LEONOR, A MUI RICA E MISERICORDIOSA
Tendo privado e vivido entre reis, o tio e sogro D. Afonso V, o primo e marido D. João II, o irmão D. Manuel I e o sobrinho D. João III, LEONOR de AVIS, mais tarde rainha, nasceu na mais alta nobreza do reino e a sorte de ser neta do rei D. Duarte e do primeiro duque de Bragança levou a que cedo amealhasse uma fabulosa fortuna, não sendo surpresa que ao morrer em 1525, aos 67 anos de idade, fosse simplesmente uma das pessoas mais ricas de Portugal, ou não tivesse, entre outras cousas, recebido como doação a vila de Sintra, Lagos, Aldeia Galega, Aldeia Gavinha, Alenquer, Alvaiázere, Óbidos, Torres Novas e Torres Vedras...
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"Leonor nas Caldas" - Jean-Charles Forgeronne |
Mui rica mas não muito feliz, há que dizer, casada por encomenda aos 12 anos com um primo que se revelou tudo menos perfeito, sofreu as mortes dos dois filhos que teve, uma à nascença e a outra, decerto muito mais dolorosa, a do príncipe herdeiro D. Afonso na sequência de uma queda de cavalo pelas bandas de Santarém, tinha ele 16 anos e era a grande esperança de uma Península Ibérica unificada sob os desígnios de um rei português pois tinha casado ainda criança com uma filha dos reis católicos...
Como se não bastasse, Dona Leonor teve ainda que sofrer bastante com o assassinato do irmão, D. Diogo, Duque de Viseu, morto a golpes de punhal pelo próprio rei, tal fez com que a rainha se recusasse a acompanhar D. João II nos últimos tempos da sua doença e na sua morte, valeu-lhe então o alívio de ter ficado viúva aos 37 anos, ainda jovem e bela, fazendo fé no retrato de Malhoa...
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"Rainha D. Leonor por José Malhoa" - Jean-Charles Forgeronne |
Pouco tempo depois de ter enviuvado D. Leonor fundou a primeira Misericórdia portuguesa em Lisboa, outras seguir-se-iam e já antes tinha fundado um hospital termal para pobres nas Caldas da Rainha, e tanto se dedicou na ajuda aos outros que deve ter encontrado aí a felicidade que lhe tinha faltado na vida pessoal, passou o resto da vida a usar a sua própria fortuna para apoiar hospitais, conventos, albergarias e igrejas... E ainda teve tempo e dinheiro para apoiar a cultura, tendo sido, por exemplo, protectora de Gil Vicente...
João Alembradura
(Historiador de Valmedo)
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