MEMÓRIAS VISUAIS DO MURO...
O muro, sendo na sua essência uma desgraça e um símbolo da vergonha humana, acabou também ao longo do tempo por se tornar num mito artístico, tendo contribuído para fazer de
BERLIM um paraíso irresistível para toda a gente criativa, fossem eles músicos, cineastas, pintores, escritores, filósofos, investigadores ou simplesmente curiosos... Em Berlim é diferente, à sombra do muro tudo é possível e a percepção do mundo ganha contornos únicos, assim tinha mostrado
BOWIE... Quanto às memórias do muro inexistente elas são, logicamente, mais nítidas nas imagens cinematográficas porque aí é mostrado o objecto real, a própria parede, sem artefactos nem fantasias. E muitos filmes fazem do muro uma coisa ainda viva, ainda ele não caíra e Wenders filma uma obra-prima, um legado para a posteridade sobre as fronteiras entre dois mundos, corporizadas pelo muro que separa o cá e o lá, o palpável e o espiritual, tudo enredado nas aventuras de um anjo que que quer baixar à terra porque se perdeu de desejos por uma trapezista bem carnal... A meu ver, o título original é mais belo,
"O Céu sobre Berlim", mas enfim...
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"As Asas do Desejo" - 1987, Wim Wenders |
Passados dezasseis anos, em 2003, no primeiro grande papel de
Daniel Brull, o realizador alemão Wolfgang Becker apresenta-nos uma deliciosa comédia trágica sobre o desmantelamento da RDA, um filho pródigo vê-se na contingência de reinventar o mundo para que a sua mãe sobreviva à queda do muro e às grandes emoções!
"Goodbye Lenin" é uma daquelas pérolas que aparece de tempos a tempos...
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"Goodbye Lenin", Wolfgang Becker, 2003 |
Claro que
Steven Spielberg nunca se poderia alhear da questão do muro, já tinha exorcizado alguns fantasmas nazis noutros filmes e neste, de 2015, e num registo que me é particularmente grato, a ficção baseada em factos verídicos, brota uma história absolutamente extraordinária que só é possível devido a um realizador visionário e a um actor fora-de-série,
Tom Hanks...
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"A Ponte dos Espiões", 2015, Steven Spielberg |
Finalmente, embora muitos outros exemplos pudessem ser referidos, nota final para um filme mediano mas que nos apresenta o muro sobre outro ponto de vista, reduzindo-o quase a uma curiosidade turística e existencial, mas tocando no ponto nevrálgico, o
MURO é incontornável! E apesar dos papéis serem menores é sempre agradável voltar a ver
Charlize Theron e
Charles McAvoy...
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"Atomic Blond", 2017, David Leitch |
João Película
(Cinéfilo de Valmedo)
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