G-L-O-R-I-A - GLORIA
Não se sabe se SIR
VAN MORRISON alguma vez desejou ter nascido negro, é plausível devido à sua paixão pelos
blues e pela
soul, tão entranhados na sua alma que até parece estranho como nasceu branco...
Também não se sabe qual a sua religião, se é que a tem (?), nascido em
BELFAST, num território dividido entre protestantes e católicos, qual o verdadeiro artista? O que canta à porta de
SAINT DOMINIC ou o que apregoa "
NO RELIGION"? A resposta só pode ser uma na sua voz quente e poderosa: a sua religião é a música, a verdadeira introspecção e exploração pelos mistérios da harmonia e dos sentidos.... Uma das suas mais icónicas produções é
GLÓRIA, uma canção com um refrão tão simples mas tão magistral que se tornou no menu obrigatório de bandas de garagem e futuros heróis da cena musical.... Um hino ao desejo, um grito reivindicativo do direito à plenitude sensorial, sem limites...
Van Morrison - 1965
Mas as grandes obras ultrapassam o domínio dos seus criadores, GLORIA, nas mãos de PATTI SMITH, a poetisa e musa do PUNK, ganhou outra dimensão e rompeu barreiras, tornou-se mais imortal ainda, para mais incluída naquele que é considerada a melhor obra de estreia de um artista rock, "HORSES"....
Glória
Jesus morreu pelos pecados de alguém mas não pelos meus...
Derretendo num caldeirão de ladrões,
trago um trunfo na manga:
o meu carregado coração de pedra.
Os meus pecados são meus, a mim pertencem...
As pessoas dizem "cuidado!" mas eu não me importo,
as palavras não passam de leis e regras para mim...
Ando por este salão parecendo tão orgulhoso,
movo-me por este ambiente onde tudo é permitido,
acabei de chegar à festa e já estou entediado
até que olhando pela janela vejo uma coisa doce e jovem
aborrecida no estacionamento, inclinada sobre o parquímetro...
Oh! Ela é bem bonita, olha! Ela é linda!
E eu estou com aquela louca sensação que ela há-de ser minha,
oh, vou lançar o meu feitiço sobre ela...
Lá vem ela andando pela rua, lá vem ela entrando na minha porta,
lá vem ela subindo a minha escada, lá vem ela dançando pelo corredor
num lindo vestido vermelho e ela parece tão bem, ela é tão linda
e eu com aquela sensação louca que ela vai ser minha...
E eu ouço bater à minha porta e olho para o grande relógio da igreja
e digo "Oh meu Deus, já é meia-noite" e ela entra deitando-se no meu sofá
e eu lanço-me sobre ela... E, oh, ela era tão linda, ai, ela era tão bela
e vou anunciar ao mundo que a fiz minha...
E eu disse "Querida, diz-me o teu nome" e ela disse-me o seu nome e
o seu nome é... o nome dela é... o nome dela é
G-L-O-R-IA, Glória, G-L-O-R-I-A, Glória...
E de repente eu estava no estádio com duas mil raparigas gritando
os seus nomes para mim, Maria e Rute, mas para dizer a verdade eu
não as ouvi, eu não as vi, os meus olhos olharam para o relógio da igreja
e eu ouvi milhares de sinos a repicar no meu coração...
ding dong, ding dong, ding dong, contando o tempo e então tu entraste
no meu quarto e nos lançamos um sobre o outro, e tu estavas tão linda,
estavas tão bela e eu vou contar ao mundo que te fiz minha...
G-L-O-R-I-A, Glória, G-L-O-R-I-A, Glória....
E os sinos da igreja tocam ding dong, eles repicam e cantam
"Jesus morreu pelos pecados de alguém mas não pelos meus!..."
G-L-O-R-I-A, Glória, G-L-O-R-I-A, Glória
Patti Smith
(Tradução livre de J.C. - Poeta de Valmedo)
João Sem Dó
(Musicólogo de Valmedo)