terça-feira, 27 de julho de 2021

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Calhau

 

SÓ FALTOU SAIR MÚSICA DO CALHAU...


Entretanto e enquanto de mansinho Julho se está a finar, vai ficando pelo planalto o vazio e a saudade onde dantes estiveram expostas muitas obras durante os dias em que ocorreu a 2ª edição do CALHAU, é o caso de umas das esculturas de Carlos Ramos que durante algum tempo viveu em boa vizinhança com o revigorado moinho do Pantónio... 




ou da foto da lisboeta Sandra Lourenço que se deixou fascinar com uma actividade secular que ainda vai resistindo pelo Moledo e Pena Seca...



Mas nem tudo parte, por aqui ficaram o musgo e os corações de Lena Muniz...



a menina Primavera de Ana Cristina Dias...



ou as ovelhas do Miguel...




Mesmo assim o maldito vírus ainda nos roubou a ideia mais ousada e cativante do evento, o concerto do pianista Miran Devetak que teria lugar numa pedreira da região teve que ser cancelado, oxalá possa acontecer numa próxima edição do Calhau... E se alguém disse que pedras há que falam e outras de calçada que até choram desde que se lhes toque no nervo, também as há que gostam de Chopin ou Schumann!




João Plástico

(Artista de Valmedo)

terça-feira, 13 de julho de 2021

Pessoa-CÃO

 

LIVROS 5 ESTRELAS # XXV


PESSOAS COMO NÓS, CÃES...


Amigos caninos, aqui estou eu de volta e com alegria redobrada, é que fui incumbido do enorme desafio de apresentar esta rúbrica dos livros imperdíveis da vida do J.C e nem tive opção de recusa, tudo começou quando um dia destes, dormitava eu ali junto ao portão e ele, interrompendo o meu banho de sol matinal, botou palavra sem meias medidas:
 - James, acorda, bicho!
E eu, abrindo os olhos a custo, encarei-o com ar de quem protesta por ser incompreendido, soubesse ele que durante a noite, enquanto ele e restante família hibernam e ressonam, eu apenas dormito por alguns minutos de cada vez porque estou constantemente alerta para qualquer ameaça ao reduto familiar, talvez tivesse um pouco mais de respeito para com o meu descanso, mas já ele lia com voz forte e teatral o livro que trazia aberto entre mãos:

"Não era um cão como os outros. Era um cão rebelde, caprichoso, desobediente, mas um de nós, o nosso cão, ou mais que o nosso cão, um cão que não queria ser cão e era cão como nós"







Ainda tentei dizer qualquer coisa do género "espera aí que fiquei baralhado com tanto cão nessa frase" mas qual quê, o J.C estava tão entusiasmado que me lançou aquele olhar de aviso e continuava a leitura:

"Talvez fosse da raça, épagneul-breton, L.O.P, de manchas castanhas e uma espécie de estrela no meio da cabeça, por sinal muito bonita.
   - Puro demais, dizia o meu pai. Este cão tem a mania que é fino.
   Fino e fidalgo. Lemos livros e revistas sobre a raça, todos sublinhavam o carácter afectivo destes cães que só são felizes quando ao pé do dono.
   Esqueciam o resto, a rebiteza, a dificuldade em obedecer, a irrequietude, o exibicionismo. Ou então era este que era diferente.
   (...) - Este cão tem um problema, disse por fim o meu pai, está convencido de que não é cão." 


   


Não sei quanto tempo humano durou a leitura mas fiquem sabendo que nunca me portei tão bem, amigos caninos, deitado qual esfinge egípcia e quando o leitor lançava um olhar inquisitorial à minha atenção lá eu o encarava embora prestasse mais atenção à capa do livro onde brilhava alguém muito parecido comigo, um épagneul-breton branco e castanho como eu, embora só um pouco mais escuro à volta dos olhos...

 - Este livro poderia ser sobre ti, James, és tão parecido com este Kurika! 

 - Kurika é nome de cão? - perguntei...

