sábado, 29 de junho de 2019



HISTÓRIAS DO TOURO DA BALEIA


Séculos atrás, espraiava-se aqui tranquilo numa baía o oceano dando forma a um porto seguro... Ao longe avistava-se uma série de ilhas, a mais próxima e mais pequena, a norte, receberia depois o nome de BALEAL exactamente porque os seus rochedos serviam de orientação na caça à baleia que aí se praticava, a outra, muito maior e em frente, a oeste, lhe chamaram os romanos que por aqui andaram "Phenicíes" (a vermelha) que se aportuguesou depois como PENICHE, e por trás desta, lá ao fundo e apenas visível em dias claros, um pequeno arquipélago, as BERLENGAS...


BALEAL - "Baleia (Peniche), Berlengas, Farilhões..."

Hoje, estamos em pleno centro da vila de ATOUGUIA DA BALEIA e hoje, já o Atlântico não chega aqui, não há vestígios desse célebre porto que chegou a ser outrora o maior da Lusitânia entre a foz dos rios Douro e Tejo, local obrigatório para que então toda a navegação da orla marítima se abrigar, reabastecer ou então comercializar. Outrora, esse estuário balizado a norte pela ilha do Baleal e a sudoeste pelo rochedo da CONSOLAÇÃO, era rico e diverso em peixe miúdo que aí procurava águas tranquilas para desovar mas atrás de si vinham os seus predadores, os grandes mamíferos do oceano, baleias, cachalotes, golfinhos, os quais, arriscando em demasia lá encalhavam por vezes nos baixios traiçoeiros e era um deleite para as populações, carne e gordura que o mar lhes trazia sem grandes aventuras... Nem sempre era assim tão fácil, muitas vezes lá era preciso embarcar e ir à caça desses monstros ali para o largo da ilha do Baleal!
A BALEIA, cuja rota de então passava por esta costa, faz portanto parte da história desta terra e em sua homenagem pode ver-se ainda hoje um osso de um desses cetáceos na bela igreja gótica de São Jerónimo, a qual, reza a lenda, dantes tinha o seu telhado assente totalmente em ossos desse animal...
Mas porquê ATOUGUIA? Basta interpretar os sinais...


"Touril"

Se o visitante for curioso vai questionar o porquê de a calçada portuguesa que embelece o centro histórico da vila estar cheio de touros e além disso, ainda que distraído, vai reparar numa curiosa série de estranhas pedras alinhados mesmo no largo principal e que parecem menires esburacados... E voltamos ao tempo em que as baleias cruzavam estas águas, em terra abundavam densas florestas e matagais por deambulavam muitas espécies de animais e aves selvagens, entre as quais se distinguia o touro bravo que era alvo de caça não só pelos navegantes ávidos de carne como pela população local. Assim, chamou-se naturalmente ao porto TOURIA, que derivou do antigo latim para TAURIA e finalmente para ATOUGUIA, ao qual só faltou juntar a baleia...
E no meio da vila lá estão aquelas pedras que faziam parte do antigo TOURIL, passavam-se madeiras pelos seus irifícios e assim se delimitava o recinto onde se faziam as festas dos touros!


Igreja São Leonardo


João Alembradura
(Historiador de Valmedo)

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