quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A raiva



EFEMÉRIDE # 26

A RAIVA DO VULCÃO - VII


Os Capelinhos eram dois pequenos ilhéus situados a 200 metros da ponta da costa, na freguesia do Capelo, Faial... E de repente, em Setembro de 1957, deixaram de ser apenas uma curiosidade tranquila para quem por ali se perdia na contemplação do vasto oceano ou de visita ao farol  para se tornaram numa atracção mundial... É um caso único na história da vulcanologia, a actividade do vulcão dos Capelinhos foi observada, filmada, fotografada e estudada pelos cientistas durante 13 meses(!), desde a emissão dos primeiros gases a 12 Setembro até ao adormecimento ocorrido em Outubro do ano seguinte...







Ao longo desse tempo ocorreram duas grandes erupções, a primeira das quais há precisamente 60 anos, no alvorecer do dia 27 de Setembro e que iria transformar para sempre a realidade física e social da ilha do Faial.... Enquanto a lava submarina ia ligando os ilhéus à terra, terríveis explosões desencadeavam a emissão de toneladas de cinzas e outros materiais que destruíram sem apelo habitações e campos de cultivo, levando ao êxodo das populações para o interior da ilha...







Enquanto a ponta dos Capelinhos crescia mar adentro e se transformava numa península, por entre correntes de lava e um cenário apocalíptico, receando o fim do mundo e o futuro pintado de negro, já muitos açoreanos debandavam em busca de paragens mais tranquilas... Calcula-se que cerca de 17000 pessoas (metade da população da ilha na altura) emigraram então para os Estados Unidos, naquela que foi a primeira grande vaga de emigração da história dos portugueses.  







E tudo um vulcão pode mudar....


João Breve

(Cronologista de Valmedo)

terça-feira, 26 de setembro de 2017




Vimeiro...


E depois de escarpas a pique e falésias a um passo do abismo, eis a recompensa.... Uma miragem do elemento original, a promessa de um banho rejuvenescedor....



Jean Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)





Fumarola em Moledo



Jean Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

segunda-feira, 25 de setembro de 2017





EFEMÉRIDE #  25

ZEPPELIN NA LUZ DE LISBOA...


Não, não se trata de comemorar um concerto dos grandiosos Led Zeppelin em Lisboa mas sim da passagem pela capital do maior dirigível alguma vez construído, o HINDENBURG, corria o solarengo dia 25 de Setembro de 1936, três anos antes da eclosão da II Guerra Mundial....








Um dirigível não era mais do que um enorme balão dotado de um mecanismo de controle da direcção, coisa que um simples balão não tinha....FERDINAND VON ZEPPELIN, um militar alemão, tinha desde pequeno o sonho de voar no seu próprio dirigível, proeza que alcançou em 1900 e, passados apenas 10 anos, a sua empresa já fabricava aeronaves para transporte de passageiros, dentre as quais o ex-libris era o Hindenburg...





Não foi a primeira passagem por Lisboa da grande nave, tal ocorria com regularidade desde o principio do ano e era sempre um grande acontecimento... O Hindenburg pairava sobre a cidade por breves minutos e largava 200 quilos de sacos de correio em pára-quedas! Eram as notícias fresquinhas, as novidades tão ansiadas que vinham da Europa... E depois lá seguia viagem para o Rio de Janeiro.....
Era um autêntico gigante, com 245 metros de comprimento e 41 de diâmetro voava a 135 Km/h com uma autonomia de 14 mil kms e era constituído por dois pisos que albergavam 70 passageiros e 15 tripulantes que tinham ao seu dispôr um refeitório, um salão, uma sala de leitura, um bar e uma área para fumadores... Um cruzeiro aéreo de luxo!
O Hindenburg foi rei e imperador dos ares ainda durante uns meses, até ao fatídico dia de 6 de Maio do ano seguinte em que uma azarada aterragem em New Jersey se tornou uma catástrofe: uma trágica explosão consumiu a nave e matou um terço das pessoas a bordo.... Acabava-se a era dos Zeppelins....









João Breve

(Cronologista de Valmedo)

sábado, 23 de setembro de 2017




TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO - I


O FIM DO MUNDO OU O 12º CALHAU A CONTAR DO SOL...


