terça-feira, 31 de julho de 2018

"Geometria paralelepípeda"

Jean Charles Forgeronne)

(Fotógrafo de Valmedo)

"Geometria cilíndrica"


Jean Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

INTO THE MYSTIC - Van Morrison



VIAGEM AO MARAVILHOSO

Nascemos antes do vento
e também somos mais velhos do que o sol,
já antes desta galante nau
nós navegávamos rumo ao misterioso...
Escuta, ouve agora o pranto dos marinheiros,
cheira o mar e sente o céu,
deixa a tua alma e o teu espírito voarem
até ao sobrenatural...
E enquanto aquela trombeta de neblina soprar
eu estarei mais perto de ti,
e quando ela soprar eu quero ouvi-la,
não terei medo dela
pois só quero agitar a tua alma rebelde
regressando aos dias de antigamente
e então, com esplendor,
mergulharemos no místico...
E enquanto a trombeta soar
eu estarei mais perto de ti,
e eu quero ouvi-la...


Tradução livre de J.C (poeta de Valmedo)



domingo, 29 de julho de 2018

quarta-feira, 25 de julho de 2018



T.B. SHEETS OU AS MERDAS DO TIBI...


"Agarra TIBI!", a famosa frase que saía do rádio a pilhas aquando do relato da bola nas tardes de domingo, começou a ouvir-se sempre que o esférico ia chutado em direcção à baliza onde o menino que gostava de ser guarda-redes de vez em quando e já com os joelhos em sangue de tanto voo e saída destemida fazia os impossíveis para manter inviolado o sonho da vitória... A culpa foi do Pirata, nome terrível para alguém que, embora mascarada de ares sérios e olhares inquisidores e vesgos, mostrava ser uma pessoa divertida e positiva. O menino ainda começou por protestar a alcunha pirateada, não queria ser o TIBI porque esse não era um herói do BENFICA, antes uma lenda do Leixões e das Antas, gritava ele que antes queria ser o BENTO, ribatejano como ele ainda por cima, mas com o tempo e com a insistência, a coisa colou, passou a ser mesmo o TIBI e ainda hoje o volta a ser quando reencontra algum companheiro desses longínquos e admiráveis tempos de felicidade...






Entretanto o menino cresceu e foi descobrindo novas coisas e novos mundos, algumas das quais colocou num baú de memórias especiais e das quais nunca quereria desligar-se... Chamou a esse baú  "AS MERDAS DO TIBI" e de entre elas lá se encontra desde tempos adolescentes o T.B. SHEETS do Sir VAN MORRISON, culpa da engraçada homofonia entre "T.B. SHEETS" e "TIBI SHITS"...
Mas não foi só por isso, a música tocou-lhe fundo pelo ritmo, pela voz e pelo sentimento... Só muito mais tarde viria a descobrir a verdadeira história sobre os nove e tal minutos daquela canção inebriante, afinal era um desesperado hino sobre a injustiça e sobre a morte anunciada de alguém que se ama e da humana impotência em mudar o destino... Os T.B SHEETS afinal eram os lençóis da tuberculose da Júlia, namorada de Morrison, e todo o ambiente da música se reduz a um quarto asfixiante de dor e sofrimento, mas apesar desse lado negro mantém ainda hoje a magia incontornável das músicas geniais... 


"Agora ouve, Julie querida,
não é natural que chores à noite,
não é normal que chores pela noite dentro
até antes do amanhecer...
Oh Deus!..."


Uma das melhores músicas de sempre sobre a perda e o sofrimento, alguém disse....











E a lenda está de volta à Lusitânia para um concerto especial para o TIBI, tantos anos depois das defesas nas balizas improvisadas será a primeira e provavelmente a última vez que o verá em palco, mas certo é que essa memória irá ser guardada a sete chaves no baú das suas merdas...



João Sem Dó

(Musicólogo de Valmedo)


DIA DE VACINA...



Amigos caninos, quando eu inesperadamente me apercebo que o J.C está a encher o meu cantil e a N. tem a minha coleira na mão, a coisa muda de figura: o que seria um dia normal, igual a tantos outros, torna-se um dia especial e então eu não resisto, salto, ladro, revolteio, sento-me de olhar esgazeado e cauda baterista, corro até à porta da rua e ali me quedo, ofegante e por breves segundos até voltar atrás onde eles estão e repetir tudo outra vez... Vamos explorar Verde-Erva-Sobre-o-Mar! É a única coisa que me vem ao pensamento e isso, meus amigos, é das melhores coisas da vida a que um cão pode aspirar....

