sábado, 30 de março de 2019



A UM JOVEM ESCRITOR


Inútil é que te forjes
A ideia de avançar
Porque embora escrevas o mar
Já antes o escreveu Borges




Manuel Mujica Láinez

(Escritor, jornalista e crítico argentino)




O MAR

Antes que o sonho (ou o terror) tecera
mitologias e cosmogonias,
antes que o tempo se cunhasse em dias,
o mar, sempre o mar, já estava e já era.

Quem é o mar, quem é o violento
e antigo ser que destrói os pilares
da terra, e é só um e muitos mares,
e abismo e resplendor e azar e vento?

Quem o o olha vê-o pela vez primeira,
sempre.  Com o assombro tal que as coisas
elementares deixam, as formosas
tardes, a lua, o fogo da fogueira.

Quem é o mar, quem sou? Sei-o no dia
que virá logo após a minha agonia.


Jorge Luís Borges

(Tradução - José Bento)



"Mar celeste" - Jean-Charles Forgeronne


AS BOAS IDEIAS CABEM EM QUALQUER LADO...





Pareceu-me uma boa escolha, peguei num dos meus exemplares de "A Cidade e as Serras", é o que faz a mania de coleccionar, damos por nós a encontrar obras repetidas lá por casa, mas neste caso, se a memória não me atraiçoa, este volume veio parar-me às mãos como oferta de uma daquelas campanhas jornalísticas vai para anos, para ter um livro comprava-se um jornal que rapidamente ia forrar gavetas ou alimentar o papelão, e assim, munido das aventuras do Jacinto e ao som do renascido Manel Cruz que saía da terceira Antena, lá fui decidido até à Praia da Areia Branca matar a curiosidade e ver como aquilo funcionava... 
Entro então noutra dimensão, dentro da cabine que já não é telefónica mas antes de leitura o mundo encolheu e agora é feito apenas de palavras e algumas ilustrações, e ali fico claustrofobicamente comprimido por meia dúzia de dezenas de livros aleatoriamente espalhados à minha frente por meia dúzia de prateleiras, e passado o primeiro espanto e à medida que me vou habituando a este microcosmos literário dou por mim a ler as instruções de sobrevivência neste pequeno buraco vermelho... "Deixar livros de que gosto", "levar um livro de cada vez", "escrever o nome e o livro que vou deixar (e o que vou levar) no Caderno de Registos", "devolver o livro que vou levar quando terminar a leitura, sem prazo"... Simples, sem burocracias, sem intermediários, só nós e uma atmosfera em que se respira apenas livros, basta a boa vontade dos homens de boa índole e este projecto das microbibliotecas que está a ser implantado pelos lugares da Lourinhã será um sucesso quanto aos seus objectivos, assim queiram os cidadão leitores e não só:  fomentar a leitura, exercitar a cidadania, elevar o nível cultural das populações...


Animado, dou por mim, qual mirim escuteiro, a cumprir escrupulosamente as regras e a registar a minha doação e a procurar algum livro interessante naquela reduzida e aleatória oferta, e espantem-se, desde outros Eça de Queiroz como a misteriosa estrada de Sintra escrito a meias com Ramalho de Ortigão e com uma capa deveras interessante até a um Kamasutra para meninas, passando pelas aventuras infanto-juvenis, desde os 5 aos 7, é só escolher que a Enid Blyton não se importa, ou qualquer outra coisa descabida, ou até obras em língua estrangeira, inglês, francês ou alemão (vê-se que os nossos amigos surfistas de passagem pela nossa maravilhosa costa aderiram à ideia), tudo é possível... 





E de entres muitas surpreendentes opções decidi-me por um pequeno livro de memórias do qual desconhecia a existência, da autoria de Alberto Manguel, "Com Borges", um livro excepcional sobre a vida excepcional do excepcional Jorge Luís Borges... Embora fiquem para depois as impressões desta descoberta apaixonante não resisto a levantar um pouquinho o véu: Manguel, que mais tarde se tornaria também escritor, começou aos 16 anos a frequentar a casa de Borges para ler livros que o mestre não podia ler... Um achado, e assim se autenticou aquele ditado "Dá se queres receber"... Entretanto logrei descortinar lá fora um velhote que especara a olhar para mim com um ar meio curioso meio condescendente, deveria estar a pensar que não estaria eu bem da cabeça, pensaria ele que eu ainda não tinha reparado que aquela cabine já não funcionava?
E então, despedindo-me finalmente d'A Cidade  e as Serras, folheei talvez pela última vez aquele livro que ia deixar mesmo ao lado do Kamasutra e mesmo a propósito deparo com esta pérola na última página: "(...) Eu ajudara a prima Joaninha a montar, quando o carregador apareceu com um maço de jornais e papéis, que eu esquecera na carruagem. Era uma papelada, de que me sortira na estação de Orleães toda recheada de mulheres nuas, de historietas sujas, de parisianismo, de erotismo. Jacinto, que as reconhecera, gritou rindo: - Deita isso fora! E eu atirei, para um montão de lixo, ao canto do pátio, aquele pútrido rebotalho da Civilização. E montei."
No mesmo instante em que acabara de ler isto soube que, para além da companhia do Borges que iria ter nos próximos tempos, me seria impossível resistir, quando chegasse a casa, a reler e reviver alguns trechos da cidade e outros tantos da serra... Mas o melhor ainda estava para vir porque logo no início das memórias de Alberto Manguel, quando ele descreve a mui exigente e parca biblioteca que Borges tinha no seu apartamento de Buenos Aires, ficamos a saber que por lá moravam vários romances de Eça de Queiroz!