Para alguns iniciados das ocultas verdades o mundo, tal como o conhecemos, acabará hoje lá pela noitinha, altura em que se dará inicio ao Armagedão, a bíblica e purificadora batalha final entre os Deuses e a podre sociedade humana...
A culpa desta neurótica profecia é de Zecharia Sitchin, um investigador e escritor de livros e que defendia uma rebuscada e alternativa explicação para a teoria dos antigos astronautas enquanto civilizadores da humanidade pré-histórica; segundo ele, na sua obra mais famosa editada em 1976 - "O 12º PLANETA" - os Nefilim ou Annunaki, os deuses extraterrestres que nos criaram, regressarão dos céus ao nosso convívio a bordo de um planeta especial e desconhecido da nossa ciência, o planeta X, também chamado NIBIRU...








Esse 12º planeta teria uma órbita elíptica e desmesurada, passando apenas a cada 3600 anos pelo interior do Sistema Solar, daí nos ser desconhecido, e segundo Sitchin é o lar duma raça alienígena humanóide e tecnologicamente avançada, a anos-luz da nossa ciência. Ainda segundo essa teoria, esses Nefilim, numa das últimas incursões do Nibiru pela nossa vizinhança, terão gerado o Homo sapiens a partir do Homo erectus através de engenharia genética com o intuito de obter mão de obra escrava para a exploração das minas de ouro da antiga Mesopotâmia...




Zecharia Sitchin


Desengane-se quem pense que o senhor Sitchin escreveu o seu livro durante uma crise de delírio e depois de ter escapado de algum retiro psiquiátrico, o homem passou 30(!) anos a estudar a língua, a história e a arqueologia do antigo Próximo Oriente, decifrou textos sumérios, babilónicos, assírios, hititas, cananitas e bíblicos.... E juntando tudo concluiu o mesmo que muitos já tinham concluído, que todas as antigas civilizações testemunharam ter sido visitadas pelos seus deuses vindos do céu, mas com esta hipótese do planeta Nibiru apresentou, na opinião dos seus seguidores, a explicação mais racional para o donde e como é que eles vieram?, derrubando as barreiras da distância cósmica...
E se inúmeras previsões acerca do Armagedão e dos finais dos tempos já falharam rotundamente (a última foi em 2012 com a profecia dos Maias) porque não falhará também esta, afinal os seguidores de Sitchin  poderão muito bem ter-se enganado a fazer os cálculos e o Nibiru faltar ao encontro logo e só dar notícias daqui a uns séculos ou talvez, quem sabe, quando o 12 º calhau aparecer já não exista nada por aqui porque houve uma parelha de malucos -Kim&Trump- que decidiram armar-se em Nefilins...


A Terra vista de Nibiru




João Iniciado

(Membro da Ordem de Valmedo)



VÍDEOCHAMADA # 7

A CRISE E O FIM DO MUNDO...



Amigo Rui, hoje a minha vídeochamada é curta, ao jeito de um café expresso porque não há muito a dizer sobre a arbitragem (VAR incluído) e sobre a exibição no jogo com o BOAVISTA... Felizmente não houve casos e a derrota foi tão merecida quanto inequívoca, a equipa não jogou um chavo e assim que se viu a vencer logo aos 7 minutos ficou, mais uma vez, à espera dos acontecimentos, não teve coragem, arte e engenho para resolver o jogo... CRISE!!!! Não se fala de outra coisa mas tomáramos nós que as crises do mundo global fossem tão simples de resolver como as do futebol em que basta um par de vitórias e uma exibição mais a preceito para que tudo volte à normalidade e afinal aquilo que era uma crise não passava apenas de que um mau momento....






Por isso, amigo Rui, para dares cabo desta angustiante crise basta derrotares logo o PAÇOS e voltares a dar alegrias aos adeptos que começam a perder a paciência para tanta incompetência da equipa! E pior do que a tua é a crise de valores que floresce no futebol português, segundo o presidente da Federação, e acrescento eu, pior ainda é a crise mundial com a guerra aberta pelos anormais líderes da América e da Coreia... E pronto, talvez não valha a pena chatear-mo-nos tanto assim, afinal todas estas crises podem acabar logo à noite com o anunciado fim do mundo que uns certos iluminados afiançam que irá mesmo acontecer, tudo culpa de um misterioso planeta que se dirige para a Terra em contramão! Mas pelo sim pelo não, mesmo que já não haja mundo amanhã alcança lá uma eventual derradeira e saborosa vitória... Pelo menos o grande mundo benfiquista acabaria em beleza!


