EFEMÉRIDE # 58
A REVOLUÇÃO DA ANTENA DESMODULADA...
Ainda cheirava à fumaça dos foguetes da véspera onde se tinha comemorado um belíssimo número redondo, os primeiros 20 anos do 25 de Abril, essa revolução popular que encravou a lógica de um letárgico estado novo que tinha mantido durante décadas um país em estado comatoso, quando na manhã de 26 de Abril de 1994 outra revolução global aconteceria, não a partir de quartéis ou com epicentro no Largo do Carmo, antes por toda a parte, pelo país inteiro, pelo éter, pelas consciências ...
Nascia a...
Um grito de revolta, um hino à diferença, à modernidade, ao futuro...
Pode ser injusto para muita gente que fez esta rádio, mas a vida é assim, por vezes injusta, tenho que destacar algo e alguém e assim, também, acabo por destacar todos vós porque afinal vós todos, juntos, é que fizeram a antena, a 3!
A Antena 3 ressuscitou em mim a paixão pela rádio, devolveu-me os anos da adolescência em que, inseguro e complexado como todos os adolescentes dos anos 70-80 me refugiava na magia dos 2 PONTOS do grande Jaime Fernandes... A coisa começava assim: "Bom dia... Nesta primeira hora vamos ficar com J.J.Cale..." E depois, passadas duas horas, meio-dia certinho, acabava assim: "Foram os 2 PONTOS.... Nesta segunda hora ouvimos os The Doors...!" Tão simples quanto isto e todos os dias durante anos, conseguem imaginar a carrada de moedas de 5 escudos que tive de roubar à minha mãe e à minha avó para ir comprar cassetes de crómio para gravar os 2 PONTOS?
E depois viriam os anos de boémia académica em Lisboa e aí, infelizmente, não havia tempo para a rádio...
Pode ser injusto para muita gente que fez esta rádio, mas a vida é assim, por vezes injusta, tenho que destacar algo e alguém e assim, também, acabo por destacar todos vós porque afinal vós todos, juntos, é que fizeram a antena, a 3!
A Antena 3 ressuscitou em mim a paixão pela rádio, devolveu-me os anos da adolescência em que, inseguro e complexado como todos os adolescentes dos anos 70-80 me refugiava na magia dos 2 PONTOS do grande Jaime Fernandes... A coisa começava assim: "Bom dia... Nesta primeira hora vamos ficar com J.J.Cale..." E depois, passadas duas horas, meio-dia certinho, acabava assim: "Foram os 2 PONTOS.... Nesta segunda hora ouvimos os The Doors...!" Tão simples quanto isto e todos os dias durante anos, conseguem imaginar a carrada de moedas de 5 escudos que tive de roubar à minha mãe e à minha avó para ir comprar cassetes de crómio para gravar os 2 PONTOS?
E depois viriam os anos de boémia académica em Lisboa e aí, infelizmente, não havia tempo para a rádio...
Até que um belo dia de 1990 e tal, já trintão e recém-casado, incumbido de confeccionar o almoço, um belo atum de lata acompanhado de batatas cozidas, coisa que tinha idealizado fazer ao som dos Jethro Tull, a coisa corre deveras mal! A porcaria da cassete encrava, aquele estúpido tijolo que tinha comprado com garantia semanas antes a um manhoso marroquino que por ali tinha passado enfureceu-me, apeteceu-me mandá-lo contra a parede mas, não sei como, obra divina concerteza, devo ter empurrado um botão qualquer e a coisa descamba para o rádio... Primeiro uma voz aprazível (todas as vozes da rádio são aprazíveis, certo?) que dizia qualquer coisa de costa a costa, e depois fico lívido, ouço os acordes de "Sweet Home Alabama", uma vaga memória que tinha das casernas da recruta em Mafra e onde um curioso camarada de pelotão e personagem de Sesimbra me tinha uma vez lançado ao desafio que a melhor banda do mundo eram os Lynyrd Skynyrd... E eu, convencido de que era erudito do rock, pensei que o tipo era mesmo marado, nunca eu tinha ouvido falar naquela banda de nome esquisitérrimo... Mas agora aquilo soava muito bem enquanto as batatas iam cozendo!
E depois que dizer? Bem, já não precisei de roubar moedas a ninguém mas gastei muita cassete para gravar o "COSTA A COSTA", religiosamente aos domingos de manhã durante anos... E não houve tempo tão bem empregue como esse em que descobri Ben Harper, Steve Earle, Lucinda Williams, Stevie Ray Vaughan, Arcangels, Jayhawks, Jeff Buckley ou em que pude revisitar Steve Forbert, Grateful Dead ou o grande Cash, entre muitos outros...
Por isso, obrigado Antena 3 e um grande abraço para o PEDRO COSTA por terem trazido tantos momentos de descoberta e felicidade para a minha vida, até hoje....
Por isso, obrigado Antena 3 e um grande abraço para o PEDRO COSTA por terem trazido tantos momentos de descoberta e felicidade para a minha vida, até hoje....
E depois há coisas que não se explicam, um dia dou comigo em pleno pré-concerto do ERIC CLAPTON, um Pavilhão Atlântico ainda a encher, a dizer em voz bem alta para quem quisesse ouvir, amigos e estranhos, que eu estava ali para ouvir o grande DOYLE BRAMHALL II e não o cabeça de cartaz... Terei dito que um já era e que o futuro era o que fazia a primeira parte! Heresia? Talvez... Claro que a culpa foi do Costa-a-Costa, mas até hoje não me arrependo, o Clapton esteve bem mas Doyle esteve sublime!
João Sem Dó
(Musicólogo de Valmedo)
(Musicólogo de Valmedo)