quarta-feira, 25 de setembro de 2019



LIVROS 5 ESTRELAS - XVI


HOMENS, DRAGÕES E OUTROS BICHOS...



CARL SAGAN corporizou exactamente o oposto do antigo arquétipo do cientista, aquela personagem de olhar alienado e abstraído do mundo, fechado num laboratório bafiento e atafulhado de balões coloridos por misturas borbulhantes dos quais, por tubos e ampolas retorcidas, emanavam vapores que anunciavam o elixir da longa vida ou então outra qualquer substância milagreira... Sagan foi aquele professor que todos gostaríamos de ter tido, um dos mais extraordinários comunicadores do século XX e os seus livros e programas de divulgação abriram o mundo hermético e inacessível da ciência à gente comum, simplificou conceitos, relacionou teorias de vários ramos do saber e numa linguagem acessível só ao alcance dos dotados tornou o seu amado, imenso e misterioso cosmos atraente e fascinante aos nossos olhos.  








"Carl Sagan tem o toque de Midas. Transforma em ouro tudo aquilo em que toca. Assim acontece com OS DRAGÕES DO ÉDEN. Nunca li nada tão apaixonante sobre os temas.", quem assim falou foi Isaac Asimov, outro dos grandes divulgadores científicos e melhor testemunho não poderia haver. Nesta deliciosa obra, Sagan vai em busca da inteligência, a humana e outras, num tratado de ciência, biologia, história, filosofia, mitologia até, e misturando tudo deixa-nos a sonhar com este pequeno milagre que é a existência da humanidade neste vasto universo...
E depois, como é apanágio dos melhores, Sagan também usa um cativante e fino humor:

"Em tempos mais recuados considerava-se que se poderiam obter descendentes de cruzamentos entre organismos extremamente diferentes. Dizia-se que o MINOTAURO, morto por Teseu, era o resultado do acasalamento entre um touro e uma mulher. E o historiador romano Plínio sugeriu que o AVESTRUZ, que acabara de ser descoberto na sua época, resultava do cruzamento entre uma GIRAFA e uma MELGA. ( Suponho que devia tratar-se de uma girafa fêmea e uma melga macho). Na prática, deve haver muitos destes cruzamentos que não foram tentados devido a uma compreensível falta de motivação".



João Vírgula

(Leitor de Valmedo)





"Acho que é a imensidão da nossa arrogância humana que nos faz imaginar que, numa galáxia de 400 mil milhões de estrelas, a nossa é a única que possui um planeta habitado..."

Carl Sagan

(Cientista, Biólogo, Astrofísico, Cosmólogo, etc...)

terça-feira, 24 de setembro de 2019




Pilares da Criação




Não há palavras e é bom que ninguém as queira arranjar, poucas ou muitas, inteligentes ou estúpidas, a mais ou a menos, seja o que for, para descrever esta beleza... Que é isto, afinal?
Uma pintura surrealista de um abstracto artista?
Não.
Uma elaborada criação artística fruto de um programa de computador?
Não.
Que raio então?
É apenas uma foto enviada pelo telescópio HUBBLE há 25 anos atrás ao passar pela constelação da Águia e que retrata os PILARES DA CRIAÇÃO, aglomerados de poeira e gás que constituem uma maternidade de estrelas... 
Parece que pode ser uma imagem falsa, isto é, os Pilares da Criação podem até já não existir porque a imagem que nos chegou através do Hubble demorou milhões de anos a chegar até nós e chegada aqui, muita coisa entretanto aconteceu pelo universo... O que vemos hoje pode não existir há séculos! E se os extraterrestres que alegadamente nos visitaram no passado entretanto morreram todos pelo caminho?



João Plutónico

(Astrofísico de Valmedo)



NEM UM SINAL, NEM UMA RELES S.M.S?



É razoável admitir que os ET's com que avidamente tentamos entrar em contacto sejam tímidos, seja por natureza ou então por desconfiança legítima em relação à nossa espécie, é que todo o Universo deve estar farto de saber até à exaustão que a espécie humana é velhaca e indigna de qualquer confiança mais não seja pela pegada que a humanidade tem deixado vincada neste mundo e que atesta que somos cegas criaturas capazes das maiores atrocidades em nome de coisas tão abjectas como ganância ou poder... Quem, no lugar dos aliens, não faria o mesmo, ser arisco e esquivo perante esta esquisita espécie terráquea?





