NASCIDO PARA EXPLORADOR...
- Repara, James, parece que além em cima andam à cata de mais dinossauros! - disse o J.C, apontado para o alto da arriba...
- Daqueles bichos enormes que já não existem a não ser no DinoPark?- perguntei eu, amigos caninos, ao mesmo que ia pensando se não faltaria alguém da nossa espécie naquele grupo de exploradores, alguém como eu que adora cheirar, revolver e cheirar outra vez e outra vez... Mas o J.C já não me ouvia, tinha tirado a sua máquina retratadeira para captar a imagem.
Estava um dia luminoso e quente aqui por Verde-Erva-sobre-o-Mar e a maré vazia também ajudava ao libertar o imenso areal que convidava para umas corridinhas...
- Queres ficar ali com eles, James? Tu, que gostas tanto de explorar e com o teu faro apuradíssimo talvez ajudasses a encontrar algo de importante.
Não respondi mas ia pensando que a coisa teria muito mais piada se o alvo da pesquisa não fosse apenas partes do esqueleto daquelas famosas criaturas mas sim se pudéssemos descobrir um verdadeiro dinossauro, de carne e osso...
- Sabes, James, acho uma actividade deveras interessante, gostaria de ter experimentado, se tivesse vinte anos outra vez talvez enveredasse por uma carreira de paleontólogo..
- Paleoquê?
- É o que aqueles cientistas andam ali a fazer, bicho, estudaram Biologia e Geologia e ao analisar os fósseis que encontram vão desenterrando a história do passado...
- Ah! Então mas não és tu que fazes análises também? Sendo assim, basta mudares-te lá do sítio para onde costumas ir trabalhar e do qual dizes estar farto e vires para aqui analisar... Para além de paleontologares ainda passarias o tempo em plena natureza. E eu seria o teu parceiro...
- Oh, bicho! Quem me dera, mas já te disse muitas vezes que o mundo dos humanos é muito complicado.
Olha que novidade, pensei eu, amigos caninos, careca de saber a confusão que vai pela cabeça das pessoas. E enquanto analisava se valeria a pena escalar a íngreme falésia para ir cheirar de perto a actividade daqueles homens de ciência e aprender mais umas coisas, ouço uma voz ao longe:
- Então James, vou dar-te um bigode!
Era o J.C a desafiar-me para uma corrida injusta, o batoteiro tinha-me apanhado distraído e já me levava uns bons cem metros de avanço e corria que nem um desalmado mas como eu não sou de me ficar lá aceitei o repto e lancei-me a todo o gás no seu encalço...
- Corre bicho, que estás gordo!
- Olha quem fala! - rosnei enquanto já tinha recuperado metade da distância. Escusado será dizer que ainda lhe ganhei por meia pata e enquanto o J.C se espalhou ao comprido no final do Caniçal, dizendo que estava morto, eu deambulei um pouco por ali, por entre rochas e poças de água e então vi...
As misteriosas pegadas... |
Era um rasto de pegadas enormes, amigos caninos, eu cabia naqueles sulcos na areia e olhei em volta à procura do animal que tinha deixado aquelas marcas mas as únicas criaturas visíveis em toda a praia éramos nós.
- Que encontraste, James? - ouvi atrás de mim, vindo de um J.C curvado de mãos nos joelhos, ainda ofegante e olhar esgazeado.
- Será que... - ia eu perguntar...
- Bicho, isto é muito estranho! Já viste o tamanho e olha só...-o J.C estava agora acocorado ao meu lado, com uns esgares de dor e apontando para um pormenor da pegada - Isto são garras, repara, e a fera deve ser bem grande e pesada pelos sulcos que deixou na areia. Pode bem ser um dinossauro que passou por aqui e recentemente porque a areia ainda não absorveu esta água!
- Então mas não dizem os teus amigos cientistas que os dinossauros estão extintos? -
- Sim, mas este mundo, cão, está sempre a surpreender-nos, quem sabe se eles ainda existem por aí. - disse ele, enigmático, deixando-me na dúvida se falava a sério ou se estava meter-se comigo.
- Então, porque esperamos, vamos seguir o rasto e descobrir o paradeiro...
- Calma aí, bicho! - interrompeu de chofre o J.C - Não temos tempo para isso agora, lembra-te que tenho que ir trabalhar daqui a nada...
E olhei para ele, incrédulo, iríamos perder uma oportunidade de ouro para ficar na História se conseguíssemos descobrir e provar que os dinossauros ainda vivem e que andam por aí neste mundo anacrónico em que é mais fácil encontrá-los imóveis e plastificados em parques e rotundas.
- Não desanimes, James, voltaremos cá em breve e iremos explorar esta zona em busca do nosso amigo dinossauro. Seremos famosos, vais ver! E tu, está visto, nasceste para explorador...
Essa coisa esquisita da fama que tanto move os humanos é, como devem calcular, o que menos me importa neste caso, amigos caninos, eu vou aqui acabrunhado a ouvir o J.C mas vou a matutar no modo como escapulir-me de casa sem dar nas vistas e regressar àquela praia para encontrar eu próprio aquele dinossauro. É que o J.C não é de confiar nestas coisas das combinações, o passeio é para amanhã, havemos de ir aqui e ali, etc, etc, mas depois aparece sempre alguma coisa vinda daquele mundo esquizofrénico dele que inviabiliza os projectos. Neste caso vital para a ciência, meus amigos, não vou desarmar, hei-de, com ou sem J.C, fazer a descoberta do século!
JAMES
(Cão de Valmedo)