PRÍNCIPE IMPERFEITO, REI DESGRAÇADO..!
Não estava destinado para ser assim mas o destino assim quis, por muitas, imprevisíveis e inusitadas circunstâncias o príncipe Afonso haveria de chegar ao trono contra tudo e contra todos e dele haveria de cair empurrado à traição e sem piedade pelos mais próximos... O rapaz já havia nascido sem sorte alguma, pelos 4 anos de idade caíra gravemente doente num profundo estado febril, talvez uma meningite segundo alguns investigadores modernos e que irá apoucá-lo para sempre, quer física quer mentalmente, ficará apanhado do lado direito do corpo e da cabeça, rezam as crónicas, pouco se aproveitaria! Para além disso, nem ele nem o seu irmão mais novo, o infante D. Pedro, tinham sido preparados para a sucessão ao trono pois essa sempre estivera destinada ao filho primogénito de D. JOÃO IV, o considerado perfeito infante, D. Teodósio, dotado para as letras e para as artes só que com débil saúde, morreria tuberculoso com apenas 19 anos de idade...
Assim, quando morre D. João IV em 1656 abre-se a discussão sobre a sucessão, mas como Afonso ainda só tem 13 anos é pacífica a regência da sua mãe e rainha Luísa de Gusmão, a qual durará meia dúzia de anos...
Entra então em cena uma personagem determinante nesta conturbada época de uma nação em plena guerra contra os espanhóis pela restauração da independência nacional, o Conde de Castelo Melhor, entretanto eleito pela rainha gentil-homem do círculo restrito do príncipe Afonso e que com astúcia política e habilidade negocial vai provocar um terramoto político: apesar das dúvidas sobre as capacidades intelectuais do aspirante ao trono que grassavam pelo reino, a regente é deposta e mandada internar no mosteiro das Carmelitas Descalças onde morrerá de solidão passados três anos, enquanto o seu apoucado filho toma posse efectiva do reino, tem dezanove anos apenas... Mas quem reina de facto é o Conde, é ele o cérebro da estratégia lusitana de alianças num palco inclinado pelas aspirações imperiais das grandes potências europeias da época, França, Espanha, Inglaterra...
Não deixa de ser curioso como um rei considerado débil mental e fisicamente inapto consegue o cognome de "O VITORIOSO", fruto de grandes triunfos contra os espanhóis em várias batalhas, consegue assim a vitória final que era a restauração da independência e ainda tem habilidade para criar laços estratégicos com Luís XIV ao encomendar um casamento com uma princesa da Casa de França, Maria Francisca de Sabóia, protegida do rei gaulês... Claro que por detrás destas manobras políticas e vitórias militares esteve sempre a mão de Castelo Melhor e com isso granjeou as inimizades de muita gente... Quando a princesa chega à corte portuguesa imediatamente provocou grande alvoroço, tal era a sua graça e formosura, a sua inteligência e distinção e, talvez com a excepção de D. Afonso, ninguém ficou indiferente a tanta beleza e quem ficou apanhadinho de todo foi D. Pedro, que nunca mais largou a beldade de vista! E a coisa só poderia correr mal, era demasiada bagagem para o rei tolo e dizia-se à boca cheia, especialmente entre os correligionários de D. Pedro e inimigos do conde que mulher assim era mal empregada num rei inapto e impotente, que mais valeria emparelhá-la com o infante...
Ainda tentou responder Castelo Melhor mas a cabala estava montada, D. Pedro e a rainha amantizaram-se e conspiraram contra D. Afonso, exigindo a sua renúncia alegando incapacidade e impotência sexual do rei , motivos suficientes para anular o matrimónio... E tal veio a acontecer, passado pouco mais de um ano, D. Afonso viu-se obrigado a abdicar a favor do seu irmão e este não só não se fez rogado como ainda lhe roubou a mulher casando com ela! Mas o novel rei, D. PEDRO II, não esteve com meias medidas e impiedosamente mandou encarcerar o irmão até ao final da sua vida, primeiro na Terceira, onde foi prisioneiro durante cinco anos e depois em Sintra, por mais dez anos de cativeiro, até finalmente sucumbir após 40 anos de uma vida sofrida...
E ao pobre Afonso só lhe faltou usar uma máscara para se sentir na corte de Luís XIV...
João Alembradura
(Historiador de Valmedo)
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D. Afonso VI |
Entra então em cena uma personagem determinante nesta conturbada época de uma nação em plena guerra contra os espanhóis pela restauração da independência nacional, o Conde de Castelo Melhor, entretanto eleito pela rainha gentil-homem do círculo restrito do príncipe Afonso e que com astúcia política e habilidade negocial vai provocar um terramoto político: apesar das dúvidas sobre as capacidades intelectuais do aspirante ao trono que grassavam pelo reino, a regente é deposta e mandada internar no mosteiro das Carmelitas Descalças onde morrerá de solidão passados três anos, enquanto o seu apoucado filho toma posse efectiva do reino, tem dezanove anos apenas... Mas quem reina de facto é o Conde, é ele o cérebro da estratégia lusitana de alianças num palco inclinado pelas aspirações imperiais das grandes potências europeias da época, França, Espanha, Inglaterra...
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Maria Francisca de Sabóia |
Ainda tentou responder Castelo Melhor mas a cabala estava montada, D. Pedro e a rainha amantizaram-se e conspiraram contra D. Afonso, exigindo a sua renúncia alegando incapacidade e impotência sexual do rei , motivos suficientes para anular o matrimónio... E tal veio a acontecer, passado pouco mais de um ano, D. Afonso viu-se obrigado a abdicar a favor do seu irmão e este não só não se fez rogado como ainda lhe roubou a mulher casando com ela! Mas o novel rei, D. PEDRO II, não esteve com meias medidas e impiedosamente mandou encarcerar o irmão até ao final da sua vida, primeiro na Terceira, onde foi prisioneiro durante cinco anos e depois em Sintra, por mais dez anos de cativeiro, até finalmente sucumbir após 40 anos de uma vida sofrida...
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"Afonso VI - prisão em Sintra" - Roque Gameiro, 1917 |
E ao pobre Afonso só lhe faltou usar uma máscara para se sentir na corte de Luís XIV...
João Alembradura
(Historiador de Valmedo)
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