A MODA DE PASSAR PELOS PASSADIÇOS...
Viraram moda os passadiços, em todo e qualquer lado vão nascendo as abençoadas estruturas de madeira que, se por um lado constituem um salutar convite ao passeio e ao exercício, por outro tornam-se um chamariz turístico e finalmente, tal qual as ciclovias, funcionam depois como medalhas de louvor político para os responsáveis de qualquer freguesia ou câmara, a coisa a nível comunitário até pode continuar estagnada e inquinada em muitas áreas sociais e no desenvolvimento mas quando chega a hora de acertar contas e julgamento popular lá saltam do curriculum os quilómetros cicláveis e passeáveis construídos por cada município e como ninguém quer ficar atrás é vê-los entretidos numa saudável competição para ver quem semeia mais este novo ópio do povo... Ainda bem que assim é porque no meio dos fundos que se perdem e daqueles mal gastos este é ao menos dinheiro bem empregue, pena é que nalguns casos não se invista também no bem-estar das populações com a construção de um jardim ou parque público digno desse nome, na oferta cultural, nas vias de acesso ou em infraestruturas desportivas como piscinas e estou a referir-me, claro e por exemplo, à capital dos dinossauros...

Bom, chega de dissertação social e política, interessa mesmo é falar dos PASSADIÇOS DAS ESCARPAS DA MACEIRA, ali na fronteira entre os concelhos da Lourinhã e de Torres Vedras, ainda a cheirarem a novo porque recentes no seu ano de existência e por onde me inaugurei esta manhã...
O passadiço liga Maceira a Porto Novo, primeiro debaixo da sombra dos pinheiros e depois sobranceiro à vista do mar e do célebre rochedo da praia, e apesar de ter apenas 1 Km de extensão vale o esforço, embora o ideal seja continuar um bom bocado mais retrocedendo pelo caminho alcatroado que vem da antiquíssima portagem e da Fonte dos Frades, porque essa acaba por ser a melhor parte do passeio, caminhar à beira do manso Alcabrichel, de nariz ao alto contemplando as escarpas ao perto e ao longe, à esquerda e à direita, inspirando o aroma dos pinheiros sob a sombra dos plátanos, dos salgueiros-brancos e dos choupos-negros, embalado pelo som do vento na folhagem e pela sinfonia passaral...
Chegando à Fonte dos Frades, outrora um belo enquadramento arquitectónico na paisagem e que hoje vai denotando preocupantes sinais de abandono e previsível futura ruína, hesita-se entre dar meia volta e voltar para trás em demanda da foz do rio ou seguir em frente e encarar mais uma milha de trajecto até às piscinas do Vimeiro, ali ao lado de balneários há muito abandonados e do edifício do hotel onde não se reconhece o esplendor de outrora. Nesta última parte do percurso, o Alcabrichel tornou-se um mero ribeiro que vai abrindo a custo caminho pela vegetação que afoga o seu leito, é difícil imaginar que aquele fio de água chega ali depois de uma árdua luta pela sobrevivência desde a Serra de Montejunto, ao longo de vinte e cinco quilómetros, e por mais que não seja é a coisa mais importante deste mundo para alguns, como é o caso do Ruivaco-do-Oeste, peixe endémico e que, como o nome indica, só existe em Portugal neste rio, no rio Sizandro e numa ribeira de Mafra...
Por isso, e depois de uma bela manhã de empatia e reflexão com a natureza, obrigado aos passadiços e a quem os vai semeando...
João Palmilha
(Viajante de Valmedo)
Caro amigo João Palmilha. A génese da ideia de edificação de passadiços até pode ter sido benévola e potenciadora de aproximação à natureza. Permite-me, porém, opinar no sentido de que haverá, já, algum desvirtuamento, quer paisagístico quer à própria génese da ideia, quando a massificação do seu uso tem como objectivo o lucro que gera e não o comprometimento purista homem/natureza. De facto, este género de estrutura só muito superficialmente nos leva ao sentimento de estarmos imbuídos na natureza, de com ela partilharmos a nossa existência de uma forma que tu perfeitamente perfilhas e partilhas. Além do mais, entendo que estas estruturas não beneficiam, antes desvirtuam todo o envolvimento paisagístico envolvente constituindo uma aberração na natureza. Sou da opinião que, se as pessoas realmente quiserem comprometer-se com a natureza e o meio ambiente natural, não têm necessidade de passear neste género de tapetes de madeira morta. Boas caminhadas, amigo, companheiro, camarada... estou à espera da nossa próxima caminhada misteriosa!
ResponderEliminarEstamos em sintonia, mas sempre é melhor haver alguns passadiços do que monstros de betão armado que só enchem bolsos corruptos... Quanto à caminhada-mistério, vou tratar disso e não precisamos de passadiços para nada!
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