quinta-feira, 29 de novembro de 2018



MISTÉRIO EM BRATISLAVA... - I


De muito longe vinha aquele som familiar, soava como que muitos sinos repicando desde as profundezas dos tempos, uns agudos e fortes, outros distorcidos e graves, fazia-lhe lembrar o sino da igreja da Senhora das Neves que existia mesmo ao lado da escola primária e que muitas vezes lhe provocara arrepios sempre que o homem do badalo teimava em dar sinais funestos quando ele e os outros meninos brincavam no recreio...
Abriu os olhos e viu a brancura do tecto, onde estava? Dois aguilhões trespassavam-lhe as têmporas, sentia a nuca presa e pesada, abriu a boca e estendeu a língua seca e entumescida, gretada, ávida de um gole de água... Que raio? Os sinos tocavam cada vez mais perto... Então olhou para o lado e encarou o raio do telefone, a custo levantou o auscultador...
   - Inspector Ferreira, já viu as notícias de hoje?
   - Que notícias? - conseguiu articular com dificuldade...
   - Ligue a televisão homem, ou compre o jornal, não se fala de outra coisa! Beba um café bem forte quando sair do hotel e venha ter comigo aqui à esquadra... Ah, e não se esqueça, traga tudo o que tiver sobre o seu amigo espião.
O inspector Ferreira ficou com o auscultador pendurado no ouvido, ouvindo apenas aquele irritante zumbido metálico. Olhou para o lado e apenas encontrou lençóis amarrotados, Julie tinha desaparecido mas o seu cheiro ainda inundava o quarto agora aquecido pelos raios de sol que rasgavam as cortinas das janelas.
"Que mulher!" - disse para si mesmo, recordando aqueles olhos azuis cristalinos (ou seriam verdes?) e aquelas pernas sem fim, será que alguma vez se voltariam a cruzar, pensou, talvez, afinal ela era hospedeira e ele viajava muito, um dia haveria ela de lhe servir um pequeno-almoço continental num dos inúmeros voos que ele ainda teria pela frente, mas... Que raio, acorda! Foi apenas um encontro fortuito, único, saiu-te a sorte grande, agora esquece, dizia em voz alta para si próprio, pareces um adolescente! Provavelmente nem é hospedeira, será antes uma espia húngara a enrolar-te?... 

The legendary Čumil is gone

Jornal Spectator - Bratislava



O inspector levantou-se, irritado, e castigou-se com um duche de água fervente... Vestiu-se, desceu, pediu um jornal da manhã na recepção e encaminhou-se para o café da esquina para tomar o pequeno-almoço, antes de enfrentar o comissário RADO, chefe da Polícia de Bratislava. Na capa do Spectator, em todos os canais da televisão, em todas as conversas, não se falava de outra coisa: o desaparecimento do CURIOSO, também conhecido por CUMIL ou MAN AT WORK, uma das principais atracções turísticas da Eslováquia...
Agora o Inspector Ferreira observava atentamente a fotografia que Julie lhe tinha tirado dias atrás junto da simpática estátua que representava um trabalhador da era comunista emergindo dos esgotos para observar o mundo à superfície, para uns estaria apenas a gozar um pequeno descanso, para outros, como quem não quer a coisa, estaria a espreitar as pernas das belas transeuntes distraídas...
  - Porque raio roubaram a estátua? - perguntou-se o Inspector em voz demasiado alta enquanto dezenas de pares de olhos imediatamente o miraram, inquisitórios....









João Pena Seca

(Escritor de Valmedo)


ESTE MUNDO ALIENÍGENA...




A silhueta do OVNI (UFO) domina o horizonte e a atmosfera de BRATISLAVA, onde quer que se esteja, na Cidade Velha, no Castelo, no Parque da Cidade Nova, no Danúbio nem sempre azul... E então à noite é impossível evitar a ideia de que daquelas luzes penduradas na cabeça do monstro marciano não sairá o Raio da Morte descrito por H.G.WELLS em "A Guerra dos Mundos", esse terrível feixe de luz quente e invisível que incendeia tudo ao seu contacto. 

