terça-feira, 14 de setembro de 2021

Eleições


E porque começou hoje mais uma campanha eleitoral e porque já ouço ao longo da rua os estridentes altifalantes ambulantes a debitar palavras de ordem e promessas eleitorais para os próximos quatro anos...



"Discurso eleitoral" - Jorge Pé-Curto, 2020


João das Boas Regras 

(Sociólogo de Valmedo)

Memorial coreto

"Coreto da Lourinhã, anos 50 do séc. XX"

Muitos ainda hoje, passados mais de cinquenta anos sobre o seu desmantelamento logo no início da década de 70 do passado século, não perdoam o assassinato do glorioso coreto que engalanava a praça da vila contígua ao convento... Restam as memórias das fotografias da época e para a história não ficou o respeito para com o autor de tamanha asneira política e arquitectónica e à época presidente da câmara, Lucínio da Cruz, ele que afinal até era um afamado arquitecto do Estado Novo e com obra feita nas colónias!


João Alembradura

(Historiador de Valmedo)

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Turístico coreto

 

ESCRITO NA PAREDE - XVII





Enquanto que antigamente qualquer vila ou lugar o exibia orgulhosamente, nos tempos que correm, entre o céu e a cova, o coreto ganha honras de rara atracção turística...


Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

Festivo coreto

 


NOISERV VERSÃO CORETO - II


Quem por ali passasse sem saber o que era aquilo poderia ser levado a imaginar que se tratava de um fenómeno paranormal, quiçá um viajante de outra galáxia que ali tivesse aterrado vindo dos confins do cosmos, afinal que fazia ali um homem dentro de um cubo dentro de um coreto mexendo numa panóplia de instrumentos e envolto em raios de luz e fumos coloridos?  As privilegiadas testemunhas do estranho fenómeno não eram muitas mas mesmo assim enchiam a preceito o pequeno largo e se para algumas delas aquele espectáculo de um músico vindo de Lisboa e com nome difícil de pronunciar seria apenas uma forma de fintar a habitual pacatez e monotonia das noites da aldeia, para outras mais conhecedoras seria uma experiência única de ver e ouvir NOISERV...



"Noiserv no coreto do Paço" - Foto de João Andarilho



Néctar, palavra começada por n e a bebida dos deuses, foi o que se bebeu no Paço ontem à noite, servida pela engenhosa nave de David Santos que nos fez viajar sempre rente ao chão pelos 16 anos de carreira, dando saltos de 27 metros e a 100 milhas da negligência parecendo por vezes uma orquestra quase visível e, neste andar, embora sem tempo e por arrasto, corre o sério risco de um dia ainda vir a ser considerado um génio...  

E enquanto a dona de casa que tinha tirado um tempinho de folga para ver o show dizia ao seu vizinho que estava ali muita gente, este, talvez meio emborrachado mas de discernimento filosófico intacto, lhe respondeu: "Está mais gente do que pessoas!"... De entre aqueles que ouviram este diálogo uns sorriram e esqueceram de imediato enquanto outros, ainda agora que os aparatos foram desmontados e a tranquilidade devolvida ao largo do coreto, continuam a tentar decifrar a profundidade da observação... 


"A manhã seguinte..." - Jean-Charles Forgeronne

João Sem-Dó

Musicólogo de Valmedo)

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Humilde coreto

 


NOISERV VERSÃO CORETO - I


Trinta passadas matinais pela estreita e curta Rua do Coreto levam-nos logicamente ao também pequeno mas aconchegante Largo do Coreto e onde, mui expectávelmente, reina num centro matematicamente calculado o coreto...  Ali, com o altivo miradouro da Pena Seca no horizonte impera a tranquilidade e o silêncio, os cães ainda preguiçam e não se vislumbra vivalma, os vizinhos já devem ter ido lá para baixo apanhar abóboras ou augar as hortas antes que o calor aperte e o único barulho que se ouve é o das pás do aerogerador lá no alto... Entretanto hão-de chegar os funcionários da junta para dar uma limpeza ao largo e especialmente ao cinquentenário coreto, é que logo pela noitinha haverá festa na aldeia do Paço fazendo lembrar tempos longínquos em que a filarmónica animava as tardes de domingo festivas com marchas dançantes ou de procissão, só que desta vez não será nenhuma banda ou orquestra a animar o povo, quem vai dominar o coreto é apenas um homem, David Santos, também conhecido por NOISERV, afinal uma versão de si próprio e a quem também chamam logicamente o homem-orquestra ou a banda-de-um-homem-só...



"Coreto do Paço" - Jean-Charles Forgeronne

Mudam-se os tempos e também se mudam as vontades e os coretos e logicamente este do Paço também mudou e muito, construído inicialmente em madeira pelo povo no ano de 1966 e por culpa da humidade deste caprichoso clima do oeste capaz de apodrecer o carvalho mais resistente que possa existir foi mais tarde reconstruído em ferro, tendo sofrido o último restauro há 20 anos... Apesar de tudo parece de boa saúde e oxalá assim continue por muitos anos porque é o último resistente em todo o concelho da Lourinhã, afinal aquele outro majestoso que existia na principal praça da vila há muito que se finou e agora só vive na memória dos mais velhos ou então em fotografias da época ou em pinturas nelas baseadas...



"Coreto da Lourinhã" - Aguarela de Mariazinha

 

João Sem-Dó

(Musicólogo de Valmedo)