sexta-feira, 7 de junho de 2019



AS MUITAS VIDINHAS DAS PESSOAS...



Amigos caninos, não sei se já alguma vez passaram por esta experiência mas ainda não estou bem em mim, vejam lá que a L. está a terminar uma fase importante da sua vida, parece que, ao contrário de nós, os humanos não gostam de encarar a vida como uma coisa única e contínua, antes gostam de a dividir em muitas outras vidinhas, aquela de quando eram pequeninos, depois aquela de quando já eram pessoas em miniatura, depois quando iam para aquela coisa chamada escola para aprender coisas que não usam no dia a dia e quanto mais coisas aprendem mais coisas esquecem porque não têm cabeça para tudo, a vidinha que eles chamam de adulta, outra vidinha que eles chamam de inferno que é quando vão para um sítio chamado trabalho e por aí adiante, elas são tantas vidas que acho que quando chegar a ser um cão já muito velho ainda não as hei-de conhecer todas... E já repararam na confusão que é uma pessoa ter que lidar com tantas vidas e ainda por cima às vezes cada uma anda com a sua vidinha diferente da vidinha das outras? Olhem, por exemplo, o J.C agora farta-se de me dizer que não só tem saudades da sua vidinha anterior em que não tinha barriga como está desertinho para largar esta que tem hoje e entrar na próxima vidinha a que ele chama a da reforma, e tantas vezes o diz que até chego a baixar as orelhas só para não ouvir o chato...
Ainda bem que nasci cão, penso de vez em quando...


A minha fita


Bem, mas voltemos ao que interessa, vai daí, amigos caninos, um dia destes a L., que agora tem passado mais tempo aqui por Valmedo depois de ter ido uns tempos para o outro lado do mundo aprender mais coisas com outras pessoas diferentes, chega-se ao pé de mim com uma fita para eu assinar, que era uma coisa muito importante para ela e que iria ser uma recordação para o resto da sua vida... E eu, claro, sem saber a qual vida ela se referia, tive que perguntar:
   - Mas vais-te embora outra vez, para outra vidinha?
   - Ainda não, James, ainda tenho muita coisa para aprender por aqui, mas espero um dia ir para outra vida, sim, é para isso que tenho estudado tanto! Mas não te preocupes, nunca te abandonarei! Virei sempre visitar-te quando puder e quem sabe, até te posso levar comigo a ver outros mundos...
   - E eu teria que mudar de vida? - perguntei, desconfiado...
   - Não, tonto, era só por uns tempos!
E fiquei aliviado, amigos caninos, é que acho que já criei raízes por aqui que não iria sobreviver noutro lado, gosto muito da minha única vidinha que vou vivendo aqui por Verde-Erva-Sobre-O-Mar...  Assinei a tal fita com muito gosto e só desejei que quaisquer que sejam as vidinhas que a minha querida L. tenha que viver que seja feliz e que nunca se esqueça de mim...
Ontem vi então as fotografias dessa cerimónia de passagem de uma vidinha para outra e emocionei-me, amigos caninos, lá estava minha fita entre todas aquelas de outras pessoas importantes para a L, e desde aí sou cão muito orgulhoso...



James
(Cão de Valmedo)

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