Radiotelescópio de Arecibo


Com 350 toneladas de peso e o tamanho de dez campos de futebol, a gigantesca antena de Arecibo, construída nos anos sessenta numa cratera de um vulcão extinto numa colina da ilha de Porto Rico com a finalidade de estudar a ionosfera terrestre, foi adaptada posteriormente para a busca de sinais de vida extraterrestre, ao abrigo do projecto SETI...  Esta busca da vida alien teve inicio há 27 anos e num dia que assinalou os 500 anos da chegada de Colombo à América, 12 de Outubro, e a prodigiosa estrutura revelava então ao mundo todas as maravilhas que poderia desvendar: seria capaz de localizar um quasar a dez mil milhões de anos-luz da Terra ou de permitir a visualização da luz de uma vela a arder na Lua! O sinal emitido era tão forte que só um ET muito distraído não repararia nele.... O que poderia correr errado?  Não era um sonho à beira da realização, o contacto com outras espécies deste infinito universo?




"Chamada inter-galáctica" - João Plástico 



Pois bem, passado tanto tempo nada de novo por aqui, exceptuando que este nosso belo e único planeta está cada vez mais agonizante, exaurido por tanta afronta... Nem um simples sinal nem uma S.M.S ao menos durante todo este tempo, nada, ou eles não querem mesmo nada connosco ou, infelizmente, não existem de todo, mas aqui surge a questão primordial: "Porque raio haveria de ser o mundo tão grande e infinito para apenas haver vida num minúsculo planeta habitado por uma raça alucinada?"  
Quem nos salvará, afinal? Nem que fosse pelo extermínio....

Bem, mas não foi tudo desperdício, pelo menos ficou uma bela estrutura que serve de cenário a obras icónicas do nosso imaginário: pela antena de Arecibo aconteceram aventuras de cortar o fôlego, desde James Bond com o seu dourado olho, Jodie Foster a contactar com outras dimensões ou a Natasha armada em espécie mortal...









Mas não desesperemos, pode ser que a resposta ainda venha a caminho...




João Plutónico

(Astrofísico de Valmedo)

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

OVNI em Valmedo...



Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO -   XVIII


OVNIZANDO DESDE A ANTIGUIDADE?



São tantos os relatos e os testemunhos sobre o avistamento de Objectos Voadores Não Identificados por todo o mundo, muitos deles certamente rebuscados e porventura falsos mas também não são tão poucos como isso aqueles que acabam por apresentar credibilidade e que ficam sem explicação, até porque nalguns casos estão envolvidas testemunhas insuspeitas como é o caso de reputados aviadores militares e civis e noutras situações até são muitas pessoas e às vezes cidades inteiras que corroboram a ocorrência de estranhos fenómenos... E depois, de um lado da barricada aparecem os negacionistas a desunharem-se na obtenção de uma explicação racional e que muitas vezes cai no exagero da ilusão óptica ou da alucinação colectiva enquanto do outro lado se inflamam os crentes da ufologia que, por quererem tanto acreditar, também se lhes tolda por vezes o espírito e chegando até ao ponto de confundir nuvens lenticulares com belos e coloridos discos voadores... E dos dois lados, apesar de haver muito charlatão, haverá decerto estudiosos e investigadores sérios em busca da verdade, o que no meio de tanta fake-new e contra-informação só deve, a nós simples curiosos, animar.





Manuscrito de Basileia - 1561
Mas parece que os relatos destas coisas misteriosas que andam pelos céus não são exclusivos da nossa era moderna e espacial controlada por radares e antenas gigantescas, desde tempos remotos que estranhas coisas têm vindo a acontecer e se hoje em dia, com o boom tecnológico que coloca sobre as nossas casas drones e quadcopters que podem facilmente induzir muito incauto no erro de afirmar a pés juntos e pela alminha do que lhe é mais sagrado que viu um OVNI, o que não deixa de ser verdade porque essas coisas esquisitas voam e bem, que dizer das ocorrências  registadas em manuscritos com séculos e imortalizadas em pinturas, muitas delas de carácter religioso? Dos muitos casos que se poderiam apontar como eventual prova da existência de estranhos objectos voadores no céu deste estranho mundo-cão fiquemos então com meia dúzia, começando com o extraordinário e invulgar ano de 1561 e em que, em sítios tão distintos como Basileia e Nuremberga e no espaço de meses, algo de inusitado aconteceu...




