados de morte estão lançados os dados para o clímax que nos espera até Maio, uma exaustiva análise ao microscópio electrónico de todos os lances, por mais inócuos que sejam, protagonizados pelos nossos jogadores...   Portanto, teremos que jogar muito e bem neste 2017, marcar e marcar para não dependermos tanto da sorte ou de erros alheios e essa demanda começa já hoje no D. AFONSO HENRIQUES, um dos campos tradicionalmente mais difíceis e exigentes para as nossas cores, ou não estivesse o VITÓRIA desde a sua fundação sempre metido no lote dos melhores clubes lusitanos e tradicionalmente com equipas de qualidade... Mas isso para ti não é novidade, conheces a alma e os meandros daquela casa como ninguém, tu que, é bom relembrar, deixaste lá em 2013 o último grande título conquistado pelos vimaranenses: a TAÇA DE PORTUGAL.  



O POKECONQUISTAS


E a senda da conquista do tetra prossegue logo com o duelo com outro conquistador, o POKECONQUISTAS, esse POKEMON guerreiro, organizado e corajoso... Não vira a cara à luta até ao último segundo da contenda, qualquer que seja o adversário e até nas situações mais desfavoráveis nunca baixa a guarda, exemplo disso foi aquela recente e fantástica recuperação de três golos de desvantagem perante um candidato ao título! O Vitória de Guimarães defende bem e ataca melhor, geralmente marca sempre e opções na frente não lhe faltam apesar da ausência do melhor marcador da Liga, MAREGA... Se isso é bom ou mau para nós logo se verá, mas os níveis de acerto e concentração dos nossos defesas terão que estar no limite!




E depois, amigo Rui, terás também pela frente um dos melhores treinadores portugueses da actualidade, já o venho dizendo desde os tempos em que treinava na Madeira, PEDRO MARTINS, a quem auguro uma longa e bem sucedida carreira, não andará muito longe de a breve prazo treinar um grande; além disso,  para além das capacidades como estratega, saúda-se a sua postura calma e ponderada, à tua imagem também, um verdadeiro líder que não precisa de holofotes nem gritos para impor a sua competência. 





Quanto a ti, amigo Rui, a escassas horas de mais uma final, deverás como sempre respeitar este valoroso adversário mas terás que ser tu a ditar as regras do combate, terás que dominar o campo de batalha e mostrar o poderio suficiente para conquistar o castelo da cidade-berço que vai estar guardado a sete chaves pelo POKECONQUISTAS... Apesar da má notícia que é a ausência do JIMENEZ ela é  compensada pelo regresso do SALVIO (opção para segunda parte?) e pela veia goleadora ressuscitada pelo JONAS! Aposto, aliás, que será o PISTOLAS o factor motivador e desequilibrador na frente do nosso ataque, deverás pois colocá-lo a titular em dupla com o GUEDES (um jogo à sua medida, rápido e de contra-golpes). De resto, tudo igual, o LINDELOFF ainda irá a jogo e esperemos um jogo inspirado do PIZZI pois criatividade vamos precisar para ganhar a luta do meio-campo...




PISTOLAS

Portanto, amigo Rui, vamos lá conquistar esses três pontos importantíssimos para as contas de Maio e, embora conheças bem o castelo do POKECONQUISTAS, para o caçares convém que leves o GPS calibrado e restante aparato tecnológico carregados de energia...


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