quarta-feira, 12 de junho de 2019


O HOMEM E O PODER DA GRAVATA...


Foi a revolução social e cultural dos anos 60 que acabou com a obrigação do uso da gravata, até então e por mais de 200 anos andar engravatado era uma fatalidade desde tenra idade para os homens, começava na escola e no liceu, continuava no escritório e levava-se quando se saía à rua, indispensável em jantares ou reuniões sociais ou de família... A geração da contra-cultura, da paz e do amor livre, elegeu então a gravata como símbolo de opressão e da ditadura burguesa, e de facto assim era, e passados 60 anos andar engravatado apenas é exigido em raras excepções,  hoje impera a liberdade de escolha, pode-se usar o adorno apenas quando e onde bem apetecer...


Gravata bowieana
Não é por acaso que em certas áreas como as dos negócios e da política ainda é e será sempre obrigatório o uso da gravata pois ela está associada a uma impressão de dignidade, confiança, respeito, tradição... Coitados então daqueles que trabalham nas grandes empresas, nos bancos e nas seguradoras, até nalgumas agências imobiliárias, enfim em tudo o que se prende com o dinheiro que se pretende dos outros, lá terão eles que escolher sempre a gravata certa para levar no dia seguinte para o trabalho. E atenção porque há muitos negócios que podem fracassar num ápice apenas porque a gravata escolhida para a ocasião não foi a melhor e não impressionou por aí além o potencial cliente! É o poder da gravata...
Mas o poder da gravata não se esgota na área profissional, sendo ela a mais alegre e vistosa peça do tímido e muito curto vestuário masculino, permite expressividade perante os outros, uma gravata revela a personalidade ou o estado de alma momentâneo de quem a usa! A variedade de gravatas permite ao homem mil e uma mensagens, desde andar primaverilmente engravatado com flores, sentir-se matemático através de motivos geométricos, transmitir sobriedade com uma peça lisa e monocolor ou até sentir-se revolucionário se optar por uma gravata com uma imagem de Che Guevara... E então, aí sim, quando a gravata é usada não por obrigação mas por vontade e por desejo de afirmação, torna-se sinónimo de prazer e bem estar...
Hoje preciso de ordem...
Não deixa de ser curioso que hoje a gravata simbolize a revolução contra a ditadura da moda pronto-a-vestir que tende sempre a uniformizar a sociedade, olhamos em volta e parece que toda gente anda vestida da mesma maneira e no mundo masculino então isso é levado ao extremo, do fato e gravata  do antigamente passou-se para a ditadura da ganga que toda a gente usa ou da combinação clássica calça-camisa, tudo padronizado porque todos compram no mesmo sítio. Usar uma gravata expressiva é então ser diferente, ser único, é ter poder...
Mas muita atenção, amigo utilizador de gravata, não revele em demasia e por distracção o que lhe vai na alma, fique sabendo que ao admirar a sua gravata alguém bem informado pode descobrir os seus segredos, é como se o estivesse a ver todo nu, imagine... Muitos especialistas no universo da gravata afirmam que ela simboliza virilidade, tornando-a num símbolo fálico, e isso é pacífico, mas vão mais além e caindo até no reino da psicanálise afirmam convictamente que, por exemplo, quem coloca uma gravata com motivos geométricos anseia por colocar ordem no mundo-cão, que quem opta por uma gravata às riscas é um adepto fervoroso da disciplina e da organização, enquanto que quem escolhe uma gravata com motivos repetidos sofre de inquietação...
Por isso, amigo, é livre de poder usar o poder da gravata, mas convém usá-lo em seu proveito...

João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)

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