- Olha, até nisso se parece contigo, foram os filhos do autor do livro que o baptizaram assim porque andavam a ler as aventuras de um leão chamado Kurika enquanto tu te chamas James porque o M. andava a ler as aventuras de um herói com esse nome... E reparaste que até a história de dormires na cozinha é em tudo igual, o Kurika barafustou tanto por não querer dormir no canil que a família tfoi obrigada a arranjar-lhe um cantinho na cozinha!

Claro que eu tinha reparado, mas não é assim que deveria ser? Afinal se um cão como eu que se acha mais pessoa do que cão não deve dormir na rua isolado da sua família, certo? Por outro lado, ouvir este livro fez-me um bem danado ao meu ego, já repararam, amigos caninos, que eu sou um cão com nome de pessoa? E o J.C leu-me os pensamentos ao dizer:

 - Pois é, James, às vezes olho para ti e desconfio que tu és uma pessoa disfarçada de cão, só te falta falar!

E não se esqueçam, seus cães, peçam lá em casa para vos ler esta obra-prima...


 JAMES

(Cão de Valmedo) 

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Al coutim


 

Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

ALontra

"Lontra" - Bordalo II - Alcoutim

 

Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

Al Faro...

 


TASCAS E ANTROS DE PRAZER - XIII


ONDE COMER? SIGA O CÃO!


Chegados ao centro de ALCOUTIM, embora ainda com tempo para chegar a Castro Marim a horas de almoço, tive uma veneta e disse para a Maria Nana:

   - E que tal se almoçasse-mos por aqui? Parece-te bem?

E assim foi, lembrava-me de que este era um sítio famoso pelas enguias mas não tinha trazido comigo como há trinta (!) anos atrás o Guia de Portugal do Expresso e fiquei à nora, que raio, como se chamava aquele restaurante de eleição a que o guia se referia? Neurónios à baila, memórias esquecidas, nariz ao alto em plena Praça da República a catar o vento aromático e eis que reparo num cão, ladino, de orelhas hirtas, paciente, mirando uma mesa repleta de jovens turistas espanholas, talvez de Sanlúcar de Guadiana, mesmo ali da outra banda ou então de muito mais longe, vá lá saber-se, do País Basco ou das Astúrias, porque não, ou então da Andaluzia, bem mais perto... 





O cão, rafeiro, alma simples da plebe canina, provavelmente com dono devido ao asseio do penteado, respeitava a distância de segurança pandémica e simplesmente aguardava que alguma alma caridosa lhe oferecesse uma degustação dos petiscos... Outras ofertas gastronómicas haviam por ali, na praça e não só, mas o raio do cão não arredava pé, tinha que ser ali, pensei... E depois de pensado e dito em voz alta não há volta a dar, era ali...

 




Já sentados na esplanada do BH, assim se chamava a tasca, optei por enguias fritas em vez do ensopado das mesmas enquanto a N. foi presenteada com umas divinais costeletas de borrego... Afinal, o bicho-cão tinha razão, era ali que se devia comer! O branco à pressão estava na temperatura ideal, as enguias certas no sal e na fritura, as costeletas e as suas batatas fritas sem reparo! E o cão lá continuava, qual implacável fiscal...




Preço adequado para tamanha qualidade, contas feitas para o IVAUCHER, para ajudar à digestão decidimos dar uma voltinha pela margem do Guadiana e eis que a minha boca se abre de espanto, que raio era aquilo que eu vislumbrava? Uma cena tipo Bordallo II, estaria a sonhar, seria do branco à pressão? Não, agora vinha-me ao pensamento, tinha lido algures há bastante tempo qualquer coisa sobre Alcoutim e o artista, que surpresa! A lontra! E o cão, que por ali andava de focinho ao alto absorvendo os aromas do verão algarvio e ribeirinho... E  no Guia do Expresso de Julho de 1995, que encontrei no baú das memórias mais antigas e prestes a expirar, encontrei esta maravilha, à época as ofertas de restauração referiam-se a restaurantes que já desapareceram, claro, ou então situados nas proximidades, Guerreiros do Rio, por exemplo... 





João Palmilha

(Viajante de Valmedo)