LIVROS 5 ESTRELAS - XVI
HOMENS, DRAGÕES E OUTROS BICHOS...
CARL SAGAN corporizou exactamente o oposto do antigo arquétipo do cientista, aquela personagem de olhar alienado e abstraído do mundo, fechado num laboratório bafiento e atafulhado de balões coloridos por misturas borbulhantes dos quais, por tubos e ampolas retorcidas, emanavam vapores que anunciavam o elixir da longa vida ou então outra qualquer substância milagreira... Sagan foi aquele professor que todos gostaríamos de ter tido, um dos mais extraordinários comunicadores do século XX e os seus livros e programas de divulgação abriram o mundo hermético e inacessível da ciência à gente comum, simplificou conceitos, relacionou teorias de vários ramos do saber e numa linguagem acessível só ao alcance dos dotados tornou o seu amado, imenso e misterioso cosmos atraente e fascinante aos nossos olhos.
"Carl Sagan tem o toque de Midas. Transforma em ouro tudo aquilo em que toca. Assim acontece com OS DRAGÕES DO ÉDEN. Nunca li nada tão apaixonante sobre os temas.", quem assim falou foi Isaac Asimov, outro dos grandes divulgadores científicos e melhor testemunho não poderia haver. Nesta deliciosa obra, Sagan vai em busca da inteligência, a humana e outras, num tratado de ciência, biologia, história, filosofia, mitologia até, e misturando tudo deixa-nos a sonhar com este pequeno milagre que é a existência da humanidade neste vasto universo...
E depois, como é apanágio dos melhores, Sagan também usa um cativante e fino humor:
"Em tempos mais recuados considerava-se que se poderiam obter descendentes de cruzamentos entre organismos extremamente diferentes. Dizia-se que o MINOTAURO, morto por Teseu, era o resultado do acasalamento entre um touro e uma mulher. E o historiador romano Plínio sugeriu que o AVESTRUZ, que acabara de ser descoberto na sua época, resultava do cruzamento entre uma GIRAFA e uma MELGA. ( Suponho que devia tratar-se de uma girafa fêmea e uma melga macho). Na prática, deve haver muitos destes cruzamentos que não foram tentados devido a uma compreensível falta de motivação".
João Vírgula
(Leitor de Valmedo)