Microbiblioteca na Feteira - Lourinhã



João Vírgula

(Leitor de Valmedo)


quinta-feira, 28 de março de 2019



A MISTERIOSA ORIGEM DAS PALAVRAS - IV


VATEL, O COZINHEIRO...



Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, vatel é um substantivo masculino figurativo que significa cozinheiro, e outros dicionários e enciclopédias vão ao ponto de lhe acrescentar algo mais, como sendo sinónimo de cozinheiro, sim, mas de grande categoria e nomeada... E esta questão linguística tem origem no longo reinado do implacável Rei-Sol, Luís XIV, época  minuciosa e extraordinariamente relatada pela nobre escritora Madame de Sevigné ao longo do milhar e meio de cartas que escreveu, sendo que numa delas retratou um acontecimento extraordinário...




François Vatel


Conta então a Madame que François Vatel, que entretanto tinha alcançado gloriosa fama como maitre d'hotel ao serviço do Superintendente das Finanças de Luís XIV, fora encarregado em 1671 pelo príncipe de Condé, que o tinha então contratado, de organizar um banquete em honra do rei e da sua corte, no castelo de Chantilly, o que seria a consagração definitiva para o cozinheiro... Mas as coisas não correram de feição para o nosso herói, ele que tinha apostado tudo num magnificente assado de peixe porque era sexta-feira-santa viu-se defraudado porque o fornecedor não trouxe o peixe a tempo ou porque não estava fresco, segundo as opiniões...  Certo é que, sentindo-se desonrado em tão solene ocasião, VATEL não esteve para desculpas, puxou da sua espada e cravou-a no peito, morrendo na hora... Macabra ainda é a hipótese de conspiração porque segundo outros relatos da época, tudo não teria passado de um mal (intencionado?) entendido porque o peixe, afinal, teria mesmo chegado a tempo e talvez em boas condições de frescura, o que não terá chegado ao conhecimento do chef...


Creme de Chantilly

Para a história culinária e não só também ficou o nome do Castelo onde o grande mestre se suicidou, CHANTILLY, foi lá que ele inventou o famoso e eterno creme de nata batida, doce e perfumada com baunilha...
E a aura deste ilustre cozinheiro era tanta  que durante muito tempo não havia terreola em França e não só que não tivesse um restaurante chamado "Vatel"...





João Ratão

(Chef de Valmedo)

quarta-feira, 27 de março de 2019



TASCAS E ANTROS DE PRAZER - III


O CANTINHO SECRETO DO ALFREDO




Pelas bandas de Campolide, à margem do caos lisboeta e pertinho da fast food comercial das Amoreiras, mora um segredo bem guardado, o CANTINHO DO ALFREDO, uma tasca ou uma casa de pasto, como se queira chamar e entender, que serve comidinha típica e saborosa a um preço que já não se usa...
Lá chegados é inútil chamar pelo Alfredo porque ele não existe a não ser no letreiro, a casa já assim se chamava quando há anos pegou no negócio o senhor Albino, actual proprietário e incansável faz-tudo, recebe a clientela, põe e dispõe as mesas, selecciona as iguarias a cozinhar, vai e vem da cozinha, salta para detrás do balcão para servir mais um café com cheirinho ou para receber a nota e toda essa azáfama é feita com a eficiência natural dos predestinados e ainda há lugar para a simpatia e para o humor...
Mas vai-se ao cantinho pela comida, claro, e essa não desilude,  seja carne como o teclado (vulgo pianola noutras paragens), o bitoque simples e delicioso ou os secretos e ainda as iscas com elas, passando pelo  peixe e aí o bacalhau assado ou frito à minhota, delicia, pede meças, ou o arroz de polvo malandrinho ou as pescadinhas que não tinham o rabo na boca desde o tempo das nossas avós!  Não esquecendo também dois dos emblemas da casa, o belo cozido à portuguesa às quintas feiras ou o pato no forno sábado sim sábado não, dados à luz pela mão mestra da única cozinheira que dá vida à minúcula cozinha donde saiem grandes repastos, a Dona Helena...





