quinta-feira, 11 de junho de 2020



OBJECTOS E MEMÓRIAS DE UMA VIDA...

Nunca me imaginei ser capaz de o fazer mas é verdade, hoje vi-me quase a cometer um crime, um horrível, impensável e imperdoável crime, quase deitei para o lixo umas sapatilhas de corrida, não umas sapatilhas quaisquer com que fiz uma corrida qualquer mas nem mais nem menos do que as sapatilhas das minhas meias e integrais maratonas... Claro que para muitos atletas, corredores e desportistas a sério isto pode parecer estranho, mas eu, desportista por gosto, corredor pelo convívio e maratonista pelo desafio, confesso que durante uns seis ou sete anos fiz todas as minhas grandes provas com as mesmas sapatilhas, umas adidas compradas em outlet nos saldos do Freeport de Alcochete...  


Claro que não existem sapatilhas que aguentem tantos anos mas eu tinha outras e outras e outras para treinar, estas, pelo conforto que me proporcionavam e pela confiança que me davam tornaram-se um talismã e só eram mesmo calçadas para as provas oficiais, e que, ainda assim, devem contabilizar no curriculum ao longo destes anos todos um bom milhar de quilómetros e picos! É obra... 
Claro que hoje, ao regressarem do seu último exercício, uma corrida de homenagem pelos bosques do Moledo, aí estão elas esburacadas, literalmente a desfazerem-se mas ainda com a dignidade com que sempre me apoiaram nos bons, nos maus e especialmente em muitos e inesquecíveis momentos... 

Elas fizeram comigo muitas meia-maratonas, alguns trails até e também a maratona de Lisboa, a do Porto e especialmente a de Paris em 2016, aquela que me custou mais e que só consegui terminar graças ao apoio e incentivo do Antero Martins, então atleta dos fabulosos Tálento Pr'a Correr Team... Mas a coisa acabou bem em Paris, tivemos sucesso no empreendimento embora num ambiente estranho porque na altura se estava em plena paranóia anti-terrorista depois do terrível e miserável ataque ao Bataclã, levado a cabo quatro meses antes... E por isso mesmo, interrogo-me agora mais sereno, que me passou pela cabeça, que insanidade me assaltou ao ponto de me tentar a mandar para o lixo estas sapatilhas que comigo compartilham tão fortes e gratas memórias? Portanto, apesar de todos os riscos inerentes, decidi que muita coisa poderá ir para o lixo, t-shirts, medalhas, bibelots, troféus, fotos até, mas estas sapatilhas não, irão elas fazer parte de um restrito mas importante museu, algures escondido na minha garagem, o MUSEU DAS EMOÇÕES DESPORTIVAS...


28666
(Atleta de Valmedo)

1 comentário:

  1. Parabéns, my friend. Fazendo um rápido cálculo matemático chego à conclusão de que és um ser que carrega um enorme privilégio entre os seres humanos: o de seres um maratoniano, criatura rara entre cerca dos 5 biliões que habitam este planeta...

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