ENCONTROS IMEDIATOS COM ESCRITORES - XII
A FIESTA, A VIDA, A MORTE...
Fui de facto surpreendido, sinceramente não estava à espera de o encontrar e muito menos por ali, o que raio faria ERNERST HEMINGWAY por Ronda? E no entanto ali estava ele, olhando para mim desafiadoramente em pleno Paseo de Blas Infante... Demorou um pouco a fazer sentido mas a história ajuda: em 1785 é construída em Ronda a primeira estrutura permanente em pedra para a celebração de espectáculos equestres e touradas, o que faz dela a praça de touros mais antiga de toda a Espanha e que ao longo dos anos e de muitas histórias se tornou o antro espiritual da tauromaquia, muito graças ao matador Pedro Romero, rondeño nascido em 1754 e que inventou as modernas touradas ao dar-lhe uma veneta um dia ao decidir, desafiando todas as convenções e tradições, descer do seu cavalo para enfrentar o touro a pé e assim o matar, dizem que em sinal de respeito para com a fera, ele que dizem ter matado para cima de 6000 touros!
Não admira, pois, que Ernest Hemingway tenha demandado Ronda em busca da essência e do mistério da tauromaquia, essa arte tão do seu agrado porque cheia dos símbolos complexos da alma humana e também porque teatralizava a sempiterna luta entre a vida e a morte... Ainda jovem, em 1926 o escritor haveria de dramatizar essas vivências por Ronda em "Fiesta", a sua primeira obra, tendo inevitavelmente baptizado o seu toureiro herói como Pedro Romero, o tal...
Mas não foi só pelas touradas que Hemingway se prendeu de amores por Ronda, terá dito ele que "há uma cidade que é a ideal para ver a primeira tourada, e mesmo que seja a única tourada que se veja, essa cidade é Ronda!", e ainda que " Ronda é o destino certo quando se planeia viajar para Espanha em lua-de-mel ou para estar com uma namorada; belos passeios, bom vinho, comida excelente, nada para fazer..."...
Fotos: Jean-Charles Forgeronne
João Palmilha
(Viajante de Valmedo)
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