LENDAS E NARRATIVAS - XXVI
O BANHO DA REAL PELICANA
Consta que a Rainha puxou de súbito as rédeas e o seu cavalo e restante caravana pararam obedientes, tinham saído há pouco de Óbidos em direcção ao Mosteiro da Batalha com o intuito de participar nas solenidades fúnebres de D. Afonso V, seu tio e sogro falecido três anos antes, a viagem ainda seria longa e desconfortável mas a curiosidade falou mais alto e agora tentava perceber o estranho espectáculo que tinha diante dos olhos: num descampado à beira do caminho centenas de pessoas banhavam-se alegremente nuns charcos de água pestilenta de onde emanavam vapores sulfurosos...
E dirigindo-se àquelas pessoas de baixa condição social perguntou D. Leonor, a esposa do perfeito rei D. João II, o que faziam naquelas águas de mau aspecto e cheiro, ao que lhe disseram que aquelas cálidas águas eram milagrosas, que curavam elas muitas e diversas maleitas! A Rainha, padecendo também ela de alguns desconfortos, não pensou duas vezes e decide pôr à prova o milagre, desce do cavalo e vai ao banho também, por entre a populaça e perante o ar embasbacado da sua comitiva... A Rainha parecia uma pelicana na água, ela que mais tarde seria apelidada de "pelicana real" devido não só ao brasão real do esposo mas especialmente porque, tal como o pelicano faz em relação aos filhos, a benfeitora D. Leonor também tirava alimento do seu peito para dar aos pobres... Certo é que saiu do banho retemperada e convencida, lá continuou a viagem mas na sua cabeça já germinava uma ideia: naquelas caldas iria mandar construir um hospital, acessível a todos que nelas se quisessem tratar e gratuito para pobres e desfavorecidos...
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"Hospital Termal das Caldas da Rainha D. Leonor" - Jean-Charles Forgeronne |
Em 1485 seria pois fundado o Hospital Termal das Caldas da Rainha, o mais antigo hospital termal em funcionamento no mundo...
João Alembradura
(Historiador de Valmedo)
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