Em Basileia foram avistadas por toda a gente inúmeras esferas negras voando freneticamente no céu e desenvolvendo movimentos tão estranhos e mirabolantes que pareciam estar no meio de uma batalha, assim se referia ao fenómeno Samuel Coccius no seu manuscrito...

Manuscrito de  Nuremberga - 1561
Meses antes, em Nuremberga, estranhos objectos avistados no céu alemão proporcionaram um inaudito e assustador espectáculo de luz, fogo e explosões, uma autêntica batalha celestial... Hans Glaser, espectador inconformado com a estranha ocorrência, tratou e bem de a  documentar com texto e gravura... Por mais estranhos que nos possam parecer estes relatos, a nós que olhámos para eles passados quase 500 (!) anos, teremos a leviandade de os considerar um absurdo provocado por uma qualquer esquizofrénica  alucinação ou, pelo contrário, num universo de descontinuidades temporais relativas e einsteinicas, teremos a humildade de os considerar, pelo menos, dignos de atenção? O que levaria alguém, no século XVI, a expôr-se ao ridículo e a inventar estas coisas?
Já agora, e para os mais curiosos, ambos os manuscritos podem ser observados na Biblioteca Central de Zurique...



Bem, mas vinte anos antes, em BRUGGES, actual Bélgica, foi tecida uma tapeçaria absolutamente extraordinária, chamada "TRIUNFO DE VERÃO" e em que numa presumível cena de  ascensão ao poder de um rei são visíveis, nos extremos superiores da obra, objectos no céu com a forma discóide e exacta dos nossos OVNIS da era moderna... Para uns, teoria rebuscada, para outros mais uma peça do puzzle ufológico...







E depois, sem mais delongas e considerações, e apenas de entre muitos outros casos, aqui fica uma obra de arte sobre a qual qualquer um pode interpretar como quiser, apesar de todas as fantásticas coincidências deste estranho mundo-cão... Será apenas obra do espírito-santo?




"Baptismo de Cristo" - Aert de Gelde - 1710


João Iniciado

(Ocultista de Valmedo)


sexta-feira, 20 de setembro de 2019



TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO - IX


NÓS, OS ALIENS E OS OUTROS... 



Eis-nos chegados finalmente ao dia 20, ao proclamado dia da libertação! E aconteça o que acontecer, ou não aconteça nada de todo, será pelo menos um dia diferente, é que sou um daqueles que ao abrir o jornal e ao reparar nesta notícia publicada há mês e picos atrás esboçou um sorriso, primeiro, e depois de jornal pousado, deixou que uma onda de curiosidade o invadisse ao imaginar como seria se os tais dois milhões de heróis honrassem o compromisso e decidissem levar avante a libertação dos seus amigos extraterrestres...





E num instante, vi-me novamente adolescente a ler aquelas fabulosas histórias e explicações sobre os grandes mistérios do mundo e da humanidade, desde a Atlântida às Pirâmides, da ilha de Páscoa aos OVNIS, das lendas da criação espalhadas pelas civilizações de todo o planeta à explicação de fenómenos paranormais, quem nunca se deixou seduzir pelo oculto e por tudo o que é secreto ou inexplicável? E aquelas colecções das "Portas do Desconhecido" e dos "Enigmas de Todos os Tempos" estavam recheadas de títulos tão sugestivos e teorias tão fantásticas sobre a realidade e a história que, acreditando-se ou não, eram por vezes de leitura mais entusiasmante do que muito romance de aventura ou de ficção científica... Depois os anos vão passando e amadurecem outras prioridades, outras leituras e outras explicações cósmicas ganharam prioridade e o fascínio desses mistérios é guardado numa prateleira da memória, até porque também não há meio do raio dos ET'S invadirem este planeta, essa coisa fantástica que está inculcada no subconsciente colectivo da humanidade e que poderia até ser uma coisa boa se decidissem raptar e levar com eles os Trumps e Bolsonaros do nosso mundo-cão... 