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OS RIOS SÃO VERDES E NÃO CORREM PARA O MAR...


Hoje, no Oeste, os rios são verdes e não correm para o mar... Não correm para o mar nem para lado nenhum tal é a vegetação que abunda nos seus leitos e que aprisiona a débil corrente nas zonas em que ainda resiste alguma água...  



Rio Alcabrichel



Alguns rios estão até completamente secos e assim vão continuar até ao aparecimento das chuvas, como é o caso do Rio Grande que está transformado desde a sua nascente num luxuriante jardim... E mesmo que chova abundantemente entretanto conseguirá a água circular?



A floresta do leito do Rio Grande


Os rios, como os lagos ou albufeiras, podem ciclicamente tornar-se VERDES devido à eutrofização, um fenómeno que se caracteriza pela existência abundante de nutrientes na água, essencialmente fósforo e azoto (um belo caldo adubante), originando uma proliferação excessiva de cianobactérias, algas e outras plantas que revestem a superfície da água com um espesso e belo manto verde....



Alcabrichel no Vimeiro
   

Seria apenas um caso de expressão de beleza da natureza se não se soubesse que o que está na origem deste fenómeno é a contaminação das águas com esgotos domésticos ou com fertilizantes agrícolas... Os rios verdes não estão, portanto, de boa saúde, até parece que comeram algo estragado....



Rio Grande na Várzea



Já outros estão verdes porque deixaram de ser rios e passaram a ser serpenteantes e densas florestas... Até quando?



João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)

terça-feira, 19 de setembro de 2017

EU, O ADUBO E A NATUREZA....



- Mau, mau, James.... - ouvi a N. dizer-me, com ar de zangada, enquanto analisava o aspecto da planta... - Mas o que é que te deu agora para andares a fazer xixi para a minha planta preferida? Vou-me zangar, vou.... - e apontava com um dedo acusador para o vaso de onde ainda escorriam ainda umas gotas do meu líquido marcador de território...
- Já sabes que é ali que deves fazer as tuas necessidades, não sabes? - disse ainda com mais vigor enquanto se debruçava sobre o meu nariz... E nestas situações embaraçosas não me resta outra coisa do que baixar as orelhas e encenar aquele olhar triste de quem está arrependido, ao fim e ao cabo de quem foi traído pelos seus impulsos.... Nunca vos aconteceu?



Eu e a hortênsia....


Amigos caninos, eu também não encontro explicação para o facto de, embora ter à minha disposição um generoso rectângulo de relva para as minhas actividades fisiológicas, ser irresistivelmente atraído por aquele vaso donde brota uma HORTÊNSIA de mil fragrâncias e que me dão a volta à cabeça.... O certo é que, de vez em quando, lá levanto a pata traseira fora da poça e lá vai feromona....

Acho que os humanos não entendem lá muito bem este assunto porque parece que têm um sentido do cheiro muito reles, disse-me o J.C, o olfacto deles é para aí umas 40 vezes mais fraco do que o nosso! Já viram»? Então como é que conseguem perceber as relações que nós desenvolvemos com a natureza? E por falar nele, e mesmo a propósito, eis que o J.C está chegando, em plena manobra de estacionamento da sua ruidosa viatura. Aproveitando o facto, fujo à situação embaraçosa com a N. e debruço-me sobre o muro.
   - Hum, James, parece-me que fizeste alguma, não?
Como é que ele adivinhou?
   - Claro que fez! - lançou a N. ainda de cara fechada, enquanto esfregava o local do crime com água e lixívia..... -  Então não é que agora desatou a implicar com a minha hortênsia? Confunde este vaso com um bacio, está visto! E o estranho da coisa é que esta é a planta que mais cresce!



- Ora, - disse o J.C - até parece que não sabes que a urina é dos melhores adubos que existem, tem muita ureia, ou seja, nitratos, que é aquilo que as plantas querem para crescer....
E enquanto eu e a N. dávamos um ar de surpresa, ele continuava....
 - Antigamente, lá pelo meu Ribatejo, e quando ainda se usavam bacios para recolher as bexiguices nocturnas, elas eram despejadas na horta e as couves agradeciam, cresciam que era uma maravilha graças a esse adubo de excelente qualidade e ainda por cima de borla....