"E a Coisa que eu vi! Como poderei descrevê-la? Um trípode monstruoso, maior do que muitas casas, passando por cima dos jovens pinheiros, esmagando-os ao passo que caminhava; um engenho móvel de metal luzente, caminhando agora através do urzal; pendiam dele cabos articulados de aço e o estrépito produzido pela sua passagem misturava-se com o ribombar do trovão. (...) Visto de perto, o objecto era incrivelmente estranho, pois não se tratava de simples máquina insensível seguindo o seu caminho. Era na realidade uma máquina cujo passo metálico  ressoava e tinha tentáculos compridos, flexíveis e reluzentes que balouçavam e chocalhavam em redor do seu estranho corpo. Escolhia cuidadosamente o seu caminho e o capuz de latão que a sobrepujava movia-se de um lado para o outro, sugerindo uma cabeça a olhar em redor. Atrás da parte principal do corpo achava-se uma massa enorme de metal branco, semelhante a um cesto de pescador, gigantesco; baforadas de fumo verde esguichavam das juntas dos membros quando o monstro passou ao pé de mim. Desapareceu instantaneamente. E foi esta a visão que tive dele, vagamente, iluminado pela luz fulgurante dos relâmpagos, intervalada por densas sombras negras."  in "A Guerra dos Mundos"
Ilustração de "A Guerra dos Mundos"




Mas a NOVY MOST, ou PONTE NOVA, assim chamada apesar dos seus quarenta anos de idade e não obstante os seus 90 metros de altura, não ameaça ninguém, não cospe fogo nem transporta repugnantes marcianos no seu interior. Nem vamos encontrar por aqui o Tom Cruise a tentar salvar a humanidade nem vamos entrar em pânico porque na rádio não se ouvirá a apocalítica narração do outro WELLS, o ORSON... Símbolo futurista de uma terra de história milenar, a ponte vive hoje uma relação harmoniosa com o tranquilo Danúbio mas nem tudo foi pacífico na sua existência: a sua construção rasgou a meio o centro histórico da cidade, arrasando o bairro judeu e a sua sinagoga... Estratégias políticas de difícil aceitação!








Bratislava, para além dos reconfortantes vinhos quentes à disposição nos deslumbrantes mercados de Natal, para além dos pivos (cerveja) e das salsichas feitas de mil diferentes maneiras, ganhou aura por ter sido, nos séculos passados, a primeira escolha para muitas residências de aristocratas  e para muitos bailes de pompa e circunstância....  Diz-se até, numa provocação saudável e picaresca, que as noites aqui duram mais e que as saias são mais curtas do que na austera Viena.....

Do alto do UFO ou do cimo do castelo, há que admirar o vale do Danúbio e, fechando os olhos, perceber o porquê de ter sido dali  que Johann STRAUSS se inspirou para compor a sua famosa valsa...















João Palmilha

(Viajante de Valmedo)

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

"Sleeping dog" - FATHEAT - Bratislava - 2016

João Plástico

(Artista de Valmedo)


"Tenho a intenção de, depois da minha morte, legar um grande fundo para a promoção de um mundo de paz, no entanto sou céptico quanto                       aos seus resultados..."

Alfred NOBEL

terça-feira, 27 de novembro de 2018



EFEMÉRIDE # 52


O TESTAMENTO MAIS FAMOSO DO MUNDO...




" Morreu Alfred NOBEL, o Mercador da Morte, o homem que dedicou a sua vida a encontrar maneiras de destruir e matar!"

Ao ler este seu obituário publicado num jornal matutino sueco enquanto tomava o pequeno-almoço, o próprio, Alfred Nobel, ficou estarrecido! Então seria assim que seria lembrado? Como o mercador da morte? Quando apenas tinha feito aquilo em que era bom, invenções para o progresso da humanidade? Tinha que fazer algo...