Mas pronto, aqui chegados e enquanto que por este velho continente e pela imortal nação já despontou o sol e faltando ainda uma meia dúzia de horas para nascer o dia luminoso na quinta do esquizofrénico Tio Sam, aguardemos pelo desfecho desta louca iniciativa, das duas uma, ou se muda o mundo ou não passará apenas de mais um balde de água gelada nos acérrimos seguidores da teoria dos ancestrais astronautas! É que desde o virar do milénio até ao dia de hoje já houve meia dúzia de apocalípticas datas para o fim do mundo e até agora, embora moribundo, este mundo-cão ainda resiste... Vamos lá então para o deserto do Nevada e, se os terríveis HOMENS DE NEGRO (MIB) o permitirem, conhecer esses extraterrestres que se despenharam há muito em Roswell, pode ser que tenham sido bem conservados em formol e estejam ainda com bom aspecto e no pleno usufruto das suas transcendentes capacidades!










João Iniciado

(Ocultista de Valmedo)

terça-feira, 17 de setembro de 2019



"Mariposas" - Frida Kahlo



EFEMÉRIDE # 62


FRIDA E AS SUAS MIL FERIDAS...



Num mero mas diabólico segundo da manhã do dia 17 de Setembro de 1925 ficaria marcada por vinte e nove anos a vida de FRIDA KAHLO, nesse fatídico momento a então jovem de 18 anos que aspirava a ser médica dirigia-se para a escola quando num ápice um eléctrico abalroa e tritura um dos lados do autocarro onde ela seguia. Houve vários mortos e FRIDA, numa obra irónica e perversa do destino, é encontrada nua na amálgama de ferros retorcidos, coberta de sangue e de tinta dourada vertida de uma lata que alguém transportava, uma mistura  simbólica daquilo que seria o seu mundo a partir desse instante, sofrimento e arte... 



A cama de FRIDA, Rivera e a pintura...


O relatório é monstruoso: FRIDA foi literalmente empalada, o corrimão da viatura perfurou-a por um flanco e saiu pela vagina, a sua coluna foi partida em três sítios, fracturou várias costelas, partiu a cabeça do fémur e a pélvis e as pernas foram fracturadas em mais de dez sítios, para além de ver o pé direito esmagado, aquele mesmo que já tinha sido vítima da poliomielite aos seis anos...
Confinada desde então a uma cama durante a maior parte da sua vida, um leito enorme com quatro colunas e um baldaquino, qual trono e altar de uma rainha do sofrimento, Kahlo socorre-se da sua enorme coragem e vontade de viver e só tem uma saída: a pintura, essencialmente auto-retratos porque, como disse: "Pinto-me a mim mesma porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o tema que melhor conheço".  E do seu dossel sobressaíam duas coisas: um espelho onde ela se contemplava para se retratar e um esqueleto em cartão, sinal da morte que a esperava e que muitas vezes desejou!  




"Coluna partida"



Frida morreria com apenas 47 anos de idade e na sequência daquelas mazelas do maldito acidente, um alívio se considerarmos o enorme suplício porque passou, úlceras constantes no pé, costas deformadas e que lhe provocavam dores atrozes e que nem as dezenas de espartilhos de ferro, couro ou gesso que lhe aplicaram conseguiram mitigar... As dores eram tantas que para as aguentar se via obrigada a beber uma a duas garrafas de conhaque por dia e, já na parte final, a socorrer-se da morfina, e só entre Março e Novembro de 1950, com 43 anos de idade e após 25 anos da ocorrência do acidente, foi sujeita a 6 (seis!) operações à coluna!
A obra de FRIDA KAHLO gira em torno do corpo e do sofrimento físico, ou não tivesse ela dito que "Nunca pintei sonhos, pintei apenas a minha própria realidade", e apesar de ter passado despercebida então muito por culpa de ter sido abafada pela fama e pelo peso de Diego Rivera, marido tóxico e ídolo, seria-lhe dado mérito décadas mais tarde... O próprio Rivera reconheceria que "Frida é melhor pintor que eu"!



A VOZ DE FRIDA



E como a vida teima em nos surpreender quando menos se espera eis que agora mesmo anda tudo exaltado com a fantástica descoberta de uma inédita gravação da voz de Frida na leitura de um poema dedicado ao seu controverso marido, qual relíquia de santo ou divindade... E lá que a voz é melodiosa ninguém discordará, mas mesmo que fosse gaga ou roufenha não diminuiria nada Kahlo, ela valeria pela sua arte! Ainda um dia destes irá aparecer um pelo do seu famoso bigode à venda por milhões!...