É engraçado, amigos caninos, como descobri outra excelente qualidade nossa: podemos contribuir para um mais rápido crescimento das plantas!
Olhei para a N. e só ouvi:
 - LIVRA-TE!
E fui-me enroscar dentro da minha casota....






Couves adubadas por mim


James

(Cão de Valmedo)

EFEMÉRIDE # 24

LIVRES, SELVAGENS, TRÁGICOS...



Passam hoje 49 (!) anos - 19 de Setembro de 1968 - que uma das músicas mais icónicas de sempre da história da música popular atingiu o estatuto de "disco de ouro": Born to be wild, dos canadianos STEPPENWOLF...
A canção, só por si, já estaria destinada à fama eterna devido à sua letra inspirada e inspiradora para quem gosta de motos e que marcou o próprio rock devido a um verso que daria origem ao termo  Heavy Metal:

(...) I like smoke and lightning
       Heavy metal thunder
       Racing in the wind
       And the feel that I'm under....

Qualquer coisa do género:

                                                                         Eu gosto da fumarada e do relâmpago,
                                                                         do estrondo pesado do metal,
                                                                         de correr ao sabor do vento  
      Born to be wild                                          e da sensação que isso me dá....











Como se isso não bastasse, o tema iria ser no ano seguinte (1969) o hino de EASY RIDER, um filme que se tornaria no símbolo de uma geração hippie em confronto com o sistema, vivendo sob a sombra trágica da guerra do Vietname e no auge de outras convulsões sociais de uma América racista, caduca e doente... É muito mais que uma aventura de dois motards pelas paisagens americanas, é um hino ao desejo de liberdade e que junta no elenco três actores míticos: Dennis Hopper, Peter Fonda e Jack Nicholson.... Sendo a banda sonora de tamanho evento, Born to be wild atingiu o nível mítico da arte...



João Sem Dó

(Musicólogo de Valmedo)

sábado, 16 de setembro de 2017

Memória com meio século



VÍDEOCHAMADA # 6 


LADRAR, CAVAR, CHOURIÇAR...



Amigo Rui, agora que a poeira assentou torna-se mais limpa a análise ao que se passou no último jogo da Liga, em todos os aspectos... Comecemos pelo VAR que tanta celeuma criou por ter anulado - E MUITO BEM!!! - um golo ao PORTIMONENSE mesmo ao cair do pano e as horas de debate aceso e inflamado que tal lance originou lançaram luz sobre aquilo que os nossos inimigos pretendiam do sistema: decidir, ao extremo, contra o glorioso, mesmo que se trate de um lance bem ajuizado (imaginemos se assim não fosse!)... Cinco jornadas passaram e, pela minha contabilidade, nem um ponto a mais nem um ponto a menos temos por erros de arbitragem e assim a santa aliança vai continuar a ladrar e a ladrar enquanto a caravana vai passando... 

Outro lance que irritou muita gente foi o penalty sobre o SÁLVIO, mais uma vez bem assinalado e aí há que analisar todo o lance e não apenas as fotos manhosas que alguns (pouco escrupulosos) publicaram e em que se vê o nosso jogador prestes a cair (admite-se teatro a mais) e o adversário atrás sem qualquer contacto, mas se toda a jogada for analisada (ver vídeo) é notório o empurrão do defesa com o braço direito! Mais uma vez ladraram em vão ao acusar o argentino de andar a CAVAR penalties... Agora não te esqueças de corrigir o seguinte, amigo Rui, se o JONAS anda a teatralizar pouco como em Vila do Conde também o Sálvio exagerou porque não havia necessidade e tivesse ele caído com menos mergulho teria sido sempre penalidade!




Parece teatro, aparentemente...





