quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

O salvador das mães

 

CURIOSIDADES DO MUNDO CÃO - XXXV


LAVAR AS MÃOS ANTES DO TEMPO...


Agora que deve haver por aí muita gente que já lavou as mãos mais frequentemente nestes últimos dois pandémicos anos do que no resto da sua existência devido ao medo causado por um bicho invisível, recuemos quase dois séculos, até à década de 1840 e entremos no Hospital Geral de Viena onde existiam duas clínicas obstétricas e onde um médico húngaro de ascendência alemã chamado IGNAZ SEMMELWEIS passava a vida armado em detective tentando descobrir a solução para um grande mistério: porque razão morriam muito mais mães por febre pós-parto numa enfermaria do que na outra se ambas usavam os mesmos métodos de tratamento? Depois de analisar e eliminar várias hipóteses concluiu que a solução estava no pessoal que trabalhava em cada uma das clínicas: uma, aquela onde a taxa de mortalidade era muito mais elevada, era onde treinavam e aprendiam os estudantes de medicina enquanto que a outra, onde ocorriam muito menos mortes, era usada exclusivamente para treino das parteiras e a solução ocorreu-lhe quando um colega chegado foi ferido por um bisturi de um aluno durante a realização duma autópsia e que acabaria por morrer com os mesmos sintomas do que as mães... Concluiu então Semmelweis que a febre puerperal tinha origem nas "partículas cadavéricas" que os estudantes transportavam desde a sala de autópsias até às enfermarias e isto porque naqueles tempos ninguém lavava as mãos e muito menos os médicos, ainda o mundo invisível dos vírus e bactérias era desconhecido!  





"Semmelweis" - Budapeste - Jean-Charles Forgeronne

Semmelweis instituiu então o uso de uma solução desinfectante à base de hipoclorito de cálcio que deveria ser usada na lavagem das mãos entre os trabalhos de autópsia e o exame das pacientes e voilá: a taxa de mortalidade baixou cerca de 90%! Só que nem tudo foram rosas para o nosso herói, naquela época a questão da limpeza e da lavagem das mãos era completamente ignorada, os médicos eram os primeiros a acharem que era escusada e daí a teoria que Semmelweis apresentou anos mais tarde e baseada na sua experiência pessoal de que a falta higiene estava na base de muitas mortes relacionadas com o acto médico foi considerada uma afronta e amplamente ridicularizada e rejeitada pelos seus pares de Viena. Ignaz foi perseguido, demitido e regressou a Budapeste, sua cidade natal e onde continuou a trabalhar e a dar aulas mas sempre apontando o dedo aos seus colegas intitulando-os de assassinos ignorantes, eles  que continuavam a não lavar as mãos e as suas críticas foram de tal forma veementes que muita gente o considerou louco, até a própria mulher, vai daí internaram-no num manicómio onde acabaria por morrer passados apenas 14 dias e pelos vistos devido a uma septicémia provocada pelo espancamento que os guardas entretanto lhe ofereceram, tinha ele 47 anos de idade! Passado apenas um ano da sua morte Louis Pasteur confirmaria a teoria microbiana das doenças e a assepsia seria então implementada nos actos cirúrgicos com grande sucesso, tarde demais para Semmelweis que, mau grado, ficou para a eternidade conhecido como o "salvador das mães" e o "pioneiro da lavagem das mãos"...  E hoje a Faculdade de Medicina de Budapeste tem o seu nome!


João Palmilha

(Viajante de Valmedo)

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

 

BUDAPESTE, A CAPITAL TERMAL


Foram os Romanos os primeiros a apaixonarem-se assolapadamente por este pedaço de terra encantado da bacia dos Cárpatos à beira do Danúbio e onde mais tarde nasceria Budapeste e desde logo, eles que eram mestres percursores na canalização da água, trataram de aproveitar as inúmeras nascentes termais que por ali existem para banhos mas também para fins curativos... E depois vieram os Turcos, aqueles que nos dois séculos de ocupação da região mais obra deixaram e melhor exploraram os recursos hídricos naturais de Buda e Peste, afinal são 80 milhões (!) de litros de água quente mineral que jorram das inúmeras nascentes! E hoje, quem visitar Budapeste, depara-se com uma vasta oferta de piscinas e banhos terapêuticos...


"Széchenyi" - Jean-Charles Forgeronne 


Os Banhos Széchenyi são o maior complexo de banhos medicinais da Europa e recebem cerca de 1 milhão de visitantes anualmente, atraídos não só pela deslumbrante arquitectura neobarroca mas também porque são efectivamente os banhos mais quentes de Budapeste e alimentados por nascentes termais situadas a mais de mil metros de profundidade e de onde a água brota a 74-77 ºC! Inaugurados em 1913, os Banhos Széchenyi possuem 18 piscinas termais, umas interiores outras de natação ao ar livre com a temperatura da água entre os 21 e os 40 graus, para além de salas de vapor, saunas, banhos medicinais de lama e enxofre, um spa de cerveja e, claro, as inevitáveis massagens terapêuticas, é só escolher a qualquer hora do dia e até de noite, de verão ou de inverno e por mais gelado que esteja o clima lá fora...  Relaxar, relaxar e relaxar, nada mais importa ali e sempre... 


"Relax" - Jean-Charles Forgeronne


João Palmilha

(Viajante de Valmedo)


"Cão à beira do Danúbio" - Jean-Charles Forgeronne

"Porta surrealística", Budapeste - Jean-Charles Forgeronne