Despretensioso, genuíno, sedutor, assim se apresenta este cantinho de bem comer numa grande capital, e vale a pena sofrer um pouco ao tentar arranjar o difícil estacionamento ou esperar alguns minutos por lugar na sala deveras exígua, mas isso faz parte do encanto da boa gastronomia, as coisas nem sempre são fáceis mas quando são extraordinárias tudo compensa... E no final, não vale a pena procurar cartões ou créditos, ali não se fia mas também não se implica nem complica, a conta sai redonda ao cêntimo da cabeça do Albino e só se aceitam notas e moedas, poucas por sinal, e isso faz juz à memória do antigamente em que bem se comia em certas tascas como se estivéssemos em casa...






João Ratão

(Chef de Valmedo)

terça-feira, 26 de março de 2019



O ATUM MAIS FÁCIL E SABOROSO...



Seja bonito ou atum mesmo, o bife suculento deste peixe pode ser cozinhado de muitas maneiras e consumido quente ou frio, até mesmo crú, no prato ou em conserva, um regalo para o paladar... Não surpreende, pois, que seja uma das espécies mais importantes a nível mundial para a indústria pesqueira, atingindo quotas de milhões de toneladas em todo o mundo e sendo, por exemplo, fulcral para a economia açoreana...
Outra particularidade do atum é a sua facilidade de confecção que o torna um aliado inestimável dos cozinheiros inexperientes ou mesmo daqueles que estão a iniciar-se na aventura culinária, senão veja-se:



ATUM À VALMEDO  

Ingredientes (2 pessoas):

  - 2 bifes de atum fresco
  - 2 limões
  - 4 dentes de alho
  - 2 folhas de louro
  - sal q.b
  - pimenta preta q.b
  - azeite (3 c. sopa)
  - vinagre q.b
  - manteiga de alho (2 c. sopa)
  - salsa e coentros q.b
  - 3 batatas grandes
  - alface, rúcula e 2 tomates


Preparação:

- Começar por marinar os bifes de atum com o sumo dos limões, os dentes de alho laminados, as folhas de louro, umas pedritas de sal grosso e pimenta durante, no mínimo, 2 horas;

-  Cozer as batatas com pele em água com sal;

- Numa frideira larga, aquecer 2 c. sopa de azeite com a manteiga e colocar os bifes de atum, reservando a marinada; juntar mais um pouco de sal e deixar cozinhar até os bifes mudarem de cor; juntar parte da salsa e coentros e virar o atum de vez em quando;

- Finalmente juntar o resto da marinada e cozinhar mais 8 minutos;

- Servir com as batatas cozidas (com ou sem pele) e acompanhar com salada de tomate, alface, rúcula e o resto de salsa e coentros, temperada com o restante azeite e vinagre;


Bom apetite!











JOÃO RATÃO

(Chef de Valmedo)

sábado, 23 de março de 2019



"A liberdade faz-nos sentir, imaginar e realizar..."


Ferreira da Silva

(Artista Plástico)





"Jardim da Água" - Caldas da Rainha



Jean Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)


A ÁGUA NÃO CORRE NO JARDIM...



Chama-se o JARDIM DA ÁGUA e foi um grandioso e complexo projecto de um grande artista, quase a obra que resume uma vida inteira dedicada à arte... "Vai ser cheia de água, que sairá pelas bicas, em repuxo. é uma alegoria à água e à cerâmica, que fazem parte da cultura das Caldas da Rainha....", assim dizia Ferreira da Silva, nascido no Porto, estudante em Coimbra e residente nas Gaeiras (Óbidos) por opção e amor à luz deste Oeste maravilhoso... O artista iniciou a sua relação com a cerâmica no Bombarral aos 16 anos de idade e cedo chamou a atenção de olhares mais atentos e exigentes como os de Júlio Pomar ou João Fragoso, por exemplo, que o incentivam...  Naturalmente, em 1954, apenas com 26 anos, é convidado para chefiar a secção de pintura da afamada e extinta fábrica de cerâmica Secla e nas horas vagas vai dando asas à sua criatividade no seu "CURRAL", assim chamava à sua oficina...







Muitas histórias para contar tinha Ferreira da Silva, como aquele inusitado e longínquo encontro na  década de sessenta na Nazaré com um dos homens mais ricos do mundo, Ingvar Kamprad, fundador da IKEA e que, podemos imaginar, passeando ali por acaso decide entrar num espaço que albergava uma exposição do nosso ceramista e fica abasbacado, compra imediatamente toda a colecção e o mesmo faria nos anos seguintes, sendo o maior coleccionador de obras do nosso artista...