O chouriço
Já pouco se falou (porque não interessa muito) sobre o outro golo do Portimonense - aquele que contou - e que foi irregular porque é precedido de falta claríssima sobre o ANDRÉ ALMEIDA, no início da jogada... E se o resultado tivesse sido um empate por erros de arbitragem e vídeochamadas em nosso prejuízo, estaria tudo bem? Claro que sim, não é esse o objectivo dos rivais, ganhar a todo o custo, ainda que com dois pesos e duas medidas? E assim vai continuar, tudo o que alcançares, amigo Rui, e sei que estás preparado para isso, terá que ser limpo até ao milímetro como até aqui... Estou é muito desconfiado do futuro pelos preocupantes sinais que a tua equipa vem demonstrando, a exibição frente aos algarvios foi vergonhosa e desesperante, apresentaste uma equipa sem alma e ponta de criatividade, lenta de processos e reacção, velha... Mesmo a jogar contra dez tremeu-se por todo lado e se não fosse o famoso chouriço à Puskas ainda teria sido pior.... Dia mau? Acidente de percurso? Erro teu de casting? Terás que demonstrar isso já no Bessa e se não fores convincente abrirás certamente uma caixa de Pandora de inúmeras serpentes e mil perigos... E já basta andarem alguns a ladrar e outros a cavar, não queiras ver os benfiquistas a BRADAR aos céus, amigo Rui, por isso, boa sorte para logo....


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sexta-feira, 15 de setembro de 2017






Moledo - Lourinhã








"A morte de Inês"


Joana Alves


(Modelação em pedra de Moledo)





Jean Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

O destino de Pedro


Faz o caminho o peregrino, atormentado,
vindo da sua serra pela hora primeira,
refulge a mortiça luz na crina do alazão
debandam veados, espreitam javalis,
cerram-se o mato e o denso carrascal
mas hoje não é dia de caça nem de aventura...

Ao infante assalta o desejo, desgraçado,
desespera por Inês, bela, corajosa, inteira,
nenhuma vontade domina a secreta paixão,
nem El-Rei ou seus verdugos, os servis,
a podem impedir, ela é trágica, intemporal,
heróica, negra memória que perdura...

Tudo a galope que a sede exalta a vontade,
cortesãos delicados e escudeiro mui alerta
anseiam pelo planalto que César afamou,
eis o vale da carqueja, pedra tornada lameira, 
"Aqui a passo" - grita o príncipe versado -
antes tarde e seguro que formoso e partido...


Um pastor implora mercê a sua majestade
e para a injusta vida o lhano Pedro desperta
mas o escrivão não lhe vale, a pena secou...
Vale o desígnio do santo galego, ali à beira,
que mantém o Baphomet bem acorrentado
e a demanda do santo graal no bom sentido...

Amante e cavalo matam a sede na nascente, 
fonte tornada real, pelo mosteiro abençoada,
sobem agora por veredas de oregãos e alecrim,
já se avista o moledo da prometida paixão
mas nem o bairro das poesias palavras terá
que falha justiça façam ao pungente amor...

Cantarão os milhafres e cantará toda a gente
que lenda igual não haverá, nem inventada,
eis o formoso colo da garça palpitante, enfim,
eterna raínha será depois da miserável traição
mas nem Garcia, Camões ou Columbano haverá
que descreva tanta raiva e a sublime dor...





"A coroação de Inês" - Pierre Charles Comte - 1849



J.C

(Poeta de Valmedo)

sexta-feira, 8 de setembro de 2017




"Espaço visto do planeta X"




João Plástico

(Artista de Valmedo)

VÍDEOCHAMADA # 5


O TEATRO, A PARÓDIA E O PALCO


Amigo Rui, apetece dizer que a encenação da equipa no anfiteatro de Vila do Conde ficou aquém do esperado, os nossos actores não estiveram numa noite inspirada por aí além e por lá ficaram dois pontinhos e o primeiro amargo de boca, mas algum dia haveria de acontecer e resta-nos o consolo de ter sido diante de figurante de grande nível e que terá o ensejo de confirmar as suas artes quando contracenar com os nossos rivais... Poderia até o castigo ter sido pior tal era a desinspiração na área adversária e valeu-nos aquele penalty oferecido pelo Marcão ao agarrar o JONAS, talvez escusadamente, mas a verdade é que a falta existiu e se foi bem assinalada pelo árbitro (e o VÍDEOÁRBITRO não desmentiu) foi ainda melhor marcada!





