AS MARAVILHOSAS DÁDIVAS DA NATUREZA...
E porque a natureza é generosa para quem quer e para quem busca muitas vezes chego a casa carregado de troféus, há dias foram uns generosos raminhos de alecrim que encontrei à beira do carreiro a pedir-me encarecidamente que o levasse comigo e que emprestaram um perfume celestial a umas batatinhas de forno e ao tempero dumas pernas de perú, ontem o prémio foram os primeiros oregãos do ano que tiveram a ousadia de se atravessar à minha frente e que embora ainda necessitem de mais umas semanas de calor para chegar ao amadurecimento ideal, alguns, os mais precoces, já podem ser colhidos e colocados a secar para depois fazerem a diferença em saladas, nas pizzas, nas massas, em qualquer coisa, até num simples queijo fresco...
E se os oregãos só se oferecem no verão e por isso há que aproveitá-los ao máximo para guarnecer a dispensa até ao próximo estio, o alecrim ali está sempre à nossa espera, durante o ano inteiro, faça chuva faça sol, faça frio ou calor...
É por demais sabido que não é consensual a origem do nome LOURINHÃ, esta bela região e incontestada capital dos dinossauros, mas a minha intuição está de acordo com muitos historiadores e alguns linguístas, e de entre estes últimos destaco evidentemente a posição do meu amigo João Portugal, os quais defendem a tese de que Lourinhã deriva da palavra latina Laurius-laurili que significa loureiro ou terra onde existem muitos loureiros... Ora, sabido que os romanos por aqui andaram e que por cá deixaram entre outras coisas a língua não é difícil concluir que de facto esta terra só se podia chamar Lourinhã tal a abundância de loureiros e eu, qual investigador que testa tudo o que é teoria segundo os cânones do método científico, acabo de comprovar isso mesmo ao chegar há pouco da minha corridinha ali pelas bandas da Moita Longa, a qual também se poderia chamar Laurilonga tantos são os louros que por ali crescem, e prova disso é este troféu que trouxe comigo, uns raminhos de generosas e perfumadas folhas dignas de fazerem parte de uma coroa de louros de um qualquer campeão, mas nem todas, algumas terão que ir para a cozinha, é que não há tempero de jeito sem elas...
Alecrim |
Estou cada vez mais viciado na minhas incursões pela natureza selvagem, umas vezes em modo corrida, outras em modo caminhada ou ainda em modo misto, tudo depende do apetite e da condição física e mental de alguém que para além de ter de lidar com a gestão do stress hospitalar não tem um horário normal, muitas vezes trabalho nocturno e descanso diurno, sonos e vigílias trocados, fins-de-semana a meio da semana, feriados são dias normais e férias quando se pode, e agora este tempo de pandemia ainda me veio tornar mais dependente dessa fuga para a natureza oculta numa busca solitária por um bálsamo, pelo equilíbrio, pelo auto-conhecimento, pelo deslumbramento... E se por vezes nada disso acontece e o que de lá trago resume-se apenas à satisfação do dever cumprido, isto é, registo da actividade física em dia, o que não sendo muito já dá para ganhar o dia, então noutras ocasiões consegue-se uma coisa ou outra e até por vezes não tão raras assim, quando os planetas ou as matemáticas cósmicas se alinham e tudo parece certo numa espécie de "noves fora nada", ocorre o jackpot: alívio, reflexão, equilíbrio e êxtase...
Oregãos |
E se os oregãos só se oferecem no verão e por isso há que aproveitá-los ao máximo para guarnecer a dispensa até ao próximo estio, o alecrim ali está sempre à nossa espera, durante o ano inteiro, faça chuva faça sol, faça frio ou calor...
Loureiro |
Embora pequenos os meus troféus são genuínos e mais biológicos não podem ser porque são dados pela natureza selvagem, e aqui estão eles frescos, saborosos e perfumados, dispostos a maravilhar desde que haja algum mérito gastronómico... E sempre que precisar de alecrim, oregãos ou louro, por exemplo, basta uma caminhada pelos sítios certos, afinal é muito mais agradável do que perder tempo a procurá-los nas prateleiras das lojas e ainda por cima pagando ao quilo a folha de louro a 18, os oregãos a 30 e o alecrim fresco a 65 euros... A natureza não tem preço...
João Ratão
(Chef de Valmedo)
(Chef de Valmedo)