   - Estás muito excitado, James! - diz o J.C - Olha que hoje não é apenas um dia de passeio, é dia de vacina... 
    - Dia de vacina? -  interrogo-me eu.. - O que será isso?.. 
Mas ninguém me ouvia, a N. distraída numa coisa chamada de caderneta e o J.C às voltas com a protecção para o banco do carro, não fosse eu, no meio de tanta excitação e garra afiada, danificar outra vez os bancos frágeis da sua viatura...



A caminho...


E lá fomos, curiosos, entre muitos "calma James" e alguns "quieto, bicho, é só uma vacina!" até um sitio que desconhecia, ao encontro de uma personagem curiosa de voz amigável e que,  assim que a ouvi, instantaneamente me apercebi de já ter visto e ouvido antes...
  - Boa, vais ser o primeiro, James... - exultou o J.C... 
  - Calma, James... -disse a N. - Agora o doutor vai só dar uma pica...
  - Uma quê? - ia eu perguntar, mas não perguntei porque a coisa foi tão rápida que quase não aconteceu, um pequeno ardor aqui nas pregas do pescoço e pronto, tudo feito...
   - Lindo menino - ainda disse a N. mas já o veterinário estava de atenção noutro amigo canino e já nós nos dirigíamos para o carro...



A pica...


E foi nesse breve trajecto que percebi e recordei tudo outra vez: o dia da vacina, afinal, é aquele em que no largo da aldeia se juntam muitos donos e bastantes cães para levarem aquela dita vacina... E, amigos caninos, como eu gosto desse dia, é uma festa, muitas cãdonzelas e amigos caninos reunidos, troca de olhares sedutores e de perfumes estonteantes, promessas de novos encontros... E que dizer daquela cãdonzela  que, embora atrelada a uma senhora de ar distinto e protector, me lançou um certo olhar que me atingiu a alma, que paixão, que amor não poderia existir entre nós, suspirei eu, puxado à força....




Dia de mimos...


E depois, neste dia da vacina, somos contemplados com uma simpatia extra: "Lindo menino, portaste-te bem!" - dizia a N. e mais uma festinha e mais uma atenção:
  - Ok, - disse o J.C. - já que te portaste bem vamos lá dar um passeio....
E aí sim, vem a melhor parte do dia, embrenhamo-nos pela mata do MOLEDO e foi simplesmente uma maravilha poder desfrutar da natureza pura...








E tudo corria de forma tranquila e maravilhosa até ao instante em que, quase no final da jornada aventureira, me deparei com esta alucinação:




"Gárgula do Palácio Real" - Moledo



Fiquei petrificado, como devem calcular, o meu pêlo deve ter passado do branco e do amarelo para roxo... Mas entretanto ouvi a voz do J.C, num tom bem mais tranquilizador e optimista do que é habitual:
  - Calma bicho... - É apenas uma escultura, um boneco, uma obra de arte que não te vai fazer mal... 
E então suspirei, inalei todo o ar que me foi possível e disse para o J.C e para a N..
  - Porque é que não há mais dias da vacina?
E perante o ar estranho que me devolveram, reiterei:
  - Sim, gosto do dia da vacina.... Oxalá houvesse um todos os meses....



James

(Cão de Valmedo)

sábado, 21 de julho de 2018


" Gárgula do Palácio Real" - Moledo



Jean Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

quinta-feira, 19 de julho de 2018









A Jeanne de Modigliani, segundo J.P, um verdadeiro artista degenerado...




João Plástico

(Artista de Valmedo)


EFEMÉRIDE #  49


A ARTE E OS DEGENERADOS...


No dia 19 de Julho de 1937, inaugurou-se em MUNIQUE uma grande exposição de artistas contemporâneos, apelidada de "ENTARTENE KUNST" ou "ARTE DEGENERADA" e que reuniu mais de 700 obras de uma centena de autores banidos pelos Nazis por atentarem contra a pureza da arte ariana, sendo catalogadas de decadentes, anormais, não alemães e moralmente ofensivas... Entre elas contavam-se obras de artistas alemães vanguardistas como KOKOSCHKA, KANDISNSKY ou PAUL KLEE mas também de outras nacionalidades como MODIGLIANI ou MARC CHAGAL...
HITLER, uma criatura degenerada e um pintor ainda mais horrível, e GOEBBELS, o seu depravado cérebro direito, lideravam estas campanhas maquiavélicas contra a arte moderna, não só integrando o júri que ditava as regras para a escolha das obras a exibir primeiro e a queimar depois, embora algumas delas, depois de roubadas, possam ter sido vendidas para o estrangeiro, mas também incitando à perseguição daqueles artistas indignos aos olhos do III Reich!...