João Plástico

(Artista de Valmedo)

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

"FRIDA" - Super Van, 2017 - Lumiar 





A MISTERIOSA ORIGEM DAS PALAVRAS - IX


O NAVEGADOR, A PLANTA E A RUA...


Nem sempre se escolhe a rua onde se vive e melhor exemplo disso mesmo é o meu caso, acabei por assentar morada ainda não havia rua nem sequer casas, só mais tarde e graças à boa ideia do meu vizinho António é que se passou a chamar a este pequeno beco com saída a Rua das Buganvílias, tudo porque foi que ele inaugurou esta pequena urbanização e desde então e ainda hoje exibe dependurada do seu muro uma maravilhosa planta do género... 






Não fosse esse o nome dado à rua e talvez ainda hoje não soubesse a história por detrás da esquisita denominação BUGANVÍLIA, essa planta trepadeira de flores rosa-violáceas, muito comum por esse país fora e assim chamada em homenagem ao navegador e explorador francês Louis Antoine de BOUGAINVILLE.



A buganvília do António


Bougainville recebeu do rei francês Luís XV a missão de levar a cabo uma viagem de circum-navegação e tal expedição, que duraria três anos entre 1766 e 1769, revestiu-se de importante carácter científico ao nível do naturalismo, da cartografia e da astronomia. A aventura foi um sucesso que devolveu o prestígio às artes navais francesas e que tornou Bougainville no primeiro francês e no décimo-quarto navegador em todo o mundo a efectuar a viagem à volta do globo e foi então que com ele veio a buganvília lá das longínquas paragens da América do Sul para pegar de estaca na Europa e tornar-se numa das belas plantas dos nossos jardins...




As minhas hortênsias
Mas nem só de buganvílias é feita a minha minúscula rua, por aqui também se exibem com exuberância hortênsias, palmeiras-vassoura e até a silvestre e surpreendente glória-da-manhã...
E já agora, a talhe da minha sachola de jardineiro, a minha HORTÊNSIA, também chamada rosa-do-japão por daí ser originária, foi buscar o nome a Hortense Lepante, amiga assim homenageada pelo botânico francês Commerson e que foi o responsável pela introdução da planta na Europa...






Glória-da-manhã (Convolvulus)



João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)


O MEU INFALÍVEL ANEMÓMETRO...


Não preciso de mais nada, nem de notícias do rádio nem de previsões dos sites especializados nem sequer de pôr a mão fora da janela para saber se a nortada sopra ou não e com que intensidade, basta espreitar pela janela ou olhar por cima da minha hortênsia e avaliar o comportamento das vassouras do meu vizinho...



Aquele belo e saudável exemplar de PALMEIRA DAS VASSOURAS que me acena do outro lado da rua, também conhecida como palmeira-de-leque ou palmeira-anã e que ostenta a alcunha científica Chamaerops humilis, a qual traduzida à linguagem popular só poderia significar arbusto anão e humilde porque a árvore é mesmo pequena em relação às outras espécies de palmeira que se conhecem, até porque, derivado ao crescimento muito lento que apresenta, não ultrapassa em média os três metros de altura... 
Para além de ser muito bonita, a Chamaerops humilis é uma árvore de confiança porque é bastante resistente às ameaças climáticas, seja calor seja frio, adapta-se muito bem a solos pobres e aguenta bem a falta de sol pelo que se torna numa  excelente opção para planta de interior. 
Esta peculiar planta é originária do Mediterrâneo Ocidental e é a única espécie de palmeira que é espontânea em Portugal, sendo mais frequente no sul do país, especialmente nos matos algarvios... 
A sua marca distintiva são as suas folhas em leque, geralmente com 12 a 15 pontas, bífidas, rígidas e perenes que durante todo o santo ano lá estão a bambolear-se à mínima brisa numa dança imprevisível.









E vendo o gracioso movimento da pequena palmeira em que, ora ela parece varrer com as suas folhas imaginárias partículas de pó, ora ela parece refrescar-se da canícula com os seus inúmeros leques, eu, medindo a intensidade do bailado decido muitas vezes se vale a pena demandar a costa ou não em busca de uma sereno dia de praia ou passeio porque por estas bandas do Oeste quem manda é o caprichoso ÉOLO, deus dos ventos...



