sexta-feira, 21 de junho de 2019


O DESTERRO DA BERLENGA...


Apenas dez quilómetros de mar separam o cabo Carvoeiro do arquipélago das BERLENGAS mas quem por lá ficar sentir-se-á no fim do mundo... Assim foi desde a Antiguidade com os romanos, que chamaram "Ilha de Saturnoà Berlenga Grande, a maior ilha do arquipélago e a única habitável, e continuou a ser assim com os vikings, piratas marroquinos ou corsários ingleses e franceses que por aí deram à costa e pesquisaram... Não havia muito uso a dar àquelas aflorações graníticas de poucos recursos mas assim não entendeu a rainha D. LEONOR, a vizinha e riquíssima patrona das Caldas da Rainha e outras obras meritórias que, em 1513, patrocinou de bom grado e melhor intenção a instalação de um mosteiro da Ordem de São Jerónimo em plena Berlenga Grande com o intuito de prestar auxílio às embarcações que por aí passavam e às vítimas dos frequentes naufrágios provocados pelo mar inclemente... É deste tempo a maravilhosa história do amor proibido de D. Rodrigo e D. Leonor,  ele desterrado para o mosteiro da Berlenga por seu pai e ela chorando a sua ausência, ambos filhos de famílias abastadas e inimigas de Peniche e que, qual shakesperiana tragédia, ainda perdura hoje na memória das gentes...


"Berlengas ao longe..." - Jean-Charles Forgeronne

Não aguentaram muito os frades aquele santo desterro devido à fome, às doenças e aos ataques dos piratas, o mosteiro seria abandonado e acabaria em ruína... Passado mais de um século, em plena Guerra da Restauração da Independência, e aproveitando a preciosa localização estratégica do arquipélago, D. João IV, com o intuito de criar uma barreira de defesa perante as invasões marítimas dos inimigos, ordenou a construção de uma fortaleza a partir das ruínas do antigo mosteiro, nascia assim o FORTE DE SÃO JOÃO BAPTISTA...


Planta da Fortaleza da Berlenga

Alvo de inúmeros ataques, o forte foi sempre um baluarte na defesa do território, não apenas na Guerra da Restauração como também durante as Invasões Francesas, tendo servido nesse tempo como base de apoio às aliadas tropas inglesas... O seu alto valor estratégico mereceria o aval quer de D. Afonso VI e de D. João VI para consecutivas obras de restauro, obras essas que teriam continuidade na década de 50 do século XX para o transformar numa pousada e assim foi até ao 25 de Abril de 1974, altura em que foi desactivado... Finalmente, hoje em dia funciona como "casa-abrigo" da Associação dos Amigos das Berlengas, e ainda bem que assim é, desterro assim precisa mesmo é de amigos que cuidem dele!


João Alembradura
(Historiador de Valmedo)

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