Esta exposição, que tinha como única finalidade difamar e aniquilar os autores em cartaz, alcançou um sucesso ímpar: nos quatro meses que esteve em exposição em Munique, cativou cerca de dois milhões de visitantes, para além de outros dois milhões que a visitaram nos três anos seguintes enquanto andava em digressão por várias cidades alemãs e austríacas... Nenhuma outra exposição de arte contemporânea almejou tanto êxito até aos dias de hoje! Curiosamente, outra exposição que os Nazis tinham montado, na mesma altura e precisamente num edifício mesmo em frente, com o propósito de mostrar aos alemães a diferença para a verdadeira arte que preservava a pura tradição do génio ariano, herdeira do realismo do século anterior, apenas granjeou a atenção de uma quinta parte de visitantes que teve a ENTARTETE KUNST!




Hitler visitando a Entartete Kunst



O jogo sujo utilizado pelos Nazis chegou ao ponto ornamentar as obras em exposição com legendas insultuosas, caracterizando-as de anormalidades e aberrações e até, ao compará-las com obras feitas por doentes mentais, questionar os visitantes quais seriam as feitas por lunáticos mentais internados...
Mas esta aberração não se ficou por aqui,  nos primeiros meses de 1937 foram retiradas das colecções públicas cerca de 16000 obras de 1400 artistas e os directores dos museus que tinham entretanto comprado algumas dessas obras foram imediatamente expurgados! Milhares de obras foram queimadas num acto de fé e muitas outras desapareceram, continuando ainda hoje em parte incerta....





Modigliani




Felizmente que a liberdade criativa sobreviveu e derrotou a degenerada filosofia nazi, não sem muitas vitimas humanas e perdas irreparáveis de obras magistrais...




João Plástico

(Artista de Valmedo)


terça-feira, 17 de julho de 2018




"ANÓNIMO" -  num local anónimo...


E gostaria de a chamar "VIOLETT UND GELB MADCHEN"...



João Plástico

(Artista de Valmedo)

segunda-feira, 16 de julho de 2018


CURIOSIDADES DO MUNDO CÃO - IV


O ASTRÓNOMO E O PINTOR DEGENERADO



"O Astrónomo" - Jan Vermeer, 1668



É um pequeno quadro, de apenas meio metro por meio metro, mas com uma enorme história para contar... Hoje em dia podemos observar "O ASTRÓNOMO, da autoria de VERMEER, em pleno LOUVRE...  mas isso acontece devido a um milagre: o império dos ROTHSCHILD, família judia alemã que espalharia o seu frutuoso negócio financeiro a partir do século XVII por toda a Europa e que viria, no século seguinte a tornar-se na maior fortuna privada do continente, tinha adquirido o quadro para a sua extraordinária colecção de arte. E assim se manteve até ao inicio da II Guerra Mundial...
Ameaçados pelo anátema nazi, os Rothschild esconderam a sua fabulosa colecção de arte em vários castelos franceses, afastados de Paris, então o centro da ocupação e da espionagem...  O Astrónomo acabou refugiado num chateau da Normandia, em segurança, mas apenas até HITLER ter tomado Paris, e daí até ter tomado posse da obra foi um ápice!




Quadros no interior de ALTAUSSEE


Os membros da família, ameaçados, abandonaram a França, deixando atrás de si os seus castelos, as suas propriedades e os seus tesouros artísticos... Entre eles, O Astrónomo, por coincidência, uma das obras preferidas de HITLER, um pintor medíocre e fracassado. E quando os ventos da guerra mudaram, quando a Alemanha passou de papão invencível a nação ameaçada, o fuhrer, o chefe nazi, aziado e invejoso, ordenou que se escondessem dos aliados todo o espólio de obras de arte roubadas durante a ocupação... E mais, antevendo a derrota final, deu ordens para que todas aquelas pinturas fabulosas, entretanto escondidas numas minas de sal (Aultaussee), fossem destruídas. Mas graças à coragem e ao bom senso de alguns engenheiros de minas que impediram o acesso dos nazis carregados de dinamite à mina, hoje podemos tranquilamente ir ao Louvre e deleitar-mo-nos com o Astrónomo...
Ele lá nos espera, numa existência mais pacífica!