João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)

quarta-feira, 11 de setembro de 2019


R.I.P








Acabou de morrer a nossa toupeira!  Paz à sua nobre alma! Que saudades vai deixar... E qual será a próxima novelas deste excitante e nojento futebol português?



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"A Roda da Vida" - Jean-Charles Forgeronne



RODA DO MUNDO


Que vertigem é esta de ascender aos céus
sabendo certa a queda iminente?
Desafiar como Ícaro um escondido deus
que há muito abandonou a sua gente?
Valerá morrer por tamanha quimera,
simples visão do alto, efémera?

Vira a roda, roda-gigante

Vira o mundo num só instante...

Ainda se assim pudesse mitigar a dor,

girar com a roda e deixar-me iludir,
Perdido por um ou mil, que interessa?
Por mais que rode, onde está o amor?
Se é para amar e sofrer antes fugir
que a vida tem que ser vivida depressa...

Vira a roda, roda-gigante

Vira o mundo num só instante...

A roda é um engano, a verdadeira ilusão,

gira sempre para o mesmo lado e sempre
entre a vida e a morte uma volta as separa,
Escolho antes viver menos, porque não?
No voo de um pássaro rebelde, diferente,
mas que livre bate as asas e não pára...

Vira a roda, roda gigante

Vira o mundo num instante...



J.C

(Poeta de Valmedo)





"Roda-viva" - J.C. Forgeronne



RODA VIVA


Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz activa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá

Roda-mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva 
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá

Roda-mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá

Roda-mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá

Roda-mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração....


CHICO BUARQUE

terça-feira, 10 de setembro de 2019




CALHAUS (QUASE) PERFEITOS...


Desenganai-vos,  vós que pensais que as artes são coisas do passado feitas por artistas mortos, geralmente pinturas e esculturas sobre o imaginário religioso ou então retratos de famílias reais e de mecenas que a ninguém interessa, ou ainda, numa fase mais recente, aqueles rabiscos e traços e manchas incompreensíveis que poucos conseguem decifrar mas que se tornam escola, abstracta por acaso e exemplo, ou expressionista, ou impressionista, ou realista, ou qualquer-coisa-que-se-lhe-queira-chamar e que repousam naqueles sarcófagos escuros e bolorentos a que chamam de museus e que ainda é preciso pagar a peso de oiro para neles entrar.... É que se repararem, a arte saiu do caixão, veio para a rua, para a natureza e tornou-se uma coisa viva e aberta ao mundo, ao alcance de todos,  basta ter os olhos bem abertos, e tão viva e animada é hoje a expressão artística que é possível assistir ao seu nascimento, ao seu crescimento, ao seu aperfeiçoamento e, finalmente, à sua BELEZA







"INÊS" - António da Cunha, 2019



No MOLEDO foi possível nos últimos dias assistir a um milagre, dos calhaus retirados ali do planalto em frente começou a brotar arte, a pouco e pouco, com muito trabalho e não menos inspiração, primeiro era o calhau em bruto, depois um esboço e agora, embora ainda não finalizadas, surgem belíssimas obras à espera do acabamento final... É o caso da belíssima "INÊS" da autoria do conimbricense António da Cunha, que para além de ali ter nascido do nada, ou antes, de um enorme calhau, foi eclodindo e até se deu ao luxo de mudar de sítio, quando cheguei ao local onde tinha visto dias antes artista e calhau nada lá existia, e bem que tive que procurar por todas as ruelas da aldeia até que encontrei a INÊS num sítio ideal, sinal de que a arte, à semelhança do mundo de Galileu, está viva e se move...




INÊS frente a frente com INÊS



E depois, e ainda bem que essa não mudou de sítio, a obra de Clara Ribeiro, artista nascida no nosso vizinho concelho do Cadaval, ali está à espera dos últimos acabamentos mas já se revela em toda a sua beleza, de um calhau nasceu uma perspectiva dos telhados e do casario da aldeia, simples cortes rectilíneos e geométricos no calhau mas que depois, quando se olha em perspectiva e se têm os verdadeiros telhados da aldeia pela frente e em segundo plano, tudo se harmoniza e encanta....




"MOLEDO" - Clara Ribeiro


Neste caso, pessoalmente, acho deliciosa a ideia e escolha do local, tinha que ser mesmo ali!





