EFEMÉRIDE # 55
A CLEPSIDRA, O TEMPO E A AUSÊNCIA...
É extraordinário como alguém que apenas publicou um pequeno livro de poemas em toda a sua vida (Clepsydra) se tornou num nome incontornável das letras lusitanas ao ponto de ser considerado o expoente máximo do simbolismo lusitano ...Passam hoje 103 anos sobre a morte de CAMILO PESSANHA, um desgraçado em vida e um herói quando morto, vítima do ópio, a droga do esquecimento.. Filho ilegítimo, meio aristocrático meio plebeu, formado em Direito em Coimbra, tendo exercido advocacia em Óbidos no ano de 1894 e emigrado para Macau no ano seguinte para ser magistrado e professor de Filosofia, e aí permanecendo num exílio voluntário por quase trinta anos, devido ao desgosto amoroso não correspondido de uma vida, não a um qualquer desgosto amoroso...
Sempre tinha sido boémio nos tempos de jovem estudante e acumulando isso com uma propensão genética para a doença, acabaria por se revelar uma personagem sombria, sofredora, melancólica e ausente...
Não se preocupava Camilo em escrever os seus poemas em papel, antes os decorava e os declamava quando bem o entendia... E, curiosamente, foi a destinatária da sua paixão recusada, Ana de Castro Osório, entretanto tornada uma escritora activista e cívica, que, a partir de trechos publicados em jornais e poemas autografados a ela dirigidos, pôs mãos à obra e conseguiu publicar, sem a participação do autor, refugiado em Macau, CLEPSIDRA... Exceptuando as duas vezes que veio a Portugal para curar a doença que o atormentava, afastou-se Camilo Pessanha de tudo e de todos, apaixonando-se entretanto pela arte e pela cultura chinesas...
Magro, de olhar febril e ar doente, de assustadora barba negra, a Camilo nada falta para corporizar as simbologias drásticas de Baudelaire ou os venenos poéticos de Verlaine...
A sua melancolia e poética musical atrairiam a atenção e a admiração de, entre outros, Fernando Pessoa...
J.C
(Poeta de Valmedo)
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