João Plástico

(Artista de Valmedo)

quarta-feira, 11 de julho de 2018

"Ah! Eu bem vos digo que, se o mundo é redondo, com certeza que é para andar à volta dele."

in "O Involuntário"

Branquinho da Fonseca




O PONTO, A ESFERA E O ABSURDO... - III


Imaginemo-nos reduzidos ao tamanho minúsculo de um insecto, um pequeno escaravelho, por exemplo, a calcorrear uma imensa superfície com centenas de metros de extensão, sem podermos ver nenhum fim à coisa... Como poderemos saber se aquela superfície por onde avançamos será integralmente plana ou se, pelo contrário, será a superfície de uma esfera? O pequeno escaravelho, ou nós, só teria uma possibilidade: levantar voo e observar de longe toda a superfície... Mas como o escaravelho não tem asas e não pode voar ficará sempre sem saber por onde anda, já nós, mesmo que também não possamos voar, podemos sempre conjecturar com a matemática! Foi o que fez POINCARÉ: conjecturou, isto é, teorizou sem ter qualquer prova disso, que todo o espaço tridimensional fechado sem buracos tem uma forma esférica ou pode transformar-se numa esfera; esta conjectura é hoje válida após Grigori Perelman ter solucionado o problema que passou mais de um século na gaveta dos enigmas matemáticos insolúveis...  Para isso foi necessário fazer como o escaravelho, levantar voo para observar de cima e poder ver toda a superfície, isto é, fazer cálculos a partir de uma dimensão superior.


As Esferas de ESCHER


A conjectura de Poincaré também pressupõe que a ESFERA será o único espaço fechado  tridimensional em que todos os seus contornos, a partir da superfície, podem ser encolhidos até se chegar a um simples PONTO! Não é inocente esta teoria ou não tivesse tido o sábio francês um papel importante na elaboração da Teoria da Relatividade e, portanto, na TEORIA DO BIG BANG, que a meu ver bem se podia chamar a TEORIA DO ABSURDO, independentemente de estar certa ou não...
O certo é que, actualmente, é a teoria mais aceite entre a comunidade científica como explicação para a origem e caracterização do Universo, afirmando que no instante zero havia um ovo cósmico infinitamente pequeno, infinitamente denso e infinitamente quente, concentrado num tamanho inferior a um ponto feito por uma caneta numa folha de papel, inferior mesmo ao tamanho do núcleo de um átomo! No instante seguinte esse ovo cósmico explode e começa a expandir-se, dando origem a tudo o que conhecemos hoje: espaço, matéria e energia! ABSURDO? Claro que sim, digo eu, mas o certo é que foram encontradas provas que sustentam esta mirabolante ideia: primeiro, HUBBLE descobriu que as galáxias estão constantemente a afastarem-se uma das outras, para onde irão ninguém sabe - a própria Terra, embora nos pareça quietinha no seu cantinho do Sistema Solar, está a deslocar-se no espaço à velocidade de 15000 quilómetros por segundo! - e segundo, foi provada a existência de uma radiação de fundo emitida por essa suposta explosão primordial e que ainda hoje está a a passar por nós...






E se o Universo for um sistema fechado, como sustentam alguns, então a sua expansão terminará um dia devido à força da gravidade e começará a contrair-se, até chegar ao BIG CRUNCH, o colapso total num ponto infinitamente pequeno, infinitamente denso e infinitamente quente. Absurdo? Claro, mas que dá força à ideia de Poincaré, um Universo obrigatoriamente esférico que se reduz a um ponto e que, posteriormente, quem sabe, poderá dar origem a outro Big Bang, e a outro Universo novinho em folha...
No meio de tudo isto poder-se-á perguntar: qual foi a galinha cósmica que pôs este ovo? Mas o absurdo não fica por aqui, aliás é coisa que abunda neste mundo e muitas outras teorias cosmogónicas existem: há quem preconize um UNIVERSO ABERTO, outros elaboraram a TEORIA DOS UNIVERSOS BÉBÉS nascendo uns dos outros qual maternidade, outros ainda, talvez de formação mais ecológica, defendem a TEORIA DOS UNIVERSOS RECICLADOS, e pasme-se, há também muitos que estão convencidos de que o Universo é PLANO!!!!
Irónico como passados séculos sobre a teimosia dos nossos sábios ancestrais em jurarem que a Terra era plana e tendo ela depois ter-se revelado esférica, eis que na actualidade da tecnologia e da matemática computorizada e evoluída, vem alguém jurar que o Universo é plano quando até dá mais jeito que ele seja esférico... De absurdo em absurdo, a nossa TERRA vai viajando pelo espaço fora e girando, com relativa certeza e segurança e enquanto assim for podemos continuar a contemplar os milhões de estrelas lá no alto e imaginar quais serão a forma e a razão de existir de tudo isto...








