BOA NOITE! VIMOS DE TORRES VEDRAS...
Convite amigo de última hora, expectativa de um espectáculo interessante e promessa de acabar a noite em assaltos carnavalescos lá rumei eu mais o Maurício, que até tem boa onda musical, até a um Cine-Teatro de Torres Vedras esgotado para um espectáculo único: a comemoração dos dez anos de existência de uma banda da terra, os ALBALUNA... E se até ontem deles nunca tinha ouvido falar e portanto completamente a leste do que iria ouvir, hoje sinto-me grato pela descoberta e mais convencido fiquei que às vezes é bom deixarmo-nos levar por marés desconhecidas e hoje sei que vou acompanhar a história de vida destes músicos sui generis...
Se alguém esperava que a ALBALUNA (lua branca) surgisse em palco em tons claros e luminosidade pardacenta desenganou-se com estrondo ao deparar-se com um quinteto masculino completamente trajado de preto e uma dupla feminina em tons vivos de carmim, enquanto as luzes acompanham desenfreadamente o ritmo frenético da maior parte dos temas... E cedo se percebe que o mundo cabe naquele palco ao desfilarem nele incomuns e antigos instrumentos oriundos de zonas tão díspares como as ilhas britânicas dos celtas, Galiza, Grécia, Turquia, Índia, Afeganistão ou, claro Portugal: gaita-de foles transmontana e galega, flautas, violino, batuques e mais batuques, tambour, bouzouki, rubab, oud, saz, lavta e por aí fora, e a explicação é bem simples ou não fosse Ruben Monteiro, o cérebro do projecto, formado em História e Arqueologia e com uma curiosidade inesgotável quanto às tradições musicais de ancestrais culturas que o levou a aprender a tocar aquela parafernália de instrumentos de cordas. Mas nenhum tem o impacto da sanfona medieval, imagem de marca dos ALBALUNA, uma espécie de violino alimentado por uma manivela mas cujas notas são criadas num teclado...
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O homem e a sanfona... |
Talvez mais conhecidos e reconhecidos no estrangeiro do que em Portugal ou na sua terra, fazem questão de não esconder as suas origens e a sua obra mesclada de folk, música medieval, rock progressivo e até ocasionalmente com laivos de heavy metal merece a descoberta e o desfrute começando, por exemplo, pelo "Nau dos Corvos", álbum de 2016.
E agora que ainda estou a ressacar do show, fecho os olhos e tenho a impressão que ontem onde eu estive de facto não foi no Cine-Teatro mas numa clareira de um bosque sagrado de carvalhos numa cerimónia de adoração aos deuses da natureza e do cosmos... E também por isso, amigos Albaluna, parabéns! E espero encontrar-vos mais vezes por aí...
João Sem Dó
(Musicólogo de Valmedo)
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