PASSEANDO POR TROMSØ, COMO NUM FILME...
Foi de estômago feliz e espírito positivamente recarregado que saímos do Bugr dispostos a enfrentar não só o frio e a neve mas também a ansiedade, será que ainda seria possível um golpe de sorte que mudasse as condições climatéricas e assim tornar realidade o desejo de ver uma aurora que fosse? Mas como não dependia de nós e como ainda havia tempo de sobra para um passeio dirigimo-nos para o coração da cidade onde aí, sim, nos deparámos com muita gente na rua, não na praça central dominada pela catedral ou nas ruas junto ao porto mas especialmente nas imediações da Kulturhuset, que é como quem diz a Casa da Cultura, e foi na praça em frente que fui surpreendido por uma cena surreal mas maravilhosa, ao ar livre exibia-se um filme num ecrã gigante e os espectadores, alguns sentados em bancos que formavam um pequeno anfiteatro e outros em pé, assistiam com interesse e dali não saíam apesar da neve que ia caindo, pareciam estar numa sala confortável... "Em Tromso sê tromsoano!", disse para mim próprio e por ali fiquei um bom bocado, tentando apanhar o filme...
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"Inundação em Tromso" - Jean-Charles Forgeronne |
Era um filme de animação, ao fim de poucos minutos percebi que não tinha legendas nem figuras humanas, as personagens eram animais de várias espécies que a bordo de um barco exploravam um planeta inundado, veio-me à cabeça a Arca do Noé, viam-se cidades desertas e parcialmente submersas, "seriam eles os sobreviventes de um apocalipse?", interroguei-me... Pareceu-me que a figura principal da historia era um gato preto, apesar de eu ter simpatizado mais com o cão de ar patusco que parecia só fazer disparates, mas de resto que estranho é começar a ver um filme sem saber se está no principio, no meio ou no fim, e sem sequer saber o título... Não aguentaria muito mais apesar do filme ser cativante, mais um minuto ou dois e iria ter com o resto do pessoal quando se abrem as portas da Casa da Cultura e, sinal dos deuses porventura, uma multidão desagua em plena praça, era claro que um espectáculo havia terminado, talvez cinema, a curiosidade atormentava-me e não resisti a entrar no hall, contra a corrente, em busca de uma resposta para o mistério...
E lá dentro caiu-me o tecto em cima depois de agarrar uma das imensas pequenas brochuras com o cartaz do 35º Tromso International Film Festival, e sabem que mais, era o sétimo e último dia do festival que decorria em vários espaços da cidade, um dos quais, claro, aquele anfiteatro ao ar livre!.. E depois de folhear o cartaz à procura do filme que continuava a decorrer lá fora tomei uma decisão: vou dizer aos meus amigos cinéfilos que andei aqui em expedição pelo Ártico uns bons meses, talvez até um ano como a Sofia do Burgr, afastado de tudo e de todos, talvez assim a minha ignorância passe despercebida e me poupe a vergonha! É que se trata de "FLOW", um dos mais falados e aclamados filmes de animação dos últimos tempos, estreado em 2024 no Festival de Cannes e que já ganhou vários prémios , de entre os quais o de "Melhor Filme" no 37º European Film Awards, para além de ter sido nomeado para um Oscar...
Agora que a neve deu um descanso, não sei se suficiente para a aurora mas de uma coisa sei: a primeira coisa que farei assim que chegar a Valmedo é arranjar forma de ver FLOW, a inundação...
João Película
(Cinéfilo de Valmedo)
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