Alfred Nobel
Tudo não tinha passado de uma enorme confusão e de um boato demolidor, afinal quem tinha morrido fora o seu irmão Ludwig, o jornalista equivocara-se... Para Alfred, perder irmãos não era uma dor desconhecida, já tinha perdido há muito o seu jovem irmão Emil numa experiência mal sucedida no laboratório químico familiar, onde tentava descobrir uma forma estável e segura de comercializar a NITROGLICERINA, uma então recente descoberta do seu colega de estudos em Paris, o químico italiano Ascanio Sobrero... O pai dos irmãos Nobel fora um engenheiro civil e inventor e Alfred, juntamente com os irmãos, tinha-lhe seguido as pisadas e, depois de muito esforço e demasiadas tentativas, anos mais tarde teve sucesso: descobriu a DINAMITE! A sua intenção era aplicá-la na construção civil, nomeadamente na construção de túneis e canais, essenciais para o progresso civilizacional, mas rapidamente a utilização da dinamite seria utilizada em acções bélicas que matariam muita gente e que lhe daria a aura de "terrorista"... A sua invenção tinha-se então espalhado pelo mundo inteiro o que lhe granjeou uma fabulosa fortuna...

Curiosamente, NOBEL, que era portador de sentimentos pacifistas e fraternais, teve que lidar com o uso terrível que foi dado à sua invenção, e se não fosse ter lido aquele jornal naquela manhã, talvez não tivesse decidido fazer aquele testamento...  Como disse EINSTEIN, galardoado em 1921, o Prémio Nobel da Paz foi fruto duma consciência pesada!

Excerto do testamento
Assim, precisamente há 123 anos, a 27 de Novembro de 1895, em Paris, na presença de quatro amigos testemunhas e nenhum advogado, facto que depois iria pôr em causa a legalidade do documento, Alfred assinaria o seu explosivo testamento, em quatro páginas agora amarelecidas pelo tempo, numa escrita gatafunhada, pequena e por vezes intrincada, ainda por cima cheias de anotações por tudo o que era papel e onde, desassombradamente, lega à humanidade parte considerável da sua fortuna, com o objectivo de premiar o mérito daqueles que, de forma ímpar e decisiva contribuíssem para um mundo melhor nas áreas da Física, da Química, da Medicina, da Literatura e da Paz! Nobel, talvez antecipando o seu destino, morreria no ano seguinte e só em 1900, cinco anos após a sua redacção, o seu testamento seria legalmente reconhecido e oficializado, depois de muitas disputas por parte de familiares e até de instituições suecas... Os primeiros NOBEL seriam atribuídos em 1901 e hoje são os prémios de mérito mais famosos e desejados em todo o mundo...







João Alembradura

(Historiador de Valmedo)

quarta-feira, 14 de novembro de 2018



"Eu odeio toda a política. Eu não gosto de nenhum partido político. A pessoa não lhes deve pertencer, deve ser um indivíduo, de pé, no meio! Qualquer pessoa  que pertence a um partido pára de pensar..." 

Ray Bradbury





João das Boas Regras

(Sociólogo de Valmedo)


LIVROS 5 ESTRELAS - V

A REALIDADE EXTREMA


Fahrenheit 451, para além de ser a temperatura a que um livro se inflama e consome é também o título de uma das mais aclamadas narrativas de ficção científica de sempre, criada em 1953 por RAY BRADBURY... Num futuro hipertecnológico que já não estará muito distante da realidade do panorama actual, a civilização humana é subjugada por um regime totalitário que, para garantir a felicidade e a verdade aos seus súbditos, proíbe liminarmente a posse e a leitura de qualquer tipo de livros, prendendo aqueles que ainda os têm escondidos e aqueles que ainda os lêem e queimando as suas casas e as suas bibliotecas, tarefa purificadora levada a cabo a 233 graus Celsius pela Vigília do Fogo, um corpo especial de bombeiros que mais não são do que queimadores de livros e que em vez de apagarem incêndios antes os ateiam!... O principal desígnio do regime é a erradicação dos livros da face da Terra como forma de evitar a subversão à ordem instituída mas, como em todos os muros aparecerá sempre uma brecha, também há sempre alguém que não se conforma com esse ataque ao conhecimento, à cultura, à arte, à beleza, à vida, afinal aquilo que os livros representam...
  






