OS SANTOS, A MEMÓRIA E A AJUDA - III
Torre do Galo |
D. JOSÉ I morreu em 1777 e sucedeu-lhe a filha, D. MARIA I, a primeira mulher a ocupar o trono português e que era casada com o seu tio, D. Pedro III, irmão de D.José. O casal vivera até então afastado da política no recato do Palácio de Queluz (mandado construir pelo marido da rainha em 1747) e foi contrariado que o par régio teve que se mudar para o Paço de Madeira da Ajuda para assumir a regência. D. Maria, que nunca achara piada ao facto de morar num barracão, tratou entretanto de tornar Queluz na residência real de Verão onde organizava inúmeras festas, espectáculos e recepções faustosas, relegando a Ajuda para segundo plano... No entanto, a rainha seria dada como louca em 1791 (quem garante que não endoidecera muito antes?) e provavelmente nem se apercebeu da tragédia testemunhada pelo galinácio empoleirado no cocoruto da TORRE DO GALO, não se sabe se o bicho deu sinal nessa noite aziaga mas, ardida a BARRACA REAL em 1794, outro galo cantaria: logo o príncipe regente D. João tratou de transferir definitivamente a morada real para o requintado e afrancesado ambiente de Queluz... Aí permaneceria a família real até ao exílio para o Brasil, em 1807....
Desaparecidos os luxuosos barracões de madeira rapidamente se projectou a construção de um grande palácio real que Lisboa ainda não tinha e que se pudesse equiparar em magnificência às outras monarquias europeias que ostentavam o Real Palácio em Madrid, Schonbrunn em Viena ou Versailles em Paris.... Uma loucura própria de quem tem a mania das grandezas....
Assim, o ainda príncipe D. João aprova a construção de um sumptuoso palácio ali mesmo ao lado do local onde existira a Real Barraca e em 1795 inicia-se a construção do enorme edifício que nunca será concluído: primeiro a crise económica derivada da redução das receitas vindas do Brasil, segundo as invasões francesas e ainda a revolução liberal acarretaram constantes interrupções na obra de tal forma que aquilo que é hoje o PALÁCIO DA AJUDA constitui apenas uma pequena parte do que estava planificado...
Assim, o ainda príncipe D. João aprova a construção de um sumptuoso palácio ali mesmo ao lado do local onde existira a Real Barraca e em 1795 inicia-se a construção do enorme edifício que nunca será concluído: primeiro a crise económica derivada da redução das receitas vindas do Brasil, segundo as invasões francesas e ainda a revolução liberal acarretaram constantes interrupções na obra de tal forma que aquilo que é hoje o PALÁCIO DA AJUDA constitui apenas uma pequena parte do que estava planificado...
Quando D. JOÃO VI regressa do Brasil em 1821 (vinte e seis anos após o início das obras) já as alas nascente e sul do palácio estavam em condições de ser habitadas mas grande parte do edifício continua por concluir e assim se mantém até aos dias de hoje...
Ala poente do Palácio da Ajuda |
Mas eis que passados 221 anos sobre o início da sua construção, mais exactamente no passado dia 19 de Setembro, foi assinado o protocolo que estipula a conclusão do Palácio da Ajuda em Dezembro de 2018! O projecto da conclusão do palácio é da autoria do arquitecto João Carlos Santos, pelo menos já não é necessário ir buscar alguém à Itália para construir uma fonte que seja, e a empreitada custará 15 milhões de euros (dos quais 11 milhões virão da taxa turística, segundo a Câmara Municipal de Lisboa) e prevê a instalação na inacabada ala poente de um espaço museológico que albergará as JÓIAS DA COROA, entre as quais figurará aquela que é considerada a maior pepita de ouro do mundo! Esperemos para ver, mas que esta seja uma loucura que tenha sucesso...
Palácio da Ajuda - Ala poente vista da Calçada da Ajuda |
João Alembradura
(Historiador de Valmedo)