João Plutónico

(Astrofísico de Valmedo)


segunda-feira, 9 de julho de 2018



O PONTO, A ESFERA E O ABSURDO... - II


Sabe-se, ou antes, pensa-se saber já muita coisa acerca do Universo e dúvidas não existem de que são dados mirabolantes, por exemplo o facto de ter surgido há 14 mil milhões de anos ou o de estimar-se que contém 100 mil milhões de galáxias, muitas delas bem maiores que a nossa VIA LÁCTEA! Respiremos fundo, são apenas números, mas assustam se pensarmos em nós e no nosso cantinho terreno, aqui escondidos num insignificante Sistema Solar: a TERRA foi formada já o Universo era velho de 9000 milhões de anos, o nosso SOL é uma estrela entre biliões de outras, com morte anunciada e apenas faltando a data do funeral e nós, seres humanos que nos julgamos especiais e divinos nesta imensidão absurda somos uma criação de última hora, talvez um acaso.... Carl Sagan teve a brilhante ideia de nos apresentar estes números incompreensiveis de um modo sedutor e simples: representou a história do Cosmos num ano terrestre e assim, o BIG BANG deu inicio a tudo a 1 de Janeiro, a formação do Sistema Solar terá acontecido a 24 de Agosto enquanto o aparecimento do Homo sapiens apenas teve lugar a 4 minutos do final do ano, às 23:56 horas do dia 31 de Dezembro. Pergunta-se: tanto tempo para quê? O que terá acontecido entretanto? Se a ideia foi o nosso aparecimento, que desperdício de tempo e matéria!






Mas a curiosidade humana não tem limites e ainda bem que assim é. Podíamos baixar a cabeça e limitar-nos ao nosso quotidiano, não perder tempo com a extravagância universal, mas queremos descobrir, a ânsia de saber domina-nos e bem aventurados sejam aqueles que continuam a ousar sair da nossa pequenez e compreender as coisas infinitas. EINSTEIN e outros revolucionaram o nosso conforto ao desvendarem um Universo em constante transformação, relativizando tudo, espaço, tempo, matéria e dimensão, e até ameaças como os buracos negros, mas para que todas estas variáveis ganhem sentido, há uma questão essencial: "qual a forma, a geometria, do Universo?"
Será possível a nós, civilização evoluída do século XXI, repetirmos o feito que os antigos gregos conseguiram em relação à forma da Terra e conseguirmos, apenas pelos cálculos, descobrir qual a forma deste Universo? Eles nunca viram a Terra do espaço e nós nunca veremos este Universo do lado de fora mas se eles conseguiram porque não tentarmos também? Foi o que pensou HENRI DE POINCARÉ, matemático, físico e filósofo, ao apresentar a sua celebérrima conjectura, um dos maiores problemas matemáticos apresentados e que demorou 100 anos a ser resolvido por um obscuro e anti-social matemático russo...




Observatório do CCV de Constância


João Plutónico

(Astrofísico de Valmedo)


O PONTO, A ESFERA E O ABSURDO... - I


Não foi preciso esperar pelo século XX e pelo advento do foguetão para que o Homem tivesse a certeza de que a Terra é redonda, embora fosse essa a maneira mais fácil de o comprovar, bastava levantar voo e observar do alto o planeta lá em baixo, azul e redondinho...
A ideia da redondeza do planeta nasceu 600 anos (!) antes de Cristo, na Grécia Antiga, pelas contas dos matemáticos gregos, especialmente de PITÁGORAS que, além de filósofo, dedicou-se ao estudo e desenvolvimento da aritmética, da geometria e da astronomia, para além de ser poeta nas horas vagas.... Um revolucionário no seu tempo...
E foi preciso esperar 300 anos para que as suas ideias sofressem um impulso através de outro grande pensador, ARISTÓTELES, o qual apresentou uma série de argumentos que sustentavam a ideia da esfericidade da Terra e que culminou no seu cálculo da circunferência terrestre, errando por pouco...
Mas pelos séculos fora predominaria ainda a ideia da Terra plana, faltavam provas e reinava o modelo criacionista que colocava a Terra imóvel no centro do mundo divino... Foi preciso GALILEU sacrificar-se afirmando que "No entanto, ela move-se..." e outros cientistas e astrónomos morrerem na fogueira para alterar o paradigma da imobilidade!