E se o lance se tornou polémico tal ficou a dever-se aos aziados do costume que logo puseram em causa a intensidade do agarrão, tipo "o gajo nem caíu" ou "o gajo nem chegava à bola" ou "quantas vezes existem agarrões destes na área e não são assinalados?", etc, etc... Uma autêntica paródia! A verdade é que foi mesmo falta, ponto final! Mas agora, amigo Rui, aconselha lá o Jonas a fazer teatro da próxima vez para não ferir susceptibilidades, ele que dê três piruetas, um salto mortal ou um mergulho empranchado e que se estatele ao comprido na área, qual artista circense, embora eu desconfie que nunca conseguirá atingir aquela leveza do holandês Dost que conseguiu fazer um salto de ballet perfeito e de braços abertos ao sentir a respiração do defesa contrário, um verdadeiro e perfeito grand jetté que convenceu o árbitro e demais apreciadores de malabarismos e assim, qual Nureyev, conquistar três pontos mesmo no último suspiro do bailado! Enfim...





E até poderia haver ainda outra polémica em Vila do Conde se o árbitro tivesse assinalado outra grande penalidade a nosso favor por mão na bola de um jogador do Rio Ave mas aceita-se que o não tenha feito por ter sido um lance à queima-roupa, mas já se viu mãozinhas bem menos activas serem penalizadas...  
E, amigo Rui, que dizer da partida de logo com o PORTIMONENSE que não passe por uma vitória e uma exibição convincentes, até para esquecer o último resultado? Ainda para mais é no nosso palco, o qual temos que tornar numa arena inexpugnável, num martírio para os nossos adversários e uma tragédia que só não será grega porque o MITROGLOU se foi... Entretanto parece que alguns lesionados cronicos estão de volta à equipa (Sálvio, Grimaldo...) pelo que, com a novidade do GABIGOL, estão reunidas as condições para um espectáculo que delicie a plateia.... E até logo que vou indo porque já estou ouvindo as pancadinhas de Moliére....





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sexta-feira, 1 de setembro de 2017


EFEMÉRIDE # 23



O GÉNIO, O PAPEL E O MUNDO



Passam hoje 48 anos sobre o lançamento de um álbum especial e marcante da música popular... No dia 1 de Setembro de 1969 via a luz do dia "FIVE LEAVES LEFT", a primeira das três obras de NICK DRAKE, um efémero mas inspirado músico  inglês...
Nick era uma daquelas almas que não cabem neste mundo, esteve apenas de passagem e nessa breve viagem deixou-nos palavras e sons de uma dimensão longínqua. Com uma mente inquieta e desalinhada, propensa ao delírio e à depressão, navegou sempre por caminhos solitários, rejeitando uma sociedade que não compreendia, apesar do conforto que as raízes familiares da alta aristocracia lhe concedia... E como não poderia deixar de ser, estudou literatura e os grandes poetas, inspirando-se neles para as suas letras sobre o que lhe parecia mais genuíno, a natureza, a lua, as estrelas, o céu, tudo o que estava para além das pessoas... E o primeiro tema deste seu primeiro álbum (Time has told me) não poderia ser mais profético:



"O tempo disse-me:
-Tu és um caso raro,
uma cura problemática
para uma problemática mente...

E o tempo me disse
para não exigir demais
porque algum dia o nosso oceano
há-de encontar a sua praia"



Nick Drake, para além de um poeta da natureza imaculada sentia-se à vontade no piano, fruto das obrigatórias lições impostas pelo estatuto social, ou no clarinete e saxofone mas era sobretudo um virtuoso na viola à qual dedicou muito tempo de aprendizagem, aptidão muito mal vista pela família por considerar o instrumento indigno e rebelde... Five leaves left é um título que espelha essa mesma rebeldia e insatisfação de Nick para com o mundo e não passa de uma irónica alusão à mensagem que surgia nos pacotes de papel de enrolar cigarros RIZLA: "Restam cinco folhas".   Mais uma vez a alusão a um caminho para o fim, a ambicionada libertação de uma alma em sofrimento...


Entre episódios psiquiátricos e delírios musicais, Nick Drake ia-se refugiando no consumo de alucinogénios e na música, tendo resistindo até aos 26 (!) anos quando uma morte polémica o levou... Para alguns terá sido suicídio, para outros apenas uma sobredosagem acidental de medicamentos para os distúrbios depressivos, seja como for deixou-nos três obras primas, esta em particular que ainda recentemente foi considerada um dos 100 melhores álbuns de sempre!...  A descobrir e a desfrutar! E resta ainda a curiosidade de os músicos que acompanharam Nick Drake neste Five Leaves Left serem simplesmente os Fairport Convention...





Nick atormentado entre folhas outonais....








João Sem Dó

(Musicólogo de Valmedo)