"O artista no Jardim" - Foto:Carlos Barroso - CM 
O Jardim da Água começou a ser construído na década de 80(!) em terrenos do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, proprietária da obra, entre a Mata Rainha Dona Leonor e o antigo Palácio Real que hoje alberga o Museu do Hospital e das Caldas, e foi vítima da escassez orçamental artística típica do nosso Portugal, sem dinheiro a obra ficou parada muitos anos, nunca sendo entretanto concluída porque, infelizmente, Ferreira da Silva não resistiu a tanta espera e abandonou-nos em 2016... Todos os dias, a qualquer hora, o funcionário hospitalar, o transeunte ou o curioso que por ali passe naquele espaço aberto a toda a comunidade, não pode evitar um olhar deslumbrado para a obra inacabada e imaginar como seria ela na sua plenitude, água a correr por toda aquela cerâmica brilhante... Seria decerto um deslumbramento e mereceia, portanto, ser aquela magistral obra acabada, desde que por alguém de confiança do mestre e a partir dos planos da obra que Ferreira da Silva decerto terá deixado...! Hoje, o principal tanque da estrutura, em vez de receber água de inúmeros canais recebe alguns jovens que ensaiam artísticos números de skate, tudo bem, o artista, rebelde e de bem com a vida como era até poderia achar piada, mas convenhamos, é pouco para o que mereciam Ferreira da Silva e as Caldas!




João Plástico

(Artista de Valmedo)

sexta-feira, 22 de março de 2019

quinta-feira, 21 de março de 2019

domingo, 17 de março de 2019


E A VILA ENCANTOU-SE...


Prometido, feito! FRANKIE CHAVEZ trocou de guitarra como quem muda de humores mas sempre numa sonoridade onírica capaz de nos transportar a ambientes diversos, desde a claustrofobia citadina aos imensos olhares de liberdade pela natureza, oceanos, desertos, sonhos... Ali, bem sentado no meio do auditório, várias vezes fechei os olhos para me evadir da presença em palco e das luzes para captar em exclusivo apenas os mágicos sons dedilhados com mestria e paixão...








Grande espectáculo de um grande músico, alguém que se entrega ao desafio e que dá à medida que recebe, o público vibrou e, tipo dobro ou nada, Frankie recompensou e muito... E ainda houve espaço para uma brilhante interpretação de "Come together", homenagem a Lennon, outro visionário e rebelde...








Dreams of a rebel - FRANKIE CHAVEZ



João Sem Dó

(Musicólogo de Valmedo)

sábado, 16 de março de 2019




Depois de Samuel Úria, os Sons na Vila da Lourinhã continuam logo com Joaquim Chaves, que é como quem diz, FRANKIE CHAVEZ, e prometeu ele para o show incursões em todos os seus discos publicados até agora, desde o E.P de estreia até ao último "Double or Nothing"... E também disse que vai estar em palco acompanhado por inúmeras guitarras, desde a portuguesa à acústica, da eléctrica à slide, cujo som nos faz deambular pelos desertos americanos e africanos... Promete, e faltam apenas 9 horas...








João Sem Dó

(Musicólogo de Valmedo)

terça-feira, 12 de março de 2019



A MISTERIOSA ORIGEM DAS PALAVRAS - III


"NÃO FAÇAS DE PORTUGUÊS..."



Se um belo dia o caro leitor, que partimos do princípio que se comporta exemplarmente e que é de boas contas, numa jornada aventureira por Itália ouvir a expressão "Non fare il Portoghese" mantenha a calma, provavelmente não estão a falar consigo... É uma expressão que se utiliza há séculos por Roma e arredores e que se aplica aos "chicos-espertos"  e maus pagadores, tipo "paga o que deves"...
A coisa remonta ao longínquo século XVI e o culpado foi o Papa Leão X, o tal que ficou tão impressionado e embevecido com as imponentes ofertas de D. Manuel I, especialmente da coqueluche Hanno, o prodigioso elefante albino que deu a volta à cabeça do Santo Pontífice e que  o levou então, à laia de agradecimento, a decretar uma lei que isentava os portugueses do pagamento de qualquer taxa em hospedarias, tascas, teatros e outros espectáculos romanos...




"Papa Leão X (depois de Rafael) - BOTERO



Mas claro, oportunistas há-os em todo o lado e os romanos não se fizeram de rogados, trataram de se fazer passar por portugueses para não pagar as despesas, "Fare il Portoghese"... A coisa tornou-se de tal forma séria que a qualquer um que não pagasse as contas se apontava o dedo gritando "Non fare il Portoghese". Não deixa de ser curioso nesta história que os portugueses é que pagam as favas mas a culpa é-lhes alheia, eles não eram sequer maus pagadores, simplesmente por decreto sagrado tinham o estatuto de não-pagadores... E se algum português, hoje em dia e em Itália for confrontado com esta expressão, tem todo o dever de esclarecer a história e honrar a alma lusitana!