"MOLEDO" - Clara Ribeiro


E depois é só deixar-nos levar pela sede da descoberta, pela aventura e pelo mistério, podemos ser surpreendidos em cada esquina, em cada canto e em cada recanto, como é o caso daquelas misteriosas e magníficas pinturas em óleo sobre papel e sobre as pedras das casas, que agora já sabemos que são da autoria de MARTINHO COSTA, artista nascido em Fátima e residente nas vizinhas Caldas da Rainha....





"Homem com vara"? - MARTINHO COSTA - 2019


E venha o CALHAU#2...





João Plástico

(Artista de Valmedo)

segunda-feira, 9 de setembro de 2019



AFINAL EU TAMBÉM SOU UM ARTISTA!!! OU NÃO?


- Até já James... Volto não tarda nada!
- Mas onde é que vais? E não posso ir também?
Mas ele já não me estava a ouvir, fechou-me o portão no focinho e já aquela máquina ruidosa onde ele se faz transportar roncava e depressa haveria de desaparecer na esquina envolta numa nuvem de fumo... E isto já tinha dias, amigos caninos, manhãzinha cedo o J.C pegava na mochila e na máquina fotográfica e desandava para o MOLEDO, um sítio muito agradável e onde, por sinal, eu até já estive várias vezes e que, pelo que tenho visto nestes últimos tempos, tem sido a capital do CALHAU, um delicioso e surpreendente festival de artes...  Mas que raio, amigos caninos, é esta febre da arte que infecta os humanos? O que é que há assim de tão especial nisso, essa coisa de transformar calhaus em coisas parecidas com sabe-se lá o quê e que só os humanos, às vezes, conseguem ver? Pronto, já estou a ver alguns de vós a discordar desta minha visão da coisa mas eu falo por experiência própria, senão reparem: um dia destes entrei à sucapa na sala e deparei-me com o J.C a delirar com um filme que estava a passar naquela estúpida caixa a que eles chamam televisão, e sabem o que é que eu vi?







O J.C estava a delirar com um filme parvo sobre uma coisa que se tinha passado na sua adolescência, um tal jogo chamado PAC-MAN e que tinha feito enorme sucesso na altura, anos 80, diz ele, e que se resumia a uma bola com uma enorme boca que freneticamente devorava pastilhas como se disso dependesse a sua existência e que simultaneamente fugia de quatro fantasmas que a perseguia! Isto tem alguma lógica, amigos caninos?








Pois bem, nem vão acreditar naquilo que vou dizer mas é a pura das verdades, vendo o J.C assim alucinado por aquela estupidez de filme, tive uma veneta e fui lá fora ao quintal buscar o que restava da minha bola de ténis, afinal, amigos caninos, depois de muito trabalho não a tinha eu, com os meus dentes e o meu dom artístico, transformado numa obra de arte ao nível dos tais PIXELS?









Mas o J.C não me ligou nenhuma, continuava de olhar perdido naquela estúpida caixa de imagens e nem reparou na obra de arte que eu tinha entre dentes... Dá para acreditar? Sejam isentos, amigos caninos, não há tanta arte e criatividade na minha bola como naquelas obras a que os humanos chamam de arte? Como se eles fossem os únicos que conseguissem ver a beleza que há por este mundo fora... E depois, bastante tempo depois de filme acabado e já eu estava cansado de roer a minha bola, ainda vem ele dizer-me:
  - James, destruíste a tua bola? Por que raio?









JAMES

(Cão de Valmedo)

sexta-feira, 6 de setembro de 2019



OS SANTOS, AS FESTAS E OS POPULARES...



Há santinhos e santinhas para tudo, eles são tantos que nalguns casos nem se percebe bem porque o são nem para que servem, que isto da santidade deveria ser coisa bem mais séria porque ninguém sabe ao certo quantos santos existem, nem a própria entidade santificadora, a Igreja Católica, embora haja quem aponte para mais de 20 000! Se o papel dos santos e das santas é interferir junto de Deus por nós, singelas criaturas pecadoras, e porque Deus é único, imagine-se a burocracia que não será lá pelas esferas celestiais e então percebe-se porque Deus, sem mãos a medir, parece tão ausente deste mundo, é que, com tanto santo a atazanar-lhe o juízo e rogando-lhe aos ouvidos com intermináveis pedidos e desejos dos beatos que vegetam neste alucinado planeta, percebe-se o porquê de parecer que ele não existe sequer, é que ninguém, nem mesmo uma divindade, aguenta com tanta solicitação! Deus deve ter fechado há muito o escritório e ter-se-á porventura ausentado para parte incerta para não endoidecer de vez com aquilo que criou...! 









