terça-feira, 12 de março de 2019


EFEMÉRIDE # 56


UM ELEFANTE NO VATICANO


Precisamente há 505 anos, no dia 12 de Março de 1514, entrava em Roma coisa nunca vista, um estranho, colorido e deslumbrante cortejo que fazia os romanos abrirem a boca de espanto à medida que ia desfilando pelas ruas da cidade... A comitiva, composta por mais de cem pessoas sumptuosamente trajadas, deslumbrava também pela riqueza dos presentes que transportava e pelo exotismo de algumas criaturas: um cavalo persa, uma onça de caça, dois leopardos, uma pantera, papagaios e um elefante... 
Tratava-se de uma embaixada enviada por D. Manuel I ao Vaticano com o intuito de impressionar o recém empossado Papa LEÃO X e obter favores políticos, principalmente o reconhecimento papal da legitimidade portuguesa na descoberta, conquista e soberania de territórios em plena odisseia dos Descobrimentos, ao mesmo tempo que reiterava a obediência do reino português à Santa Sé, e para isso não se poupou o monarca...


A grande atracção porém, não só neste dia mas também nos dois anos seguintes, seria  HANNO, um elefante branco com quatro anos de idade e que era capaz de habilidades extraordinárias... Só passados dias a comitiva será recebida pelo Papa e até lá Hanno carrega um palanque de prata em forma de castelo contendo um cofre com os presentes reais, paramentos bordados com pérolas, pedras preciosas aos montes e muitas moedas de ouro...

HANNO - Desenho de Rafael

O cortejo será recebido no Castelo de Santo Ângelo e diante de Leão X Hanno deslumbra os presentes ao ajoelhar-se três vezes em sinal de reverência para depois, ao sinal do seu mahout (tratador) enfiar a tromba num balde,  aspirar e com um movimento gracioso aspersar água sobre os cardeais e sobre a multidão... Não há relato sobre a qualidade da água, se era benta ou não, mas por estar todo o mundo maravilhado ninguém se importou com isso! Certo é que o elefante caiu imediatamente nas graças de toda a corte papal e especialmente do Papa que o adoptou como mascote e companhia privilegiada ao ponto de aquando da morte do animal passados apenas dois anos devido a complicações respiratórias provocadas pela humidade de Roma, Leão X, ele próprio, lhe escreveu o epitáfio e mandou enterrá-lo no sagrado terreno do Vaticano... 
Na sua curta estadia em Roma, Hanno fez mais por Portugal do que muito diplomata e conquistou também artistas que o adoptaram para versos satíricos, poemas e até o grande RAFAEL o desenhou...


O elefante mais abençoado do mundo caíria depois num longo esquecimento para os lados de Roma até que em 1962, decorria o Concílio Vaticano II, são descobertas as suas  ossadas em pleno solo do Vaticano, para espanto de todos porque já ninguém se lembrava de Hanno..: A estranha ocorrência resgatou o nosso herói paquiderme para a ribalta ao conquistar a atenção do historiador italiano Silvio Bedini que escreveu um livro baseado na sua vida: "O Elefante do Papa"... 




João Alembradura
(Historiador de Valmedo)

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