João Tostão

(Fiscalista de Valmedo) 



A MISTERIOSA ORIGEM DAS PALAVRAS - II


ELEFANTE BRANCO


Nem todos os elefantes são iguais, há-os de várias tonalidades embora isso seja uma ideia errada, a esmagadora maioria deles são de cor acinzentada e se por um qualquer acaso nos depararmos com alguns acastanhados ou avermelhados alto lá,  isso pode induzir-nos em erro porque, de facto, isso significa que eles muito provavelmente se rebolaram recentemente num mar de lama ou solo dessa cor...! É que, para além dos cinzentos, só existem os BRANCOS ou ALBINOS...









A expressão "ELEFANTE BRANCO" simboliza a posse de alguma coisa ou uma construção grandiosa e dispendiosa que não têm qualquer retorno ou utilidade e tudo teve origem num antigo costume praticado na Índia e na Tailândia. Quando um cortesão caía em desgraça perante o monarca, este, se a situação o justificasse, oferecia-lhe um belo ELEFANTE BRANCO! Ironia, o que pode parecer à primeira vista um belo presente revelar-se-á depois um enorme pesadelo: o maravilhoso elefante branco, por ser considerado uma criatura sagrada graças à mãe de BUDA, só podia ser utilizado pelo próprio rei, não podia ser utilizado para trabalhar nem participar em festas do dono e este, ainda por cima, era obrigado a providenciar-lhe um abrigo luxuoso, alimentá-lo com as melhores iguarias e a pagar o serviço dos melhores cornacas que existissem... Por exemplo, já no século XVI, o célebre Hanno, o albino elefante com que o Papa Leão X fora presenteado por El-Rei D. Manuel, obrigava a uma papal despesa de 100 ducados ao ano...




João Portugal

(Linguísta de Valmedo)

EFEMÉRIDE # 56


UM ELEFANTE NO VATICANO



Precisamente há 505 anos, no dia 12 de Março de 1514, entrava em Roma coisa nunca vista, um estranho, colorido e deslumbrante cortejo que fazia os romanos abrirem a boca de espanto à medida que ia desfilando pelas ruas da cidade... A comitiva, composta por mais de cem pessoas sumptuosamente trajadas, deslumbrava também pela riqueza dos presentes que transportava e pelo exotismo de algumas criaturas: um cavalo persa, uma onça de caça, dois leopardos, uma pantera, papagaios e um elefante... 
Tratava-se de uma embaixada enviada por D. Manuel I ao Vaticano com o intuito de impressionar o recém empossado Papa LEÃO X e obter favores políticos, principalmente o reconhecimento papal da legitimidade portuguesa na descoberta, conquista e soberania de territórios em plena odisseia dos Descobrimentos, ao mesmo tempo que reiterava a obediência do reino português à Santa Sé, e para isso não se poupou o monarca...








A grande atracção porém, não só neste dia mas também nos dois anos seguintes, seria  HANNO, um elefante branco com quatro anos de idade e que era capaz de habilidades extraordinárias... Só passados dias a comitiva será recebida pelo Papa e até lá Hanno carrega um palanque de prata em forma de castelo contendo um cofre com os presentes reais, paramentos bordados com pérolas, pedras preciosas aos montes e muitas moedas de ouro...




HANNO - Desenho de Rafael


O cortejo será recebido no Castelo de Santo Ângelo e diante de Leão X Hanno deslumbra os presentes ao ajoelhar-se três vezes em sinal de reverência para depois, ao sinal do seu mahout (tratador) enfiar a tromba num balde,  aspirar e com um movimento gracioso aspersar água sobre os cardeais e sobre a multidão... Não há relato sobre a qualidade da água, se era benta ou não, mas por estar todo o mundo maravilhado ninguém se importou com isso! Certo é que o elefante caiu imediatamente nas graças de toda a corte papal e especialmente do Papa que o adoptou como mascote e companhia privilegiada ao ponto de aquando da morte do animal passados apenas dois anos devido a complicações respiratórias provocadas pela humidade de Roma, Leão X, ele próprio, lhe escreveu o epitáfio e mandou enterrá-lo no sagrado terreno do Vaticano... 
Na sua curta estadia em Roma, Hanno fez mais por Portugal do que muito diplomata e conquistou também artistas que o adoptaram para versos satíricos, poemas e até o grande RAFAEL o desenhou...





O elefante mais abençoado do mundo caíria depois num longo esquecimento para os lados de Roma até que em 1962, decorria o Concílio Vaticano II, são descobertas as suas  ossadas em pleno solo do Vaticano, para espanto de todos porque já ninguém se lembrava de Hanno..: A estranha ocorrência resgatou o nosso herói paquiderme para a ribalta ao conquistar a atenção do historiador italiano Silvio Bedini que escreveu um livro baseado na sua vida: "O Elefante do Papa"... 




João Alembradura

(Historiador de Valmedo)

domingo, 10 de março de 2019


O ELEFANTE NA SALA DO NOBEL...


