sexta-feira, 12 de julho de 2019



QUANDO A  ANÁGUA ESPANTALHA...



ANÁGUA, esquisita palavra que me remete a um poema entretanto esquecido de Robert Burns,  e que segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é uma saia que as mulheres usam sob o vestido, uma saia de baixo, etimologicamente derivado do espanhol que designa uma espécie de saia de algodão outrora usada pelas índias e que ia até ao joelho; corriqueiramente e em bom português, um SAIOTE!   E esses saiotes, essas saias interiores podem chegar às sete, à boa moda da Nazaré! 
Vem isto a propósito de um recente encontro imediato de terceiro grau que tive com um saiote em plena horta, corria eu lentamente, claro, quando deparo com uma belíssima plantação de couves a perder de vista, uma maravilha geométrica para os sentidos, mas o que mais me chamou a atenção foi aquele espantalho, uma peça de roupa íntima feminina, em tão bom estado que quase se poderia dizer que alguém, uma formosa dama quiçá, a teria deixado ali esquecida há breves instantes depois de um arrebatamento amoroso... 









Corro o agradável risco de especular que o autor da ideia conheça a origem do artefacto, até pode ser que lhe traga boas memórias de quentes momentos e que, ao pensar em todas as sensações que lhe assaltam os sentidos ao olhar para aquela anágua, isso lhe facilite o árduo trabalho que terá pela frente até que todas aquelas plantas vinguem e lhe dêem sustento... Mente motivada, prémio dobrado! E quem sabe, talvez as couves, agradecidas por terem testemunhado tanto arrebatamento, desatem a crescer desalmadamente, alimentadas por tanta paixão desenfreada...
Mas também posso admitir que o objectivo daquele fantástico espantalho seja o de impor respeito a todas as criaturas ruminantes herbívoras ainda virgens ou imaturas sexualmente, tipo "alto lá!, aqui manda uma fêmea...", e essas fugirão a sete patas, enquanto as outras, as mais experientes, pensarão duas vezes e talvez concluam que não valerá a pena enfrentar tamanho  desafio e eventualmente assistir à derrocada da sua fama de machão...  É apenas um saiote, mas talvez não haja espantalho que meta tanto respeito e que seja tão assustador! O que é certo é que parece resultar, de entre aquelas milhares de couves não há uma única que não esteja intacta...



João das Boas Regras

(Sociólogo de Valmedo)

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