Proibidos, os livros físicos darão origem aos livros mentais, os resistentes decoram os livros e assim, a salvo, noutra era podem voltar a passar ao papel ou ao formato digital; haverá parábola mais actual e pungente da nossa sociedade de hoje em que, ainda que haja liberdade de os ter, os livros são cada vez menos lidos e substituídos pela informação padronizada e condicionante com que somos bombardeados sistematicamente pelas plataformas digitais?
O que Bradbury quis transmitir (e que é real) é que é muito estreita a fronteira entre a liberdade de pensamento e o condicionamento extremo do espírito humano e exemplos desses não nos faltam hoje na nossa sociedade dita ocidental e iluminista. Ainda há quem rotule esta fantástica obra como uma DISTOPIA, mas a realidade e a história não lhe dão razão há décadas? Não se continuam a queimar livros? Não existe cada vez mais censura por esse mundo fora? Mais do que uma realidade futura levada ao extremo, Fahrenheit 451 alerta-nos que a realidade actual já passou muitos limites éticos e morais e que estamos no limiar de outra Era Sombria:


" Transmitiremos oralmente o conteúdo dos livros aos nossos filhos e os nossos filhos, por sua vez, levarão o ensino aos outros. (...) Milhares, pelas estradas, pelos caminhos de ferro esquecidos, vagabundos por fora, bibliotecas vivas por dentro. (...)...um dia virá, próximo ou distante, em que os livros poderão ser escritos de novo, em que nós seremos convocados, um por um, para recitar o que sabemos e imprimiremos esses livros até à próxima Era Sombria, em que tudo terá de recomeçar de novo. É isto o que o homem tem de maravilhoso. Ele nunca perde a coragem, nunca se desilude ao ponto de tudo abandonar, pois conhece muito bem a importância e a grandeza da sua tarefa."






  


João Vírgula

(Leitor de Valmedo)

O SUPERESTORNINHO



O ESTORNINHO mais famoso deste mundo e arredores deve ser o Leslie, o pássaro que acaba transformado em herói no filme FAHRENEIT 451, na versão de 2018, e tudo porque no seu código genético foi incorporado o OMNIS, isto é, toda a biblioteca da humanidade, com o intuito desesperado de a salvar do fogo purificador de um regime totalitário detentor da Verdade e da Felicidade supremas... A estratégia passará por colocar a ave a salvo e num futuro incerto, se possível, extrair toda a informação necessária para a reimpressão dos livros proibidos e entretanto queimados...



"OMNIS"




Este Superestorninho é uma inovação feita pelo director e guionista do filme, Ramin Bahrani, na famosíssima  novela de Ray Bradbury ele não existe, antes a capacidade de armazenamento das obras é feita pelos humanos...  Mas outras variantes nos são apresentadas no filme, seja o destino  diferente que é dado a algumas personagens, seja a ausência de algumas delas (a mulher do protagonista, por exemplo) mas, de entre todas, salienta-se o esquecimento da terrível máquina de extermínio: o CÃO-POLÍCIA MECÂNICO!

" O cão-polícia mecânico é infalível. Nunca, desde a sua primeira utilização para atingir a presa, esta máquina prodigiosa falhou. Possui um olfacto tão sensível que é capaz de reter e identificar os dez mil constituintes olfactivos de dez mil indivíduos diferentes, sem a menor hesitação"



"Cão-polícia mecânico"




Nenhuma vítima escapava das garras do monstro e quando do seu focinho emergia uma agulha oca, de aço, com dez centímetros de comprimento, então era mesmo o fim, as doses maciças de morfina e procaína significavam apenas uma coisa: incineração!
Livro ou filme, eis a dúvida que assalta algumas mentes sempre que uma obra ímpar é filmada, mas neste caso, sem dúvida, LIVRO! Apesar de valer sempre a pena ver o filme, afinal ele leva-nos a ler outra vez, inevitavelmente...






João Película

(Cinéfilo de Valmedo)

terça-feira, 13 de novembro de 2018





STURNUS

"Sobrevivente da noite estremunhado
atraído pela velada fria aurora
hoje descobri um novo vizinho...
Vigilante, curioso, empoleirado  
na minha orgulhosa chaminé mora
um tranquilo, estranho estorninho...
Perguntei-lhe se vinha do frio norte,
seria ele o omnis das nossas ilusões,
carregava ele o canto da esperança,
livro da verdade, o poema revelador
de que não é absoluta essa coisa da morte?
Que não, disse ser apenas um de milhões
que celebravam numa nebulosa dança
o cruel mistério, ser parte de algo maior..."


