O MISTÉRIO DA ESTRADA DO TOXOFAL
Coitado do carteiro que ali tiver que entregar uma carta registada e que bem pode morrer à espera que alguém o atenda! Sigo viagem e enquanto não encontro ninguém que me esclareça o significado do insólito achado vou matutando naquele mistério e baseado na minha própria experiência só me vem uma solução lógica à cabeça: porventura será um grito de revolta por causa de uma merdança! Uma merdança é uma herança de merda, um presente envenenado que só traz chatices e nenhum proveito a quem a recebe e ainda que não a queira herdar, por exemplo uma casa velha e ilegal como me aconteceu, ser responsável por uma merdança pode causar aos mais frágeis sérias úlceras nervosas, para a legalização de umas ruinas é preciso entrar com todo um conjunto de projectos, autorizações, pareceres e taxas para aqui e para acolá como se fosse construir um palácio novinho de raiz! A burocracia e os custos relacionados com a habitação e até terrenos rústicos é tal que desmoraliza o santo mais paciente neste país alicerçado nos impostos; e depois, quem quiser vender uma casita por mais modesta que seja tem que ter consigo a bendita licença de utilização, esse santo graal que só serve para se desistir em muitos casos antes de se cair na penúria e então se a casa foi construída depois de 1951, ainda que em ruínas, o calvário ainda é maior, apenas estão isentas as contruídas antes daquele ano, vá lá encontrar-se lógica ou proveito nesta insanidade! Ora, agora que estou a chegar a casa sinto orgulho nas minhas células cinzentas e convenço-me de que resolvi o mistério: alguém herdou aquelas ruinas que outrora foram uma casa construída em 1956 e para se desfazer daquilo tem que fazer obras e obter licença para tal ou então demolir, em qualquer dos casos perde tempo, saúde mental e rios de dinheiro nas taxas e mais taxas que o esperam... Aquela caixa de correio é portanto, diz o meu Poirot interior, um monumento irónico às merdanças deste mundo-cão! Será?
João Abelhudo
(Investigador de Valmedo)