Por vezes não há apenas "um elefante na sala", como na célebre fábula "O homem curioso" de Ivan Krylov, o "La Fontaine" russo, eles também existem nas bibliotecas... E se, à semelhança do que acontece na vida real com muita gente, a curiosa personagem do conto, intencionalmente por não lhe interessar ou por desleixo, conseguiu reparar em todos os pormenores espalhados pelo museu que visitava excepto num enorme elefante que ocupava uma das salas, também nós, se não formos suficientemente curiosos, corremos o risco de não reparar que no meio dos nossos livros vivem elefantes com muitas memórias para contar...




Até o celebérrimo HÉRCULE POIROT, o invulgar detective que a não menos famosa AGATHA CHRISTIE dotou de curiosas e infalíveis célulazinhas cinzentas, teve um dia de se socorrer dos elefantes para deslindar um misterioso crime...  Não, ele não foi a África interrogar nenhuma testemunha paquiderme mas para solucionar uma morte suspeita de um casal ocorrida no passado e que tinha sido catalogada como suicídio pela polícia, Poirot reconstrói o crime a partir da inestimável ajuda das memórias dos elefantes, assim chamadas as pessoas com excelente memória e que não esquecem os pormenores do passado, ainda que longínquo. Quando o brilhante detective ressuscita a terrível verdade do crime, uma personagem da novela desabafa que ainda bem que aos seres humanos tinha sido concedida a faculdade de esquecer...







Memória imperdível também é a da viagem de SALOMÃO, o elefante assim baptizado pelo nosso Nobel SARAMAGO e que, tendo sido oferecido por El-Rei D.João III a Maximiliano II, Arquiduque  da Áustria e seu primo, foi obrigado a percorrer os milhares de quilómetros entre Lisboa e Viena... A história de vida do pobre e corajoso animal, que até então não se podia queixar muito porque já conhecia meio mundo, ele que tinha vindo da Índia para Portugal tempos antes, bem pode servir como uma metáfora da condição humana; depois de tanto esforço e desafios corajosamente ultrapassados, Salomão morreu decorrido apenas um ano em pátria austríaca e para além de ter sido então esfolado, cortaram-lhe as patas dianteiras para delas fazerem receptáculos para bengalas e guarda-chuvas... Irónico destino!






E se recentemente a desgraçada Academia Sueca, a recuperar de escândalos e polémicas desde o Outono de 2017 que culminaram na não atribuição do Nobel da Literatura do ano passado, anunciou que lá para o próximo Outono haverá dose dupla, 2018 e 2019, essa inusitada ocorrência poderá servir para finalmente os sábios suecos libertarem da sua sala um enorme elefante, alguém eternamente apontado como favorito mas que teimosamente continua a ser ignorado: António Lobo Antunes, ele que por acaso até tem memória de elefante... 




João Vírgula

(Leitor de Valmedo)

sexta-feira, 8 de março de 2019


MEMÓRIA DE ELEFANTE


Para além de ostentar o título de maior animal terrestre da actualidade, com uma altura média de 4 metros e um peso que pode atingir 6 toneladas ou mais, o gigantesco ELEFANTE é também conhecido por possuir outras capacidades extraordinárias, nomeadamente uma prodigiosa memória...
Animal gregário, vivendo em grupos que podem atingir as 100 unidades e comandados pela matriarca, a fêmea mais velha que é responsável pela sobrevivência da manada em épocas de escassez de água e alimento e que consegue, mesmo após enormes distâncias percorridas, memorizar o local exacto onde se podem alimentar e matar a sede... Também conseguem estes paquidermes memorizar por décadas cheiros e vozes de outros indivíduos com que se cruzam, sejam eles outros elefantes, outros animais ou até mesmo pessoas, reconhecendo-os após tanto tempo de afastamento! 



"An Elephant" - Rembrandt - 1637


Esta extraordinária capacidade elefantina de armazenamento de informação, espacial e não só, decorre do facto de o seu cérebro possuir uma vasta rede de neurónios, até mais densa e com mais lóbulos do que o cérebro humano... Estudos revelam que esta fantástica memória foi adquirida e melhorada ao longo das eras através da luta pela sobrevivência e transmitida de geração em geração... Mas não é só a memória que é extraordinária no elefante, são também notáveis a inteligência e  a capacidade de sociabilização... Em relação a esta última então, o elefante vai muito mais além dos outros animais da selva e não só, note-se que para além do homem, deve ser a única espécie animal que atribui à morte um carácter transcendental, quando se depara com os  restos mortais de um semelhante fica transtornado... Enquanto que os outros animais perante semelhantes mortos não demonstram qualquer atenção ou emoção, no caso dos elefantes, todos os indivíduos da manada se abeiram do defunto e lhe tocam com a tromba, uma despedida elefantina em forma de homenagem certamente, e depois ainda lhe fazem o funeral, enterrando-o... Finalmente, exéquias feitas, a manada prosseguirá o seu caminho mas os familiares do elefante finado seguem atrás, a uma boa distância, fazendo o luto! 