J.C
(Poeta de Valmedo)






quinta-feira, 8 de novembro de 2018

"Pássaro celeste" - Jean Charles Forgeronne


"OS PÁSSAROS"



"A Primavera chegou bem cedo este ano,
flores de Maio florescendo em Fevereiro.
Devo ficar triste pelos meses ou feliz pelo céu?
Os pássaros não sabem como cantar
e, meus amigos, eu também não...

Anteontem aquela que eu achava amar
de repente me ignorou e deixou de se importar.
A estas coisas devo cantar uma triste melodia,
estarei mesmo feliz por deixá-las para trás?
Os pássaros não sabem como cantar
e, meus amigos, eu também não...

Um dia destes cairá um enorme nevão
e no chão os rebentos prematuros cairão,
e todos os seres que agora vivem
irão certamente desaparecer...
Os pássaros não sabem como cantar
e, meus amigos, eu também não...

Os pássaros não sabem se é o momento 
certo para voar, não sabem que rumo escolher, 
e meus amigos, eu também não..."



PETER HAMMILL - "The birds"

(Tradução livre de J.C - Poeta de Valmedo)






BIRDS - PETER HAMMILL








"BIRD" - Jean Charles Forgeronne



SONHOS, VISÕES E GENIALIDADES...


Ainda as velas do bolo do seu 70º aniversário estão quentes e já PETER HAMMILL estará decerto a compor, a escrever e a cantar, afinal aquilo que faz como ninguém há mais de 50 anos (!)... Líder, coração e cabeça dos Van Der Graaf Generator, iniciou em 1967 com o álbum "Aerosol Gray Machine" esta epopeia criativa que tem sido a sua vida e que conta já, só a solo, com 33 (!) álbuns de originais! É muita obra, e de que calibre! Hammill é daquelas raras criaturas a que é impossível colar um rótulo, a sua poesia e a sua voz tanto podem ser suaves e celestiais como trágicas e pomposas, misteriosas e inacessíveis como puras e cristalinas... Visionário, louco, génio, iluminado, revolucionário, eremita? Talvez de tudo um pouco o que torna o seu mundo fascinante, reflectido nos seus dois livros de poesia: "Assassinos, Anjos, Refugiados" e "Espelhos, Sonhos, Milagres"! E assim, ora baixando à Terra ora subindo aos Céus, ora crítico e cáustico da condição humana ora sobrenatural e espiritual, este herói desalinhado vai pincelando esta cinzenta existência de magia...







"THE LOVE SONGS", editado em 1984, foge ao paradigma de Peter Hammill,  não é um dos seus álbuns de originais onde se misturam todos os temas e sentimentos da paleta universal, é antes uma colectânea de enamoradas canções espalhadas por obras anteriores do mestre. Mas é uma obra muito especial e acaba também por ser original porque Hammill regravou os temas com novas vozes e novas sonorizações, tornando-as únicas. A meu ver, ainda bem que o fez, as 10 canções que compõem o CD fazem dele uma obra única, a roçar a perfeição, um deleite sem fim...
Resta o desejo de longa vida para que o artista continue a presentear-nos com a sua genialidade...










João Sem Dó

(Musicólogo de Valmedo)

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

quinta-feira, 1 de novembro de 2018







"Aconteceu assim: estavam casados há quarenta e seis anos. Os filhos casaram, saíram de casa ou ficaram pelo caminho. Então tiveram cães. Sete ao longo de quase meio século. (...) Nenhum cão foi mais amado do que Júlio, um cão de apartamento, branco e sujo. Era muito meigo e passava o dia a lambê-los até obter o que desejava. Dormia aos pés da cama e aos primeiros alvores da madrugada ia acordá-los com grandes lambidelas. Um dia, a velha ficou cheia de ciúmes, convenceu-se de que ele preferia o seu marido. Calou-se, não disse nada, sofreu em silêncio e tentou conquistar o cão por meio de manhas e guloseimas; mas Júlio continuou, sem dúvida devido a uma escolha firme, a lamber primeiro as mãos do velho. A mulher envenenou aos poucos o marido. Conta-se que o cão morreu no mesmo dia que o dono, mas trata-se de uma liberdade poética; na realidade sobreviveu mais três anos para grande alegria da boa senhora".

in "Crimes exemplares" - Max Aub





João Vírgula

(Leitor de Valmedo)



A TOUPEIRA DE NOVEMBRO


RECONQUISTA OU RECICLAGEM?