Mas ao menos há uma coisa boa no que respeita aos santos, é que os há para todos os gostos e para todos os dias do ano, e a populaça adora (e bem) homenageá-los com grandiosos festejos de comer e beber à fartazana, bailar até cair de cú e esquecer por uns dias as agruras da vida! Especialmente no Verão a coisa aperta, todos os sagrados fins-de-semana têm festa mas, e ainda bem, cada vez mais outros festejos ocorrem na época baixa porque isto de festejar tem de ser o ano inteiro...




O pecado da gula...




Na ATALAIA, terra marítima e de pescadores, houve o bom gosto e o bom senso de escolher como santidade a homenagear a Nossa Senhora da Guia, padroeira de navegantes e homens do mar, e vai daí nasceu uma coisa séria, uma das maiores festas da Península Ibérica em que se homenageia tudo aquilo que o mar nos dá... E este ano, eu que sou um pecador de créditos firmados, festejei de forma sublime com uns maravilhosos mexilhões de entrada e uma feijoada do mar ... divinal! E confesso, se não for pelo estômago não terei as portas do céu abertas...









E depois, no final, quando tentamos encontrar o sítio onde estacionamos a viatura, ainda temos um bónus surpreendente, uma obra de arte em pleno beco... Nada melhor para finalizar uma santa noite!






Algures na Atalaia...


E como Atalaias há muitas, felizmente, acaba uma festa da Atalaia e logo começa outra festa na Atalaia...




João das Boas Regras

(Sociólogo de Valmedo)

quarta-feira, 4 de setembro de 2019



A MONSTRUOSA CARAVELA DA PRAIA DOS FRADES...



Amigos, acabei de receber do meu compincha e fotógrafo Jean-Charles-Forgeronne uma mensagem e várias fotografias anexadas em que, questionava ele, que raio se passa, já não pode uma criatura levantar-se cedo e caminhar pela praia ainda deserta ansiando desfrutar desta dádiva da natureza em estado puro? Que raio é isto, que coisa esquisita colocaram aqui neste areal imaculado? Devo ficar preocupado? Ou devo continuar a minha caminhada como se nada fosse? Isto parece um monstro, dizia ele...








Assim que olhei para as fotos vi imediatamente que o monstro a que ele se referia era uma CARAVELA-PORTUGUESA, não um daqueles fantásticos navios que os portugueses usaram há séculos na sua diáspora marítima  mas sim uma gelatinosa e curiosa criatura da família das alforrecas que convém conhecer... De nome científico Physalia physalis, que é como quem diz "Bexiga bexigosa", ou não se traduzisse o grego physalia num bom português como bexiga, e vai daí a coisa até ganha algum nexo porque a criatura apresenta uma espécie de "balão" ou bexiga que, insuflado de gás, lhe serve de flutuador.... Sim, porque a criatura, o tal monstro de aspecto gelatinoso, passa a vida a flutuar na superfície dos oceanos ao sabor das marés e dos ventos!









Na realidade, esta criatura gelatinosa é uma colónia constituída por centenas ou milhares de organismos e com funções diferenciadas, umas no tal flutuador que pode ser azul, lilás ou rosa como no caso deste exemplar, e por tentáculos azuis que podem chegar aos 30(!) metros de comprimento e onde reside a sua ameaça porque são constituídos por células venenosas para pequenos peixes que são o seu alimento e urticantes para os humanos que, em contacto com a pele, podem provocar graves danos desde queimaduras até ao terceiro grau a dor, inchaço e alergias em certas pessoas que podem ser sérias! Por, isso, num contacto imediato de 2º grau, é bom dar de frosques e alertar, se possível, os outros frequentadores da praia e as autoridades marítimas...










Já agora, alcunhou-se esta criatura de CARAVELA-PORTUGUESA porque, parece, o seu flutuador apresenta semelhanças com as velas lusitanas que equipavam as caravelas dos Descobrimentos... E também não se preocupem, quando contactei o Forgeronne já ele estava a milhas, decerto num lugar mais seguro.....





João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)