O DESATINO, O PRAZER E O EXTRAORDINÁRIO...
- Tu és um desatino, James! Mas onde é que eu tinha a cabeça quando decidi pôr-te no carro? Nunca mais!
Amigos caninos, esta era a voz do J.C elevada a muitos decibéis, ele com as mãos no volante e o os olhos no retrovisor, olhando para mim às três tabelas enquanto o carro solavancava por entre os buracos do estradão que nos iria levar ao planalto do Moledo, enquanto eu, entusiasmado, dava pinotes e saltos no banco traseiro, com a trela entretanto desligada do cinto de segurança e a capa protectora do banco completamente às avessas e com uns insignificantes rasgãozitos...
Mas digam-me lá se algum canídeo aguenta a excitação ao sentir a iminente exploração da querida natureza, ainda por cima num dia solarengo e primaveril, para mais após longas semanas de um duro enclausuramento no frio Casal da Gaita, parece que tudo devido à agenda demasiado preenchida do J.C? Um cão não é de ferro, estou farto de dizer, e embora reconheça que nestas ocasiões me excedo um pouquinho, tenho a dizer-vos que, a partir do momento em que me abrem a porta do carro e me sinto livre para farejar e marcar território, me porto lindamente...
Terra húmida e quente, erva molhada a convidar um afocinhanço, o som da água corrente da ribeira, o espalhafato dos pássaros anunciando acasalamento, os cheiros a ovelha, cabra e raposa impregnados nas folhas secas, as poças de água morna convidando a um banho, as árvores verdejantes e dançando ao vento ameno de suão, que mais se pode exigir para uma caminhada às origens da nossa espécie?
Como é que que me poderei portar melhor sujeito a todas estas emoções, digam-me?
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OVNI |
E foi então que reparei, já regressávamos do passeio, que o J.C tinha parado a viatura, quieto e com ar assombrado, cabeça enviezada, olhar fixo no céu... Cheguei-me à frente, patas no banco do condutor, focinho esticado e farejante, e por não haver reprimendas do J.C notei que o caso era sério....
- Que se passa? - perguntei-lhe telepáticamente.
- Então não estás a ver o mesmo que eu? - inquiriu um estranho J.C, apontando com um indicador trémulo para um estranho objecto pairando mesmo acima de nós...
- ???? - questionei, sem palavras....
- Não há explicação para isto, James.... Só pode ser um OVNI, afinal é verdade e eles existem mesmo, vivemos num mundo de conspirações! - e isto já o J.C disse com uma voz estranha, como que vinda de outro mundo, sobrenatural....
O objecto voador não identificado desapareceu entretanto numa fracção de segundo em direcção ao poente, em busca do azul oceânico, decerto.... E o J.C tirou-me as palavras da boca:
- James, nós não sonhamos, pois não, viste o mesmo que eu, certo?
E eu não lhe respondi, entretanto enroscado e mudo, embora estivesse a pensar que talvez não fosse mau se os aliens tivessem como animais de estimação coisas parecidas connosco e assim, talvez, aquando da previsível e iminente invasão final, pudessem ser condescendentes para com a nossa espécie....
James
(Cão de Valmedo)