João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)

quinta-feira, 7 de março de 2019




Publicidade em 2019



A MEMÓRIA, A IMAGEM E O ENGODO...



Muitos anos atrás, numa reunião festiva entre familiares e amigos, deparei-me com o Proença a olhar fixamente para a televisão, ainda era aquela dos quatro canais apenas, ainda o cabo e o satélite e o pirata não tinham sido inventados, e eu a espicaçá-lo:
  - Então que estás a ver? A porcaria da publicidade?
E o Proença limitou-se a olhar para mim e a sorrir, ele estava sempre a sorrir, para depois voltar o olhar novamente para os anúncios e dizer apenas:
   - Estou só a ver se há algo de novo... 
   - Não o distraias, este é o momento sagrado dele! Ele adora a publicidade, mais do que novelas e filmes. - disse-me a São, de passagem, ela que o conhecia de gingeira...
   - A sério?
   - Podes crer!
   - Porquê? - perguntaria eu depois ao Proença, ele que não tinha nada a ver com o negócio da publicidade...
   - É preciso ser muito criativo e inteligente para atrair a atenção de alguém numas escassas dezenas de segundos, é arte, quando sabes que à partida o destinatário sabe que tudo aquilo é um engodo para se comprar ou aderir a algo, e mesmo assim há anúncios muito bem feitos, que te surpreendem... Enquanto que nos filmes às vezes precisas de mais de uma hora para seres recompensado, para veres que aquilo tudo afinal até faz sentido e nem sempre isso acontece, aqui é como se o filme fosse visto a uma velocidade ultrassónica...
   Entretanto olhei para a televisão e reparei que alguém falava sobre qualquer coisa relacionada com elefantes..


in Diário de Notícias, 1993

Não, não é a tromba, é a memória! Embora por vezes fiquemos com uma tromba do tamanho da do elefante perante certas excrecências e discorrências deste mundo, este anúncio é uma ode à inteligência e ao bom gosto... Quando tudo se completa, ficamos a gostar um pouco mais da chata da publicidade. 









Certo é que depois daquela estranha ocorrência com o Proença, nunca até então tinha sequer imaginado que alguém não ligado ao meio pudesse achar interessante o mundo da publicidade, muitas vezes reduzida a uma trágica chatice de interrupção de filmes ou séries, ainda por cima recheada de anúncios horríveis, dei por mim a separar o trigo do joio e a deleitar-me com muitas boas peças de marketing...



João Propaganda

(Consumidor de Valmedo)

quarta-feira, 6 de março de 2019



"História de minha vida, ai minha história, tão rica tão curta. Vittorio Gassman tinha razão, numa entrevista que eu vi na tevê: a vida devia ser duas; uma para ensaiar, outra para viver a sério. Quando se aprende alguma coisa, está na hora de ir."


in "A Casa dos Budas Ditosos"

João Ubaldo Ferreira


TIRADAS DO GÉNIO - I



Consta que um dia terão perguntado ao grande pianista RAY CHARLES se ele não se sentia injustiçado e revoltado pelo facto de ter o grande handycap de ser cego e o quanto isso prejudicava a sua carreira em comparação a outros artistas, ao que o génio respondeu que não, nada disso, de forma alguma, desvantagem mesmo seria se fosse preto!!!!....








João Tonteria

(Humorista de Valmedo)

sábado, 2 de março de 2019




EFEMÉRIDE # 55


A CLEPSIDRA, O TEMPO E A AUSÊNCIA...


É extraordinário como alguém que apenas publicou um pequeno livro de poemas em toda a sua vida (Clepsydra) se tornou num nome incontornável das letras lusitanas ao ponto de ser considerado o expoente máximo do simbolismo lusitano ...Passam hoje 103 anos sobre a morte de CAMILO PESSANHA,  um desgraçado em vida e um herói quando morto, vítima do ópio, a droga do esquecimento.. Filho ilegítimo, meio aristocrático meio plebeu, formado em Direito em Coimbra, tendo exercido advocacia em Óbidos no ano de 1894 e emigrado para Macau no ano seguinte para ser magistrado e professor de Filosofia, e aí permanecendo num exílio voluntário por quase trinta anos, devido ao desgosto amoroso não correspondido de uma vida, não a um qualquer desgosto amoroso...
Sempre tinha sido boémio nos tempos de jovem estudante e acumulando isso com uma propensão genética para a doença, acabaria por se revelar uma personagem sombria, sofredora, melancólica e ausente...