E quanto à forma da Terra, foi um português que apresentou a prova cabal e indesmentível que ela é bem redonda...  FERNÃO DE MAGALHÃES, com a sua circum-navegação, deu a volta ao globo e chegou em 1521 ao ponto de onde partira, se a Terra fosse plana ainda hoje as suas naus poderiam estar a navegar.... A matemática dos gregos estava certa e se serviu para adivinhar a forma da Terra, porque não aplicá-la a questões mais vastas como, por exemplo, a forma deste misterioso Universo que tanto nos fascina como nos desorienta? E se este COSMOS nos parece infinito tal a sua dimensão, afinal pode não o ser, como também pode ser apenas um de muitos outros, pode ainda ter muitos irmãos gémeos paralelos e pode até um dia morrer... Para complicar mais as coisas parece que as leis pelas quais ele se rege não são nada absolutas mas antes muito relativas e elásticas, quase imprevisíveis, o que implica ser pouco o que sabemos desta vastidão de espaço, energia , densidade e tempo, de tal forma que às vezes damos connosco a pensar no absurdo que é toda esta existência....





João Plutónico

(Astrofísico de Valmedo)



quarta-feira, 4 de julho de 2018



A matemática de ESCHER, à semelhança do Universo feito de relatividade, pode ser uma ilusão...






"Somente aqueles que tentam o absurdo conseguem o impossível"

Maurits Cornelis Escher


"Forgeronne por ESCHER"


João Plástico

(Artista de Valmedo)

O CÉU, A SOMBRA, O SOL E O TEMPO... - III


E quando o Sol se esconde e a luz foge para o outro lado do mundo, as trevas que sucedem ao crepúsculo não impedem que o brilho do Universo chegue até nós depois de muitos quilómetros galgados nalguns casos, noutros depois de longos anos-luz e noutros ainda, pasme-se, após incontáveis parsecs...  O que vemos então ao levantar a cabeça para a abóboda celeste estrelada? Uma ilusão! Muitas daquelas estrelas que observamos esta noite já se extinguiram há milhões de anos, outras já estarão a definhar e o seu brilho será muito menor, outras poderão já ter nascido e só daqui a milhões de anos as poderemos observar, ou seja, o céu é uma mentira e uma ficção e a realidade só a veremos quando, evitando cair nos terríveis buracos negros, conseguirmos ir ao encontro dela através dos túneis feitos pelas minhocas relativas de EINSTEIN, aquele génio que nos tirou o tapete da certeza e nos mostrou que tudo é relativo, o tempo, o espaço, a matéria, o céu, o homem...  E assim, possível será viajar até ao passado e, quem sabe, até ao futuro... Estranho? Sim, mas tudo isto é estranho, o universo, a vida.... 






Mas nem tudo o que luz no céu são estrelas, os planetas também brilham e bastante ao reflectir os raios solares... Para nós, terráqueos, apenas cinco planetas são visíveis a olho nu ( MercúrioVénus, Marte, Júpiter e Saturno) e agora que passámos há pouco pelo Solstício de Verão, todos eles brilham em simultâneo para nós no céu durante o mês de Julho, o que nem sempre acontece ao longo do ano.... Há que aproveitar, portanto...





Logo ao anoitecer, é possível observar Vénus (o astro mais brilhante no céu até Agosto), Mercúrio e Saturno, Marte (identificável pela sua característica luz avermelhada) estará exposto de madrugada e Júpiter, um gigante gasoso que é o maior planeta do Sistema Solar, estará visível durante toda a noite... Um espectáculo grandioso, bem perto de nós, estejamos onde estivermos, basta levantar a cabeça do chão e viajar pelo tempo e pelo sonho....  Do mesmo já não se poderia gabar um marciano pois as nuvens de ácido sulfúrico e as poeiras à superfície da Estrela d'Alva são tão densas que impedem a observação das estrelas! 



O Céu de Valmedo


João Plutónico

(Astrofísico de Valmedo)