sexta-feira, 24 de maio de 2024

 

A PLANTA SOLITÁRIA DO MONTE


Talvez por ser um arbusto pequeno que raramente ultrapassa os dois metros de altura ou talvez porque seja uma planta muito pouco sociável que gosta de viver em sítios secos e em condições adversas, a ESTEVA, cientificamente conhecida por Cistus ladanifer, é uma planta com muito segredo para desvendar... Facilmente identificada de norte a sul de Portugal pelas suas pequenas flores de cinco pétalas brancas que brotam de Maio a Junho por esses campos e montes afora, por vezes com uma marca vermelho-acastanhada na base de cada pétala e então aí o povo chama-lhe cinco-chagas-de-cristo, a esteva tem a particularidade de segregar nos seus ramos e folhas uma substância aromática, oleosa e peganhenta, o ládano... Ora bem, este óleo, que antigamente era extraído ao pentear o pêlo das cabras que tinham acabado de passar por um esteval, tanto é usado em perfumaria como tratamento para muitas maleitas!




Diz-se que o ládano tem propriedades terapêuticas extraordinárias, para além de ser um excelente anti-catarro e expectorante tem propriedades antibacterianas e antivirais, combate a diarreia, descongestiona e, pasme-se, até equilibra o humor! Mas cuidado com a dose de ládano, não vá com muita sede ao pote porque, se por um lado auxilia a circulação venosa e facilita a menstruação por outro pode activar a coagulação e o aborto, pergunte primeiro, de preferência a uma pessoa do campo... 
Por outro lado, a esteva é um marcador biológico extraordinário ao adaptar-se de um modo fantástico a solos pobres e condições adversas e a sua resiliência é deveras importante no combate à erosão dos solos, particularmente naqueles vítimas de incêndios, a esteva é a primeira planta a reaparecer em solos calcinados e até naqueles contaminados por metais pesados, subsistindo aí solitariamente às vezes por anos a fio, reciclando-os e abrindo caminho a uma reflorestação...





Que mais dizer da esteva? Que lhe chamam também desde tempos longínquos xara, derivado do árabe sharish, e que a bela vila de Monsaraz não será mais do que o Mont-Sharish ou Mont-Xaraz, o monte das estevas? Que as suas pétalas são comestíveis? É certo, provei e não desgostei, portanto podem ser usadas na cozinha gourmet... Que dantes, nas fornadas, devido a ser um bom combustível e ao seu delicioso aroma ia ao forno juntamente com a lenha, o pão e os alimentos? Ou que os alentejanos e algarvios de antanho lavavam os pés com óleo de esteva para combater o chulé? 
O resto? Descubra depois de um cházinho de esteva, ela está por aí... 


João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)

Sem comentários:

Enviar um comentário