Não se preocupava Camilo em escrever os seus poemas em papel, antes os decorava e os declamava quando bem o entendia... E, curiosamente, foi a destinatária da sua paixão recusada, Ana de Castro Osório, entretanto tornada uma escritora activista  e cívica, que, a partir de trechos publicados em jornais e poemas autografados a ela dirigidos, pôs mãos à obra e conseguiu publicar, sem a participação do autor, refugiado em Macau, CLEPSIDRA...  Exceptuando as duas vezes que veio a Portugal para curar a doença que o atormentava, afastou-se Camilo Pessanha de tudo e de todos, apaixonando-se entretanto pela arte e pela cultura chinesas...
 Magro, de olhar febril e ar doente, de assustadora barba negra, a Camilo nada falta para corporizar as simbologias drásticas de Baudelaire ou os venenos poéticos de Verlaine...
A sua melancolia e poética musical atrairiam a atenção e a admiração de, entre outros, Fernando Pessoa...


J.C

(Poeta de Valmedo)

sexta-feira, 1 de março de 2019



CASTELO DE ÓBIDOS


"Quando se erguerão as seteiras,
Outra vez, do castelo em ruína,
E haverá gritos e bandeiras
Na fria aragem matutina?

Se ouvirá tocar a rebate
Sobre a planície abandonada?
E sairemos ao combate
De cota e elmo e a longa espada?

Quando iremos, tristes e sérios,
Nas prolixas e vãs contendas,
Soltando juras, impropérios,
Pelas divisas e legendas?

E voltaremos os antigos
E puríssimos lidadores,
(Quantos trabalhos e perigos!)
Quase mortos e vencedores?

E quando, ó Doce Infanta Real,
nos sorrirás do beldever?
- Magra figura de vitral,
Por quem nós fomos combater..."


in Clepsidra

Camilo Pessanha











A TOUPEIRA DE MARÇO


A LUZ, O SEIXAL E A  GRAÇA...



Um verdadeiro estado de graça! - foi a primeira coisa que a TOUPEIRA  disse ao sair do buraco, neste primeiro dia de Março, ainda eu procurava na pasta o caderno e a caneta para registar a entrevista.... E, de facto,  assim pode ser e bem caracterizado o ambiente que se vive pelos lados da Luz e do Seixal... Não há memória nas últimas décadas de uma crise assim, de confiança e não só, resolvida por uma chicotada psicológica que tenha resultado de um modo tão estrondoso: instantâneamente voltou a alegria de jogar, houve jogadores que se libertaram, outros que renasceram e ainda outros, ostracizados no passado, que se tornaram fundamentais para uma retoma de qualidade e intensidade de jogo como há muito não se via! Naturalmente surgiram as goleadas  históricas (inclusivamente em casa de rivais), as excelentes exibições, um élan  com os adeptos que ajuda e empurra a equipa e o clube para a frente, um sucesso absolutamente estrondoso no pouco tempo que BRUNO LAJE tem à frente da equipa que levanta a seguinte questão: estamos perante um predestinado, o "treinador do futuro"?




O presente e o futuro...


 - Sem dúvida! - respondeu a toupeira. - Mesmo que haja contratempos próximos e não consiga o título esta época, pela aposta nos jovens do Seixal, que conhece como ninguém, pela motivação que lança para a equipa, pela ousadia (Istambul), pelas ideias e pelo futuro, Laje é o homem certo hoje e amanhã...
  - Mas ainda falta muito jogo! Já estão para aí a dizer que amanhã será o jogo do ano...
  - É sempre a mesma coisa, a imprensa acicata os ânimos e gosta sempre de colocar mais um pouco de pressão e dramatismo em clássicos ou derbys, faz parte da indústria... Mas não é o jogo do ano nem a partida decisiva, ganhe quem ganhar não será já campeão, perca quem perder não ficará já afastado do título, a partida é importante, sim, mas vale apenas 3 pontos como todos os outros 9 jogos que ficarão a faltar, e ainda em Março, o glorioso ainda terá de ir a Moreira de Cónegos (a sensação da época) e receberá os nada fáceis Belenenses e Tondela, intercalados pelas duas mãos da Liga Europa com o Dínamo Zagreb, duplo confronto para ultrapassar rumo à conquista do troféu que tem escapado na última década...
  E com isto, o bicho virou o focinho para o alto, inspirou e desabafou enquanto se escapulia pela abertura da toca: "Tudo é possível, sim! Talvez seja um ano em grande..."









Foi aí que eu percebi que o que a TOUPEIRA queria dizer, é que, apesar de toda a exaltação à volta de FÉLIX, FLORENTINO, FERRO e mais umas dezenas de jovens produtos do Seixal, não há projecto nem futuro sem a pessoa certa, no sítio certo, na hora certa, e essa trindade conflui certamente neste homem simples, humano, acertivo, competente e corajoso...
O futuro o dirá, começando já amanhã no Dragão com uma equipa de meninos a jogar para ganhar mas uma coisa ninguém nem a história retirará a Mister Bruno: revolucionou o futebol benfiquista e as mentalidades! 
Fica apenas uma questão residual, que me incomoda apenas pela admiração que nunca negarei pelo excelente trabalho que o antecessor de Laje produziu no glorioso: "O que se passou, amigo e desgraçado Rui Vitória, se tinhas tudo à mão?"


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