A TOUPEIRA está de volta, amigo Rui, e logo no Dia-de-Todos-os-Santos, o que vem mesmo a calhar já que estás desesperadamente a necessitar da ajuda de todos os santinhos da diáspora benfiquista! Voltaram os tempos de instabilidade e desconfiança, a equipa tanto pode roçar o brilhantismo como, de repente e sem explicação, roçar o ridículo amadorismo, tantos são os erros cometidos até pelos jogadores insuspeitos... Então passes falhados são às centenas, o que faz com que a posse de bola e a capacidade de pressão sejam, por vezes, uma anedota! Isso trabalha-se, não é amigo Rui? Ou os treinos são para a peluda e inglês ver?


O mês de Outubro foi o espelho desta dupla cara da equipa, ora boa e competente, ora miserável e horrível, vitórias contra gregos e Porto (embora sofridas devido às tais falhas de competitividade e competência) e derrotas amargas com holandeses e Belenenses, pelas mesmas razões! Os próximos desafios inclinarão a balança, ora para cima, rumo à RECONQUISTA, ora para o abismo, rumo ao VITORIÃO, isto é, o reciclador de treinadores chamados Vitória, e atrevo-me a dizer que é urgente e necessária outra daquelas séries de dezenas de vitórias consecutivas que te valeram os dois títulos para manter as hostes confiantes, sob pena de caíres definitivamente!




Sintoma desta dupla face do glorioso são as notícias que vêm a lume, isto é, que incendeiam mesmo o benfiquista mais frio e racional, ora estás de pedra e cal ora és posto em causa em surdina, ora manténs a confiança do presidente ora és questionado e insultado em pleno relvado...  O que não podes nem deves fazer, amigo Rui, e aí até eu fiquei chocado, é continuar a errar e a assobiar para o lado, tipo virgem ofendida e depois vires dizer que te estás marimbando para as críticas dos adeptos, esquecendo-te que são eles que mandam e sempre mandarão no clube! Nós não queremos um pai honrado e uma boa pessoa no comando da equipa (discurso parvo e escusado, não é?) o que nós queremos e exigimos é um grande treinador, e com respostas dessas, amigo Rui, não só caíste no ridículo como mostraste que ainda não enxergaste que tens que mudar sob pena de um dia destes chegares ao Seixal e deparares com as malas à porta.... E num clube enorme como o BENFICA, uma RECICLAGEM pode acontecer de um momento para o outro...







Bem, mas o futuro está já aí, o mês de Novembro será fulcral para ti e para o clube, amigo Rui, exigindo-se duas vitórias para o campeonato (já amanhã na Luz com o Moreirense e depois em Tondela), uma vitória para a Champions com o Ajax (com o Bayern não espera a toupeira pontos, apenas que não venhas de lá goleado ou humilhado) e a passagem à fase seguinte da Taça perante o Arouca, ainda por cima em casa...
Finalmente, a TOUPEIRA deixa aqui duas notas para meditares: primeira, o destaque de Outubro, VLACHODIMOS, um senhor guarda-redes, na esteira de Ederson e Oblak, decisivo em quase todos os jogos devido, em grande parte, à miserável prestação defensiva da nossa faixa direita; segunda, a estranheza de ver o nosso melhor jogador e único goleador de gema recuperado e sentado no banco! Está de ver que o SEFEROVIC resolve muito pouco para as oportunidades que tem e que não é solução para ser o homem mais avançado, apesar de ter estado em bom plano, mas ou mudas de ponta-de-lança ou mudas de sistema!? Concluiu a toupeira, amigo Rui, que os teus problemas residem mesmo é da baliza para a frente... Trata então de os resolver sob pena de teres um pão-por-Deus amargo!


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