TASCAS E ANTROS DE PRAZER - XXXVI
UM BURGR DO ÁRTICO AO JEITO DE LISBOA
Chegados ao centro de Troms∅ era hora de comer e com a neve a cair, embora suavemente, ansiávamos por um abrigo confortável e o nosso desejo acabaria por ser realizado no BURGR, uma pequena mas aconchegadora hamburgueria, de boas referências segundo a L., que a tinha pesquisado, e lá entrámos deixando o tempo farrusco atrás das costas...
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"Burgr, aquele bar..." - Jean-Charles Forgeronne |
Sentamo-nos em fila ao balcão porque não havia mesa disponível e também porque não nos apetecia ficar à espera, trocámos uns comentários sobre o agradável ambiente do espaço ao mesmo tempo que nos embrenhávamos na complicada tarefa de tirar casacos, luvas, gorros, cachecóis e demais apetrechos, e não sei como explicar mas os meus óculos, presos em qualquer coisa, voaram e aterraram do outro lado do balcão e então não evitei um sonoro "Merda! F*da-se!", mandado para o ar com a segurança de que ali, quase no Polo Norte, ninguém me perceberia...
Mas já a jovem empregada se aproximava, numa mão trazia as cartas do menu e na outra as minhas gafas, felizmente intactas...
- Thank you! - disse eu, esmerando-me na pronúncia britânica... - I don't know what happened... - ia eu dizendo, quando ela me interrompe:
- Não há problema, pode falar português!
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"Bullet Bill" - Jean-Charles Forgeronne |
"What the fuck!", pensei eu em português enquanto já ouvia uns risinhos ao lado:
- Você é portuguesa?
- Sim, de Lisboa...
E enquanto a refeição decorria sem pressas, sempre que a Sofia se acercava de nós, assim se chama a lisboeta que veio trabalhar para Tromso há cerca de um ano, lá eu aproveitava para um diálogo lusitano, agradável para ela porque raramente tinha clientes portugueses, são mais os brasileiros e espanhóis, e agradável para nós porque encontrar uma alfacinha naquele pedaço de mundo tão distante era um achado extraordinário...
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"Aurora do Bugr" - Jean-Charles Forgeronne |
Que não, não falava norueguês, é muito difícil e o inglês basta para se safar, não só com os clientes como na vida social, mas claro, Tromso é bonito mas, verdade verdadinha, não há nada como Lisboa, isso sim, lindo, a luz, o calor, conta os dias para o regresso em Maio, para acampar e gozar o mar... Entretanto olha pela janela lá para fora, continuava nevando, e pergunta:
- Vieram por causa das auroras?
- Sim, temos excursão marcada para as cinco e meia...
- Com este tempo?! Boa sorte!
- Acha que não?
E encolheu os ombros, o que equivalia a um prognostico sombrio...
- Bem, logo veremos... - respondi, olhando para os efeitos especiais que iam acontecendo no tecto - Sempre teremos estas do Burgr...
Quantos aos hamburgueres, o meu, o "Bullet Bill", com bacon frito em cerveja, queijo cheddar, pickles e cebola crocante, arrisco dizer que é o melhor hamburguer que se pode encontrar mais a norte neste mundo!
João Ratão
(Chef de Valmedo)
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